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História Ameno - XVII - O Bêbado e o Sol


Escrita por: RunningDevil

Notas do Autor


VOCES. VIRAM. ESSE. AMA??????
EU TO MUITO ORGULHOSA DOS MEUS FILHOS MDS.
Esse capítulo sofreu bastante alteração comparado ao da fic antiga, mas eu espero que vocês gostem mesmo assim.
E PROS SHIPPERS, PODEM FICAR CALMOS QUE TEM O OUTRO CAP AINDA. ajsdma
Enfim. Vejo vocês nas notas finais. E queria - de novo - agradecer pelo carinho imenso que vocês tem pela fic <3

Capítulo 17 - XVII - O Bêbado e o Sol


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Meu amigo, vamos sofrer, 

vamos beber, vamos ler jornal, 

vamos dizer que a vida é ruim, 

meu amigo, vamos sofrer. 

 

Vamos fazer um poema 

ou qualquer outra besteira. 

Fitar por exemplo uma estrela 

por muito tempo, muito tempo 

e dar um suspiro fundo 

ou qualquer outra besteira. “

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jung Hoseok sempre ouvira dizer que era exatamente como um raio de sol.

 

 

 

 

 

 

 

 

Já eram duas e quarenta da tarde quando Jungkook remexeu-se mais uma vez, sem de fato acordar, na cama de Hoseok. O mais velho sequer conseguira dormir por mais de uma hora de forma ininterrupta, por medo de estar adormecido quando o garoto acordasse e acabar perdendo-o de vista. 

Uma coisa que sabia bem era que Jeon Jungkook realmente detestava dar trabalho a quem quer que fosse, ainda que pudesse cuidar dos outros com prazer. 

Bem, não era exatamente o fato de que nao gostava de dar trabalho o que conhecia bem.

Era Jeon Jungkook por inteiro.

Sabia de sua mania de arregalar os olhos enquanto olhava para um ponto aleatório e perdia-se em pensamentos. Sabia de seu mau tato com garotas, e de como parecia um animal encurralado quando tinha que estar em companhia feminina − poderia rir, querendo ou não o nome "Coelho" utilizado por Suga na noite anterior lhe caía muitissimo bem. Sabia de sua fixação por jogos e super heróis, de seu habito de morder a carne dos lábios e tamborilar os dedos quando estava entediado.

Conhecia Jungkook como a palma da mão.

E ainda assim lhe parecia preciso mais tempo.

Fora ele quem dissera ao garoto que tudo passaria quando chegasse a hora.

Como todas as estações em algum momento chegam ao fim. 

Como todas as pétalas rosadas em algum momento deixariam de brotar.

Como toda dor em algum momento deixaria de doer e daria lugar ao prazer de ser, novamente, o que se fora antes de todo o sofrimento.

Sentia-se tolo por acreditar que Jeon Jungkook chegaria em algum momento a esquecer Park Jimin.

Ninguém nunca o esquecia.

Às vezes Hoseok pegava-se enraivecido, não havia como não admitir. Enraivecido de como o garoto movia-se perfeitamente num palco e ainda assim terminava cada performance como se aquela houvesse sido a pior coisa que já fizera na vida.

De como tinha o apreço de todos à sua volta, enquanto Hoseok sentia-se envergonhado por sua energia excessiva que nunca contagiava a todos como os sorrisos fáceis de Jimin conseguiam.

De como parecia sempre não fazer parte, enquanto o amigo era, sem dúvidas, a melhor das pessoas para todos que os conheciam. 

Hoseok se sentia um pouco como um acessório. Talvez o alívio cômico e o personagem secundário, ainda que aquela fosse sua vida e seu papel original fosse o de personagem principal.

Era engraçado que pensassem dessa forma. O leitor, que anda acompanhando a trajetória e os pensamentos de cada um deles, consegue facilmente desenhar um padrão, e encontrar a característica comum a todos os seres humanos.

Insegurança.

Morrem de medo de não ser, e acabam não vendo o que já são. 

Bem, eu não os culpo. 

Seres humanos são inseguros. E presumem e acreditam facilmente no que jamais sequer lhes foi dito

Naquele momento Jung Hoseok olhava para os cabelos pretos caindo em pequenas ondas de Jungkook e se perguntava como Park Jimin conseguia ser tão bom, enquanto, do outro lado da cidade, Park Jimin olhava nos olhos de Min Yoongi e tecia textos imaginários sobre o quão grande e seguro era Jung Hoseok.

Esta é uma coisa intrigante que jamais entendi sobre vocês.

Vocês tem medo demais.

Especialmente na adolescência.

Há sempre o medo de não conviver tão bem quanto a pessoa ao seu lado, o medo de assumir para si mesmo que sim, há algo bom em você que merece ser visto. Há sempre um medo irracional que controla as ações, cega os sentidos e manipula a mente.

A verdade é que estão todos inseguros, agarrando-se a pequenas partículas de terra firme num oceano de dúvidas infinitas.

E todos acham que estão afogando sozinhos.

− Hyung... − ouviu a voz sonolenta de Jungkook e ergueu os olhos para ele, sorrindo de forma terna, e levando uma das mãos aos cabelos pretos e bagunçados do garoto.

Escorregou a mão para seu rosto bonito e começou um carinho constante com a ponta de seus dedos, criando padrões aleatorios, em sua bochecha.

−Tá com dor de cabeça? − Jungkook anuiu, manhoso como uma criança que acaba de acordar, e o leve movimento já lhe causou dor, fazendo-o franzir o cenho e voltar a manter-se quieto.

Hoseok riu e apoiou o queixo no espaço livre do colchão, ao lado do Jeon. O mais novo lhe encarou.

− O que cê tá fazendo aí sentado no chão? − a pergunta saiu um pouco murmurada, e sabia que a causa era a sensibilidade extrema a barulhos altos demais causada pela bebedeira do dia anterior. 

Hoseok riu, parando o carinho em sua bochecha para apontar um pouco mais à frente, onde um balde e alguns panos ocupavam o chão.

− Você vomitou a minha casa toda. − riu mais um pouco ao ver o rosto vermelho do garoto. − Eu nao ia deitar na cama com você e correr o risco de você vomitar na minha cara. 

Jungkook olhou-o, indignado, e ele apenas riu mais um pouco, daquela sua forma escandalosa. O mais novo torceu um bico numa outra cara de dor, e Hoseok parou de rir.

Jung Hoseok.  Sempre fazendo barulho demais. 

− Desculpe por isso − Jeon disse, deixando um suspiro profundo sair. E de alguma maneira, o moreno sabia que ele não se referia apenas à bebedeira excessiva que causara todo aquele caos. 

− Hey, tá tudo bem. De verdade. − Virou-se novamente na direçao do garoto, acomodando seu rosto melhor na cama e voltando a tocá-lo com a ponta dos dedos.− Eu estava aqui no chão com o balde só por um tempo, caso você precisasse vomitar antes de pegar no sono. Só que acabei cochilando também. E fiquei com preguiça de levantar quando acordei. Não tem nada a ver com você vomitar em mim ou algo assim. Até porque − ele riu um pouco antes de prosseguir −, ao longo dos anos você já arruinou mais camisas minhas do que eu consigo contar. 

− Você é inacreditável. − Jungkook rolou os olhos, divertido, e nem um pouco arrependido de algumas de suas bebedeiras passadas que acabaram de forma trágica, antes que ele aprendesse a controlar a quantidade de álcool que ingeria. 

− Inacreditável, e um ótimo amigo. Quase um anjo da guarda, pode dizer. Eu devia cobrar por ser tão bom com um cachaceiro como você.

O Jeon lhe deu um tapa estalado no braço, o que o fez reclamar e murmurar "ingrato" algumas vezes, até que o garoto risse de seu papel. 

Hoseok ficava satisfeito. Por alguns segundos, tinha nas mãos o poder de aliviar a vida de Jungkook. 

De fazê-lo esquecer das coisas ruins. 

Mesmo que só por alguns instantes.

− Quem vai ter que cobrar algo da gente é o Jimin. − ele disse, lentamente, em meio a mais um suspiro profundo − Eu não me lembro de termos pago a conta antes de sair.

Hoseok abriu a boca.

Ah, não. Jimin iria estar fulo da vida.

− Não é como se você estivesse em condições de lembrar nem do seu nome ontem, Jeon Jungkook. − tentou conter o estresse e desviar a atenção da conversa para algo que não fosse o Park. 

Só dessa vez. 

Só naquele momento.

Por favor, que só dessa vez tudo fosse mais fácil.

− Eu me lembro de tudo, hyung. 

Droga.

O quarto caiu em silêncio.

Se havia um poder que Jung Hoseok realmente gostaria de ter, seria o de curar as pessoas. Claro, além de ter o poder de voar, ler mentes, teletransportar-se e falar com os animais. 

Ainda assim, se pudesse escolher qualquer um desses poderes, curar pessoas seria, sem dúvida, o que escolheria.

Curaria Jimin. E assim curaria Jeon Jungkook.

Via os olhos tristes de seu dongsaeng ao lembrar-se da noite anterior, e pensava no que o pequeno Jeon decidiria se pudesse escolher um poder.

Seria voltar no tempo e apagar tudo? 

Será que jamais escolheria conhecer Jimin?

Será que escolheria jamais ter encontrado Hoseok?

− Se você pudesse voltar no tempo, teria desistido de conhecer a gente?

Tinha medo de ter causado tudo aquilo quando levou-o para conhecer Jimin. Tinha medo que, ainda que não tivesse sido realmente sua culpa, pudesse ser sua culpa.

Tinha medo porque o amava. 

Amava os olhos grandes demais e o sorriso que exibia todos os dentes brancos, os ombros largos demais para a idade, o hábito de sempre se manter alheio a tudo, e a amizade que construiram. 

Amava quem se tornava quando estava na companhia de Jeon Jungkook e Park Jimin, como completavam-no e entendiam-no, Hoseok amava tudo isso. 

Amava-o como a um irmão que nunca chegou a nascer da mesma mãe.

Amava os verões juntos, as reprimendas que levavam juntos, as alegrias e dores que partilhavam, todos os dias, juntos.

Se tudo pudesse ser menos doloroso para o mais novo, será que escolheria jamais ter vivido o amor que tinham?

− Nem em um milhão de anos, Jung. Nem se me permitissem voltar no tempo quantas vezes eu quisesse. Vocês são a minha casa. − Jungkook ajeitou-se na cama, abrindo espaço para que Hoseok deitasse ao seu lado, e assim como era automatico para o mais novo deixar que o Jung lhe tocasse ainda que nao gostasse do contato fisico de nenhuma outra pessoa, era automatico para o mais velho trazer-se sempre e sempre para mais perto do garoto. O castanho evantou-se prontamente e deitou-se de lado, as mãos jogadas no espaço entre os dois, encarando os grandes olhos de Jungkook. 

− Você não sabe como me alivia ouvir isso. − disse, e sentiu sua mão ser entrelaçada à dele, transformando o espaço entre os dois em apenas mais uma das coisas que os ligavam, ainda que devesse servir para lhes afastar. 

Sempre conseguiam estar ligados, no fim das contas. 

O quarto caiu em silêncio novamente, e o Jung sabia que a calma de fora refletia o exato oposto do desassossego de suas mentes.

Jungkook estaria pensando em Jimin, sabia. 

Sabia que estaria ponderando sobre sua pergunta e que, no fundo de seu ser, estaria perguntando-se se aquela era realmente a verdade.

Se não teria escolhido afastar-se da criança inquieta que gritava em meio a socos no ar e que desafiara seus companheiros de sala por insultarem o avô revolucionário. 

Jeon balançou a cabeça algumas vezes, olhando para o nada, e Hoseok sabia, só de olhar para ele, que havia chegado em uma conclusão definitiva.

− Nunca pense que eu não escolheria você milhões de vezes. Você é a melhor parte de quem eu sou. 

Sorriu, beliscando a bochecha do garoto sonolento e fazendo-o reclamar. 

Jung Hoseok não era muito bom com essas palavras que significam muito e que saem muito pouco. Elas ficavam presas em sua garganta, quase como esperando um momento propício, uma situação ideal onde dizê-las fosse tão natural quanto fazer sombra para os olhos com a mão ao observar o sol.

E, consequentemente, jamais encontravam seu caminho. 

O leitor provavelmente conhece alguém assim e, se me atrevo a meter o bedelho ainda mais em suas vidas, ouso apostar alguns anos de minha longa vida que talvez, muito possivelmente, também seja o leitor uma pessoa dessa forma. 

É difícil, para os humanos, falar sobre seriedades como sentimentos. Não porque talvez seja mais fácil falar de outras seriedades, mas o hábito de dizê-las torna-as suportáveis - tome como exemplo alguém que trabalha constantemente presenciando a morte, e tendo que espalhar a notícia de um ente querido vindo a óbito: essa é uma seriedade que, a principio, deve tirar o sono algumas vezes, mas que pela constância e repetição torna-se absurdamente mais fácil. 

− mais fácil para quem diz .− 

Para quem recebe a notícia, o fardo é sempre grande demais. 

Inesperado. 

As pessoas temem a morte. 

E a temem justamente por todos os sentimentos sérios não ditos pela falta de coragem de dizê-los. 

Por esperarem o momento certo constantemente e por terem que, de repente, dar-se conta de que não haveria mais momentos, de nenhuma natureza. 

Jung tinha consciência disso − da efemeridade que fazia com que os homens temessem não dizer tudo que deveriam ter dito −, mas não era como se conseguisse abertamente dizer coisas tão profundas e carregadas de afeto às pessoas das quais gostava, e em qualquer situação, como Jungkook e Jimin sabiam fazer tão bem.

Sequer sabia o motivo de todo o seu medo, mas a perspectiva de dizer coisas lhe deixava nervoso. 

As palavras jogadas de uma vez sempre lhe pareceriam um tanto amargas, e era por isso que nenhuma das declarações que fizera durante a vida, nenhuma das respostas sérias sobre como se sentia ou sobre como se sentiam os outros lhe pareceram sair elaborada o suficiente, maneira que gostaria que soassem. 

No entanto, mesmo com todo o medo e com toda a aflição e com todo o nervosismo que o rondava quando de declarações e sentimentos de afeto por parentes e amigos, dizer que amava Jungkook era, de longe, a coisa mais facil do mundo.

Bastava apenas que o olhasse fundo nos olhos por alguns instantes.

Naqueles olhos encontrava a coragem para ser tudo o que desejasse.

Encontrava seu porto e sua força.

− Eu amo você. Sabe disso, não sabe?

− Eu sei. − Os olhos do mais novo fecharam-se, como se o sono fosse maior que a resistencia que ofereciam, mas um sorriso lentamente desenvolvido adornou seu rosto. Hoseok sentia o velho conhecido calor que irradiava do fundo do peito até a ponta dos dedos numa calmaria de amor dito em silêncio, e refletiu em seu rosto o mesmo sorriso que brotava no rosto de Jungkook. − Eu também amo você, hyung. 

Aconchegou-se mais na cama pequena, empurrando seu corpo de pouquinho em pouquinho até que estivessem os dois existindo juntos, os sorrisos de quem se faziam em casa após um longo dia de trabalho. Mexeu nos cabelos de Jungkook mais um pouco até o garoto afundar a cabeça em seu peito e pegar no sono novamente. 

"Bêbado infeliz", Hoseok pensou, sorrindo para qualquer lugar e rodeando o rapaz com os braços, apertando-o contra si. 

Se ao menos pudesse mantê-lo ali, onde era calmo e seguro e onde nenhuma frustração o atingiria. Se pudesse ao menos prendê-lo contra seu peito quando caminhavam do lado de fora daquele universo que eram e a vida lhe ameaçava com chutes e pontapés. Hoseok os aguentaria sorrindo para protegê-lo.

Mas, bem, não era algo que ele realmente pudesse fazer. 

Então desejou  que ao menos pudesse haver alguém.

Alguém que entrasse em suas vidas e fosse catalisador das coisas mais lindas na vida de Jungkook. Alguém que o tomasse pelos ombros com o amor nos olhos que ele sabia que o amigo precisava.

Alguém que pudesse correspondê-lo à altura do que merecia.

Suspirou profundamente depois de alguns minutos, esticando a mão que antes abraçava o mais novo na direção de seu celular, na mesinha de centro. 

Esperava que Jimin houvesse lhe mandado uma mensagem, ou ligado. Àquela hora, em dias comuns de bebedeira comum, o Park, mesmo que cansado, era o primeiro a acordar. Sempre era. 

Não havia nenhuma chamada. Ou mensagem, até o momento. 

O castanho praguejou. 

Sabia que havia algo de diferente nos olhos de Park Jimin nas ultimas semanas e conseguia adivinhar, sem muito esforço, a origem das mudanças que lhe faziam brilhar as íris e afrouxar o nó que o prendia às inseguranças que o mundo lhe trouxera.

Seu avô sempre lhe dissera que, para saber o que um homem ama, basta olhá-lo profundamente nos olhos enquanto fala do objeto de sua paixão. 

Seu avô falava sobre Revolução, e os seus olhos brillhavam, era o que sua mãe contava. Sempre brilharam, desde que ela nascera. E ela sabia. 

Seokjin falava sobre a medicina pela qual sempre tivera apreço desde pequeno, e aqueles grandes olhos castanhos podiam iluminar estradas e campos vastos, ainda que na noite mais escura.

Seokjin falava também sobre amor e primavera, sobre encontrar-se no peito de alguém e sobre a bagunça que lhe trazia o seu companheiro de vida, tudo sem parar de iluminar as estradas com os olhos. E Hoseok sabia

Ele mesmo tinha um brilho estranho, aquém, quase louco, quando lhe diziam da dança e quando podia espalhar suas cores e sentimentos presos através de seu corpo. Bastava olhar para seus olhos. E todos saberiam

Jimin tinha os olhos brilhantes para todas as coisas da vida, era bem verdade, mas pareciam receber mais energia sempre que os mesmos paravam no silêncio excruciante, no doce mistério que era o garoto de cabelos descoloridos que sempre dormia durante as aulas.

Ah, seus olhos brilhavam diferente... quase da forma como Jeon Jungkook tinha os olhos brilhantes quando punha-os em Jimin.

Quase da forma como os olhos de Seokjin brilhavam ao contar da vida que dividia com um outro rapaz. 

Os olhos de Jimin brilhavam como se finalmente tivessem uma direção a seguir. 

Como se só pudessem iluminar aquele ponto especifico no meio de zilhões de outros pontos. 

Paixão, era o nome que se dava, certo? Porque não, não cogitaria ser aquela outra coisa, aquela coisa mais forte e que lhe corroía as veias só pensar na possibilidade de estar, sequer, começando a crescer no mais novo. 

Park Jimin não podia envolver-se em qualquer coisa que trouxesse aquele sentimento, certo?

Park Jimin não poderia amar alguém.

Ouvira isso do ruivo tantas e tantas vezes, constestara-o tantas e tantas outras sobre o absurda era a ideia de que alguém estaria proibido de amar, que perdera as contas das discussões que tiveram. 

No fim, acabou por entender o fardo que era carregar a vida de alguém nos ombros tendo ossos tão fracos como os de Jimin.

E não podia exigir do amigo que fosse forte e não dobrasse ante a tempestade.

Mas isso havia sido há anos atrás,  quando ainda brincavam nos parques e dividiam sorvetes porque nunca tinham dinheiro para comprá-los separadamente. 

Agora deveria ser diferente, certo? 

Agora era sol que via no rosto do amigo quando fugia, às escondidas, e passava os dias debaixo da cerejeira conversando com o arruaceiro.

Agora Hoseok sentia que algo germinava.

Havia, plantada no coração árido e difícil de Jimin, uma semente que germinava apesar das intempéries e do tempo ruim.

E ao contrário da supernova que agora implodia no peito do garoto de cabelos alaranjados pelo cinzento, entre ele e Jungkook nada chegou a queimar. 

Não havia alimento, como havia com ele.

Não havia sol, como havia com ele.

Não havia combustível para queimar, como havia com ele.

Com Suga.

Entendia perfeitamente quando seu avô se referia ao brilho nos olhos de alguém.

E aquecia-lhe o coração que o amigo houvesse encontrado algo que lhe trouxesse luz aos olhos.

No entanto...

No entanto ali, deitado ao lado de Jungkook, com as mãos passeando por sua pele bonita, sentia-se mal que, para que a luz chegasse a um deles, o brilho do outro estivesse à beira de sua extinção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

− Trate de comer alguma coisa quando chegar em casa. – Ditou, afobado, entregando a Jungkook uma sacola plástica com as roupas que usara no dia anterior, já devidamente lavadas e livres dos vestígios de uma bebedeira irresponsável. Jungkook rolou os olhos ante o pequeno sermão. – E não beba mais nada hoje, eu sei que você tá planejando encher a cara e esquecer as coisas. E não pense em treinar nada hoje, porque você tá fisicamente esgotado. E lembre de não-

“Não responder ninguém de forma ignorante só porque a vida tá parecendo uma merda”. Eu sei, Jung Hoseok. Só me deixe ir e siga seu caminho.

Jung deu-lhe um soco no braço. O mais novo sorriu.

− Você é o pior maknae de todos. Não tem respeito nenhum.

− Hobi, − trouxe o amigo para um abraço lateral desengonçado, e bagunçou seus cabelos castanhos − é difícil respeitar você.

− YAH!

Hoseok tentou fazer-se de sério, mas nunca era o que acabava acontecendo. Quando Jungkook oferecia-lhe aquele sorriso de quem sabia exatamente como acabar com a sanidade de um ser humano, era difícil culpá-lo de qualquer coisa.

Hoseok sempre lhe concederia absolvição.

— Até mais, Hyung. E obrigada — o moreno disse —por não ter perguntado.

Suspirou.

— Quando você estiver pronto. Não se apresse. Ou melhor — corrigiu-se, empurrando-o pelos ombros para a saída — Se apresse pra chegar em casa, ou sua mãe te mata e me mata depois.

Jungkook riu.

E era assim que gostava de tê-lo.

Sorrindo.

Viu quando o garoto mais novo seguiu pela rua escura, percorrendo o resto do caminho que faltava para que chegasse em sua casa.

Observou o véu escuro da noite que se impunha por todo o céu.

Respirou fundo.

Tudo daria certo.

E foi ainda pensando que tudo daria certo que alcançou seu celular no bolso da calça e ligou para Jimin.

Duas vezes.

O celular tocou duas vezes antes que o ruivo atendesse.

Antes que Hoseok o enchesse de perguntas.

Antes que o mais novo contasse sobre o dia que passara ao lado de Suga, e perguntasse a Hoseok se podia ajudá-lo a chegar em sua própria casa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hoseok apareceu à porta de Jungkook ainda naquela mesma noite.

Apareceu e era incrível como sentia-se compelido a entornar seu copo e apenas despejar todo o amor que sentia pelo rapaz, cada vez que o via prender, infeliz, no peito, as coisas que nunca deveriam ser menos que do peito pra fora.

− Veio fazer o que aqui, hyung? – Jeon abiu a porta de casa após ouvir as cinco batidas ritmadas que eram código dos dois. Estava surpreso, sim, mas não deixou de sorrir e caminhar com o rapaz para o jardim, onde podiam conversar sobre qualquer assunto sem serem atrapalhados por alguém da casa.

− Boa noite pra você também, seu ingrato.

Jungkook riu em silêncio, balançando os ombros para cima e para baixo, como fazia desde o dia em que se conheceram. O mais velho sorriu, mas sorriu pouco.

− Você tá com uma cara não muito boa, Seok. – observou.

Era assim que fazia e por isso Jung Hoseok se sentia tão feliz ao ter em sua frente o garoto alto demais para a idade,e  bonito demais para que qualquer pessoa não o observasse por mais tempo do que o necessário.

 Porque qualquer outra pessoa que o visse naquele momento – qualquer outra pessoa que não fosse Jeon Jungkook −, jamais pensaria ou saberia ler seus olhos.  Qualquer outro anuiria e sorriria para si, ou esperaria por uma piada do tão costumeiro humorista Jung Hoseok.

Porque sabia enterrar seus pensamentos negativos e dores.

Porque nunca os deixava transparecer.

Porque não aprendera que a tristeza também fazia parte da equação, nem conseguira internalizar que não era sua função fazer todas as pessoas felizes.

E bem, não era assim com Jungkook. Ele sempre sabia.

Bastava um olhar na direção do que deveria ser apenas um garoto magrela,feliz demais, hiperativo e tagarela para que soubesse quando algo o corroía. Bastava ver os olhos do Jung apenas uma vez.

Engraçado como os anos de convivência nos conferem a capacidade de perceber as nuances do que nunca nos fora diretamente revelado pelas pessoas que guardamos próximos a nosso coração.

Aprendemos com o tempo a ler os olhos e perceber a intensidade de seu brilho − ainda que nunca tenhamos ouvido diretamente dos nossos amigos qual tipo de brilho havia quando de um tipo de sentimento.  Nós conseguimos, corretamente, associar o que ninguém mais associaria, e ver, naquele vinco quase invisível entre as sobrancelhas, em mãos levemente ansiosas, em gestos minúsculos, marcas de uma preocupação escondida de todos – às vezes escondida até de quem a tem.

Era assim que Jungkook percebia Hoseok e era assim que Hoseok sabia que era visto. Sabia que nunca poderia esconder-lhe ou enterrar-lhe um sentimento que existisse dentro de si.

Jungkook o via. Nunca deixava de vê-lo.

E agora, especialmente quando seus medos giravam em torno do futuro triste que os aguardava, não era como se quisesse esconder.

Não queria.

Queria poder tomar os amigos no colo e guardá-los debaixo de suas asas, longe de qualquer temporal que pudesse esfriar-lhes os corpos.

Queria poder proteger Jimin da força que o destruía de dentro para fora.

Queria proteger Jungkook do futuro que imaginara para si, mas que aconteceria com outro alguém.

Isso se houvesse tempo para um futuro.

Queria tanto... mas era tão pequeno.

Era pequeno em suas meias palavras e nos risos que distribuía a rodo quando pensava ver tristeza ou tédio no olhar da multidão.

Pequeno em seus passos de dança, dos quais nunca realmente se recordava do nome.

Pequeno para suportar todo o seu coração enorme, galopando no peito, batendo como se precisasse alçar voo.

Era pequeno demais quando comparado à vastidão do destino. Ao inevitável mudar das coisas.

Era pequeno, apenas.

− Venha comigo. – estendeu a mão ao amigo, inclinando-se um pouco sob a cerca do jardim − Quero ir pro esconderijo.

Jungkook assentiu, sem perguntar-lhe muitas coisas, sem questionar-lhe os motivos.

Segurou sua mão e seguiu, como sempre faria ao se tratar de Jung Hoseok.

 

 

 

 

Jung Hoseok sempre ouvira que era como um raio de sol,

Mas sempre temera, secretamente e mais que tudo, a tempestade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Vamos beber uísque, vamos 

beber cerveja preta e barata, 

beber, gritar e morrer, 

ou, quem sabe? beber apenas. 

 

Meu amigo, vamos cantar, 

vamos chorar de mansinho 

e ouvir muita vitrola, 

depois embriagados vamos 

beber mais outros sequestros 

(o olhar obsceno e a mão idiota) 

depois vomitar e cair 

e dormir. “

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


PABAAAAM ASHDBASJKML
Tinha umas beijoquinhas? Tinha sim. Mas eu quis realmente separar os sentimentos e fazer tudo ficar mais claro.
O amor desses dois é a coisa mais ágape do mundo. Eles sao casa um do outro e eu quis deixar que isso fosse o foco. No cap passado eu achei que isso se perdeu um pouco e que o significado de amizade daquela beijoca foi perdido no meio da história daskml
TÃO ACOMPANHANDO DIREITINHO? Prestem sempre atenção nos detalhes. Ameno é uma fic de muitas nuances. <3
Como tá a vida de vocês?
Eu tô perdida de novo. Não sei por onde começar e não sei se o que eu digo que quero agora é o que eu realmente quero. Voltei a ser assombrada por alguns sentimentos que deviam ter sido deixados no passado, junto das pessoas causadoras desses sentimentos. Não sei se isso é bom ou ruim.
Espero que eu consiga ter a paz que eu mereço depois desse tempo.
Vocês tão gostando do fluxo da história? Os caps tão confortáveis de se ler? Tem algo maçante demais? Me deixem saber que eu vou melhorando procês. <3
Enfim. Até o proximo cap!
( Ah, e só pra informar, tem um comentário enorme que me fez chorar e eu nao respondi ainda porque nao achei as palavras certas. me perdoe quem escreveu. eu vou responder. juro juro. obrigada por se abrir comigo <3)


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