Mako estava cansado de ficar o dia inteiro deitado e de tomar drogas em forma de comprimidos que davam efeitos colaterais suficientes para deixar alguém maluco. Mas em contra parte ele ainda sentia todos os efeitos de qualquer experiência traumática.
Ele teve pesadelos desde que fora resgatado do mundo espiritual. Sua fome parecia não corresponder ao seu corpo, as vezes era quase inexistente enquanto em outras ele comia coisas que seriam suficiente para alimentar outras 5 pessoas e ainda deixa-las satisfeitas. O ciclo de seu sono estava inconstante, podia ter duas horas de sono por noite, ou vinte e nem sentir diferença; sem contar que ultimamente era cada vez mais comum dormir durante o dia.
Um mês já tinha se passado desde que ele voltou do mundo espiritual e mesmo assim Koh não conseguia sair de sua cabeça. Aparecia em sonhos ou flashbacks que surgiam espontaneamente.
E estava cansado de se sentir impotente. Ele entreouviu uma conversa entre Lin e Korra; aparentemente Vaatu estava por aí, solto e liberando ainda mais caos no mundo. Ele sussurrava nos ouvidos das tríades e gangues de Cidade Republica fazendo-as criar brigas, verdadeiras Guerras Territoriais surgiram em toda a cidade.
E agora quando Cidade República mais precisava de ajuda, da ajuda de todos que conseguisse arrumar. Principalmente dele. Era um detetive, deveria estar ajudando a deter as tríades mas não, ele estava preso ali. E por quê?! Porque um maldito espírito o torturou. Por causa de um maldito espírito...
—Mako? — Um voz conhecida e querida o chamou. Ele se virou na direção da porta e viu a cabeça de Bolin colocada pra dentro do quarto por uma pequena fresta entre a porta e a parede, que foi aberta quando Bo abriu um pouco a porta.
Mako assentiu fraco, dizendo ao irmão que podia entrar. Ainda não conseguia falar direito.
—Está na hora de outra seção com a Katara. — Disse Bolin.— Vou te vestir.
Bolin foi até o guarda-roupa e pegou uma camisa que estava pendurada no cabide e um calça que estava dobrada em uma das gavetas. Caminhou lentamente até o irmão e o pegou pelo braço, o ajudando a se sentar na cama.
—Hey Mako, você vai gostar de saber que eu estou trabalhando como policial agora.— Bolin contou animado, tentando animar Mako, embora não tenha recebido muito êxito nisso.— Eu vou começar amanhã.
—Que legal... — Disse. Sua voz estava rouca e não conseguia mais demonstrar emoções com ela. Seu tom era o mesmo que usou na caverna de Koh: monótona e fria. Mako temia não ser mais capas de falar normalmente.
—Daí nós poderemos ser parceiros... Vai ser o máximo!
Mako não conseguia responder as expectativas do irmão. Ele mal sabia se algum dia conseguiria voltar ao normal. Mas amava Bolin por estar tentando anima-lo.
—Mako... você vai conseguir sair dessa.— Disse Bo o olhando nos olhos.
—Obrigado... — Foi a única coisa que conseguiu dizer.
Bolin não respondeu dessa vez.
Mako foi despido pelo irmão. Ele lhe retirou a camisa vagarosamente e depois sua calça, as peças que compunham seu pijama. Depois o vestiu com suas novas mudas de roupa.
Mako se apoiou no irmão ao se levantar. Sua sincronia com o próprio corpo parecia difusa. Ele se sentia como um boneco de pano. Se acostumou tanto a ter os membros dormentes que se esqueceu de como era senti-los.
—Bo... espere um pouco. — Disse para o irmão, tendo a respiração ofegante. Tinham dado três passos desde que saíram do quarto mas Mako se sentia cansado.
Bolin fez um bloco de terra surgir do chão. Ofereceu-o a Mako, para que o garoto se sentasse.
Mako mesmo odiando se sentir impotente daquela forma aceitou a “cadeira” improvisada que lhe foi oferecida.
—Sabe... eu começo amanhã a trabalhar como policial então... você tem alguma dica para dar pro novato aqui? — Bolin parecia dizer isso apenas para distrair Mako.
Mako queria responder que ele ia se sair bem, para não se preocupar mas não conseguia. As palavras simplesmente não saiam de sua boca.
—Não... — Disse simplesmente mas Bolin pareceu não se importar.
Mako respirou fundo uma ultima vez.
—Podemos ir agora.
Bolin passou um dos braços do irmão sobre o seu ombro e pôs-se a caminhar, lentamente, com ele pelos corredores. Demoraram cerca de dois minutos para chegar ao seu destino, coisa que levaria apenas 15 segundos para uma pessoa saudável.
A luz do sol machucou os olhos de Mako e ele teve que fecha-los para se proteger de sua radiação.
Quando os abriu se deparou com a maravilhosa visão de um dos jardins de meditação do templo de ar.
Uma senhora de idade já avançada o esperava, sentada em um banco de concreto. Ela tinha sulcos esculpidos em sua testa, que mostravam sua idade e sabedoria. Seus olhos azuis eram bondosos e sua pele era morena.
—Mako. — Disse a mulher o cumprimentando.
Mako caminhou de forma lenta e constante até a mulher. A cumprimentou com um simples “oi”.
—Pronto para mais uma sessão de cura? — Perguntou Katara.
—É... acho que sim.
Bolin coçou a cabeça.
—Acho melhor eu ir... não quero atrapalhar a sessão de cura.
E então ele começou a caminhar em direção a porta que o levaria de volta aos dormitórios.
Katara se levantou e caminhou até Mako. Colocou uma de suas mãos em suas costas e o conduziu até um pequeno lago artificial no qual se fixava no centro do jardim.
Quando Mako entrou no lago sentiu a água gelada tocar o seu corpo. Sentiu-se revigorado. Katara logo começou a utilizar a cura. A água brilhou em um tom azul celeste e Mako começou a sentir uma grande onda de energia se espalhando pelo seu corpo.
—Estar longe de seu corpo trouxe consequências negativas para seu organismo. — explicava Katara.— Mas esse é apenas uma parte do problema. Sua mente e seu espírito também estão com problemas severos. Lamento dizer isso mas se você não conseguir resolver esses problemas jamais encontrará a paz novamente.
Mako respirou fundo antes de se permitir falar.
—Certo... e como eu faço para resolver isso?
—Existem diversas formas de faze-lo mas cabe a você decidir qual quer seguir.— respondeu Katara. — As seções de cura já estão cuidando de seu corpo, mas ainda é preciso curar a sua mente e o espírito. Talvez a meditação o ajude.
—Maravilha... — murmurou Mako.
—Mako... eu posso te mostrar o caminho, mas é você quem deve segui-lo. É você quem decide como viver a sua vida.
[...]
As seções de cura não estavam ajudando muito. Duas semanas já haviam se passado e Mako ainda não conseguia sentir diferenças. Claro, seu corpo estava melhor, agora podia caminhar sem precisar de apoio mas de algum modo tudo parecia não importar mais ,tudo parecia sem sentido.
Mako estava jogado na cama, sem conseguir dormir, naquela madrugada de ... que dia era aquele? Mako nem sabia, tinha perdido a própria noção do tempo.
As janelas se abriram com uma forte brisa. Suas portas se chocaram contra a parede de forma estrondosa. Mako normalmente ignoraria aquilo— como normalmente estava fazendo com tudo desde que voltou do mundo espiritual—mas, dessa vez algo o fez se levantar da cama e caminhar naquela direção. Pegou as abas de madeira da janela e as encaixou no lugar, depois passou a tranca de metal sobre elas para impedir que batessem novamente.
Já ia se deitar novamente quando reparou que a porta de seu quarto se abria lentamente, com um certo rangido.
Mas eu jurava ter trancado a porta antes de ter me deitado.
Caminhou em direção a porta e antes de tranca-la espiou pela pequena fresta que se formou entre a porta e a parede.
Ssshhh.— um ruído sibilou do lado de fora do quarto.
Mako caminhou para fora do quarto. Aquele podia ser só o barulho do vento mas algo dizia a ele que não.
Uma luz distante estava acesa em um dos cômodos. Logo Mako foi atraído para aquele lugar. Enquanto caminhava contava os passos e tentava fazer o máximo de silencio que conseguia.
Quanto chegou a cozinha viu que estava vazia. Nenhuma viva-alma estava naquele lugar.
Talvez alguém tenha vindo aqui e esquecido a luz acesa.
Era isso que dizia seu lado racional mas sua intuição, seu instinto dizia que era mais que isso.
A porta dos fundos estava ligeiramente aberta. Não mais que uma pequena fresta, mas aquilo permitia que uma pequena e fraca luz laranja escapasse por aquele vão.
Se aproximou da porta de madeira e a empurrou para frente.
A visão o chocou como nunca antes. Cores vivas, brilho e luz. Era o mundo espiritual que se estendia a sua frente.
—Oque é...
Antes mesmo que pudesse contestar oque havia acontecido, por que o lado de fora da porta levava ao mundo espiritual sendo que do lado de dentro estava no mundo físico, Mako foi empurrado.
Mako tentou voltar para o mundo físico mas um sopro de vento fez a porta se fechar. O “portal” que o levaria de volta a cozinha do templo de ar havia se fechado.
O pânico e o medo começaram a crescer dentro de si e ele já estava prestes a gritar quando algo o impediu.
—Oi. — Mako se virou na direção de onde vinha a voz. Pronto para bater, pronto pra correr. Mas então ele conseguiu perceber que não corria perigo. O dono da voz era alguém conhecido.
—Você é aquele espírito daquela vez.— Deixou escapar tal observação.
—Sou eu. — concordou o espírito.
—Foi você quem me ajudou na caverna com Koh... — Mako estava tão surpreso ao rever aquele espírito que até se esqueceu de tudo que estava acontecendo naquele exato momento.
—Agora eu quero lhe ajudar de novo.
—Porque me trouxe aqui? — Mako perguntou, ignorando a afirmação que o espírito tinha feito há alguns segundos.
—Porque é aqui que você irá encontrar a sua cura.— Respondeu o espírito. E então ele começou a ficar translucido, foi sumindo aos poucos, até desaparecer.
—Espera. — Mako gritou. — Volta aqui.
E então o cenário ao seu redor foi sumindo. Até que se transformou em outro.
Agora Mako estava bem na frente de uma grande mesa de piquenique. Nela se sentavam espíritos de diferentes formas e tipos, e juntos deles havia um homem; Mako o reconheceu dos livros de história. Ele tinha os cabelos grisalhos assim como a sua barba.
—Você é Iroh...
—Olá Mako.
—C-como sabe o meu nome?
O velho colocou a mão no queixo, parando para pensar no assunto.
—Sabe, o mundo é um lugar engraçado... algumas vezes achamos que sabemos das coisas quando não sabemos de nada; já em outros casos achamos que não sabemos de nada quando na verdade sabemos. Não acha isso curiosos?
Mako nunca tinha pensado nisso mas aquilo realmente fazia certo sentido. Não que lhe importasse.
—Porque não se senta conosco? — Disse um espírito lhe oferecendo uma cadeira vazia na mesa.
Mako coçou a cabeça, sem graça e caminhou naquela direção. Se sentou. Iroh lhe serviu um copo de chá.
—Esse bule pertenceu a uma grande amiga sua. — Iroh disse passando a mão no bule de cerâmica no qual usava para servir chá. — Foi a muito tempo , sabe? Em uma outra vida.
Mako não se importou em lhe responder, apenas tomou um gole do chá que lhe foi servido.
—Mako... — Iroh lhe chamou carinhosamente e apertou sua mão. —Eu consigo ver que não está bem. Oque aconteceu?
—Um espirito me trouxe aqui. — O detetive se esquivou da pergunta. — Disse que encontraria auxilio aqui. É de você que ele estava falando?
—Eu lamento lhe dizer que não posso te ajudar com este problema. — Iroh diz com um certo tom aveludado na voz.
Mako bufou de raiva e desviou o olhar. Mas Iroh não aparentou estar com raiva ou ofendido. Sorriu de forma terna, parecia estar inebriado pela nostalgia.
—Você me lembra o meu sobrinho... tão impaciente. Com tanto potencial mas continua a ignora-lo por não saber esperar. A espera faz parte da vida, Mako. É um bem necessário.
—SÓ QUE EU TÔ CANSADO DE ESPERAR— vociferou.
—Mako... tenha calma.
—CALMA?! Como quer que eu tenha calma? Um maldito espírito me raptou e depois torturou. E por isso eu estou assim!! Agora eu tenho que ver uma guerra territorial acontecendo em minha cidade e não posso fazer nada!! — A raiva o controlava, o fazendo expulsar as palavras de sua boca.
—Libere sua raiva— Iroh lhe aconselhou. — Livre-se dela para que possa voltar a ver com clareza.
—Aquele maldito espírito... Koh. Ele me torturou por prazer... Eu não consigo entender como alguém pode ser tão ruim assim. Não consigo entender como alguém pode ser tão cruel. Eu... eu o odeio!
—O ódio serve como uma defesa. Ele lhe mostra que deve ficar longe daquilo, para impedir que o objeto que um dia lhe causou mal não o volte a faze-lo. Mas ele também serve como um faca de dois gumes; Ao mesmo tempo que lhe protege, o ódio também pode lhe fazer mal, ele age como um veneno, age lentamente, infecta o organismo até o ponto em que atinge o seu estagio final e não é mais possível reagir. Somente o perdão pode-lhe libertar do veneno do ódio e da raiva.
—Eu-eu não sei se algum dia conseguirei perdoa-lo.
Iroh apertou novamente ,de forma carinhosa, a mão de Mako.
—Agora eu posso ver de forma mais clara o seu caminho. Somente uma pessoa que experimentou a dor e o sofrimento pode lhe ensinar.
—Quem...? — Mako limpou com o braço as lagrimas que teimosamente continuavam a cair de seus olhos.
—Ainda não é a hora de você saber quem é. Mas eu posso lhe indicar como encontra-la.
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