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História Amor Oculto - Capítulo Único


Escrita por: Arferitix

Notas do Autor


todas as referências utilizadas estarão sendo explicadas nas notas finais, espero que apreciem meu trabalho e que consigam interpretar bem este romance entrelinhas.


<3

qualquer erro, por favor, me avisem. Betei, mas sou idiota e sempre deixo algo passar sz

Capítulo 1 - Capítulo Único


Chanyeol era um daqueles pintores incríveis e invejados por outros artistas, tinha cada traço limpo e perfeito, deixando a arte parecida com uma fotografia. Era o ano de mil novecentos e sessenta, aquele tipo de técnica era o mais pedido pelas pessoas de alto calão. Ele poderia enriquecer, ser o pintor principal da rainha da Inglaterra, porém preferia se esconder.

Era um pintor incrível, claro, mas não queria se igualar aos demais. Estava muito bem em seu minúsculo estúdio de pintura que também era seu apartamento. De um lado uma cama de solteiro, do outro todo o seu amado material. Escondia o seu talento e vivia bem daquela forma, fazendo dois trabalhos ou três por semana, pegando uns trocados que eram o suficiente para pagar as contas, comprar novas tintas, novas telas, a comida necessária e, principalmente, pagar os modelos que pintava. Em todos os seus quadros as pessoas sempre eram reais, modelos que ele contratava apenas para ficar horas em uma determinada posição. Gostava de se sentir no comando até mesmo na escolha de seus modelos, queria ser livre.

Naquele dia ele estava esperando mais uma das dezenas de pessoas que entraram naquele apartamento para serem pintadas, porém este era diferente. Sempre gostou de pintar quadros inovadores, mudar um pouco a estética do que todos julgavam perfeito, mas desta vez ele iria ser um pouquinho mais ambicioso. Iria pintar uma Vênus*. Para trabalhar com mais exatidão, um  Vênus.

O surto que os adoradores das Vênus já pintadas por Ticiano* dariam ao se deparar com tal pintura. Se alguns já reclamavam de algumas inovações que certos modernistas faziam no tradicional, qual seria a reação de todos ao verem um quadro retratando Vênus, deusa do amor e beleza, como um homem? O tipo de reação que o jovem pintor gostaria de causar.

O moreno terminava de armar o cavalete e preparar as tintas, havia se esquecido de comprar um espelho dourado, então pegou o que ficava pendurado na parede cheia de manchas do banheiro. Arrumou um pano vermelho por trás do divã vermelho vivo, a armação fina e bela, o metal ondulado passando por todo o material. Havia visto aquele belíssimo estofado numa loja dos subúrbios de Roma, o comprou sem pestanejar, sabia que seria perfeito para o quadro que pretendia fazer no futuro.
Cobriu o pano vermelho com um lençol de linho, sorrindo com o resultado harmonioso.

Com tudo pronto, aguardou. O modelo se atrasou, é claro. Uma batida na porta de madeira rústica e alguns passos dados até a mesma, abrindo-a e vendo um jovem rapaz baixo, os cabelos castanhos claros naturais caindo suavemente pela testa. Vestia roupas simples e harmônicas, a camiseta branca presa pela calça marrom clara, tudo se contrastava bem com todo o garoto. O mais alto presente naquele momento havia se orgulhado pela sua escolha às cegas. A agência do modelo baixinho não entregava fotos, eram apenas informações dizendo sua altura, idade descrevendo minimamente sua aparência. O artista havia gostado de tudo, o modelo era bonito, isto era inegável, era uma beleza suave, natural. O típico rosto de qualquer um por aí. Não tão típico onde estavam, ainda era meio difícil encontrar asiáticos na Inglaterra. O jovem pintor havia passado noites rindo da própria ousadia ao pensar que, além de pintar um estilo de Vênus masculino, também seria um homem asiático. Ah, todos iriam querer que ele fosse queimado vivo, disso tinha certeza.

O diálogo dos dois no início fora simples, o mais novo descobriu que o pintor falava coreano, então se sentiu livre para conversar no seu idioma e não naquele seu fraco inglês onde forçava um sotaque britânico para não ser comparado com o resto dos coreanos que só queriam saber de guerra. Descobriram seus nomes e continuaram conversando enquanto Chanyeol separava suas tintas. Baekhyun fez um comentário cheio de resmungos sobre os ingleses, dizendo que aprendeu a odiar todo ser humano que ousar chegar perto de si com o inglês britânico cheio de um dialeto irritante. Park riu e respondeu com humor.

–Devo concordar.

–Ah, não precisa apressar-se na pintura. Recebo por hora.

–Podes ter certeza que demorará bastante.

Com tudo pronto, Chanyeol se virou para o mais novo, anunciando que iriam começar a pintura.

-Há na casa de banho um roupão para cobrir-se.- avisou e Baekhyun agradeceu, guiando-se até o cômodo indicado. Totalmente calmo para uma situação onde se encontraria nu aos olhos de um completo desconhecido que, mesmo não querendo ser inconveniente, teria de observar cada curva de seu corpo para passar com perfeição para a tela já preparada.

Byun apareceu deslumbrante com o roupão de seda carmesim. Estava ligeiramente largo, no ombro o pano caía, revelando o ombro branco e parte da clavícula perfeitamente marcada.

–Vejo que errei no tamanho -sorriu-, perdão por isto.

–Não se preocupe, acertar meu tamanho também não é lá tão fácil quanto parece.

Foi até o divã convidativo, esperando que o pintor dissesse o que deveria fazer.

–Vamos começar -limpou a garganta, denunciando seu desconforto- podes retirar o roupão e sentares no estofado, lhe falarei a posição correta.

O mais baixo assentiu e, com apenas um movimento suave, desfez o nó do pequeno laço que prendia o roupão em seu corpo, fazendo seu tronco desnudo aparecer. Esperou que o pano deslizasse com suavidade por seus braços e pernas, até chegar no chão e por fim seu corpo se encontrar completamente livre aos olhos do artista.

Park sentiu o pincel em suas mãos se desvencilhar, mas o segurou com mais força. Já havia pintado outros nus antes, nem mesmo anos mais tarde conseguiu dizer o motivo de seu nervosismo com a nudez do garoto.

–Pareces totalmente acostumado com a situação.- Chanyeol comentou e o modelo riu, concordando.

–Minha agência tem parcerias com pintores que vez ou outra trabalham escondidos para certos barões meio fissurados com jovens nus pendurados em suas paredes caras. Como havia dito, ingleses.

–Como devo posicionar-me?- perguntou.

–Se deite e apoie as costas no estofado, não tão deitado.- instruiu e o outro seguia com precisão.

–Que tipo irá tentar pintar? Irá ajudar-me para incorporar 
melhor. Claro, só se não estiver tentando algo novo.

–O estilo já fora pintado antes, devo dizer, mas creio que não da forma que estou a fazer.- disse e o mais novo sorriu com curiosidade- será um Vênus.

Byun pareceu ponderar por alguns instantes, então deu uma risada.

–Pareces não conhecer o quadro, pintor. Vênus é uma mulher e, bom, se te enganaste sobre meu corpo, deves ter certeza agora que sou um homem.- o tom bem humorado em sua voz melodiosa.

–E isto é a inovação, tu és um homem. Não será uma Vênus, será um Vênus.

–Ticiano e Boticcelli* poderiam lhe bater.

–Ah, sim, disto eu sei. Tamanho desgosto que estou a causar em dois mestres de uma só vez, mas, sabe, se Velásquez* se envolveu com uma mulher grega de baixo calão e a pintou como uma Vênus, posso não estar a ser tão audacioso assim.- sorriu.

–Poderia colocar o braço esquerdo para trás e o direito sobre seu tronco?- pediu e o outro assentiu, se movendo para a posição pedida.

–Coloque uma perna sobre a outra e sua mão, bem...

–Certo, entendi.- riu baixinho e cobriu seu sexo com a palma da mão, conhecia as pinturas e já esperava aquilo.

–Não é bem desta forma, a mão, coloque-a virada para cá, cobrindo, porém com os dedos na minha direção.

Nos quadros de Ticiano a Vênus cobria-se, pudica, mas se já estava mudando todo o conceito com um homem asiático, por qual motivo iria seguir toda aquela pureza intocada? A mão virada para o pintor ou para quem admirasse o quadro. Ah, que piada de mau gosto, todos diriam. No lugar de se esconder e mostrar ingenuidade com sua nudez, estava chamando? Eles poderiam até mesmo voltar na época que pessoas eram mortas por seus quadros considerados ofensivos, pintar Vênus daquela forma na antiguidade era um crime contra a Santa Fé. Não que Chanyeol ligasse para toda a baboseira antiga dos religiosos viciados em arte.

Byun arqueou as sobrancelhas, totalmente surpreso com a posição, sabia o significado, mas acatou o que lhe foi dito. 
O maior ficou uns minutos encarando a janela, esperando algo que sabia que viria. Então veio. A luz do sol se escondeu brevemente, dando uma iluminação meio amarelada para o apartamento. Com seus pincéis em mãos e a paleta de cores pronta, começou a pintar as linhas suaves.

Com esboço feito e luz que o Park achava perfeita já fora do cômodo, se despediram. Baekhyun voltaria na próxima semana, quarta-feira às duas horas da tarde.

(...)

Byun estava deitado na mesma posição, conversando despreocupadamente com o pintor. O corpo bem mais relaxado na segunda vez que posava.

–Dou a impressão de pintar algo assim apenas por implicância?- Indagou surpreso após Baekhyun confessar que ele era um tremendo implicante com a sociedade.

–Eu poderia dizer que sim e você deveria concordar comigo, mas não me pareces assim. Vejo-o apenas como alguém almejando loucamente mudar o atual. De uma forma louca e nada sadia, claro.

–Estás certo.- admitiu com um suspiro.

–Talvez o público não se rebele contra você, é apenas um pintor, mas talvez devesse.- concluiu e moveu o pescoço, incomodado com a posição contínua.

–Os nazistas eram considerados grandes admiradores de arte, porém isso não impediu a capacidade destrutiva deles.- rebateu e o modelo sorriu, gostava de conversar com o pintor.

–Nem tanto. Os nazistas? Foram apenas grandes saqueadores de obras primas. Queriam as coisas que mostrassem poder imperial e todos tinham mau gosto. Gente cafona.- Baek disse com desdém e Chanyeol sorriu.

–Apesar de Adolf Hitler ser pintor. Isso sempre me faz sentir muito mal em relação à minha profissão.- confessou.

–Hitler foi um pintor muito ruim e ignorante -Byun começou e suspirou-. Acho que morreu achando que Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio*, e Michelangelo Buonarroti* eram a mesma pessoa.

Chanyeol riu alto, o garoto era o único que conseguia fazer comentários tão maldosos em relação à arte e a Hitler se tornarem engraçados.

–Mas vejo potencial em tua pintura, Chanyeol, a sério. Pode causar surpresa e estranhamento inicialmente, mas é belo. Perigoso e belo. Há uma frase alemã que costumava ouvir de um modelo alemão que trabalhei, conheces Rilke*? -Park negou e Baekhyun sorriu, amava recitar a frase.- "Pois o belo é apenas o começo do terror que não conseguimos suportar. E adoramos tanto o belo porque ele desdenha tranquilamente nos destruir".- recitava naquele jeito solene que as pessoas sempre declamam poesia.

Park sorriu, compreendendo o significado. Baekhyun era alguém que despertava interesse, bonito, inteligente e, acima de tudo para Chanyeol, compreendia a arte e a amava quanto Park.

–Mas e sobre o espelho, pintor, o que fará sobre ele? Não consigo ver meu reflexo na posição que estou.

Park ficou envergonhado e mudo pelo constrangimento de não ter pensado nisso.

–Se tiver um Cupido segurando o espelho aos pés do Vênus -soltou uma risada ao tratar Vênus no masculino- poderia se mirar bem. Estou deitado, daria certo.- Baekhyun, além de tudo, também servia para ideias tão boas que Park se questionava o motivo de servir apenas como modelo e não um pintor. Talvez não soubesse pintar, não tinha o talento, mas admirava quem o tinha.

–Podes inventar o rosto para o anjo depois.

Mas uma tarde de pintura se passou e se despediram, já ansiosos para a próxima quarta-feira, desta vez mais cedo. Park faltava terminar apenas os últimos retoques e preferia a luz da manhã.

Baekhyun posava, Chanyeol pintava. À luz da manhã, a pele leitosa de Byun brilhava como pérola, colocava leves camadas de verniz misturado com flocos brancos, sempre finos, de forma que o branco de baixo apareça, e muita calcita para dar transparência, pequenas pinceladas misturadas para a superfície ficar completamente lisa, a um toque de mão. Queria dar a impressão de que a luz vinha de dentro do Vênus. Pintou a imagem no espelho e, quando chegou no rosto refletido, ponderou. Pensou em escurecer e pintar qualquer rosto que fosse diferente do de Baekhyun, afinal não seria lá muito interessante alguém dizer que viu o garoto da pintura na esquina de sua casa, mas então pintou os traços delicados de Byun. Sentiu que não seria seu Vênus se não tivesse o olhar penetrante, porém ingênuo, do garoto.

Trabalhou sem parar, perdeu a conta do tempo e só parou quando o rapaz reclamou de estar com o corpo endurecido e que precisava ir ao banheiro. O corpo estava quase pronto. Terminar a pintura naquele dia não aconteceu, então marcaram novamente para a próxima quarta-feira. Este sim seria o último dia de pintura.

(...)

Baekhyun adentrou o apartamento com aquele sorriso gentil nos lábios, retirou toda a sua roupa e, como todos os dias que foi pintado ali, deixou o roupão escorregar por seu corpo, então se deitou e esperou que o outro começasse a pintura.

–Esse foi o trabalho mais longo que eu já fiz de servir de modelo para um pintor.- comentou.

–E isto é gratificante para você, não é? Não recebia por hora?- respondeu e o mais novo assentiu.

–Pintor, tomei a liberdade de espiar o quadro escondido atrás daquele pano, tens um talento incrível! Me senti maravilhado com suas linhas impecáveis, não estava a esperar isso.

–Esperava que eu fosse um péssimo pintor egocêntrico e sonhador? Muita ideia de inovação e pouco talento.- adivinhou e o outro sorriu.

–Perdão se te ofendi, mas tente me entender. A arte está se acabando, muitos novos pintores com muitas ideias e pouco talento, como disse. Sabe, acredito que as pessoas vêm começando a andar mais de preto em sinal de luto pelo que a arte já foi um dia.

–Compreendo seus motivos.

–Mas enfim, um talento do tipo que você tem é algo que não apenas eu iria reparar, pessoas pagariam uma quantia esplêndida para ter um quadro do tipo que eu vi em suas casas. Não me parece que você faz muitos trabalhos, por quê?

–Não quero ser famoso, um novo Goya* nem nada do tipo. Pinto para os outros por uma quantia que eu consiga segurar as pontas, não preciso de uma casa maior ou um desses negócios caros que chamam de carros. Sendo um bocado mais verdadeiro comigo mesmo, tenho medo. Não quero vender quadros, sou um artista, não comerciante. Não quero pintar para homens ricos e suas mulheres feitas de troféus, não quero me tornar um subordinado que vive por migalhas. Um pouco egoísta, sei. Creio que posso ser egoísta e medroso, tenho apenas vinte e cinco anos.

Baekhyun se calou, queria deixar o artista trabalhar em paz. Com um olhar calmo sobre o homem atrás da tela que repetidamente olhava para seu corpo, absorvendo cada detalhe de suas curvas, sorriu. Um dos melhores trabalhos que aceitou fazer, tinha certeza. Conheceu alguém diferente, com ideias diferentes e um jeito diferente. E que o atraía. Sim, o atraía tanto que chegava a doer. Park Chanyeol era belíssimo aos olhos de Baekhyun, bonito desde as orelhas salientes até o sorriso deslumbrante. Estaria mentindo se dissesse que não havia por vezes se pego absorvendo cada aspecto do pintor -assim como o mesmo fazia consigo- para então imaginar ele ali, em seu lugar, com toda sua nudez gloriosa. Claro que gargalhava com tais pensamentos.

Dando os últimos retoques na pintura, Chanyeol sentia a gota de suor descer por sua testa. Estava extremamente abafado. Passou o pincel sutilmente entre a linha das coxas juntas, o azul acinzentado dando a impressão que a luz passava por ali, passando entre os dedos que chamavam de forma sensual quem estava vendo a imagem cheia de segundas intenções e, ao mesmo tempo, com a mesma pureza da Vênus já retratada. Deu os últimos toques no Cupido que segurava o espelho erguido para o Vênus que se admirava, mas ao tempo parecia encarar quem estava ali, observando-o. Passou o mesmo azul pela linha da cintura fina e delicada, só Deus sabia como o jovem artista havia amado pintar o corpo perfeito do modelo. Com o pincel já longe das mãos e um olhar orgulhoso, sinalizou para Baekhyun se aproximar e admirar a obra já terminada.

Se levantou do sofá com um sorriso cheio de expectativa, agarrando o roupão do chão e vestindo-o, não fazendo o laço do cinto largado por seu quadril, assim deixando seu corpo ainda exposto.

Sorriu largamente, maravilhado.

–Este braço está fora da tela, mas sei que você fez assim para a linha do quadril ficar mais ousada, um movimento atrevido. Faz efeito. Olha como a tinta é fina, a trama da tela aparece por baixo, como está perfeito! Quase não tem nada e, ao mesmo tempo, tem tudo, você obriga os olhos a verem a diferença. E ainda é o meu rosto? Achei que fosses mudar.- não conseguia desgrudar os olhos de sua própria imagem de uma forma mais bonita, parecia no mesmo calão que a deusa ficava em outros quadros. Se sentiu realmente como Vênus.

–Achei melhor com seu rosto, espero que não te importes.- observava o rosto de Byun.

–Aliás, pintor, minha cintura não é tão moldada desta forma.- riu.

–É sim, pintei exatamente como vi e vejo.- olhou o corpo do garoto ao seu lado, já acostumado com sua nudez.

–Irei vestir-me, estou começando a sentir frio.- sorriu e encarou o artista, o sorriso sugestivo em seus lábios bonitos e róseos.

Em um movimento tão natural quanto a forma que Baekhyun ficava nu na frente de Chanyeol, natural quanto as pinceladas dadas no quadro, Byun deixou um selar demorado sobre os lábios do pintor que, sem qualquer tipo de surpresa, correspondeu. Apoiou os dígitos sobre a cintura macia do mais baixo, apenas para sentir a tez do outro contra seus dedos.

Se separaram e como se aquilo fosse um tipo de cumprimento, Byun se dirigiu até o banheiro e se vestiu. Agradeceu pelo perfeito trabalho do artista e, com aquele seu humor de sempre, agradeceu pela quantia que iria receber após passar tantas horas em trabalho. Em outro beijo de despedida, seguiu sua vida e Chanyeol continuou em seu apartamento que mais era um ateliê, admirando seu novo Vênus e pintando outros quadros.

(...)

Baekhyun estava sentado no sofá de sua sala, contando pela milésima vez a história de quando tinha vinte e dois anos e encontrou o homem mais talentoso e que fora completamente apaixonado. Sua sobrinha, Naeun, amava tanto a história que a ouvia com gosto, já seu pai, irmão mais novo de Baekhyun, estava cansado de ouvir sempre a mesma coisa, além de achar desnecessário os detalhes de como era prazeroso ser pintado pelo homem. Acreditava que o irmão já estava ficando louco, já tinha sessenta e dois anos e ainda falava sobre um pintor que conheceu quando era mais novo e modelo, contava que conheceu o amor de sua vida ali e que o homem pintou um nu seu, um Vênus seu. Estava delirando, seu irmão acreditava.

Sabia sim que o mais velho havia sido modelo na época, tinha dez anos e lembrava-se de tudo, mas não engolia todo o romance -se é que ele chamava de romance- que o mesmo contava. Se o amava tanto quanto falava, por que não terminaram juntos? Pela história contada, após sair do apartamento, nunca mais voltou. Nunca mais viu Chanyeol nem ouviu falar dele por um longo tempo. Baekhyun sabia do que seu irmão pensava, poderia explicar, mas não via necessidade.

Não viveu um romance com um pintor talentoso e único, viveu apenas o amor de sua vida. É difícil compreender. Não se arrependia de não ter voltado e ficado com o Park, estava muito bem com seu presente, mas sabia que no exato momento que colocou os olhos no artista, havia encontrado a pessoa por quem iria se lembrar pelo resto de sua vida.

Os dois se declaravam nas longas horas de pintura. Não com palavras, mas sim com olhares e gestos. Quando Chanyeol se inclinava para pegar outro detalhe e Baekhyun o olhava de volta, era uma forma silenciosa de confessar o que sentia. Park correspondia, sorria de forma sutil e piscava suavemente, dizendo em sinais o quão recíproco era.

Sempre que o pincel passava suavemente pela tela, desenhando cada curva do corpo alheio, Chanyeol sentia como se fosse suas mãos ali, aproveitando a carne. Assim como uma pintura, o significado entre os dois ficou oculto, subentendido para que apenas aqueles que amavam a arte entendessem. Foi bonito, único e, mesmo que longe um do outro, eterno.

Na tarde daquela quarta-feira que seu irmão foi visitá-lo, Byun Wookhyun deixou sua filha adolescente com o tio e foi até uma exposição que acontecia no centro. Parece que haviam encontrado quadros perdidos no tempo de um pintor importante que falecera entre mil novecentos e noventa e um ou mil novecentos e noventa e dois, com cinquenta e três ou cinquenta  e quatro anos. De um forma natural, parece. Ia para exposições do gênero porque gostava de admirar as belas pinturas, gostava da arte, mas sabia que jamais seria um verdadeiro amante da pintura como seu irmão era. Gostava de mentir para si mesmo dizendo que era como Byun Baekhyun.

Andava pelos corredores iluminados, desviando das pessoas que admiravam as belas pinturas com um olhar maravilhado, outras apenas fingiam entender, o Byun mais novo se encaixava entre esses. Passou por um quadro onde um senhor fumava sobre uma ponte, um olhar triste refletido na água escura do riacho abaixo de si, sabia que ali havia um sentimento escondido, mas não conseguiu entender, então fez um olhar de alguém que com certeza compreendia a pintura e continuou andando.

Viu uma fila de pessoas que aguardavam ansiosas para ver o tão querido quadro encontrado recentemente num apartamento que, mesmo depois de enriquecer, o pintor manteve sob sua custódia. Custou muito para descobrirem aquele prédio antigo e conseguirem uma permissão para entrarem no que parecia ser um antigo ateliê, então encontrando a obra completamente embalada em panos sobre um divã vermelho velho, todo marcado pelo tempo.

Entrou na fila e esperou sua vez, tinha a tarde toda para se fingir de um pseudo admirador de quadros. Os três minutos de admiração de uma mulher passou e então foi sua vez, levantou os olhos do folheto com um olhar tedioso, já esperando encontrar mais um quadro com uma cena comum mas que, mesmo não entendendo, sabia que tinha algo ali. Mas não foi isso que viu.

Deitado num sofá vermelho vibrante, o corpo nu do jovem serpenteava o estofado de maneira elegante e reveladora. O pescoço levemente inclinado para trás, a forma clara e límpida que fora pintada na área do pescoço deixava nítido o quão parecida como porcelana poderia ser a pele. Os cabelos castanhos estavam partidos no meio, alguns fios perfeitamente pintados jogados sobre a testa e o braço flexionado para trás. O corpo era delicado, desde as curvas até o formato. Se olhava no espelho, mas pelo reflexo do objeto segurado pelo Cupido era possível encontrar um olhar sensual, mas ainda assim puro, da forma que um Vênus deveria ser. Parecia olhar com desejo para quem estivesse olhando para a pintura, mas o homem parado ali sabia que não era isso, o olhar desejoso e sensual não era para quem visse, era para quem estava pintando. Sabia que Baekhyun não conseguiu mudar totalmente seu olhar, tentando permanecer com o olhar ingênuo, mas sendo corrompido pelo desejo que sentia pelo homem que pintava o quadro. Sabia que a mão pousada sobre sua intimidade não chamava a pessoa admirando a pintura, chamava o pintor. Todo o quadro tinha aquela áurea sensual e ao mesmo tempo pura por causa dos sentimentos impostos por Baekhyun e o  talentoso artista que viveu um romance cheio situações para se interpretar.

Conhecia o corpo de seu irmão, notou que também fora pintado cada pintinha espalhada pelo dorso, até mesmo uma pequena cicatriz no quadril causada por  uma queda na infância.

O irmão Byun sentiu algo inflar em seu peito, entendendo o motivo de todo aquele alvoroço pelo quadro. Até mesmo ele, um completo leigo quando o assunto era pinturas, conseguiu entender a arte. Viu o quão erótico parecia ser, mas também encontrou a pureza de Vênus, a beleza da Deusa transformada em Deus. Era isso que fazia aquela pintura diferente, ela conseguia transmitir tudo.

Sabendo que seu tempo de admiração estava se esgotando, olhou para o lado, vendo uma placa com informações do pintor e uma foto, uma das raras fotos do pintor ainda jovem, com seus vinte e poucos, na época em que pintou aquele quadro tão polêmico. A foto era preta e branca, de uma péssima qualidade. Ele parecia estar distraído olhando para o lado, uma xícara com um líquido que parecia café em uma mão e um cigarro aceso entre os dedos. O cabelo negro e liso caindo pela testa. Abaixo da foto informações sobre o mesmo. "Park Chanyeol.  1935-1992. Nascido na Coréia do Sul e criado na Inglaterra. Importante pintor revolucionário para a arte".

Wookhyun sorriu de lado e saiu da frente, dando lugar para um homem que olhou o quadro com a mesma admiração que o Byun segundos atrás. Olhou para trás uma última vez, encarando a foto.

É, seu irmão Baekhyun não havia mentido nem exagerado em nada, o pintor era tão bonito quanto falara.


Notas Finais


Vênus: deusa do amor e beleza. O estilo de quadro Vênus começou com a pintura O Nascimento de Vênus, de Boticcelli, logo o estilo foi pintado por outros pintores como Ticiano e Velásquez.
Ticiano, Boticcelli, Velásquez, Caravaggio, Michelangelo buonarroti: todos grandes pintores.
Rilke: foi um poeta alemão.


Espero ter explicado todas as referências, se não entenderem algo podem perguntar.
Estava admirando umas pinturas de Velásquez outro dia e a ideia simplesmente apareceu. Espero que tenham gostado, eu particularmente gostei bastante do resultado (olha que é raro eu gostar de algo que eu escreva).

Até <3

Wattpad: Arferitix
Twitter: @ssaturnz


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