História Amor Além do Tempo - Um Novo Começo - Problemas na Escola

Max entrou na sala da diretoria da escola de Ellie com uma sensação extremamente familiar de flashback ao se deparar com a filha passando por uma situação bastante semelhante à que ela mesma viveu anos atrás. Ainda que por razões diferentes. 

As maiores diferenças entre os acontecimentos residiam no fato de que Ellie estava passando por aquilo sozinha e bem mais precocemente que a fotógrafa, mais precisamente aos 8 anos idade.

Max se moveu pelo escritório com uma expressão preocupada, ignorando o convite da diretora para que se sentasse e decidindo, em vez disso, se dirigir à filha para saber se ela estava bem.

- Tá tudo bem, mamãe. - A garota garantiu, enquanto Max checava seu rosto em busca de arranhões, cortes, inchaços ou qualquer outra marca da briga.

- Tem certeza? Nenhum machucado?

Max insistiu, encarando Ellie com um olhar cético, enquanto esta balançou a cabeça negando mais uma vez e levando a fotógrafa a abraçá-la aliviada.

- Eu ganhei a briga. - A garota pequena aproveitou a proximidade das duas para sussurrar a informação próxima ao ouvido de Max, levando-a a se afastar bem a tempo de ver o esboço de um sorriso orgulhoso tomar conta do rosto de Ellie. Um sorriso que lembrava muito o de Chloe naquela idade.

Ao se afastar da garota e se dar por satisfeita com sua análise, Max finalmente voltou sua atenção para a diretora, mas se manteve de pé por se sentir incapaz de relaxar totalmente naquele contexto. 

- O que houve?

- Sua filha se envolveu numa briga com outra aluna e as duas alegaram não ter iniciado a confusão, só terem reagido à provocação uma da outra. - A mulher explicou pacientemente - Por não termos como saber quem estava falando a verdade, resolvemos apenas dar uma advertência às duas e avisar aos responsáveis sobre o que aconteceu.

- Ela disse um monte de coisas feias sobre você e a mãe e, quando eu respondi, ela partiu pra cima de mim.

A garota se defendeu, interrompendo o diálogo momentaneamente, trazendo a atenção das duas mulheres para si e, ao mesmo tempo, embasando a réplica de Max.

- Olha, eu não sei nada sobre a garota que brigou com a Ellie, mas conheço muito bem minha filha pra saber que ela não tem o costume de inventar histórias e que, com certeza, não mentiria a respeito disso. - Max assegurou, tentando manter a voz num tom neutro - Eu ponho minha mão no fogo por ela.

- Eu entendo. E concordo que a senhora tem motivos para confiar na Elizabeth, já que o comportamento dela vinha sendo exemplar até hoje, mas infelizmente não podemos acusar ninguém sem provas. É a palavra de uma contra a outra. Por isso, preferimos adotar esse procedimento.

- Tudo bem. Isso não importa agora. Eu só espero que vocês façam o papel à que se propuseram como educadores e não deixem que algo assim volte a acontecer com a minha filha porque, da próxima vez, quem vai vir aqui será minha esposa e garanto que ela não vai ser tão gentil e compreensiva como estou sendo agora.

- Nós, com certeza, faremos isso, senhora Caulfield. 

Max apenas assentiu com um gesto, se despedindo formalmente, e depois ofereceu a mão à Ellie para que esta a segurasse e as duas seguissem caminho.

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- Até que enfim vocês chegaram. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa.

Chloe comentou ao se levantar do sofá onde assistia TV, logo que Max abriu a porta da frente, dando passagem para Ellie. 

A garota caminhou instintivamente em direção aos braços abertos da punk para receber um abraço, sendo acompanhada de perto pela nerd, que replicou a ação logo que a primeira se afastou.

- Aconteceu uma coisa. - Max respondeu ao desfazer o abraço, deixando Chloe com as sobrancelhas arqueadas, curiosa sobre o complemento do comentário. - Filha, vai lá pro seu quarto brincar. Daqui a pouco a gente te chama.

A garota deu de ombros e acatou a decisão sem oferecer resistência, andando e subindo os degraus lentamente até desaparecer de vista. Assim, permitindo que Max explicasse seu comentário.

- A Ellie se envolveu numa briga na escola. Aparentemente, pra nos defender.

- O que? Como assim? - Chloe perguntou, substituindo a expressão curiosa de antes por uma séria. - Por que ninguém de lá me ligou e por que você não me avisou quando descobriu?

- Eles ligaram pra mim porque têm meu telefone como contato imediato e eu não te contei antes porque preferi contar pessoalmente, já que eu sabia que como você reagiria. - Max explicou calmamente. Calma esta, que não era compartilhada pela punk.

- Mesmo assim eu queria e deveria ter estado lá, Max. Ela é minha filha também, sabia?

Chloe reclamou de braços cruzados e com uma expressão séria, levando a fotógrafa a se reaproximar e buscar as duas mãos dela para segurá-las antes de responder.

- Eu sei que você queria, Chlo, mas achei mais sensato te guardar como elemento surpresa para o caso de não conseguir resolver a situação pacificamente. - Ela explicou fazendo a punk esboçar um sorriso. - E claro que ela é sua filha. Isso não está, nem nunca esteve em questionamento. - Max assegurou, amolecendo um pouco mais a expressão de Chloe - A primeira coisa que ela falou, enquanto eu estava preocupada em checar se estava tudo bem, foi que tinha ganhado a briga. Isso te soa familiar?

Chloe não conseguiu evitar o sorriso orgulhoso que tomou conta de seu rosto após saber daquele detalhe da história. Praticamente o mesmo sorriso que Max havia presenciado no rosto de Ellie horas antes, naquele mesmo dia.

- Pelo menos, disfarce sua reação. Não podemos encorajá-la a resolver problemas assim. 

Chloe riu mais ainda após a crítica velada da fotógrafa, se aproximando dela e a abraçando antes de começar a se defender.

- Relaxa. Ela nem tá aqui. - Chloe minimizou a preocupação da nerd, a beijando. - E pode deixar que eu vou lá conversar com ela e fazer o papel de adulta responsável.

- Obrigada. - Max retribuiu o beijo, antes de desfazer o abraço e permitir que a punk seguisse os próprios planos. - Eu vou só ver uma coisa do trabalho e, daqui a pouco, subo pra ficar com vocês.

Chloe fez um sinal de sentido para Max e logo se encaminhou para a escada, subindo dois degraus por vez e, assim, alcançando rapidamente o andar superior e consequentemente o último quarto do corredor, pertencente à Ellie.

A punk bateu na porta anunciando sua chegada e, logo em seguida, entrou no cômodo, encontrando a garota sentada no chão, rodeada por peças de lego e vários outros brinquedos, montando uma estrutura colorida, que ainda era difícil para Chloe imaginar no que se transformaria.

Depois de se sentar de pernas cruzadas ao lado da garota e observá-la, por vários minutos e em silêncio, empenhada em sua atividade, Chloe finalmente decidiu iniciar uma conversa.

- O que você tá fazendo?

- Um forte. - A garota respondeu simplesmente, sem desviar sua atenção da montagem dos blocos.

- Posso te ajudar? Eu meio que sou especialista nisso. - A garota assentiu, dando espaço para Chloe participar da atividade, enquanto esta começou a separar as peças sobressalentes por tamanhos e fazer algumas pequenas alterações na construção. - Pra ter uma estrutura firme, você vai ter que usar as peças maiores pra formar a base e usar as restantes para modelar os muros e as paredes.

Chloe explicava e, ao mesmo tempo, ia mostrando o passo a passo para uma Ellie concentrada e que, por vezes, recebia novas peças para acrescentar ao forte.

- Assim você vai ter uma fortaleza impenetrável pra proteger sua boneca dos ataques desse unicórnio malvado. - Ela concluiu, colocando a boneca à qual se referiu dentro do castelo e o animal numa posição de ataque a alguns centímetros dele.

- Não, mãe. O unicórnio é amigo dela. - A garota protestou, fazendo Chloe refletir antes de sugerir um novo cenário.

- Então, a gente põe ele e o dinossauro pra protegerem o castelo. Problema resolvido. - Chloe sugeriu, colocando os brinquedos ao redor da construção e os cercando com um muro improvisado, feito com as peças de lego restantes.

A garota assentiu sorrindo, mas ainda assim permaneceu estranhamente silenciosa, até o momento em que sua expressão animada se desfez e foi substituída por uma de preocupação, logo que decidiu externar os próprios pensamentos.

- Você e a mamãe brigaram por minha causa?

- O que?! - Chloe perguntou confusa, ao ser pega de surpresa pelo questionamento - Não. Claro que não. O que te fez achar isso?

- É que quase sempre que alguma coisa acontece e vocês me mandam pro meu quarto é porque vão brigar.

Chloe riu, colocando braço sobre a garota, a trazendo para se recostar em seu ombro e beijando a cabeça dela, antes de desfazer o engano.  

- Eu ainda me surpreendo com o quanto você é esperta e observadora já com essa idade. Mas, dessa vez, você se enganou. - Ela disse para alívio da garota - Nós não brigamos. Longe disso. Sua mãe só estava me contando o que houve hoje na sua escola e eu vim aqui saber se você quer conversar a respeito.

- A mamãe não te contou tudo?

- Não. Ela só me deu um resumo geral e eu vim ouvir o resto da história direto da fonte. No caso, você. - Chloe explicou para a garota que se mantinha recostada em seu ombro. - O que essa menina disse de tão ruim pra fazer você entrar numa briga?

A garota suspirou, olhando para o chão, mas não demorou a dar à Chloe a explicação solicitada.

- Um monte de coisas feias sobre você e a mamãe. Disse que vocês não eram normais, que não podiam ter filhos e também que eu era adotada.

- Hum. - Chloe deixou escapar, enquanto refletia sobre o que acabara de ouvir. - Ellie, você não é adotada. É só olhar no espelho pra ter noção disso. E, quando eu digo espelho, me refiro à sua mãe. Essas sardas no seu rosto estão para os Caulfield assim como cabelos ruivos estão para os Weasley. - Chloe brincou, fazendo a garota esboçar um sorriso. - Mas, se você fosse, não seria problema nenhum. Nós te amaríamos da mesma forma. - A garota assentiu e Chloe continuou seu discurso - Por exemplo, o Bongo é adotado e tenho certeza que você gosta dele tanto quanto gostaria, se ele fosse do seu sangue. - Ela comentou e depois completou ao refletir sobre as próprias palavras - O que seria bem estranho, já que ele é um gato e você uma pessoa.

A garota riu mais abertamente após o último comentário, finalmente decidindo voltar a falar.

- Eu sei, mãe. Só que o problema não foi ela dizer que eu era adotada. Foi o jeito que disse… fazendo soar como algo ruim.

- Hum… e o que ela falou exatamente? Você quer me contar? 

A garota assentiu e logo cuidou de detalhar a história.

- Que você e a mamãe me encontraram no lixo e me levaram pra casa porque não podiam ter filhos e também por pena, já que ninguém mais me quis.

- Minha nossa! Essa menina é bem maldosa pra idade. - Chloe deixou escapar, surpresa com a explicação, mas logo se recuperou e buscou garimpar novos detalhes. - E o que você respondeu?

A garota exibiu uma expressão incerta para Chloe, abriu e fechou a boca várias vezes, como se vivesse um conflito interno tentando decidir se contaria ou não à punk o complemento da história. No fim, a sinceridade dela venceu o medo de um possível castigo.

- Eu disse que, se vocês tivessem levado o lixo junto comigo, nós duas poderíamos ter nos tornado irmãs.

A gargalhada que veio depois dali foi incontrolável, saiu espontaneamente dos lábios da punk  assim que Ellie fechou a boca. E, embora soubesse que não deveria reagir daquele jeito à informação dada pela filha, sua risada persistiu por um bom tempo e de uma forma espontânea, contagiando a garota. 

- Por favor, não diga à sua mãe que eu ri disso porque aí eu, com certeza, terei problemas. - Chloe pediu logo que conseguiu controlar o riso e Ellie assentiu, sem conter o dela. - Mas realmente foi uma resposta 10/10 porque foi rápida, certeira e você nem mesmo usou palavrões. - Chloe concluiu levantando a mão para que a garota batesse nela.

- Valeu, mãe! - A garota devolveu, orgulhosa do próprio feito. - Depois disso, ela partiu pra cima de mim e eu não tive outra escolha a não ser me defender. 

- E ganhar a briga, né? - Chloe completou lembrando da conversa que teve com Max previamente e notando a garota esboçar um sorriso com a menção do feito. - Eu e sua mãe tivemos um problema parecido com o seu quando estávamos na escola.

Chloe começou a contar, deixando a garota surpresa e ainda mais interessada no desenrolar da conversa.

- Aconteceu quando nosso namoro se tornou público. Um imbecil qualquer descobriu sobre nós por acaso e achou que tinha o direito de falar besteiras, como as que você ouviu hoje, sobre nós duas e isso me levou a entrar numa briga com ele. E, assim como você, eu acabei na diretoria.

- Por que ele provocou vocês?

- Em parte, porque considerava nosso relacionamento como algo anormal por sermos duas garotas. Em outra, porque tinha uma quedinha pela sua mãe e não aceitou o fato de ela ter escolhido ficar comigo e não com ele. - Chloe falou com um certo ar orgulhoso - Você sabe que eu não minto pra você, né?

- Sei.

- Pois é. Por isso eu admito que me senti muito bem quando devolvi a provocação e principalmente quando bati nele. Me senti verdadeiramente vingada e orgulhosa de mim mesma pelo feito. Mas hoje, depois de todo esse tempo, eu sei que esse tipo de coisa não vale a pena e agradeço ao papai todo dia por ter freado minha impulsividade e evitado que eu me envolvesse em outras brigas pelo mesmo motivo.

- Eu juro que não teria brigado, se ela não tivesse partido pra cima de mim.

- Eu sei, filha. - Chloe afirmou beijando a cabeça da garota - Você é uma versão melhorada de mim e da sua mãe e eu só estou te contando essa história porque quero ser pra você o que meus pais foram pra mim. E isso significa ser honesta com você o tempo todo.

Chloe explicou para uma Ellie sorridente, enquanto bagunçava o cabelo dela só para assisti-la tentar recolocá-lo no mesmo lugar, exibindo um olhar contrariado.

- Tente não ficar tão irritada com aquela garota. Ela provavelmente só estava reproduzindo os preconceitos que os pais, os avós ou qualquer outro familiar passaram pra ela durante a vida. - Ela continuou seu discurso com a atenção voltada para Ellie - E, infelizmente, essa não será a última vez que você vai enfrentar uma situação assim. São os efeitos colaterais de ter uma família não tão convencional.

- Eu não ligo pra isso. Vocês são as melhores mães que eu conheço. - A garota declarou de repente, fazendo Chloe sorrir - É sério, mãe! Os pais dos meus amigos ou não vivem mais juntos, ou brigam toda hora, ou não são presentes. Às vezes, são até uma combinação das duas ou das três coisas. Eu sei porque eles vivem se queixando disso.

- Esses são problemas que você nunca vai ter. Isso eu garanto. - A garota assentiu com um novo sorriso e Chloe continuou - Mas muita gente vai tentar usar o fato de ter duas mães pra te atingir, te provocar e você precisa aprender a lidar com isso sem entrar em brigas. - Ellie já se preparava para argumentar, quando Chloe continuou - Eu sei que às vezes parece impossível. Por isso, só estou pedindo que você tente. Minha dica pra isso é: sempre responda com sarcasmo, como você fez hoje. As pessoas sempre esperam que você fique com raiva ou triste. Mostre que você não liga pra opinião delas e vão desistir de tentar te atingir com isso.

- Eu vou fazer isso. Prometo. - A garota assegurou em meio a um novo sorriso.

- Ótimo. Agora que esgotamos o assunto, vamos voltar ao seu forte. - Chloe falou e logo que recebeu a concordância de Ellie, se pôs cercar a construção quase concluída de alguns bichos de pelúcia, sendo imitada pela garota.

- Vocês deveriam construir um foço pra isolar o castelo. Vai ajudar na defesa. - Max falou da porta, anunciando sua chegada e logo se aproximando e se sentando do lado direito de Ellie antes de acrescentar. - Contra o que estamos lutando hoje?

- Espectros. - A garota respondeu com um sorriso empolgado.

- Hum… então sua boneca vai precisar da ajuda de alguns magos. - Max sugeriu, após refletir sobre as caraterísticas do adversário. - Eles podem conjurar campos de força pra proteger o castelo e atacar à distância.

- Ela tem superpoderes.

- Bom… mas dependendo da quantidade de espectros, mesmo com os poderes, ela não vai conseguir derrotá-los sozinha - Chloe rebateu.

- É. Eu sei… mas ela só vai perceber isso quando estiver perdendo, aí vai chamar vocês duas pra ajudar na batalha. - Ellie explicou entregando duas bonecas nas mãos delas. - Assim, nós vamos ganhar.

- Parece um bom plano. Por enquanto, minha boneca vai ficar dormindo na floresta até ser convocada para ajudar. - Chloe declarou, se deitando no chão e usando os braços cruzados como travesseiro.

- Não, Chlo… sua boneca vai ajudar a minha a preparar armadilhas na floresta.

- Por deus, Caulfield. Nem no mundo da imaginação você me deixa ser rebelde?

Max apenas balançou a cabeça com um sorriso e foi o suficiente para Chloe se dar por vencida e voltar se pôr sentada.

- Cara, sua boneca tem muita sorte de ser bonita.