Kim TaeHyung Pov´s
Eu acho que.. sentir o sabor das próprias lágrimas, salgadas e quentes, pode não ser a melhor das sensações. Mas isso depende da pessoa ou da situação em que se encontra. Mas no meu caso, eu raramente fico bem ao sentir seu gosto. Só quando choro de emoção ou felicidade.
Dia após dia, eu vivo me torturando internamente. Eu faço sucesso, sou um teen-idol famoso e idolatrado por todos, principalmente os ômegas, e mesmo assim, eu não consigo ser feliz comigo mesmo. As pessoas me chamam de belo, maravilhoso e até extrapolam o limite dizendo que sou perfeito. Tudo isso por causa da fama. Tenho certeza de que não seria valorizado assim... Se não fosse tão conhecido.
A cada segundo da minha vida eu me torno mais triste, mais cansado, com menos importância e sem razão de vida. É como se nada mais tivesse significado. Como se... como se faltasse algo. Mas eu não sei o que é. O que meu coração quer me dizer quando se aperta em meu peito, causando uma sensação dolorosa? Eu mesmo não sou capaz de me entender.. Então quem seria?
Por mais que eu tente afastar todos esses pensamentos frustrados, eles não desgrudam da minha mente, como se eu fosse um imã que só atraia problemas e contraísse as soluções. Meus olhos ardiam de tanto chorar, e por mais que as pessoas possam considerar fútil chorar por algo do gênero, isso me afetava; Afinal, quem nunca chorou por ter uma crise existencial?
Engoli um seco, e senti a garganta arder com tal ato, este que me incomodara. Eu sou um alfa, então por que sou tão sensível quanto um ômega? Talvez eu tenha nascido com a raça errada. Um riso sem humor escapou dos meus lábios com esse pensamento tão inútil. Afinal, a raça faz mesmo tanta importância? Não é porque sou um alfa que eu tenho que ser mandão e idiota, como a maioria por ai.
Mas, como tudo na minha vida, não importa. Não importa o que eu penso, não importa o que eu sinto, não importa o que eu sou... ou o que eu finjo ser. Nem o que eu quero ser. Pra mim, ou pelo menos para as outras pessoas, o que importa é manter a boa reputação e todo o sucesso conquistado.
Se bem que, fica difícil quando você está se sentindo um nada e está com um enorme bloqueio de criatividade para escrever músicas, sem mencionar um certo manager gritando na sua cabeça, dizendo que vai lhe tomar o emprego se não parar de se distrair, engasgar , tossir ou desafinar enquanto canta, ou até mesmo quando erra uma nota de piano e, perdoe o linguajar, caga a música inteira. E ainda por cima, você ser obrigado a escutar tudo, com um acréscimo de xingamentos, de cabeça baixa sem fazer nada à não ser sentir vergonha e ódio de si mesmo.
“Oh, como ele deve ter uma vida perfeita! Ele tem grana, os ômegas babam por ele, ele é bonito, canta bem e faz sucesso. Essa é a vida que eu queria ter!”. Talvez as pessoas que façam esse tipo de comentário, nem pensam na hipótese de ser tudo superficial. Eu poderia ser contratado para atuar, tamanha a minha capacidade de disfarçar, pelo menos para os fãs, que eu não estou nada bem.
Tossi baixo e suspirei na mesma altura, me remexendo na cama. As minhas pálpebras já pesavam, e indicavam que eu precisava dormir. Não que fosse fazer muita diferença, porque daqui algumas poucas horas eu já precisaria me levantar e viver a minha vida “fantástica e invejável”. Resultado: Eu acordaria com olheiras enormes, com os olhos inchados, uma preguiça do cão e a mente nas nuvens. Ah, e o corpo todo mongol também. Outro resultado: Mais gritarias e broncas do meu chefe. Isso não é ótimo?
Mesmo que o quarto estivesse escuro pakas, eu sabia que naquele exato momento, minha visão turva e exausta encarava o porta retrato com uma foto antiga e desbotada, que retratava uma bela garota de cabelos e olhos castanho claro, esta que eu sabia que era a única coisa com importância na minha vida. Ou melhor... que já tivera importância.
*( Quebra de tempo )*
Eu parecia cada vez mais com um zumbi conforme caminhava pelo chão liso e escorregadio do local, trocando de um pé para o outro com desatenção, com o corpo balançando de lá pra cá. Como previsto, era como se eu estivesse morrendo. Pra piorar, eu fui convocado até a sala do meu Manager, o que não era coisa boa, sem mencionar que eu estava perdendo o meu treino de saxofone. Mas não importa, não iria prestar atenção de qualquer forma.
As pessoas que passavam por mim me olhavam espantadas, outras com pena e preocupação, outras chegavam até a perguntar se eu estava bem. Estas eu falava que estava somente cansado, noite difícil. Parei de andar e deixei meu corpo ereto. Estava em frente a sala que desejava evitar a todo o custo... porém era obrigado a frequentar.
Bufei e meio nervoso, desferi três tímidas batidas na madeira, engolindo um seco que machucou-me à garganta, podendo jurar que um suor escorreu pela minha testa ao ouvir um “Entre!” ser dito detrás da mesma, com firmeza e autoridade. Abri a porta e vi sua cadeira giratória posicionada de costas para minha pessoa.
- Eu desejo ser breve TaeHyung, sente-se e escute atentamente o que eu tenho a lhe dizer – Suspirei e fechei a porta atrás de mim, me locomovendo até uma das cadeiras dos visitantes que foram postas em frente a sua mesa. Puxei-a para trás com jeito e me sentei, escorando as costas no estofado que possuía.
- Eu estou pronto... – Murmurei com a voz rouca e desgastada, logo olhando em volta – Ahm, na verdade, estou não – Ri de nervoso – Posso beber água?
- Kim TaeHyung, eu não estou brincan-
Parou de falar assim que se virou e encarou, com perplexidade, minha aparência deplorável. Piscou algumas vezes e suspirou, relaxando os músculos dos braços cujo havia tensionado, fazendo um gesto com as mãos que indicava para que eu fosse até o bebedouro de sua sala. Permiti que um meio sorriso surgisse em meus lábios, ressecados, esses que eu passei a língua para umedecer, sentindo uma leve ardência.
Me levantei e fui até o objeto, pegando um copo descartável e um dos tubos colados na parede, enchendo-o de água gelada e, pra quebrar o galho, pondo um pouco de natural em seguida. Levei o copo a boca e em algumas goladas, engoli o liquido frio, jogando o copinho no cesto de lixo e voltando a me sentar onde estava anteriormente.
- ... Céus... você está... horrível – Eu aposto que ele sentiu uma enorme vontade de ser mais bruto com as palavras, mas ele sabia me respeitar – ALGUMAS VEZES – quando eu aparentava estar mal.
- Juuura? Sabe que eu nem percebi? – Falei ironizando a frase e ele revirou os olhos.
- Mais respeito, por favor. Eu gosto – Disse em tom firme e logo sua face se acalmou – Nós, da empresa, estávamos analisando sua situação, seu bloqueio de criatividade, sua infelicidade, sua saúde, seu humor, seu tudo... E nós acabamos percebendo algo.
Franzi o cenho. Perceberam algo? Como assim?
- Nós percebemos que você, pelo visto, se sente solitário, isolado do mundo, sem amigos ou alguém pra conversar – Isso não era lá verdade, eu tinha amigos sim, o pessoal da empresa era sempre muito gentil comigo, meus professores de música, principalmente. – E então... resolvemos tirar suas aulas particulares.
.... Oi?
- Ahn.... o que, exatamente, isso tem haver? – Tombei a cabeça pro lado, o encarando com a confusão estampada no rosto. O que uma coisa leva a outra?
- Raciocine bem TaeHyung.. Não, deixa quieto, sua capacidade de raciocinar hoje deve ser mais curta do que a de um bêbado. Bom, resolvemos tirar suas aulas particulares para, justamente, te enviar para um colégio onde você vai poder fazer amiguinhos, eeeeee! – Bateu palmas, comemorando com uma animação forçada, tirando o meio sorriso do rosto rapidamente e o transformando em uma carranca – Quem sabe não encontra uma namorada ou namorado?
- É.... não tenho tanta certeza disso não... Mas... a ideia não é de todo ruim.. Talvez seja exatamente isso o que falta pra mim.. Amigos! Talvez assim.. minha felicidade volte!
- E espero que junto dela volte sua criatividade também porque a coisa é séria. Eu ainda tenho mais pra te falar. – Iiiih, lá vem, quando ele fala com esse timbre sério.. é porque NADA de bom está por vir. – Eu vou falar uma vez só. Você tem um mês pra me trazer uma música pronta. E se não fizer isso... está na rua!
*( Quebra de tempo )*
Passei os dedos em meus fios castanhos, jogando-os para trás, virando a cabeça de um lado para o outro para encarar meu rosto. Consegui disfarçar as olheiras com maquiagem, então os alunos, que com certeza seriam meus fãs, não iriam perceber que estava tendo um descanso muito curto.
Agora que parei para pensar... Como será que os alunos vão reagir quando eu chegar no colégio? Não querendo me gabar nem nada mas.... Eu sou um teen-idol pra lá de famoso! Não parei pra refletir sobre como minha vida pode mudar por eu estar indo pra um colégio onde os estudantes, pelo menos alguns, sem sobra de dúvidas, são aqueles que acompanham meus shows, lives, músicas e outros eventos.
Deixei o ar que prendi sem sequer notar escapar por entre meus lábios. Seria complicado ser cercado o tempo todo por pessoas, pedindo autógrafos, fotos, quem sabe até mesmo entrevistas. Também não seria bacana ter que correr delas pela escola e me esconder em salas vazias ou sem utilidade.
Abandonei minha imagem refletida no espelho do guarda-roupa e fui até uma das poltronas que ficavam em meu quarto, pegando a mochila – De grife, lógico – Que estava posta sobre ela. Ajeitei-a nas costas e passei as mãos pelo corpo, alisando as vestes, por fim indo até a porta do quarto e saindo dele.
As vezes é impressionante como o tempo passa tão rápido que parece que nós nos teleportamos de local pra local. Parece até que em dois segundos eu estava em casa e agora eu fiz um jutsu e surgi aqui, dentro do carro, ou melhor, limusine – QUE ERA BEM DESNECESSÁRIA PORQUE EU SÓ ESTAVA INDO PRA ESCOLA – encarando as pessoas na rua olharem na minha direção com fascinação pela elegância do transporte. Imagina se conseguissem ver quem está dentro dele. Amém aos vidros escuros.
À meu pedido, meu chofer havia colocado “I don"t fucking care”, do Blackbear pra tocar, e aquela melodia era suave e melancólica ao mesmo compasso, algo que me deixava bem e mal, algo em que eu havia me viciado pelo simples fato de... de alguma forma conseguir retratar o que eu sinto, mesmo que não faça sentido com o que eu vivo.
Sai dos meus devaneios ao ouvir o último toque da música ser proferido, logo sendo substituído por “Fools” do Troye Sivan. Tem como não amar músicas depressivas? Por falar nisso, acho que já sei como vai ser mais ou menos a música que eu preciso escrever em um período de um mês. E talvez, só talvez, eu possa gravar um cover de uma música da minha rainha. Ah, pra quem não sabe, ela se chama Adele.
- Only fools fall for you, only fools... Only fools do what I do, only fools fall..– Cantei baixinho junto da voz do cantor transmitida pelo áudio e suspirei, eu estava bastante desanimado com a ideia dos fãs feito loucos pra cima de mim. Talvez até com a ideia de ter que ser rodeado por mil seguranças para não receber esses ataques.
Pisquei rapidamente ao sentir o carro parar de se mover, sendo estacionado e logo olhei pela janela, avistando a entrada da escola. Seu portão estava fechado e, ah, detalhe, eu havia chegado 30 minutos antes do que o horário que os alunos precisariam chegar, por métodos de proteção para que, bem, não avançassem em mim caso chegasse no horário proposto.
Abri a porta do automóvel , fechando-a uma vez que estava fora do próprio. O chofer, que também se retirou dele, me olhou com um sorriso pequeno, e o que pude entender era que este passava um recado de que era para eu ficar tranquilo, e que tudo ficaria bem. Eu espero. Retribui o sorriso e o segui, já que me guiava até a recepção. A recepcionista, uma ômega, foi toda doce e meiga pra cima de mim, mas pude notar um olhar com lascívia dirigido a minha pessoa, e confesso que isso me deixou bem incomodado.
Enquanto ela fazia uma ligação com a diretora, eu batia meus pés de forma frenética e impaciente no chão, sem muita força claro, não queria chamar atenção com pisadas rudes e barulhentas. Ao final da ligação, a moça se levantou da cadeira e guiou à mim e meu acompanhante até uma sala vazia. Informou que eu deveria esperar pelo chamado da diretora e que assim, deveria aguardar naquele lugar. Com uma rápida piscadela em minha direção, sumiu pelos corredores, provavelmente fazendo regresso à sua mesa na recepção do colégio.
Bufei e entrei na sala, ouvindo o barulho da porta que deslizava fechando, este que apenas ignorei e escolhi alguma de todas as carteiras na sala, me sentando nessa que ficava perto da janela e que me dava acesso a visão da entrada da construção. Seria um problema caso alguém me visse, certo? Mas agora, já não me importava mais.
... Já que eu teria de conviver no mesmo espaço que essa e muitas outras pessoas passam o seu dia à dia.
....
E conforme os alunos foram entrando na escola... a chuva começou a cair.
....
Foi aí que eu o vi. Um garoto que chamou minha atenção.
....
O garoto no qual eu vou descobrir o nome.
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