A pequena figura de Ellie, no alto de seus 9 anos de idade, brincava sozinha no quarto silencioso, mas demonstrando pouco interesse pela atividade com que tinha se ocupado apenas para passar o tempo. Seus pensamentos estavam distantes e ela viajava através deles sem dar muita atenção à boneca que manipulava aleatoriamente com as duas mãos.
Depois de um tempo repetindo o mesmo padrão, ela simplesmente jogou o brinquedo no chão, se deitando na cama com a cabeça apoiada nos braços cruzados, se entregando de vez às próprias reflexões.
Ela estava tão absorta em seus pensamentos, que quase caiu da cama quando, depois de entrar no quarto e sentar ao seu lado na cama, Max tocou seu ombro, falando com ela e a trazendo de volta à terra quase forçosamente.
- Meu deus, mamãe, você quase me matou de susto! - A garota reclamou, se pondo sentada e checando instintivamente a velocidade de seus batimentos cardíacos com uma das mãos.
- Acho que viajar acordada deve ser coisa de família. Não foi minha intenção te assustar. Desculpa - Max comentou, rindo da reação exagerada da filha - Mas no que você estava pensando tão concentrada, que não me notou chegando? Posso saber?
- Nada em especial.
A resposta vaga e evasiva, o tom de voz incerto e o olhar focado em um ponto a esmo do quarto, como se a garota buscasse não ter suas emoções lidas por ela, fizeram Max desconfiar da veracidade de suas palavras.
Para a fotógrafa, era como se deparar com uma versão mais jovem de si mesma tentando esconder os próprios medos e inseguranças.
- Hum… e por que você tá assim ainda? Já deveria estar pelo menos se preparando pra sair. - Max mudou de assunto, a fim de não pressionar a garota. Sabendo que poderia descobrir mais facilmente o que havia por trás do comportamento estranho dela sem perguntar diretamente.
- Eu não vou mais. - A resposta veio fraca, enquanto a garota encarava as próprias mãos, deixando ainda mais óbvio para Max que o estado dela e aquela desistência repentina estavam interligados.
- Por que não? Você estava empolgada com essa festa. Falou disso a semana inteira e, de repente, desistiu do nada?
- É… - A garota respondeu, se levantando da cama no minuto seguinte e se dirigindo à saída do quarto antes de concluir - a gente pode só descer e jogar video game até a hora do jantar, por favor?
- Nós podemos fazer o que você quiser, mas antes quero saber por que você não quer mais ir a essa bendita festa. - A garota abriu a boca para falar, mas Max foi mais rápida - Eu quero verdade e garanto que vou saber, se você estiver mentindo.
Ellie suspirou, baixando a cabeça e se reaproximando da cama até poder se sentar. Então, ainda de cabeça baixa, finalmente decidiu responder.
- A Ashley mandou uma mensagem dizendo que eu não podia mais ir.
A tristeza na expressão de Ellie era quase palpável e bastante elucidativa para que a fotógrafa pudesse entender seu comportamento prévio.
- E por que sua melhor amiga te desconvidaria de uma festa sem mais, nem menos?
- Ela disse que a mãe a obrigou, mas não disse o motivo… acho que ela não sabe...
Max suspirou derrotada e então ergueu uma das mãos em direção à garota, afagando o ombro dela, enquanto pensava em algo pudesse dizer para consolá-la, ao mesmo tempo em que refletia sobre a motivação do tratamento concedido a Ellie pela mulher desconhecida.
- Você ainda pode ter uma festa aqui comigo e a Chloe...
- Não, mamãe, por favor… - A garota refutou a possibilidade de imediato, esfregando o rosto com as duas mãos.
- Desculpa. Eu esqueci que mães não podem ser tão legais quanto o resto das pessoas… - Max brincou com a negativa, fazendo Ellie rir.
- Você são legais, mas não é a mesma coisa. - A garota explicou, sem abandonar a expressão desapontada.
- Eu sei… só queria te animar… - Ellie assentiu, escorando a cabeça no ombro de Max e sendo abraçada por ela automaticamente - pelo visto, é melhor deixar isso pra lá e botar seu plano de jogar video game em prática.
A garota assentiu novamente, se levantando da cama no mesmo instante e caminhando lado a lado com Max até o andar de baixo, onde Chloe esperava as duas sentada no sofá, girando impacientemente o chaveiro com as chaves do carro em uma das mãos.
Ela olhou em direção à escada logo que ouviu os passos, não perdendo tempo em se levantar e se aproximar de Ellie e Max no mesmo instante, mas parando no meio do caminho ao notar a filha com uma expressão desanimada e vestida com as mesmas roupas com que havia subido.
- Ué! Você vai pra festa da sua amiga de pantufa? Já é pra chegar lá de pijama?
Em vez de rir da brincadeira, como normalmente acontecia, a garota só demonstrou estar ainda mais desanimada após o comentário, deixando Chloe completamente sem pistas do porquê daquela reação, até ser ajudada por Max.
- Ela não vai mais…
- Por que?!
Max não respondeu de imediato, apenas indicou a Ellie que fosse até o video game e o ligasse para, no momento seguinte, puxar Chloe pelo braço para a cozinha, onde explicou tudo o que sabia sobre a situação, da mesma forma que Ellie havia lhe contado.
- Por que diabos essa mulher inventou isso? - Chloe questionou, dando o melhor de si para controlar o tom de voz.
- Me diga, você. Eu quero ter certeza de que não estou ficando paranóica…
A punk não precisou refletir muito tempo para chegar ao mesmo denominador comum que a fotógrafa. Demorando menos ainda para externar suas suspeitas.
- Você acha que essa maldita desgraçada está excluindo a Ellie por nossa causa? - Chloe falou de repente, com uma expressão enojada no rosto - Como se fosse nossa filha de 9 anos fosse, sei lá, atacar a dela apenas por estarem dividindo o mesmo espaço?
- Bom, eu não pensei tão detalhadamente como você, mas em resumo é isso. - Max falou em meio a um suspiro, se escorando no balcão. - É tão injusto e cruel que eu prefiro acreditar que seja mentira.
- Ah, mas isso não vai ficar assim mesmo…
Chloe declarou num tom determinado, tomando o caminho de volta para a sala com a cabeça fervendo e sendo seguida de perto por Max.
- O que você pretende fazer? - Max questionou, a puxando pelo braço e a parando no meio do caminho.
- Ir com você e a Ellie até a casa dessa mulher para esclarecer essa história com ela.
- Por favor, não faça uma cena…
- Pode ficar tranquila. Você vai estar lá comigo pra interceder, se eu passar dos limites, mas garanto que não vou.
Max assentiu sem dizer mais nada, soltando o braço de Chloe e a permitindo continuar seu percurso e seu plano.
- Eu vou conversar com a Ellie e você pode ir adiantando a organização da mochila com tudo que ela pode precisar, tá?
- Tipo água benta e um crucifixo? - Max brincou, conquistando o sorriso da punk.
- É… e um pijama, uma toalha, itens de banho… enfim, você sabe melhor do que eu, afinal sempre foi a organizada de nós duas. - Chloe concluiu, a beijando no rosto e se afastando - A gente se reencontra aqui embaixo daqui a pouco.
Max assentiu uma última vez e depois desapareceu pela escada.
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Quando Chloe estacionou o carro na rua ao lado da casa onde aconteceria a festa, Ellie continuava completamente insegura quanto ao fato de a decisão de ter ido até lá ser a decisão mais acertada. E ela sequer cogitaria descer do veículo, se soubesse que a história que a punk lhe contou sobre a desconvite para a festa ter sido um mal entendido ser mentira.
- Eu não sei, mãe... - A garota falou num tom incerto, enquanto observava a porta da frente da casa da amiga pela janela fechada do carro.
Chloe se virou no banco da frente para se dirigir à garota que permanecia reflexiva no de trás e esta só percebeu o movimento da punk quando ela começou a falar.
- Olha, se você se sentir desconfortável quando estiver lá, se acontecer qualquer coisa que te desagrade e te faça querer voltar pra casa, só ligue pra gente que viremos te buscar no mesmo segundo. - Chloe garantiu tentando passar segurança até no tom de voz - Pode ser às duas da madrugada que, mesmo assim, estaremos aqui, tá bom?
- Uhum… - A garota assentiu, mesmo ainda tendo dúvidas, mas decidindo dar um voto de confiança à Chloe. Em seguida, desafivelou o cinto e se preparou para descer.
- Então, vamos. - Chloe falou, desafivelando o próprio cinto, enquanto a garota já estava com a porta aberta e prestes a sair do carro.
- Eu não sei o que você pretende direito mas, por favor, não faça nada estúpido, Chlo. - Max pediu, praticamente num sussurro, quando Ellie já estava longe o suficiente para se tornar incapaz de ouvi-las.
- Relaxa, amor. Eu não vou fazer nada que você mesma não faria.
Chloe garantiu, beijando a fotógrafa e descendo do carro no instante seguinte. Pouco depois, as três estavam lado a lado na entrada da casa, esperando serem atendidas, após tocarem a campainha.
Não mais que dois minutos depois, uma mulher magra, de meia idade, cabelos castanhos presos num coque e roupas formais atendeu a porta com um sorriso que rapidamente se transformou numa expressão contrariada, assim que visualizou as figuras que a aguardavam do lado de fora.
Antes que a situação se tornasse ainda mais constrangedora ou que a mulher se recuperasse de seu estado aparente de choque, Chloe resolveu tomar a frente nas apresentações e no controle das ações.
- Boa noite. A senhora deve ser a mãe da Ashley, certo? - A mulher apenas balançou a cabeça afirmativamente, mantendo a mesma expressão de antes no rosto, ao que Chloe continuou sua fala sem demonstrar o mínimo abalo. - Como a senhora já deve imaginar, somos as mães da Ellie… mães mesmo, no plural. - Ela não conseguiu resistir a provocar a mulher já visivelmente desconfortável - E viemos aqui juntas deixar a Ellie e tentar corrigir o engano que aconteceu quando ela achou que não poderia vir à festa da amiga.
- Na verdade, não…
- Ellie! Você veio!
Qualquer contra argumentação, que estivesse pronta para ser dita pela mulher, foi interrompida pelo surgimento repentino de sua filha que se lançou em direção à Ellie, a abraçando, logo que a enxergou entre os adultos.
- É… ela veio e estamos desfazendo com sua mãe o engano que a fez achar que não poderia vir. - Chloe explicou para a garota sorridente, que parecia alheia aos olhares irritados da própria mãe.
- O resto das meninas está lá em cima, vem!
A garota convidou, sem esperar o consentimento da mãe, enquanto Ellie se limitou a fazer a pergunta silenciosa para Max e Chloe, recebendo um aceno positivo em resposta e seguindo sorridente para o andar de cima da casa logo depois.
- Seu marido está em casa? - Chloe perguntou, aproveitando a mudez implacável que impedia a mulher de questionar a sequência de acontecimentos que se deu bem diante de seus olhos.
- O que você quer com meu marido? - A mulher devolveu a pergunta da forma mais grosseira que foi capaz, mas o seu tom foi completamente ignorado por Chloe.
- Bom, eu gostaria dar um aviso pra você e pra ele ao mesmo tempo. Para não correr o risco de ser mal interpretada ou depender de um telefone sem fio.
- Ele está viajando. - A mulher disse com o mesmo ar de desdém, sem se preocupar em acrescentar detalhes à informação.
- Que pena. Acho que você vai ter que repassar o recado, então. - Chloe lamentou após um suspiro, mas sem perder tempo em continuar o discurso com os olhos fixos nos da mulher a sua frente - Eu sinto muito que a Ellie seja amiga de uma criança cuja mãe demonstra ser tão preconceituosa e ignorante, que foi capaz de tentar isolá-la apenas por ser criada por um casal lésbico. Mas a Ashley não tem culpa disso e parece ser uma boa garota, então o esforço que fizemos pra vir aqui hoje já se justificou. - Chloe falou, deixando a mulher cada vez mais irada - E, se você acha que vai conseguir acabar com a amizade das duas com atitudes rasteiras como essa de hoje, além de preconceituosa, você é bem ingênua, pra dizer o mínimo.
- Como você ousa…? - A mulher bradou cruzando os braços e franzindo o cenho, avançando alguns passos em direção a Chloe, que se mantinha impassível no mesmo lugar.
- Eu ainda não terminei. - Chloe interrompeu, a deixando sem ação - A Ellie vai ficar aqui hoje porque eu não vou permitir que você magoe minha filha de jeito nenhum. E, quando eu reaparecer para buscar ela amanhã, espero que ela não tenha sequer um fio de cabelo fora do lugar porque, de outra forma, nossa próxima conversa terá um teor bem diferente desta. E, antes que você pergunte, isso foi uma ameaça sim.
- Quem você pensa que é pra me ameaçar na minha casa? Você é uma desvirtuada, um ninguém, um ser completamente desprezível, digno de pena... - A mulher bradou, avançando em direção a Chloe e tocando repetidamente o ombro da punk com o indicador, enquanto esta permanecia imune ao descontrole da mulher, sem esboçar a mínima reação.
A reação irritada, na verdade, veio de onde menos esperava. De alguém que, até aquele momento, assistia a cena quieta, sem emitir nenhuma opinião.
- Tire suas mãos de cima dela. - Max falou, tomando a frente de Chloe e afastando a mão da mulher com um movimento súbito da sua. Deixando tanto a punk quanto a outra mulher surpresas com sua ação repentina.
- Foi ela quem iniciou as ofensas. Eu apenas… - A mãe de Ashley se defendeu instintivamente, sem ter ao menos noção do porquê de estar fazendo aquilo, mas ela nem teve tempo de finalizar a frase, sendo novamente impedida por uma Max enfurecida.
- Ela não ofendeu ninguém. Só disse a verdade e, francamente, disse até pouco. A senhora merecia ouvir muito mais que isso, mas seria inútil. - Max continuou com o desabafo, enquanto Chloe assistia tudo sem piscar os olhos. - Então, aja como uma pessoa adulta e cuide bem da Ellie e evite que tenhamos outra conversa desagradável como essa no futuro. É o melhor pra todos. Vamos, Chlo.
Mesmo sendo puxada pelo braço por uma Max enfurecida em direção ao carro, a punk ainda teve tempo de se virar para se despedir e irritar mais ainda a mulher com um sorriso final.
- Tenha uma boa noite!
Logo que as duas entraram no automóvel, o sorriso de Chloe se tornou maior, quase preenchendo seu rosto inteiro, enquanto Max praticamente afundou no assento, sustentando a cabeça em uma das mãos, enquanto superava, pouco a pouco, seu acesso de raiva prévio. Segurando o volante, a punk olhou de esguelha para a nerd, tentando controlar o riso e foi o suficiente para fazê-la romper o silêncio.
- Não diga nada. - Max falou com os olhos fixos na rua que se mostrava a sua frente, tornando impossível para Chloe continuar segurando a própria risada.
- Nem “eu te amo”? - A punk brincou, levando a fotógrafa a bater em seu ombro. Então, ela aproveitou o movimento para puxá-la contra seu corpo, a abraçando de lado em seguida - Cara, eu pensei que você fosse avançar nela… eu vi de camarote o exato momento em que a fúria nerd suprema acendeu no seu olhar. Foi muito foda!
Chloe completou, alisando o ombro de Max, que não conseguiu conter o próprio sorriso e logo prosseguiu com o assunto.
- Quem ela pensa que é pra fazer aquilo com nossa filha? - Ela lembrou indignada - Enquanto eu não tinha certeza das nossas suspeitas, ainda conseguia pensar racionalmente, mas depois que tudo se confirmou e ela começou a falar daquele jeito e a avançar na sua direção... Urrr… Eu quis dar um soco nela!
- E, sendo totalmente sincera, eu não teria te impedido. Você fica tão gata quando tá brava e me defendendo que eu me sinto incapaz de te parar.
Chloe antecipou o movimento seguinte da nerd, segurando a mão que, como da outra vez, foi lançada para tentar bater em seu ombro, depois a usando para puxar Max para mais perto de si e poder beijá-la.
- Eu apostaria todo o dinheiro que a gente tem na sua vitória, mas fiquei satisfeita que você tenha se controlado porque teria sido uma treta homérica.
- É. Eu sei… - Max respondeu, imaginando os cenários que poderiam ter surgido daquela confusão.
- Agora vamos voltar pra casa, fazer pipoca e assistir uns filmes ruins pra esquecer um pouco dessa história. Por hoje já deu! - Chloe sugeriu, se ajeitando no assento e dando partida no carro.
- Eu não podia concordar mais.
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Deitada com a cabeça no colo de Max desde que ligaram a tevê do quarto e escolheram o primeiro filme que encontraram, Chloe se inclinava de tempo em tempo apenas o suficiente para tomar goles da taça de vinho que segurava e que, naquele momento, se encontrava vazia.
Ela repousou o objeto na cama e continuou deitada na mesma posição, mas agora de olhos fechados, incapaz de continuar atenta à projeção, já que o movimento descrito pelos dedos de Max em seus cabelos tornavam difícil para ela permanecer acordada e quase impossível focar a numa trama de mais de uma hora. E, quando já estava prestes a cochilar, foi desperta pelo barulho característico da vasilha de pipoca sendo sacolejada na frente de seu rosto.
Ainda em silêncio, a punk encheu uma das mãos com o conteúdo, colocando boa parte na boca no mesmo momento, antes de girar na cama para enxergar Max que mantinha os olhos fixos na televisão, mas parecia estar com a mente bem longe daquele quarto.
Depois de dar fim ao restante do alimento, Chloe se pôs sentada na cama e voltou a encher a taça com o líquido da garrafa que antes estava na mesinha de cabeceira.
Foi o suficiente para captar a atenção da Max.
- Chloe, você deveria maneirar. Você não vai conseguir dirigir pra ir buscar a Ellie, se estiver bêbada. - Max falou ainda com os olhos no filme.
- Eu só tomei uma taça, Max… - Chloe se defendeu revirando os olhos e, logo depois, tomando um gole do líquido.
- Duas… essa é a terceira. - Max corrigiu a punk, finalmente voltando seu olhar para ela.
- Tudo bem. Duas. Mas tanto faz porque, em primeiro lugar, você também sabe dirigir e, em segundo, não precisa se preocupar pois eu não fico bêbada com tanta facilidade. Eu não me chamo Maxine Caulfield. - Chloe debochou, fazendo Max bufar, enquanto a encarava de braços cruzados e com um olhar desdém. - Às vezes já te noto meio aérea só por me beijar depois que tomo alguma bebida alcoólica.
- Você é irritante. - A nerd respondeu, balançando a cabeça com uma expressão crítica.
- E, mesmo assim, você casou comigo. - A punk insistiu na provocação.
- Só porque eu sou fraca e você bonita. Não consegui resistir.
Chloe abriu um sorriso, abandonou a taça sobre a mesinha, se aproximando para abraçar a nerd e beijá-la demoradamente no pescoço, antes de voltar a deitar no colo dela e fechar os olhos, esperando avidamente pelo mesmo carinho de antes em seus cabelos, que não tardou a vir.
- E pode ficar tranquila. Ela não vai ligar.
- Como você pode ter tanta certeza? Porque eu não consigo parar de pensar nisso desde que deixamos ela lá.
Foi o suficiente para Chloe voltar a abrir os olhos, mudar de lado para encarar Max, segurando uma das mãos dela entre as suas, a beijando e, no momento seguinte, buscando confortá-la com palavras.
- É só confiar em mim. Eu sei.
- Se eu não confiasse em você, nunca teria concordado em deixar a Ellie na casa daquela mulher. - Max explicou, sentindo um frio na espinha só de relembrar da cena de horas atrás - Mas isso não me impede de ficar apreensiva com essa situação.
Chloe continuava a encará-la, enquanto refletia sobre as palavras e a preocupação dela. Então suspirou e finalmente decidiu dar o passo seguinte para a resolução daquele engodo.
- Pega meu celular, por favor.
Atendendo o pedido prontamente, a fotógrafa se esticou até alcançar o aparelho de Chloe na outra extremidade da cama, o entregando nas mãos dela, a assistindo discar um número e por no viva voz assim que a chamada foi atendida.
- Ellie…?
- Oi, mãe! Aconteceu alguma coisa? - Chloe conseguia ouvir as conversas e risadas de fundo, possivelmente das outras amigas da garota, mas elas se tornavam mais distantes à medida em que Ellie parecia se distanciar do epicentro da bagunça.
- Não, nada… só queríamos saber como está tudo aí, se tá tudo bem… você sabe... coisas de mãe. - Ela explicou olhando para Max, que demonstrava estar com o foco total no diálogo e ansiosa pela resposta da filha.
- Tá sim… a gente tava… na verdade, ainda estamos brincando de detetive… mas eu saí pra atender a ligação… - A garota explicou, antes mesmo que a pergunta fosse levantada por Chloe.
- Então, nenhuma chance de você querer voltar pra casa ainda hoje? Quer dizer… porque estamos aqui de plantão, caso você queira.
- Não, nenhuma… e valeu por me convencerem a vir… vocês são as melhores… - Chloe sorriu para Max ao ouvir aquilo, mas o chamado das outras garotas para que Ellie voltasse para a brincadeira a impediu de prosseguir com a conversa como gostaria. - Eu preciso desligar agora… ligo pra vocês de manhã, ok?
- Ok. Escove os dentes, durma cedo e não dê muito trabalho. Nós te amamos.
- Eu também amo vocês. Até de manhã. Tchau.
Quando a chamada foi encerrada, Chloe jogou o telefone de lado e se ajeitou no colo de Max de modo a ficar de frente e poder acariciar o rosto dela antes de retomar o diálogo de antes.
- Mais tranquila agora?
- Sim, muito! Obrigada. - Max respondeu de imediato, voltando a afagar os cabelos da punk, inspirando esta a emitir ruídos de aprovação. - Agora você pode tomar quantas taças de vinho quiser.
Chloe apenas riu da liberação, se sentando novamente ao lado de Max, pegando a taça e fazendo um gesto de brinde a ela antes de responder.
- Obrigada a você, senhora Price.
- Por nada, senhora Caulfield. - Max devolveu com o mesmo tom sarcástico, fazendo Chloe sorrir mais uma vez. - Mas sério, eu fico muito feliz de a Ellie ter você nessas horas… quer dizer, eu consigo fazer várias coisas por ela, mas construir a auto confiança dela como você consegue, é quase impossível, pelo menos pra mim. - Chloe assentiu, agradecendo silenciosamente pelo elogio, enquanto enchia outra taça e entregava nas mãos da nerd - E sua figura se faz ainda mais importante porque ela ainda não tem “uma Chloe” da idade dela pra ajudar nisso.
- Claro que ela não tem uma Chloe. Ela é muito nova pra isso… é nosso bebê e espero que continue sendo até os 30, no mínimo.
Max riu abertamente do comentário, balançando a cabeça e, sem perder tempo, começou a explicar o que exatamente queria dizer com ele.
- Eu não me refiro a namoro, Chlo. Falo sobre uma melhor amiga ou amigo que seja pra ela o que você foi pra mim quando nos conhecemos.
- Ah… - Chloe deixou escapar finalmente entendendo aonde a nerd queria chegar - eu pensei que essa melhor amiga fosse a menina de hoje.
- Duvido… - Max negou categoricamente, tomando um gole da própria bebida - apenas se imagine na posição dela: você me desconvidaria de uma festa, se sua mãe mandasse?
- De jeito nenhum… mais fácil não ter a festa.
Max riu da expressão indignada que a punk fez ao ouvir a suposição, escolhendo beijá-la no rosto enquanto esta tomava outro gole da taça.
- É a isso que me refiro…
- Bom, eu não sei quando, nem em que situação isso vai acontecer. - Chloe comentou, esvaziando o recipiente de qualquer traço do líquido, o devolvendo ao seu lugar prévio e continuando sua fala enquanto distribuía beijos pelo pescoço de uma Max sorridente - Só sei que, a partir desse dia, precisaremos ter atenção redobrada com a Ellie porque ‘Chloe Price’ é sinônimo de problema. - Ela concluiu, fazendo Max sorrir novamente.
- Se você diz...
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