História A.m.o.r - 01, dezembro 2017

Capítulo – treze.

 01, dezembro 2017...

Hoje, eu soube que ia ser um dia difícil desde que acordei. Ontem eu avisei para os meus pais e para os meus amigos de que estaria ocupado o dia inteiro e que esperava que todos me entendessem.

Não, eu não vou fazer a mesma coisa que eu fiz um ano atrás, eu não vou fingir que isso não me afeta, eu não vou fingir que mesmo me distraindo durante o ano inteiro eu sinto como se fosse morrer sempre que eu penso no Jin e em tudo o que passamos juntos.

É exatamente por isso que hoje, antes mesmo do sol nascer, peguei a estrada e me forcei a enfrentar qualquer consequência. Quatro horas depois de sair de casa, eu cheguei em Busan. Olhei para a foto da ilha e quando eu a abaixei, ela apareceu na minha frente.

Foi aqui.

Foi aqui que nós tivemos o nosso primeiro momento romântico e foi aqui o último lugar em que ele esteve com vida.

Isso... É uma merda.

Eu subi no píer e andei nas pedras até chegar na árvore arqueada. Nosso coração ainda estava talhado com nossas iniciais dentro. Mesmo com o pouco limo que se acumulou com o tempo, ainda era completamente legível.

Eu toquei no tronco da árvore e lembrei de como fizemos isso juntos depois de escrever com a chave da minha moto. Eu respirei fundo, estava tão frio. A neve começou a cair em novembro, mas eu só tirei os meus tênis e fiquei descalço em uma ilha de pedras, no inverno.

Quem me visse, provavelmente pensaria que eu enlouqueci, da mesma forma que eu pensei que Jin tivesse enlouquecido, mas de alguma forma, sair no inverno e pisar em pedras me fazia sentir melhor, me fazia lembrar dele.

Enxuguei algumas lágrimas com as costas da minha mão e me sentei no mesmo lugar de antes. Onde nos beijamos pela primeira vez.

Eu coloquei os meus fones de ouvido e dei play em uma música do Queen... Sim, a mesma que eu impliquei com ele para não ouvir. Eu só queria ficar ali o máximo que eu aguentasse pelo frio, ouvindo as músicas que me faziam lembrar dele e aproveitando esse sentimento. Eu queria chorar, eu queira me sentir um lixo e era tudo o que eu precisava.

Jin disse que tinha coisas que queria me dizer e eu também tenho coisas que eu gostaria de dizer para ele. Talvez eu me arrependa disso em algum momento, mas a minha saudade falou mais alto. Eu tirei um caderno e uma caneta da minha mochila e resolvi que ia dizer o que eu queria.

Bem, como você me ensinou... Oi, sou eu, o Namjoon.

Eu tenho tentado criar coragem para fazer isso há um tempo; escrever o que eu venho sentindo desde que você morreu. É engraçado, para não se dizer trágico, que mesmo depois de tudo, ainda que eu consiga me distrair no dia a dia, eu não consigo passar um dia sem pensar em você. Eu acumulo muitos sentimentos assim, eu os guardo para que um dia eu possa dizer que eles mudaram.

Mas eles nunca mudam.

Sei lá, você não faz ideia da falta que eu sinto. Eu ainda preciso das suas palavras de incentivo me apoiando para cada decisão, você sempre acreditou tanto em mim e eu sempre amei isso. Mesmo que eu não queira, as vezes eu penso no que você provavelmente me diria em alguma situação.

Hoje faz um ano... Um ano que eu senti raiva de você, que eu te odiei, mas eu não odeio mais. Eu estou aqui, sentado nessa ilha ridícula em que você tirou a sua vida; estou de baixo da mesma árvore que nos beijamos pela primeira vez...

A sua morte deixou um vazio gigante. Agora, eu estou vendo um pouco de gelo em cima de algumas pedras e a árvore arqueada está sem folhas. É bonito, eu estou com frio, mas é muito bom estar aqui.

Será que quando você estava preste a se suicidar viu que as pedras estavam cheias de gelo? Será que você tomou banho na água congelante mesmo não sendo permitido nessa época do ano? Se eu e você vimos à mesma coisa, da mesma forma, eu posso considerar isso como momentos juntos? Eu espero que sim, pois eu considero.

 Sabe menino princesa? Eu estou com medo... Meu dias como adulto se baseavam em imaginações, imaginei histórias com você, imaginei nós dois indo morar juntos, comemorando meu aniversário de dezoito anos com muito álcool e pouca noção de certo e errado; até imaginei um jeito de continuar na sua vida mesmo que não ficássemos juntos até o fim dela, caso você se apaixonasse por outra pessoa. Agora eu tenho que reescrever tudo, mas eu sempre vou lembrar de você.

Eu não quero aceitar sua morte, essa é a verdade. Não quero te deixar ir, mas sei que até o fim dessa carta eu já vou ter mudado de ideia, sempre fui dos que faz a coisa certa depois de pensar bem, era uma das coisas que você dizia gostar em mim...

Ontem eu estava pensando nos seus pais e, consequentemente, em você. Eu sempre amei ir à sua casa Jin, eu amava entrar lá e ver coisas que deixariam as famílias tradicionais coreanas de queixo caído. Não sei o que é mais lamentável, eu estar aqui, ou estar resgatando acontecimentos que fazem meu coração se esmagar, isso me dá raiva. Eu só não sei do que tenho mais raiva, se é do fato de eu nunca ter conseguido comer mais um pedaço da torta que a sua mãe fazia no jantar, ou de eu saber que um sapo não morre se pular da sua cabeça só por culpa da curiosidade insaciável que o seu pai tinha.

Talvez, se vocês ainda estivessem vivos, eu os visitaria outra vez e corresse mais rápido quando você e o seu pai tentassem fazer experiencias sem sentido comigo como cobaia. E depois de toda essa confusão, quando eu e você estivéssemos deitados na cama do seu quarto, olhando para o teto e conversando sobre como era possível o Darth Vader ser o pai Luke, eu finalmente te perguntaria tudo o que quero, e dessa vez não pensaria antes de te roubar o beijo que eu e você queríamos.

Nossa Seokjin, mesmo depois de morto você consegue me fazer fugir para a quatro horas de distância de Seoul! Mas isso não me deixa mal porque no fim das contas, eu te amo.

A forma que eu te amei sempre foi muito mais que qualquer outro sentimento. Eu sempre amei só estar com você, eu amava a ideia de amar você, eu realmente amava você.

Na verdade, eu amo você e isso nunca vai mudar. Eu já disse uma vez, A morte não tem o poder de acabar com sentimentos, ela apenas traz mais alguns que você tem que aprender a lidar.

Eu te amo.

Terminei de escrever e fechei o meu caderno. Eu sou tão previsível, com certeza esse caderno vai ser esquecido no fundo da minha mochila e eu vou demorar séculos para ler o que eu escrevi de novo. Agora, que os meus pés estão quase congelando e minhas lágrimas secaram com o vento frio, eu só quero encostar a minha cabeça na árvore e terminar de ouvir as minhas músicas, depois disso, eu posso voltar para casa.

Sim, eu ouvi muito da minha mãe quando eu cheguei morrendo de frio e com os lábios roxos, mas ainda assim eu ri, coisa que ela não gostou muito. Já estava no fim da tarde, eu não passei tanto tempo como da última vez e meus pais estavam me esperando com uma sopa, para que eu não passasse as férias de inverno doente e enfatizaram que não é só porque eu fiz dezoito anos que eu posso fazer o que eu quiser e ser descuidado com a minha saúde. O clássico discurso de pais.

Sim. Eu completei a maior idade com sucesso e não foi só eu, agora Jungkook e Jimin podem encher a cara de álcool sem terem problemas com a lei. Eles também se formaram na escola e estão se preparando para a faculdade ano que vem. Jimin quer ser advogado e Jungkook está entre começar a trabalhar ou fazer fotografia na faculdade.

Já Taehyung, ele está me ajudando a organizar algumas coisas para morar com ele no ano que vem. Não foi muito fácil de convencer os meus pais, mas as coisas estão se arrumando.

Agora... O Mark. Nós ficamos muito próximos desde a festa, ele praticamente vive aqui e os meus pais adoram ele. Nós não ficamos de novo desde aquele dia e talvez nem role, eu não consigo pensar em me envolver desse jeito com alguém por agora.

E por falar no Mark.

Eu cheguei no meu quarto e parei para olhar na janela, ainda bem que eu cheguei logo em casa, começou a nevar e dirigir enquanto neva é bem difícil e perigoso. Eu ainda estava olhando os flocos de neve caírem muito mais rápido do que os filmes retratam quando eu recebi uma mensagem do Mark no Snapchat. Ele tirou uma foto da janela dele e me mandou com a legenda. “Do you wanna build a snowman?”.

Eu comecei a rir, tinha contando para ele recentemente que sou apaixonado por musicais e ele soube bem como me persuadir agora, eu demorei um pouco para responder porque fiquei olhando para foto e rindo, então ele me mandou outra, dessa vez fora de casa com os pés na neve e a legenda “Come on! Lets go and play”.

Esse garoto não sabe que está quase anoitecendo e ele ficar saindo de casa só para fazer graça é prejudicial à saúde dele? Eu respondi a altura e cheio de maturidade com a foto da porta do meu quarto e a legenda “Go away, Mark”, não poderia ser diferente, ele me respondeu com um “Ok, bye” e depois disso eu não recebi mais Snaps.

Não que eu esteja falando isto, mas eu acho que me senti desapontado, não sei se essa é a palavra certa. Eu meio que queria continuar conversando com ele e gostei que ele me chamou para conversar assim de um jeito tão descontraído, não faço ideia de que carência é essa que eu tive, principalmente depois do dia que eu tive, mas eu queria.

E como se ele pudesse me ouvir, o meu celular começou a tocar. Mark estava me ligando e isso me deixou tão mais feliz que eu atendi rindo.

- Você é um grosso! Eu fui todo amorzinho e você nem percebeu que eu fiz uma piada e assisti Frozen só por você.

- Hum... Essa é a segunda música do filme e algumas pessoas consideram a primeira, então há controvérsias sobre você ter assistido ao filme. – A linha ficou muda por um tempo.

- Certo, eu ouvi a música no YouTube.

- Oh, Mark, eu esperava mais de você. – Eu ouvi o barulho de algo sendo amaçado, acho que ele se deitou na cama e isso me fez pensar nele com um pijama quentinho e pronto para deitar.

- Eu posso me defender, tenho argumentos para isso.

- Quer tentar?

- Eu só achei que seria desumano da minha parte assistir sem a pessoa que me apresentou. – Eu parei para pensar, fazia sentido.

- Você tem um ponto. – Ele riu.

- O que me diz?

- Quer dizer... Agora? – Perguntei surpreso, olhei para a janela e ainda estava nevando. – Está nevando.

- Eu posso ir de carro para a sua casa e eu passo a noite aí com você, podemos fazer bebidas quentes, quem sabe? – Ele disse muito animado e bom, eu também ficaria, ficaria se esse tipo de programa não me fosse tão familiar com outra pessoa.

Passar as férias de inverno com roupas quentinhas, canecas com chocolate quente e vendo filmes no meu quarto eram coisas que eu fazia com o Jin e sim, eu sei que isso não é motivo para eu recusar o convite, mas tinha que ser logo hoje?

Eu respirei fundo e ele ouviu, acho que só com isso ele entendeu que eu não ia aceitar o convite, o meu medo era que ele pensasse que eu não queria a sua companhia quando, na verdade, eu só não estou pronto para fazer com outra pessoa o que eu fazia com o Jin.

- Namjoon?

- Oi, desculpa. – Eu ri sem graça.

- Não, só... Você está bem?

- A verdade... – Divaguei, eu não sei o que dizer. – A verdade é que eu queria muito falar com você porque hoje é uma data especial para mim e isso mexe muito comigo.

- De uma forma boa?

- Definitivamente não. – Eu ri da minha própria pena. – Eu quero dizer que eu vou amar assistir frozen com você no inverno, quer dizer, tem época melhor para assistir um musical chamado frozen? – Ele riu bem baixinho, acho que o deixei preocupado. – Mas... Não hoje, tudo bem?

- É claro que sim, Namjoon. Eu estou aqui para te fazer se sentir melhor e não culpado por alguma coisa. – Eu sorri, só sorri.

Eu não sei quanto tempo vai levar para eu falar sobre o Jin para o Mark, assim como eu também não sei se eu vou falar sobre o Jin para o Mark. Tudo o que eu sei agora é que eu realmente tenho as pessoas certas para me ajudar, ainda que quando o assunto é ele, eu pense de uma forma um pouco diferente.

Um ano se passou e eu nunca estive tão surpreso de como tantas coisas podem mudar em um ano. Eu não sei como a minha vida vai estar no ano que vem, nem no outro, eu só sinto que agora estou um pouco mais consolado e distraído.

É, o Mark consegue me distrair...