Capítulo 3 – Meu nome?
— Filho, você precisa deixar o quarto agora. — Jungkook voltou à consciência ao ouvir as palavras do pai, que repetiu a frase com calma, percebendo o choque do filho. Só então, o garoto percebeu o movimento dentro do quarto. Estavam tentando reanimá-la. Ele não soube o que fazer, então apenas deixou o pai guia-lo para fora do quarto.
Pane total! Sua mente estava completamente em branco. Ele continuou parado no corredor, do lado de fora do quarto, apoiando-se na parede, porque não conseguia se mover. Ele até percebia os barulhos feitos pelos médicos dentro do quarto, mas não passavam de murmúrios incompreensíveis.
“Cinco minutos sem batimentos cardíacos! ”. Ouviu um dos médicos alertar.
Aquilo foi culpa dele?
Seus pensamentos foram interrompidos ao sentir seu celular vibrar no bolso de sua calça. Novas mensagens. Vibrou uma, duas, três, quatro vezes até ele desistir e olhar quem tanto o atormentava. O nome Bangtan Sonyeodan brilhou em sua tela. Eram seus hyungs no grupo que tinham criado para manter contado. Automaticamente deslizou o dedo pela tela, desbloqueando-o.
CHATROM
방탄소년단
Yoongi:
[18:36] : Ei, Jungkook
[18:36]: Cadê você?
[18:37]: Você disse que vinha
[18:38]: YAH!
O jovem soltou um longo suspiro ao lembrar que tinha combinado de encontrar seus amigos, e ao que parecia, ele estava mais de 30 minutos atrasado.
Jungkook:
[18:39]: Desculpa
[18:39]: Eu esqueci
Yoongi:
[18:39] De novo...
[18:40]: Mas dessa vez você vem!
[18:40]: Não vou dizer que vou me dar o trabalho
de me levantar e ir te buscar
[18:41]: porque já ‘tô me dando o trabalho de te
mandar mensagens
[18:41]: Mas você vem sim
[18:41]: Ou eu faço o Jin bater em você
[18:42]: Porque não vou me dar o trabalho de
fazer isso também
As mensagens foram vindas uma atrás da outra, sem dar tempo para que Jungkook respondesse que coisas haviam acontecido. Ele teve vontade de responder “não posso ir agora”, mas já tinha deixado seus amigos demais de lado, e precisava do conforto deles agora.
Respondeu com um rápido “ ‘tô indo”, antes de se virar para o quarto de hospital que estava antes, e perceber que alguns paramédicos já tinham se retirado, haviam apenas algumas enfermeiras checando os remédios e as máquinas, enquanto seu pai preenchia novas informações em uma folha.
Sentiu-se aliviado ao perceber que o tumulto tinha acabado, entrando no quarto novamente.
— Ela está bem de novo? — Perguntou, não muito certo se a palavra “bem” poderia definir a garota, mas aquilo não era importante no momento.
— Por sorte. — Respondeu o pai, levantando o olhar para o filho. As feições de alívio do homem o acalmaram mais. — Agora ela está apenas dormindo. — Jungkook revirou os olhos ao ouviu tal frase.
— “Dormindo” em coma de novo? — Perguntou sarcástico. Não achava a palavra “dormir” apropriada para descrever aquela situação, achava que se talvez os familiares de Chaeyoung ouvissem tais palavras, se sentiriam ofendidos... Ele se sentia ofendido.
— Não. — Jeongkwon o repreendeu com o olhar. — Ela acordará em poucas horas. — Disse. — Eu não sei o que você fez, se você fez, mas ao mesmo tempo que poderia ter a matado, ajudou a termos alguma reação... — Completou incerto. Nada pode explicar o estado de coma, apesar de haver algumas especulações sobre o que acontece na cabeça de uma pessoa durante esse estado; mas nada é certo. Tudo o que podia afirmar era que ela teve uma repentina parada cardíaca, que pode ou não ter sido reação de algo.
Já no apartamento de Seokjin, Jungkook explicou o que aconteceu mais cedo no hospital por mais vergonhoso que fosse, enquanto os outros garotos estavam soltos pelo lugar fazendo qualquer coisa.
— ‘Tá, então você tocou na garota desmaiada, que de repente acordou e morreu?! — Namjoon revisou as palavras do mais jovem, um pouco incrédulo.
— Mas ela está viva de novo! — Kook adicionou.
— Tudo isso porque você queria “ensaiar” seu textinho de perdão praquela sua namorada?
— Ex-namorada. — Corrigiu novamente. Ele pensou em dar um sermão por terem se referido de Soomin assim, mas ele já estava se acostumando. Os outros garotos apenas suportavam ela, e nunca entenderiam porque ele gostava tanto dela.
— Poxa, a vida do maknae tem mais ação do que a nossa! —Afirmou Jin da cozinha, surpreso. — E ele é o maknae!
— Mas mudando de assunto, eu preciso de ajuda para pensar em algo para ter a Soomin de volta. — Choramingou, assistindo pelo menos 70% dos garotos ali revirar os olhos.
— Jungkookie, querido, você não precisa dela, você tem a mim! — Exclamou Taehyung, que estava no sofá jogando uma partida de vídeo game contra Hoseok.
— Eu até te ajudaria, mas lembrar que você arrumou uma namorada antes de mim me deprime. — Comentou Jimin com um leve tom de brincadeira, enquanto checava seu celular, no outro sofá junto de Yoongi, que dormia quietamente. Logo, os mesmos dois tiveram sua paz interrompida com a comemoração de Taehyung, que havia acabado de ganhar o jogo.
— Chega nela e fala assim: “Você é cocô de passarinho? Porque você caiu do céu. ” — Hoseok falou rindo, depois de deixar o controle de lado, ignorando um Taehyung fazendo uma dancinha da vitória e o fato de ter acabado de perder uma partida de vídeo game.
Jungkook soltou um longo suspiro, reprimindo um riso. Seu olhar descansou no recém-acordado Yoongi, que por sua parte, também olhou para ele. Logo o contato visual foi quebrado, quando Yoongi se deitou novamente, fechando os olhos para dormir de novo.
— Não conte comigo. — Soltou, enfim.
— Mas eu já vi suas composições, e elas são maravilhosas! Você tem jeito para essas coisas. — Implorou o mais novo.
— Hoseok também tem músicas ótimas e olha o que você ganhou. — Comentou ainda deitado de com os olhos fechados, mas já sentindo o rosto indignado direcionado a ele.
— Namjoon, você também é bom! — Voltou seu olhar para o que se encontrava lendo um livro.
— Eu sou bom apenas com palavras, eu não tenho a menor ideia do que ela quer. — Disse ainda focado no livro. — Eu sou uma pessoa simples, palavras sinceras seriam o bastante para mim, mas parece que não será o caso dela. — Falou enfim, pensando ter terminado aquela discussão, mas sentiu-se mal ao ver a carinha de desapontado do maknae. — Olha, o Jin é o romântico e bom com essas coisas, ele pode te ajudar.
— Eu posso! — Gritou da cozinha, ele terminava o jantar para o outros mais jovens. — Mas não sei se quero. — Falou brincando, chegando na sala. Riu ao receber uma carinha-de-bravo como resposta. — Eu te ajudo mais tarde, agora come, porque eu sei que seu pai não vai poder fazer nada na sua casa.
***
O céu se mostrava em um tom anil, um azul bem escuro, iluminado por pequenas estrelas, não havendo nenhuma nuvem para atrapalhar a visão das mesmas, quando o jovem chinês finalmente adentrou o local, após dar uma longa olhada do lado de fora. Ele não tinha a menor ideia de como traria a tal garota de volta, só sabia que não poderia voltar sem ela, ou então perdia o emprego... e talvez, também a vida.
Ele fitou a recepção, até parar na recepcionista. Era com ela com quem ele precisava falar. E lentamente se direcionou até ela.
— Hm... eu... vocês tem alguém que eu procuro. — Xingou-se mentalmente. Ele não havia começado bem. E estava torcendo para que seu coreano saísse, pelo menos, aceitável.
— Ah, e quem seria esse alguém? — A recepcionista desviou sua atenção do computador.
— Chaeyoung. — Respondeu. — Park Chaeyoung. — Ele disse com certo carinho na voz, que começou áspera, mas logo estava macia aos ouvidos alheios. — Eu sou o... irmão. — Os olhos da mulher se arregalaram, preparando o computador para preencher o formulário da garota, que estava praticamente vazio.
— Oh, claro, claro. — Ela falou se recuperando do choque. Ela não queria ofender ninguém, mas depois de tanto tempo sem respostas, todos os funcionários do local começaram a especular que ninguém apareceria. — Você poderia me passar a sua certidão de nascimento, e a dela também, por favor?
Ele entregou alguns papéis para a mulher. Ele estava agindo confiante, tudo parte de uma mentira. Enquanto a mulher levava os papéis até um escâner, ele repensava suas ações. Pensava se a garota realmente merecia voltar para aquilo que talvez chamasse de casa, mas nunca de um lar. Se ela realmente merecia voltar para aquele homem.
A volta repentina da mulher interrompeu seus pensamentos.
— Sinto muito senhor, mas o computador não reconhece os documentos como verdadeiros. — A moça revelou um pouco hesitante.
“Oh, droga! ” — Pensou o rapaz, se segurando ao máximo para não demonstrar seu desespero ali.
— Tem certeza? Esses são verdadeiros. — A mulher assentiu. — Ah, mas eu te garanto. Você poderia preencher as informações direto no computador. — Tentou convence-la, mas foi em vão.
— Não posso, sinto muito. — Ela respondeu, e ele insistiu mais um pouco, com a paciência acabando. — Moço, acho que você precisa se retirar. — A mulher disse irritada.
Ele fechou os olhos e respirou algumas vezes. Precisava se acalmar, ele tinha que ser discreto. Se segurando ao máximo para não tirar a arma e fazer das coisas mais fáceis para si, pegou os documentos falsos e virou-se andando em direção a saída.
“Paciência, Mark Tuan. Você só precisa de paciência. ” — Pensou consigo mesmo, enquanto andava para fora do hospital, e esbarrando em um adolescente de cabelos negro, Jungkook, o qual fez questão de pedir perdão com uma rápida e curta reverencia, não prestando muita atenção no rosto nervoso a sua frente, que apenas foi embora.
Jungkook, que por sua vez tinha acabado de voltar do encontro com seus amigos, resolveu ignorá-lo e entrar dentro do hospital. Ele faria seu caminho direto para o quarto de Chaeyoung, mas parou ao ver a cara de nervosa da recepcionista.
— Vai espantar os pacientes com essa cara. — Ele brincou, e mulher olhou ainda um pouco irritada para ele.
— Ah, um jovem chegou aqui dizendo ser parente de Chaeyoung, mas os documentos não batiam e pareciam ser falsos, e ainda assim ele continuou insistindo. — Desabafou, mal prestando atenção na expressão de surpresa do rapaz.
— É sério? E quem era? — Ele perguntou, um pouco mais desesperado do que esperava.
— Ele acabou de sair, você esbarrou nele. — Ele mal ouviu a mulher terminar de falar, e correu em direção à rua, olhando para os dois lados na esperança de encontrar o tal jovem de quem a recepcionista falava, mas a rua já se encontrava vazia.
Frustrado, ele entrou novamente no hospital, se direcionando ao quarto que sempre ia, com os pensamentos ainda no cara em quem tinha esbarrada antes, tentando lembrar de seu rosto.
Ao entrar no quarto, deparou-se com seu pai e seu irmão novamente, dessa vez os dois estavam em silencio, já que seu pai parecia ocupado.
— E aí? — Disse Junghyun ao ver o caçula. — Aqui de novo? Você não dorme, não? — Perguntou se fingindo de incrédulo. — Olha essa cara... parece que viu um fantasma!
— Sem graça. — Jungkook falou com a cara fechada. — A recepcionista falou que hoje apareceu alguém dizendo ser parente dela. — Comentou, e logos os outros dois homens no quarto olharam para ele surpresos. — Mas ela disse que os documentos não batiam, e ele foi embora. — Jeongkwon deixou os papeis com informações da garota de lado para prestar atenção no filho.
— Mas simplesmente mandou o cara embora? Ela não pediu nem o telefone para que pudéssemos entrar em contato mais tarde? — Perguntou parecendo um pouco irritado com a falta de profissionalismo da mulher.
— Ela disse que os documentos pareciam falsos. — Deu de ombros, assistindo seu pai sair do quarto. Por mais que fosse algo importante, não havia nada que pudessem fazer além de esperar e ver o que dava. — Ela ainda não acordou? — Mudou de assunto, descansando o olhar sobre Chaeyoung, que parecia dormir tranquilamente.
“Mas ela é bem bonita...” — Pensou, enquanto se aproximava dela.
— Parece que não... — Respondeu o irmão, observando a forma que o mais novo se aproximava da garota. —Jungkook, eu tenho algo para falar com você.
— Sim, pode falar... — Disse vagamente, quase não ouvindo suas próprias palavras, sem perceber o quão perto estava dela.
— Mas você vai prestar atenção ou... — Sua frase morreu ao ouvir um pequeno murmúrio vindo da garota.
— Hm? — A voz dela era baixa e suave, ela lentamente abriu os olhos, com cansaço óbvio neles, o que era bem irônico, já que “dormir” foi tudo o que ela fez durante as últimas semanas, praticamente.
Jungkook observou os mesmos olhos amendoados de antes, como se ele estivesse familiarizado com eles. Tais quais se arregalaram ao perceber os dois jovens olhando-a, ambos com feição de surpresa.
— Ér, hmm... eu... eu vou chamar o papai — Junghyun disse finalmente, e correu para fora do quarto atrás de um profissional, deixando os dois adolescentes sozinhos.
Eles se encaravam profundamente, com as bochechas rosadas de constrangimento, mas ainda assim, faziam questão de guardar cada traço alheio. Jungkook, principalmente, queria esconder o rosto dentro de um buraco ao perceber a proximidade que estava dela. Mas ela ainda o olhava atentamente, o que o fez se perguntar se ela lembrava dele de mais cedo, assim, ele sentiu seu rosto esquentar ainda mais e desviou o olhar para a janela, tentando dar uma de “cool”.
— Seus olhos. — Comentou a garota, pela primeira vez, e ele tentou segurar o olhar que ela o mandou. — Parecem jabuticabas. — Ela disse sorrindo, ainda com as bochechas levemente rosadas, levando os lençóis da cama até o rosto escondendo um riso. Ele tinha que admitir o que o sorriso dela era cativante.
Logo o clima foi cortado com dois homens entrando apressados no quarto. Jeongkwon posteriormente sorriu ao ver a garota acordada.
— Chaeyoung! Você acordou! Como se sente? — Perguntou se aproximando dela com um formulário. Mais informações a preencher.
— É... bem...? — Respondeu hesitante e confusa. — Onde eu estou?
— Você está no Hospital Central de Seul. — Respondeu rapidamente. — Estamos muito aliviados que acordou, tenho algumas perguntas, você se sente capaz de responde-las agora? — Tentou perguntar com calma para não a assustar. Ela, por sua vez, apenas assentiu, ainda confusa. — O seu nome seria Chaeyoung...? — Perguntou incialmente, esperando que ela lhe dissesse seu sobrenome para ajudar a entrar em contato com a família.
— Chaeyoung? Meu nome não é Chaeyoung. — A feição confusa ainda em seu rosto, ela encarava um ponto fixo no quarto, se esforçando para lembrar de qualquer detalhe. — Ou é...? É? — Perguntou, voltando seu olhar para o homem mais velho dentre eles. Sem demora, a confusão também tomou conta dele.
— Sim, você não se lembra? — Perguntou preocupado, e sua preocupação afetou os outros dois no quarto. — Não se lembra de seu nome? De sua família? Nada?
Ela se concentrou no ponto fixo de antes para tentar se lembrar de qualquer coisa, mas todo esforço foi em vão. Tudo o que conseguia ver em sua mente era uma enorme tela preta. Mais nada.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.