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História Almas Para Oblivion - Et obliti sapientes


Escrita por: axgxstu

Notas do Autor


Espero que gostem desse capítulo!

Uma ótima leitura para vocês! ^^

Desculpas antecipadas por qualquer erro.

Capítulo 5 - Et obliti sapientes


Fanfic / Fanfiction Almas Para Oblivion - Et obliti sapientes


Quero saber o que é preciso para poder viver. Para caminhar sem hesitar ou sem ser impedido por raízes que brotam do chão, por pessoas ou por qualquer outra coisa. Não sinto o vento, o ar refrescante, apenas o ar abafado e quente. Não conheço o mar inteiro, conheço partes; partes que usam para lavar as mãos depois de me baterem ou me tocarem. Não conheço muitas coisas, sei disso... mas se vou morrer, me libertem e me deixem aproveitar o tempo restante. Deixem de ser egoístas. Não é a sua vida que está em jogo.


Estamos conectados diretamente, o Menino e eu, mas ambos não sabemos como é se suicidar ao crepúsculo. Ele era tão pequeno, tão magro. Seus cabelos loiros eram tão claros que quase brilhavam no quarto escuro. Ele em si quase brilhava. Era um ser magnífico e misterioso. Era lindo. Era menino. 


Ele estava mexendo em meus livros, que estavam empilhados no chão. O tamanho da pilha ultrapassava a sua altura. Provavelmente estava procurando um livro infantil. "Você tem o meu livro?", olhou para mim por cima do ombro. Me enganei, não era um livro infantil. "Não, mas para que precisa dele?", falei acendendo um fósforo e depois, incendiando o barbante queimado da vela. "Quero ver o que escreveram sobre mim", andou pelo quarto, "Aquele velho disse que sou uma lenda e que há um livro sobre mim, não é?". Aquele velho. "Hã, há um livro em que é mencionado, mas não é inteiramente sobre você", ele cruzou os braços e franziu as sobrancelhas. "Agora não há mais graça em lê-lo se não é inteiramente sobre mim", ergui minhas sobrancelhas em surpresa. Não se parecia com o menino que estava chorando enquanto me abraçava. Bipolar, talvez? 


"Enfim, me diga o motivo de estar aqui...", ele suavizou suas expressões faciais, mas continuou com os braços cruzados. "Eu sempre estive aqui, nesse vilarejo, mas nunca puderam me ver, nem mesmo as Embarcações", em seguida perguntou como consigo vê-lo. Eu não sei. Respondi com outra pergunta: "Não te viam, mas você sempre esteve com eles?", ele assentiu à minha pergunta. "Você é diferente", falou inclinando a cabeça para a direita e me olhando de cima a baixo, ao mesmo tempo. Vou ter que me acostumar em ser diferente, especial ou qualquer outra coisa que me deem como característica. "Apenas por poder vê-lo, não é?". "Sim".


"Do que você gosta de brincar?", perguntou, sorrindo para mim. "Eu nunca brinquei de nada", ele, então, me olhou inconformado. "Isso é possível?!", falou enquanto tateava os objetos ao redor do quarto. Parou ao ver a escova de dentes, feita com fibras de animais e ossos bovinos. "O que é isso?", passando o dedo indicador nas fibras que limpavam os dentes. "Uma escova de dentes...", olhou para mim, confuso. Não o culpo, essas escovas foram criadas a, mais ou menos, 5 anos atrás por um homem inglês. Se eu tenho uma, a possibilidade de toda Inglaterra ter é bem grande. Meu avô que me deu a escova, sempre disse que a saúde dentária é uma das mais importantes. "Meu sorriso branco costumava a me ajudar nas negociações de minhas hortaliças", disse ao me dar a escova de dentes. Ainda não entendo como uma propaganda dos próprios dentes pode influenciar na compra de plantas. 


Passamos a noite conversando sobre nossas experiências. Ele tinha mais histórias para contar do que eu. Aliás, ele fez parte do primeiro capítulo da minha história. Ele é um dos primeiros e o único sobrevivente, apesar de ser um fantasma. Sobrevivente porque ele está aqui. 


Adormeci.


Abro meu olhos.


Neve. Posso sentir neve nos meus pés. Gelada e macia. Era noite, ventando forte. Um sonho estranho, incrivelmente real. Estou no ou em um vilarejo, todo escuro e rústico. Não sei se é assim de verdade. Não sei se é ele de verdade. 


Estou indo em direção às arvores nuas e negras. A única fonte de iluminação é a Lua. Lua cheia. Há milhares de pontos luminosos no céu, piscando para mim. Onde eu estou? Por que estou aqui? As casas estão silenciosas, aparentemente estão todos dormindo. Não sinto frio, mas sinto as coisas ao meu redor, a vida. Um barulho me assustou. Em seguida, ele apareceu, o Menino, sorrindo e tentando correr. Gargalhando e se esforçando para andar, chutando a neve funda. Inocente. O segui em direção à floresta. O lobo aparecerá e você vai morrer.


Ele parecia estar se divertindo. Estava girando e girando. O que aconteceu por aqui? Foi assim que você morreu? Onde está o lobo?. Escuto barulhos vindo de trás de mim, mas não me viro e ele continua girando, despreocupado; até que cai e dá várias gargalhadas. Gargalhadas que não incomodam, que trazem felicidade. Ele se levanta, limpa a roupa e suas madeixas loiras, mas então, para e olha para mim, com os olhos arregalados. Escuto outro barulho. Barulho de ferro ou metal, não consegui diferenciar. 


Primeiro, olho por cima do ombro e vejo uma silhueta, então giro meu corpo para encará-la. Um homem, mas não conseguia ver seu rosto. Estava armado. Apertava forte a faca que estava empunhando. Veio na nossa direção (estávamos alinhados). Comecei a dar passos ligeiros para trás estendendo os braços e as palmas das mãos. "Não, por favor!", ele não me escuta e acelera para cima de mim, nós. Me virei e me joguei no chão. Em seguida, ele me atravessou. Sim, me atravessou. Isso não é real. O que ele vai fazer? Agonizei e passei a engatinhar atrás dele, tentando segurar seus tornozelos, mas minhas mãos atravessavam seu corpo. Eu não estava fisicamente presente pela primeira vez. 


Caio de barriga na neve e começo a chorar, enquanto o homem se aproxima do Menino. "Não!", grito, sem realmente ser ouvido. Ele levanta o braço empunhando a faca e gira seu braço para baixo, rapidamente, cortando a garganta do menino, que cai de costas no chão. Não houve tempo ou possibilidade para uma reação. Desta vez eu tenho certeza, ele estava olhando para mim.


Fui atingido no coração por uma flecha. Uma flecha de raiva. Adrenalina. Senti o sangue esquentar meu corpo, as batidas aceleradas do coração. Trinquei os dentes, tensionei a mandíbula e me armei com meus punhos. 


Me levanto e corro em direção ao assassino. Tento derrubá-lo, mas o atravesso e caio na neve, ao lado do corpo ensanguentado. A neve em volta dele, do seu corpo, se tornou escarlate, com o sangue ainda escorrendo de sua garganta aberta. Seu rosto pálido estava manchado e seu olhar cada vez mais vazio. Tentei segurar a sua mão, sem sucesso. Então, assassino saiu correndo. "Eu sinto muito, sinto muito... Me desculpe", estou chorando, olhando para o cadáver. Ele estava com a cabeça virada para a floresta, estava com os olhos abertos, mas, ainda sim, perdidos. Me viro para a floresta e lá estava ele, o Lobo, se aproximando com seus olhos amarelos. Me afastei e o animal começou a cheirar o pescoço do cadáver. Em uma questão de segundo, já estava perfurando a pele dele com seus dentes afiados, balançando o corpo sem vida de um lado para o outro, desesperado para provar de sua carne venenosa.


O espírito do Menino saiu de seu corpo e correu para a floresta, se perdendo pelas árvores. O Lobo estava deitado na neve, com a língua para fora da boca e a respiração pesada. Estava gemendo e vomitando. Então, parou de respirar. Você não foi morto pelo lobo. Há um antagonista. Não há possibilidade de compreender algo que não presenciou. Mas agora, eu compreendo. 


O sol surgiu no horizonte, ou melhor, o pôr do sol surgiu. O alaranjado cobriu o céu, espantando as nuvens, mas o vento continuou. A neve também se tornou alaranjada e o escarlate se tornou mais escuro. Um círculo começou a se formar, bem longe daqui, na frente do sol. Continuou girando até se tornar maior. Era grande e preto, com tons de roxo e azul. Era Oblivion, a entrada para o esquecimento.


Criaturas translúcidas e fisicamente parecidas com seres humanos começaram a sair daquele círculo infiltrado no horizonte. Gritavam, gemiam e faziam sons estranhos, nos quais não consigo descrever, mas comparo com coisas que sei. Elas entraram nas casas e saíram carregando as almas dos moradores em seus braços, flutuando em direção à perdição. As almas dos humanos estavam calmas, não resistiram. Estavam dormindo. Foram levados em paz.


A alma do lobo foi levada por uma menina, havia marcas pretas em sua pele meio traslúcida. Seus olhos cor de mel me chamaram a atenção. Eu conheço esses olhos. Nossa irmã, Peter Mitchell. 


O que ela está fazendo aqui? 


Haviam centenas dessas criaturas flutuando pelo céus e dezenas de Filhos de Oblivion. 


Escutei uma voz atrás de mim. Me virei rapidamente. Era o Menino, completamente ensanguentado, com a cabeça baixa; estava falando baixo mas começou a gritar, a partir do momento em que o olhei. "Sr. Huntington!". 


"O quê?", respondi, me afastando a cada vez que o tom aumentava.


"Sr. Huntington!"


Abri meus olhos e ele, o Menino - e não o Sr. Huntington -, estava do meu lado, com a mão em minha testa, mas não estava ensanguentado. "Sr. Huntington!", os gritos continuavam, com um som peculiar, uma voz jovial. Peter Mitchell. Ele veio. As mesmas batidas na porta, o mesmo grito. "Já estou indo", falou Jon. A porta rangeu, significa que ele a abriu. Passos até a cozinha. Encostei meu ouvido na porta. O Menino atravessou a porta. "Obrigado por trazer o leite ontem, aqui está seu pagamento", após isso uma pausa, "Meu pai carregou o balde?", silêncio; durou 4 segundos. "Hã, ele me falou que não seria um problema, mas eu insisti em carregar para ele, senhor", olhei pelo buraco da fechadura; ele estava coçando a nuca, dando um sorriso sem graça. Jon pegou o relógio de bolso, o fitou e depois xingou. "A reunião dos Ashworth vai começar menos de uma hora, senhor", falou Peter. "Sim, faltam menos de 30 minutos, na verdade". Ao terminar a frase gritou por Elizabeth, que apareceu na cozinha segundos depois, fazendo barulho com seus sapatos que nunca eram vistos, por causa do comprimento de seus vestidos bordados. Não consigo ver Elizabeth, apenas Jon e Peter. "Irmão, o papai não está passando bem...", havia sentimento em sua voz, pela primeira vez, "Ele não vai poder cuidar de Thomas", continuou. Ele não cuidou de mim ontem. Jon bateu as palmas das mãos na mesa de madeira no centro da cozinha e arfou, nervoso. Ela se aproximou de Jon, (consegui vê-la a partir daí) repousando uma de suas mãos em seu ombro esquerdo. Ambos olharam para Peter. Elizabeth tomou a iniciativa. 
 
"Peter, por algum acaso, gostaria de ganhar um pagamento extra?", falou Elizabeth, e Jon compreendeu o que irmã tinha em mente. "Tudo o que tem que fazer é cuidar dele", ela apontou para cá e Peter seguiu seu dedo indicador, enquanto Jon estava virado para ele, "E trazer algumas ervas medicinais amanhã... Magnólia", emendou. "Claro", respondeu e foi tudo o que falou, novamente com um sorriso sem graça, mas dessa vez suas mãos estavam no bolso da calça; podia vê-la, apesar da mesa estar cobrindo parte da minha visão, incluindo as mãos do meu pai. É estranho chamá-lo de pai, essa palavra me dá frio na barriga. "Então, está tudo certo...", falou Jon, guardando o relógio de bolso e deixando a chave do meu quarto na mesa, "Vamos Elizabeth". Ela não respondeu, mas escutei o som dos passos ficando mais baixo, estavam se afastando. A porta da frente rangeu e bateu. Saíram. 


"Já pode abrir", falei alto o suficiente para Peter escutar. Peter olhou pela janela por alguns segundos, se virou, pegou a chave na mesa, veio em direção a porta e botou a chave na fechadura. "Não estava falando com você, Peter". A porta destrancou e o Menino abriu. "Obrigado", falei com o menino. "De nada", falaram ao mesmo tempo, mas saiu de Peter mais como uma pergunta, apesar de ter levado um susto. Não consegue vê-lo. O menino deu de ombros e saiu do cômodo. "Olá, senhor Rosegardin", falou com um sorriso no rosto, puxando algumas mechas loiras para trás de sua orelha. O cumprimentei dizendo seu nome, seriamente. Eu estava sendo bem monótono, um tanto enfadonho. "Você mente bem", falei ao começar a andar pela cozinha, descalço. "Igualmente", parei na frente da janela. O Sol estava alto. O céu estava azul e cheio de nuvens. Um círculo que penetra no horizonte. Oblivion.


"Eles beberam o leite?", perguntei e ele assentiu, "Eles estão bem?", continuei. Me virei para ele. "Sim, eu acho... Está insinuando que o leite é ruim?", indagou. Respirei fundo, ao ver o seu olhar confuso cor de mel. Não demorou muito para mudar a feição. Ele se aproximou de mim e apoiou o quadril no fogão, que estava a alguns centímetros de mim. "Você fez alguma coisa com o leite?", apoiei minha lombar na bancada ao lado do fogão. Estávamos lado a lado. "Eu mergulhei meu punho no leite, só para ter certeza se...", me interrompi e olhei para ele. Ele parecia resignante. "Sim, eles beberam o leite", apontou com o queixo para o balde vazio embaixo da mesa. Será que ainda vão morrer?. "Se acontecer alguma coisa com eles, vou ser prejudicado", falou Peter, enquanto eu mordia o lábio inferior. "Não foi minha intenção tentar te prejudicar, eu juro", ele me olhou novamente, sem o mesmo brilho nos olhos. "Não sei se é uma pessoa escrupulosa no que faz, mas", ele me interrompeu: "Perdão? Escrup... Sinceramente, nunca saberei quando está me xingando ou dando elogios", o brilho voltou junto com um sorriso. "Não te xinguei, falei que não sei se é bom no que faz na sua fazenda... sabe, coisas de fazendeiro", tentei explicar. "Nesse caso, obrigado", deu um pigarro falso, "E sim, sou muito bom no que faço", deu um sorriso orgulhoso. Não sabia quando deveria me intrometer no meio de seus diálogos autocentrados direcionados a mim, então o deixei continuar. "Eu sei, eu sei, modéstia me mandou uma carta, mas às vezes não consigo me conter", o olhei com uma pitada de curiosidade e outra de desentendimento. "Quem é Modéstia?", perguntei. Ele abriu a boca, no entanto, não disse nada, então fechou novamente e depois abriu. "É uma expressão, deixe pra lá...", então nos viramos para olhar através da janela. Conseguia ver o mar, azul e profundo. Ele, azul, estava olhando para mim. "Para chegar até o mar, tem que seguir a trilha, descer alguns metros e então está lá", ele reproduziu o caminho com o braço direito; primeiro esticou, depois virou à esquerda e então desceu. "Você estava olhando para o mar faz alguns minutos, então imaginei que gostaria de saber... Aliás, não dá para ir direto daqui, a não ser que pulasse do penhasco", falou. Eu diria que leu minha mente, Peter Mitchell, mas estou ocupado demais sendo hipnotizado pelo mar. Obrigado. 


"Posso lhe contar uma coisa?", ele respondeu afirmativamente, "Eu vi a sua irmã hoje em um sonho", falei cruamente, ainda olhando para o mar. "Isso não tem graça", parece que feri seu orgulho. "Não estou blefando, o Menino me mostrou em um sonho", comecei a sentir raiva, mas não sabia o motivo. "Que menino?", me olhou como eu olhei para aquelas criaturas translúcidas em meu sonho. "Venha aqui, por favor!", gritei. Escutamos passos pesados no chão. Ele apareceu com os braços cruzados. "O que você quer? Não posso brincar?!", perguntou fazendo bico e Peter não ouviu. "Claro que pode, mas pode mover, hã... aquele balde?", Peter olhava para mim e para o outro cômodo, sem ver o fantasma; ele, o Menino, se agachou para ver o balde embaixo da mesa e perguntou de volta: "Por quê?", me olhou aparentemente entediado. Um fantasma entediado. "Para ele saber que você é real", ele deu de ombros e fez um movimento com as mãos. O balde flutuou para a parede e caiu no chão. 


Peter estava com os olhos arregalados. Após ficar boquiaberto por vários segundos, falou: "Quem é ele? Qual é seu nome? O que ele está fazendo aqui?", gaguejou entre os intervalos das perguntas. "Ele é o Menino", falei meio sem jeito, "Não sei seu nome... Não perguntei". Peter olhou para mim. "Falta de educação, Thomas", não contive o sorriso. Ele também sorriu.


"Meu nome é James, James Ellwood...", falou e deu um sorriso. 


"O nome dele é James", falei para Peter. Ele olhou ao redor da cozinha, tentando achar James, acredito eu. "Prazer, James", estendeu a mão para o nada. James foi até Peter e segurou sua mão. Peter levou um susto e inclinou o tronco para trás. "Ele segurou a minha mão!", falou rindo, quase gargalhando, olhando para mim com as bochechas sardentas ruborizadas. James estava gargalhando. Eu estava sorrindo, estava feliz. 


* * *


Eu ainda estava olhando para o mar, esperando o pôr do sol, que já estava perto. Peter parecia entretido com os poderes de James, gargalhando a cada objeto que levitava, fazendo comentários positivos e pedindo para ele continuar. Estavam ambos sentados à mesa, já que James estava fisicamente presente e visível para mim, não para Peter. Estou esperando pelo Círculo. À esquerda era possível ver outras casas e a trilha de terra. 


"Quem são os Ashworth?", Peter parou de gargalhar, mas não imediatamente. Ainda estava ofegante de tanto rir. "A única família que não foi, hã, você sabe... ('contaminada'?) É que não há como falar isso sem te ofender", o pedi para continuar, ele assentiu, "Enfim, eles são vistos como autoridade por aqui, fazem várias reuniões para discutir sobre você. A família deve ir obrigatoriamente. Eu já fui. Essas reuniões duram meses. Soube que seu pai te defendeu ontem...", olhei para ele surpreso. "Mencionaram a minha mãe, não é? É o único jeito de aparecer algum tipo de humildade nele...", Peter não precisou responder, já sabia que esse havia sido o motivo. De alguma forma, eu sabia.

 
"Como era a minha irmã?", perguntou se apoiou em sua mão, com o cotovelo apoiado na mesa, "Eu não me lembro", acrescentou. Parei de fitar o mar e me virei, com os olhos fechados, tentando lembrar dela. "Loira e alta como você, amaldiçoada como eu... Olhos cor de mel, lábios rubros e sardas", abri meus olhos, "Ela é você, só que do sexo feminino... São muito parecidos".  Como me pareço com meu pai. James me deu um olhar coberto de sentimento de pena. Para mim pena é arrogância disfarçada, não gosto de sentir pena, mas não o repreendi, pois em seu olhar não havia arrogância nenhuma. "Ela está em paz?", perguntou com os olhos cheios de lágrimas. "Ela está em Oblivion e não no céu... Não sei se ela está em paz", ele não gostou de minha resposta, "Mas quando eu a vi, ela estava em paz, estava com o espírito do Lobo... Ela cuidou dele, foi gentil com aquele que todos pensam ser o vilão da história... Sendo gentil como você é comigo, conosco.", ele levantou a cabeça e começou a chorar. "Obrigado", deu um sorriso curto. 


"Eu não sei como ela apareceu no que lhe mostrei... Aquilo foi criação sua", o repreendi por isso. Ela estava lá, mesmo que não fosse intencional.


Me aproximei de Peter e me ajoelhei do seu lado. Ele chorava de uma forma reprimida, continha suas emoções, não fazia caretas ou gemia. Apenas saiam lágrimas de seus olhos. O olhei nos olhos e ele não olhou para um outro lado, como da primeira vez que fiz isso. Meu coração estava batendo forte e pude sentir que ruborizei. Passei o lado de meu polegar em seu rosto, limpando suas lágrimas. Nunca havia tocado em um rosto antes. Tão macio, tão lindo. Ele se inclinou para baixo, aproximando o rosto para perto de mim. Eu me inclinei um pouco para cima. De perto, ainda era mais fascinante. Suas sardas eram como pequenas crateras da Lua (vi a Lua em uma ilustração). Algumas mechas de seu cabelo começaram a cair em meu rosto, como um véu. Nos olhávamos e eu queria mais. Mais perto. Não sabia se James estava nos olhando e não me importava. Apenas queria apreciar aquele rosto corado mais do olhei para o mar. Queria compensar. Queria agradecer.


Peter Mitchell. Esse nome penetrava minha mente e corroía meus pensamentos. Meu Sol são seus olhos. Minha Lua, as suas sardas. Sua boca são as rosas, o campo, a realidade. Minha proteção, suas mechas de cabelo douradas que me protegem de ver algo além de você. Peter Mitchell. 


A porta da frente rangeu. Ouvi as vozes de Jon e Elizabeth. Me afastei de Peter e o mesmo se ajustou na cadeira. James me levitou, me jogou no quarto e trancou a porta. Caí de costas na madeira e com o impulso ainda deu mais um giro para trás. "Desculpe", sussurrou James, como se pudessem ouvi-lo. Estavam falando na cozinha, mas não prestei atenção em tudo. Apenas ouvi Elizabeth subindo as escadas. "Pode vir amanhã, Peter?", perguntou Jon. Olhei pelo buraco da fechadura e apenas vi Peter, com o rosto vermelho, olhando para alguma coisa. Jon, provavelmente. "Claro, eu venho amanhã", falou e se levantou da cadeira. "Ótimo! Como prometido...", escutei um barulho de ferro, só que mais agudo, "Obrigado, Peter", subiu as escadas. Talvez sejam moedas, libras esterlinas. 


Peter deu um sorriso, jogou seu cabelo para trás e se aproximou da porta do meu quarto. "Obrigado, Thomas Rosegardin", sussurrou. Não falei nada. Ele se afastou e sorriu novamente, então apenas escutei o barulho de metal agudo, passos se afastando, a porta rangendo e em seguida, batendo.


"Gostei dele", falou James, sentado no chão. Dei um sorriso de felicidade mais genuíno que pensei que podia.


Com aquele último sorriso, pude perceber que eu tinha mais alguém em que posso confiar. Tenho duas pessoas em que posso confiar. Pessoas que me conquistaram, que me ajudaram. 


Obrigado, Peter Mitchell. Obrigado, James Ellwood.


* * * 


Escutei os gritos no segundo andar. Gritos desesperados e agonizantes. "Você deve se lembrar papai! Amanhã a noite farei um chá para o senhor... O seu favorito.", gritou Elizabeth. Chá cala bocas?. O teto tremia e a batidas de solas de pés eram constantes. Será que falam do vovô nas reuniões dos Ashworth também? Será que falam do que está acontecendo com ele? Alguém sabe o que está acontecendo além de nós? Meu avô é um sábio! Sábios merecem não se esquecer! 


"Quem são vocês?!", gritava meu avô, seguido de "Se afastem de mim!", constantemente. Então uma porta fechou num estrondo. Depois, o choro de Elizabeth.


Esqueceram-se de tudo, os sábios.


Esqueceram-se, os sábios.


Et obliti, sapientes.


Obliti.


Oblivion.
 


Notas Finais


Espero que tenham gostado...

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A fanfic tem uma trilha sonora no Spotify! Aqui está o link: https://open.spotify.com/user/12181900155/playlist/23oHo9yLcCqyZvYbmjgRtk

Abraços...

~Flexszible


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