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História Amor Além do Tempo - Um Novo Começo - A Câmera


Escrita por: SamusAran

Notas do Autor


Oi pessoal!

Essa semana eu queria ter postado um capítulo dessa fic e um da outra, mas infelizmente fiquei uns dias doente e ainda não consegui nem responder os comentários todos (Vou fazer isso assim que postar esse).

Eu também fiz uma alteração mínima na primeira oneshot. Acrescentei uma descrição mais clara da Ellie porque recebi uma crítica de um leitor que não estava conseguindo imaginá-la tão bem (fiquem a vontade pra fazer essas críticas. São muito bem vindas).

No mais, espero voltar ainda essa semana, com o 2º capítulo da outra. Vejo vocês lá.

Boa leitura!

Capítulo 7 - A Câmera


Fanfic / Fanfiction Amor Além do Tempo - Um Novo Começo - A Câmera

A luminosidade matinal descrevia um caminho tortuoso por uma das frestas da janela semiaberta do velho quarto de Chloe, atingindo em cheio os olhos fechados da punk, que permanecia deitada de bruços na cama e quase completamente escondida embaixo das cobertas.

Ela franziu o cenho, incomodada pela claridade e depois, resmungando sozinha, procurou proteger os olhos com o travesseiro usado por Max e que agora estava sem uso ao seu lado na cama.

Satisfeita com o resultado, ela continuou a aproveitar seu momento de preguiça matinal, ignorando até o cheiro do café da manhã preparado por Joyce, que preenchia suas narinas e, num dia comum, teria lhe despertado e a feito descer imediatamente, mas naquele não foi o suficiente para tirá-la tão cedo da cama.

Viajar de carro desde San Francisco até Arcadia Bay era um trajeto longo e bastante cansativo, mas que Chloe e Max preferiam por causa das inúmeras possibilidades que se abriam para conhecer e explorar diversos lugares. Além de tornar cada uma daquelas viagens uma aventura diferente e extasiante. 

E aqueles eventos só se tornaram mais frequentes depois do nascimento de Ellie, que, desde o instante em que passou a ter consciência da realidade ao seu redor, demonstrou o quanto gostava desses momentos, chegando até a cobrar que eles se repetissem com mais frequência. 

Chloe adorava a empolgação da filha, que parecia a dela mesma em situações parecidas e também o quanto Max ficava feliz ao parar em algum lugar inusitado e ter o insight de alguma foto incrível de um cenário onde não parecia existir nada demais.

Aquelas ocasiões faziam todo o cansaço adquirido valer a pena, mas ao mesmo tempo exigiam descanso redobrado no dia da chegada e tornavam esquecer o mundo externo e permanecer dormindo até entardecer seu maior desejo na manhã seguinte.

Por isso, ela ignorou o barulho da porta do quarto sendo aberta e também os passos rápidos que vieram em seguida e que deram impulso para um salto que teve repouso quase total em suas costas, a fazendo soltar um palavrão pelo susto com o impacto que foi incapaz de evitar.

Era a certeza de que seu momento de descanso tinha se encerrado.

- Mãe, você disse um palavrão… - A garota provocou de seu ponto de aterrisagem, se ajeitando de modo a sentar nas costas de Chloe.

- É, eu sei… vou colocar uma moeda na jarra dos palavrões assim que a gente voltar pra casa… - Chloe desconversou, tentando se pôr numa posição mais confortável - Mas e quanto a você? Tá tentando ficar órfã?

A garota negou com um gesto sorridente para Chloe, que a encarava com apenas um dos olhos. Depois se levantou das costas dela para sentar de pernas cruzadas no espaço vazio da cama, dando espaço para a punk se mover e se posicionar de lado, apoiando a cabeça com ajuda de um dos cotovelos e tendo uma melhor visão dela.

- A mamãe disse que eu podia vir aqui ver se você tava acordada. 

- E “ver se eu tava acordada” agora pode ser interpretado como “pular repentinamente nas minhas costas enquanto tô deitada e quase quebrar minha coluna”? - A punk perguntou enquanto usava uma das mãos para fazer cócegas na barriga da garota que se defendia instintivamente.

- Não… essa parte eu improvisei… - Ellie respondeu com um sorriso. - É que você prometeu me levar até a casa na árvore…

- Hum… e por isso você tá toda arrumada? 

Chloe perguntou ao reparar que a garota vestia um jeans escuro, botas de esquimó no mesmo tom e um casaco azul anil, adornado por um cachecol multicolorido, que, em conjunto, a tornavam apta a enfrentar as temperaturas mais baixas daquele inverno.

A garota balançou a cabeça afirmativamente, sem se preocupar em se estender em explicações e mal conseguindo disfarçar a própria empolgação e ansiedade para ir logo para a rua.

- Mas tem uma coisa faltando no seu visual… - Chloe voltou a falar, fingindo analisar o look da garota sorridente. - você faz ideia do que seja?

Ela assentiu antes de responder.

- Um gorro. Você tem um aqui pra mim. - Ellie respondeu, demonstrando uma certeza que pegou Chloe de surpresa e a fez perder a pose no mesmo minuto.

- Como você sabe? 

A garota riu da expressão chocada que Chloe agora exibia, mas não demorou muito a dar a nova resposta solicitada por ela.

- Eu perguntei pra você, usei meus poderes de voltar no tempo e depois fiz parecer que eu já sabia.

A expressão, que antes era de surpresa, se transformou numa de choque, quando todo o sangue pareceu sumir do rosto da punk, a deixando branca como papel no minuto em que se levantou de repente, se sentando na cama e assustando Ellie.

- Você o quê!? - Chloe perguntou com uma expressão tão preocupada que levou Ellie a se apressar em acalmá-la.

- Calma, mãe. Eu tava brincando… não pensei que você fosse acreditar tão fácil nisso. 

Chloe fechou os olhos e respirou fundo, esfregando o rosto com as mãos diversas vezes, tentando acordar totalmente, antes de voltar a falar com a garota.

- Tem certeza que foi só brincadeira? 100% de certeza? - Chloe insistiu, ignorando o quanto aquilo poderia parecer estranho para a filha.

- Claro, mãe. Como isso poderia ser real? - A garota perguntou inocentemente, causando calafrios na punk.

- E como você sabia do gorro?

- A mamãe não achou nenhum na minha mala e disse que deveria ter um por aqui na bagagem de vocês ou mesmo no meio das suas coisas antigas.

- Ah… claro. - Chloe deixou escapar, se sentindo estúpida por não ter cogitado a possibilidade, mas ainda sem conseguir deixar seu pensamento distante daquela preocupação. - Filha, você pode fazer uma coisa pra mim?

- Claro… o quê?

- Levanta sua mão assim… - Chloe solicitou ao mesmo tempo em que ajudava a garota a colocar o braço e a mão dela na postura correta - Agora mantém na mesma posição, se concentra e tenta fazer o tempo voltar.

Sem entender direito aonde Chloe queria chegar, mas decidindo obedecer, a garota franziu o cenho e permaneceu com a expressão fechada e a mão erguida na mesma posição, enquanto esperava por uma nova sinalização da mãe.

- E aí? - Chloe perguntou depois de alguns minutos observando a menina.

- E aí o quê? - A garota perguntou confusa, mas sem sair da pose.

- Nada?

- Era pra acontecer alguma coisa?

A garota indagou novamente, agora se virando parcialmente para encarar a mãe, que apenas balançou a cabeça negando, como se tentasse afastar as ideias que antes a povoavam, deixando escapar um suspiro aliviado ao abraçá-la.

- Não. Nada. Só loucura da minha cabeça. - A punk garantiu, desfazendo o abraço e se levantando da cama para fuçar numa das gavetas de sua cômoda e encontrar seu antigo gorro, que havia sido esquecido por ela na última visita à casa dos pais.

Com o objeto em mãos, Chloe se dirigiu a Ellie novamente, o colocando sobre a cabeça da garota, mexendo até ficar completamente ajustado e sorrindo para ela ao final.

- Minha primeira herança em vida pra você. A segunda é a casa da árvore. - Ela comentou e Ellie voltou a abrir um sorriso entusiasmado, esquecendo quase magicamente do momento estranho que compartilharam minutos atrás.

- A gente vai lá agora?

- Você vai ter que ser um pouco mais paciente. - Chloe respondeu, freando a empolgação da filha - desce e me espera lá embaixo porque eu preciso tomar banho e me trocar, antes de ver isso com a Max.

- Tá bom. Só não demora muito. - A garota concordou antes de correr e sumir pela porta com os mesmos passos rápidos com que chegou.

__________________________ 

Logo que começou a descer as escadas, a punk já pôde entreouvir a conversa alta que acontecia no andar térreo da casa dos Price e girava em torno de histórias sobre os velhos tempos e fotos que ilustravam cada relato.

Chloe então cumprimentou William, Joyce e, por último, uma Max que a encarava com um olhar misterioso, mas que ela não se deu o trabalho de tentar desvendar os motivos. Em vez disso, foi até a cozinha, se serviu do que sobrou do café da manhã e se sentou à mesa para fazer a refeição.

Depois de apenas dois goles de café, o desjejum que começou solitário, contou com a presença não anunciada de Max, a qual se sentou ao lado dela na mesa e resmungou uma pergunta retórica em seu ouvido.

- Você achou que nossa filha tivesse super poderes?!

- Eu me apavorei quando ela brincou sobre o assunto e não raciocinei direito na hora. - Chloe explicou após mais um gole de sua bebida e uma checagem de esguelha na filha, que permanecia atenta e interessada nas histórias dos avós.

- E se ela tentar voltar ao assunto? O que a gente faz? - Max especulou, enquanto tentava disfarçar o comportamento suspeito dos outros habitantes da casa. - Ela deve ter ficado desconfiada porque, quando contou a história, eu passei um tempão gaguejando.

- O que eu acho de verdade é que a gente deveria contar pra ela em algum momento. Nem que fosse aos poucos. Vai que ela herda isso de você e acaba usando sem querer? 

- Não gosto nem de pensar nessa hipótese.

- Eu também não, mas a gente precisa pensar. - Chloe insistiu, enquanto Max considerava a ideia com um olhar preocupado. - Ela vai entender, afinal é nossa filha.

- Eu não acho que estou pronta pra isso, mas de todo jeito, precisamos conversar entre nós pra definir o que dizer e o que não dizer pra ela. 

Chloe acenou positivamente e já se preparava para responder quando sentiu um braço se apoiando em seu ombro e visualizou outro fazer o mesmo no de Max, enquanto a cabeça de Ellie surgia entre as duas.

- E aí, a gente pode ir agora? - A garota questionou, ignorando a conversa que havia interrompido, enquanto Max e Chloe se entreolhavam, esperando uma pela outra para dar a resposta.

- Eu e a Chloe vamos na frente pra garantir que está tudo em ordem, pra saber se não tem nenhum bicho ou se não está muito sujo… depois voltamos pra pegar você. Tudo bem? - Max sugeriu ao extinguir o silêncio.

- Tá… - A garota concordou, mesmo contrariada. - Eu posso, pelo menos, ficar brincando na praça até vocês voltarem?

- Pode sim… a gente vai com você até lá, mas nada de sair pra ficar por aí explorando… a cidade tá bem diferente e tem muita gente estranha por aí…

- Eba! Vou pegar minha bicicleta…

A garota falou empolgada, correndo em direção à garagem e voltando, poucos minutos depois, conduzindo o brinquedo.

- Vamos!

__________________________

A praça tinha pouco movimento naquela manhã. A maioria das crianças parecia ter preferido se manter dentro de suas casas brincando no conforto dos aquecedores e das lareiras, evitando as temperaturas baixas daquele inverno rigoroso.

Ellie não se importava. Na verdade, a garota considerava aquele contexto ideal para suas pretensões. Ela poderia dar voltas ao redor da praça na maior velocidade que conseguia, tentando bater seu próprio tempo, sem a preocupação iminente de atropelar algum transeunte mais distraído que estivesse caminhando pelo local.

Assim, ela se preparou para a primeira volta. A de aquecimento. Para reconhecer a “pista de corrida” e se livrar de qualquer obstáculo que pudesse lhe causar algum acidente no percurso. 

Satisfeita com a análise, ela iniciou a segunda volta em um ritmo bem mais rápido, sentindo o vento ainda mais gelado, devido a velocidade, queimar seu rosto e, por isso, fazendo-a levantar o cachecol até a altura do nariz para se proteger, deixando apenas seus olhos à mostra.

Na terceira volta, cada vez mais segura e envolvida em sua missão, Ellie levantou parcialmente do assento, tentando aplicar ainda mais aceleração na parte reta do trajeto para fazer um tempo ainda mais rápido que o anterior. E foi nesse momento que tudo desandou.

Na última curva, a que levava ao ponto de partida, uma garota surgiu bem no meio do caminho, como se tivesse brotado do chão, pegando Ellie completamente desprevenida.

Foi muito rápido. Não havia tempo para frear e, pelos cálculos de Ellie, isso só colaboraria para tornar o acidente mais feio. Por isso, com os olhos fixos nos da garota, que caiu de costas no chão aterrorizada por sua aproximação, Ellie desviou a bicicleta na direção oposta no último segundo, perdendo o controle, ao derrapar na parte molhada da praça, desequilibrando e caindo poucos metros à frente de onde ela estava.

Sentindo uma dor aguda no cotovelo, Ellie se sentou no chão segurando o braço esquerdo e o movendo em várias direções para saber se não havia quebrado um osso. Para sua sorte, a dor parecia ter sido provocada apenas pela pancada. Então, ela se levantou aliviada, mas com uma certa dificuldade, indo até a garota, que continuava sentada no chão com uma cara preocupada, checando o conteúdo de uma mochila.

- Você tá bem?

Ellie perguntou, ao se aproximar o suficiente para ter uma visão mais clara da garota. Ela era loira, seus cabelos longos e ondulados, seus olhos tinham um tom que variava entre o castanho claro e o verde oliva, o que tornava quase impossível determinar sua cor exata. Mas, se Ellie precisasse descrever algo marcante na aparência dela, com certeza citaria sua expressão irritada.

- Droga!

A garota reclamou, não dando a mínima atenção para a pergunta de Ellie e permanecendo com a olhos fixos na checagem de sua mochila.

- Cara, eu falei com você. Tá tudo bem? - Ellie insistiu, se arrependendo da pergunta logo que recebeu a resposta.

- Não! Eu não tô bem… na verdade, eu tô bem ferrada. - Ela respondeu fuzilando Ellie com os olhos e, em seguida, erguendo um objeto, antes de completar. - Você quebrou a câmera da minha mãe. Muito obrigada!

- Eiii… eu não quebrei nada. Eu nem encostei em você. Na verdade, quase me machuquei seriamente pra não te atropelar. Não tenho culpa, se você assustou e derrubou a câmera. - Ellie se defendeu de braços cruzados.

A garota se levantou com os olhos semicerrados e as sobrancelhas franzidas, tentando garantir a si mesma uma expressão intimidadora ao se aproximar de Ellie para retrucar.

- Talvez eu não tivesse derrubado, se você não tivesse me assustado. Tá aí a sua culpa, gênio!

- Pelo menos foi só a câmera, não você inteira. - Ellie devolveu, sem intenção de dar o braço a torcer na discussão, mesmo se sentindo parcialmente culpada pelo ocorrido. - Conta o que aconteceu pra sua mãe. Acho que ela não vai ficar brava.

- Eu não posso contar… - A garota refutou a hipótese e Ellie notou uma ligeira mudança no seu tom ao dizer aquilo.

- Por que não?

- Porque… - A garota se calou, considerando se deveria confidenciar aquilo a uma desconhecida, mas depois de apenas alguns segundos, decidiu que não faria muita diferença. - Eu saí de casa escondida e não deveria estar com a câmera.

- Ah… - Ellie deixou escapar, finalmente entendendo o motivo da preocupação da garota.

Depois de raciocinar por alguns minutos, enquanto a garota reorganizava a mochila cabisbaixa, ela teve uma ideia que não tardou a sugerir.

- Eu sei como te ajudar.

- Poderia ter me ajudado muito não tentando me atropelar…

- É sério. - Ellie insistiu, ignorando a descrença e as provocações deliberadas da garota - Meu avô é bom em consertar coisas. Tenho quase certeza que ele pode dar um jeito na câmera da sua mãe.

A garota continuava relutante, embora parecesse considerar a hipótese. Por isso, Ellie resolveu continuar tentando.

- Você não vai perder nada, se tentar. A casa dos meus avós é só a algumas quadras daqui.

Não foi preciso uma nova tentativa, a garota simplesmente fechou a mochila, guardando a câmera da forma mais cuidadosa possível e começou a caminhar, esperando que Ellie entendesse a deixa e indicasse o caminho, o que ela fez assim que recuperou a bicicleta.

Logo as duas estavam caminhando lado a lado e em silêncio rumo à casa dos Price, a garota segurando a mochila com firmeza e Ellie conduzindo a bicicleta, ambas com a mente perdida em um turbilhão de pensamentos completamente opostos.

- Por que você fugiu de casa? - Ellie foi a primeira a externar um dos seus.

- Eu não fugi de casa… - A garota respondeu no mesmo instante, deixando Ellie confusa. - Eu só saí pra dar um tempo. Eu tava na casa da minha vó e ela pega no meu pé por tudo. Se eu tô vendo um filme, ela me proíbe porque tem má influência; se eu decido brincar, ela reclama que eu só gosto de brincadeira de menino…

- Mas isso não existe… - Ellie rebateu indignada com a ideia, quando já estavam na soleira da casa dos Price, e ela já se preparava para tocar a campainha.

- Isso é o que minha mãe sempre diz, logo depois de falar que vai conversar com ela, mas nunca adianta. - A garota explicou resignada - Hoje ela implicou com minha roupa e não me deixou sair pra brincar de guerra de neve na rua. Aí eu me tranquei no quarto e fugi pela janela.

- E o seu pai, o que ele pensa disso tudo?

- Eu… eu tenho duas mães, na verdade…

- Sério? - Ellie perguntou, sem tentar disfarçar a própria surpresa.

- É. Por que? Algum problema com isso? - A garota questionou, voltando a franzir o cenho e colocar no rosto a mesma expressão irritada do momento em que se conheceram.

- Não. Claro que não… - Ellie refutou a impressão na mesma hora, rindo consigo mesma sobre o tamanho da ironia daquela situação - é só que eu t…

Antes que ela pudesse explicar, a porta foi aberta de repente conduzindo a atenção das duas para uma Joyce que as analisava surpresa.

- Olha só quem já voltou e ainda trouxe uma amiga!

- Oi, vovó. Meio que aconteceu uma emergência e eu tô precisando da ajuda do vovô… ele tá ocupado? - A garota perguntou afobada, sem gastar tempo com explicações.

- Calma, querida… como assim uma emergência? E, quanto a sua amiga, não vai apresentá-la?

Ellie travou na hora, olhou de novo para a garota parada ao seu lado instintivamente e lembrou que, mesmo depois de todo aquele tempo, ainda não tinha sequer parado para perguntar o nome dela.

- Desculpa, eu não…

- Angela… - A garota interrompeu Ellie na metade da frase, estendendo a mão para cumprimentar a matriarca dos Price - senhora…?

- Pode me chamar de Joyce… faz eu me sentir mais jovem. - A mulher brincou, fazendo as duas garotas rirem. Em seguida, deu espaço para que elas finalmente entrassem na casa - Então, por que vocês precisam do William com tanta urgência?

- É que a gente teve uma acidente e a câmera dela acabou quebrando. Eu pensei que o vovô pudesse ajudar a consertar.

- Hum, entendi… o William está na garagem. Falem com ele e depois voltem pra cá que eu vou preparar um lanche pra vocês fazerem enquanto esperam.

E foi exatamente o que as duas fizeram, deixando o objeto quebrado sob os cuidados de William para esperar que ele resolvesse o problema enquanto aguardavam na sala, vendo TV e comendo o lanche preparado por Joyce.

- Você ainda não disse qual o seu nome… - Angela comentou despretensiosamente com os olhos fixos na tela.

- Ellie… 

- Hum... Ellie de Elizabeth ou de Elisa? 

- Elizabeth, mas nunca me chame assim. Eu odeio. - A garota reforçou no mesmo instante - Só minhas mães me chamam assim quando estão bravas comigo.

- Você também tem duas mães…?

A indagação surpresa de Angela foi respondida quase no mesmo instante. Não por Ellie, que nem ao menos teve tempo de falar, mas pelas duas mulheres que entraram pela porta da frente da casa alarmadas, perguntando por ela num tom de voz preocupado para uma Joyce confusa, que rapidamente solucionou a dúvida, indicando a presença dela na sala.

Antes mesmo que elas chegassem no recinto, Ellie se antecipou, levantando do sofá e indo ao encontro das duas, totalmente ciente de que estava em apuros.

- Elizabeth, o que nós te dissemos sobre sair da praça sem avisar? - Max bradou, com os nervos à flor da pele, se aproximando da garota, que já esperava a bronca em pé e de cabeça baixa.

- Desculpa, mamãe… eu tava tão apressada que acabei esquecendo de avisar…

- Você quase matou a gente de susto. Passamos um bom tempo rondando a cidade atrás de você, imaginando que pudesse ter acontecido alguma coisa grave, meu deus… não gosto nem de lembrar… - Max continuou, sem tentar disfarçar seu estado e ignorando as desculpas da garota - o que você estava pensando?

- Eu não pensei… quer dizer, como eu tava voltando pra casa, não me toquei que precisava avisar…

- Isso não é desculpa…

- Max, calma. Tá tudo bem. - Chloe intercedeu, se aproximando da fotógrafa, afagando o ombro dela e a puxando para um abraço no momento seguinte, numa última tentativa de acalmá-la - Foi só um susto. Ela tá bem.

Após alguns minutos, a fotógrafa apenas balançou a cabeça, se deixando envolver nos braços da punk, respirando fundo e se controlando aos poucos para não começar a chorar. Depois, com um gesto silencioso, Chloe chamou também a filha para se aproximar e integrar o gesto, selando a paz de novo na casa dos Price.

- Desculpa… eu não vou fazer de novo.

- Tudo bem… eu sei que não foi de propósito.  - Max disse simplesmente, restabelecendo seu auto controle. - É só que confiamos muito em você, por isso, esperamos que você corresponda. - A garota apenas balançou a cabeça em resposta. - E desculpa ter gritado… é que eu fiquei apavorada imaginando que algo ruim pudesse ter acontecido.

- Eu sei…

- Agora, me tira uma dúvida - foi a vez de Chloe externar seus pensamentos - Por que você voltou tão rápido pra casa, se estava tão ansiosa pra ir pra rua?

- Eu precisei ajudar ela…

Ellie disse, se afastando do abraço, apontando para o sofá e finalmente dando a Max e Chloe a visão da outra garota que acompanhava toda a cena ainda em silêncio.

- Angela? - Max questionou, arqueando as duas sobrancelhas, ainda mais surpresa com a situação.

- Vocês conhecem ela?! - Ellie perguntou assustada.

- Claro que conhecemos. Você também conhece… - Chloe completou, o que só serviu para deixar a filha ainda mais confusa. - Talvez você não lembre direito, já que, na última vez em que se encontraram, você tinha 5 anos e ela 4.

- Ela é filha da Kate e da Victoria. - Max completou a explicação para uma Ellie agora chocada - Agora é sua vez de explicar como ela veio parar aqui, afinal a casa dos Marsh é do outro lado da cidade…

Ellie pensou bem antes de dar a resposta, olhando para Angela e esperando que ela tomasse a frente, mas a garota parecia muito acuada para se defender, assim ela decidiu agir por conta própria.

- Ela teve problemas com a avó, saiu de casa pra espairecer e… - A garota deu uma pausa como se repensasse o que ia dizer - e eu acabei quebrando a câmera da mãe dela por acidente. Por isso, viemos aqui. Pro vovô consertar. 

- Claro, aquela mulher louca tinha que estar envolvida…

- Chloe…

- Desculpa… saiu sem querer.  - Chloe se defendeu, mudando de assunto no momento seguinte - É melhor avisarmos pra Vic e pra Kate que ela tá aqui, antes que descubram por conta própria que ela tá desaparecida e pirem.

- Mãe, espera… - Ellie insistiu, puxando Chloe pela manga da camisa e a fazendo se virar para lhe dar  atenção - Não foi culpa da Angela… quer dizer, ela não devia ter saído escondida, mas a avó dela…

- Não se preocupe, tampinha. A gente conhece essa mulher de longa data… - Chloe confortou a garota, enquanto afagava os cabelos dela - Vamos ser advogadas de defesa da sua amiga. Pode ficar tranquila.

- Valeu!

__________________________

- Eu disse que isso ia acontecer. Eu disse! 

Victoria bradou irritada após ouvir de Max e Chloe um resumo do desentendimento que havia motivado a filha a sair de casa escondida, enquanto Ellie e Angela esperavam no quintal da casa dos Price que a conversa entre as adultas acabasse.

- E o que deveríamos ter feito, Tori? Levado ela com a gente num compromisso de trabalho?

- Eu não sei… mas sua mãe sempre faz isso com a Angie… é irritante. Ela quer saber mais da criação da nossa filha do que nós. Hoje podia ter acontecido uma tragédia.

- Eu vou falar com ela de novo. Vou dar um ultimato, dessa vez. Eu prometo.

Victoria assentiu, satisfeita com a promessa, que finalmente a fez decidir se sentar.

- Ainda bem que essa cidade é um ovo e fez nossas filhas acabarem se esbarrando por acaso. - Kate comentou olhando para o quintal onde as duas meninas conversavam distraídas sentadas no balanço. 

- E, pelo visto, elas se entenderam muito bem pra Ellie ter decidido trazê-la até aqui e mentir pra acobertar a história da câmera.

- O que? Por que você acha que era mentira? - Kate perguntou, mais por curiosidade que por desconfiança.

- Porque ela mente tão mal quanto a Max e faz o mesmo cacoete quando está tentando: desvia o olhar, cerra os punhos, demonstra insegurança no que diz… enfim. Mas isso não faz diferença. Foi só um acidente. - Chloe concluiu, se levantando no instante seguinte para chamar as meninas para dentro. 

As duas entraram desconfiadas, sem falar nenhuma palavra, apenas esperando a sentença que sabiam que receberiam.

- Bom, nós tivemos uma longa conversa sobre o que aconteceu e decidimos por uma punição branda pra você por causa da câmera... - Chloe explicou, antes de selar o destino da filha - sem casa na árvore até segunda ordem.

A garota acusou o golpe no mesmo segundo que ouviu a frase, mas em nenhum momento cogitou voltar atrás no que disse. Apenas balançou a cabeça, acatando a decisão da mãe, sem tentar argumentar.

- Ela não quebrou a câmera… fui eu… - Angela interrompeu, tentando desfazer a injustiça - Eu caí em cima dela porque me assustei com a aproximação da bicicleta.

- Vocês não vão punir ela por isso, vão? - Ellie perguntou apreensiva, se dirigindo à Kate e Victoria. - Foi um acidente e o vovô já consertou tudo.

- Não. Ela vai ser punida por ter fugido de casa. Fim de semana inteiro sem sair do quarto. - Victoria explicou para as garotas, que agora exibiam uma expressão derrotada. - Mas você pode visitá-la quando quiser, já que não está mais de castigo.

A duas se entreolharam com um meio sorriso, um tanto mais satisfeitas com o veredicto final de suas mães. Entretanto, Ellie decidiu ir além.

- Ela pode ir visitar minha casa da árvore quando estiver liberada do castigo?

- “Sua casa”? - Chloe questionou, erguendo uma das sobrancelhas.

- Sim… você mesma disse que era minha herança em vida. - A garota argumentou com um sorriso confiante.

- Pode ser, mas ainda não te passei a escritura, espertinha… - Chloe provocou, fazendo a menina sorrir. - Mas você pode sim. Contanto que a Vic e a Kate permitam, não tem problema.

- Tudo vai depender do comportamento dela nesses dois dias. - Kate completou, abraçando a filha de lado e recebendo um sorriso dela em resposta. - Agora é melhor a gente voltar pra casa antes que minha mãe se dê conta da sua ausência e a confusão fique ainda maior.

A garota assentiu e acompanhou Kate até a entrada da casa, sendo seguida de perto por Max e Ellie, enquanto Victoria e Chloe andavam mais atrás.

- Quem diria, hein, Vic? Uma Price salvando a pele de uma Chase. Parece que a história insiste em se repetir. - Chloe não perdeu a oportunidade de provocar Victoria, enquanto Max e Kate se despediam na porta da casa na companhia das duas crianças.

- Eu prefiro enxergar como uma Caulfield trabalhando em conjunto com uma Chase Marsh para resolver questões em comum. - Victoria rebateu, sem cair na clara provocação.

- Vamos fechar em uma Caulfield Price ajudando uma Chase Marsh e se tornando amiga dela no processo.

- Fechado. Mas ainda cabem alterações.

Chloe apenas sorriu, sabendo que ainda se divertiria muito com aquela história


Notas Finais


Curiosidade: A parte da Ellie não gostando de ser chamada de Elizabeth foi sugestão de uma leitora também. Eu achei legal e acatei. Hehe!

Espero que vocês tenham gostado. Até a volta!

Beijos!


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