História Alone - Capítulo Único

Talvez você sorria em uma manhã de sol, mas as minhas são sempre frias e escuras, negras e sem vida.

Quando criança, eu não conseguia me alegrar como as outras crianças. Nem sentir seus medos. Nunca tive amigos então aprendi a estar bem com somente mim. Somente mim. Passei minhas horas na solidão e caos de minha mente, e tudo o que amei, amei sozinho.

Olhava para os outros, todos juntos em seus grupinhos patéticos e os sorrisos nas caras pálidas e patéticas. Para mim eram todos iguais. Vazios por dentro e bobos por fora.

Eu não. Eu não queria estar com eles.

As conversas variadas e risadas altas, os assuntos que pareciam nunca terminar, os beijos e os abraços nas despedidas e saudações, as brigas, as piadas...

Tolice. Ignorância só é uma bênção para os tolos.

Me sentava sozinho, longe de todos e próximo da natureza, em um canto escuro e frio como minha alma. Escreveria um poema para a noite, declarando meu amor pela lua. Diria que a Morte é linda, e a Solidão minha melhor amiga. Abraçaria a mim mesmo, e ignoraria os gritos da sua felicidade irritante.

Viva sua vida. Cada um com o seu cada um. Seu caminho.

As trevas não compreendem a luz, e não precisam. Quando se acende uma luz todas as trevas se vão, mas nenhuma vela dura para sempre, e quando a luz morre, a escuridão está lá, esperando. Sua bela negritude, seu perfeito silêncio, sua paz verdadeira. Um beijo da Morte e só restam as trevas.

Me deixe sozinho. Eu quero estar sozinho. Prefiro estar sozinho e ser visto como louco do que estar na companhia de tolos e ser amado. Melhor ser odiado por ser quem sou do que ser amado por agradar os outros que nunca fizeram nada por mim, nem se importaram de verdade. Todos os monstros são humanos, então todos os humanos devem ser monstros também.

Me deixe sozinho. Está tudo bem em eu estar assim, simplesmente não bem. É assim que fico bem. É confortável estar aqui, este é o meu lugar. A aranha faz seu trono no topo, e sozinha no escuro tece sua arte para viver. Ninguém vê a aranha. Ninguém gosta da aranha. Mas as vidas humanas vem e vão como as folhas que o vento espalha, e as aranhas continuam no topo escuro e frio. Como minha alma.

Meu coração é negro porque esqueceu como amar. A noite escuta o meu clamor e a lua reconhece meu choro. Minhas lágrimas são de sangue, a vida que derramo. Não busco os prazeres da vida, pois ela é amarga, uma rosa só de espinhos.

Então, me deixe sozinho. Não venha ser minha amiga. Não venha mentir alegando que possui um coração, que é humana. Sabemos que você não é. Que nenhum de vocês é.

Oh, corvo negro emigrado lá das trevas infernais que são este mundo horroroso. Retorne! Saia de meu coração, retira o bico que fere meu peito e a sombra que encobre minha alma. Vá! Que minha solidão me reste e as trevas se divirtam com a carne morta de meus sonhos e esperanças.

Vivi, mas talvez nunca tenha estado vivo. E tudo o que amei, amei sozinho.