Eu estava caindo. Gritava e chorava mas ninguém podia me ouvir. Uma voz atrás de mim falava "Ninguém vai te salvar, Alice. Você vai cair assim como eu". Mãos frias envolvem meu corpo e eu sou puxada para dentro da escuridão. "Você perdeu".
Acordo desesperada, com falta de ar, chorando.Aquela voz... "Você vai cair assim como eu".
Eu preciso de ajuda.
~~**~~
- Mãe - digo baixo entrando na cozinha.
- O que aconteceu com você minha filha? - perguntou em meio à um abraço.
- Eu não sei. Mas preciso de ajuda.
- Ajuda?
- Sim. Preciso voltar para casa.
- Mas você sabe, nem eu nem seu pai podemos levar você. E com certeza você não vai sozinha.
- O que eu faço então?
- Sua médica disse que você não pode andar sozinha nem até a escola. Você pode esperar até o fim de semana?
- Não posso. Mãe, eu não consigo - começo a chorar.
- Calma filha. Já sei. Que tal você ir com o Bruno? Eu converso com os pais dele hoje, e se ele puder, vocês vão amanhã.
- Obrigada, mãe.
~~**~~
- Tem certeza que vai ficar bem? - sua preocupação era visível.
- Acho que vou. Por algum motivo eu sinto que posso confiar nele.
- Obrigado.
- Você gosta de me assustar não é, Bruno.
- Parabéns - aplaudiu - finalmente aprendeu meu nome.
- Parem vocês dois. - interveio minha mãe - Alice, você pegou tudo? Não pode esquecer aquela bolsa.
- Calma mãe. Eu peguei tudo, não se preocupa.
- Cuida bem da minha filha, ta bom? Vou deixar ela totalmente sob sua responsabilidade. Não deixe que nada aconteça com ela.
- Pode deixar. Vou cuidar dela como se fosse minha irmã.
Entramos então no ônibus e sentamos lado a lado nos últimos bancos. Eu me sentia aflita e ansiosa, e não conseguia me acalmar. Bruno estava em silêncio, o que era ainda mais inquietante.
Mas graças aos deuses ele pareceu perceber meu estado e começou a puxar assunto.
- Então. Qual sua história?
- Eu não tenho muita história e metade dela você já sabe.
- Conta a outra metade então.
- Nah. Pergunta outra coisa - com aquele papo, eu ia me distraindo.
- Que tipo de música você gosta?
- Rock, pop, eletronica, j-rock, k-pop e até bandinha.
- Bandinha?
- Esquece. E tu?
- Gosto de várias, mas prefiro rap. Sério, o que é bandinha?
- Ta bom. Eu te mostro depois. Mais perguntas?
- Assiste animes?
- Sim. Assiste yaoi?
- Não sei o que é isso. Lê HQs?
- Droga! Sim. Lê fanfics?
- Já li umas. Sei que vai soar meio gay, mas, qual seu OTP?
- Deuses, Wico Solangelo. E sim, isso soou muito gay, mas eu gostei. E o seu?
- Seviliam. Deuses? Curte herois do olimpo?
- Óbvio. Sou filha de Hades e tu?
- Filho de Apolo. Livro favorito?
- As vantagens de ser invisível. Série favorita?
- Friends. Sabe desenhar?
- Sei fazer bonequinhos de palito. Essa é idiota. Qual seu signo?
- Foi bem idiota. Virgem, e você?
- Peixes. Qual seu lugar favorito?
- Esse eu não vou falar, vou mostrar quando voltar-mos. E o seu?
- Te mostro quando a gente chegar. Gosta de cavalos?
- São seres incríveis, assim como os gatos.
E esse papo foi indo, indo, indo e levando junto todas as minhas preocupações, minhas angústias, meus medos. Por algum motivo isso sempre acontecia. Ele falava sobre coisas aleatórias e eu esquecia de tudo.
Durante o caminho dividimos o fone e adormecemos. Nada podia estragar esse momento calmaria.
Pelo menos era isso que eu pensava.
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