História Animals - Prólogo - Sasuke

Aquela música inebriava os sentidos, saciava a mente e completava a alma. A fogueira alta parecia arder já a algum tempo e as garotas dançavam ao seu redor, a música que parecia emanar de lugar nenhum. Todas ali se encontravam nuas, utilizavam apenas colares com pedras desconhecidas e algumas também tinham pequenas coroas de flores a enfeitar os cabelos. Foi então que uma delas olhou pra mim, como se visse minha alma.

Acordei irritado. Era a quarta vez naquela semana que eu tinha o mesmo sonho, exatamente o mesmo e sempre acordava no mesmo momento. No momento em que a garota de cabelos rosados colocava os olhos em mim. Era também a quarta vez em que eu acordava excepcionalmente excitado, ao me lembrar do corpo dela, completamente nu.

Joguei o lençol que me cobria no chão e levantei da cama, constatando ao olhar pela janela que deveriam ser pouco mais de uma hora da manhã. A lua cheia brilhava num céu sem nuvens e eu soltei um grunhido de satisfação. Depois de uma rápida ida ao banheiro para tomar um banho gelado, desci em direção á cozinha de casa, sabendo que provavelmente alguém ainda estaria ali.

-Sasuke – minha mãe me chamou, num tom assustado.

-O que foi dona Mikoto? – eu respondi, sabendo que eu havia assustando-a.

-Nada – ela passou e me deu um tapa na cabeça.

-Vou reunir o pessoal – avisei-a e sai em direção aos fundos da casa, aonde a floresta começava.

A transformação era algo fácil, aquilo fazia parte de mim e era instintivo, era um alivio poder libertar o lobo que habitava em mim.

Assim que me transformei, um zumbido de vozes entrou na minha mente e embora no começo fosse irritante, era algo que você se acostumava ao final. Aquele elo de pensamentos que unia a alcateia era importante, mostrava a confiança e o senso de família que existia ali.

-Hey Teme – uma voz mais escandalosa se destacou – finalmente apareceu, já era hora.

-Naruto – eu pensei, com um suspiro.

A alcateia estava reunida numa pequena clareira a alguns quilômetros de onde eu estava e eu logo comecei a correr. Assim que cheguei, me coloquei entre Naruto e Itachi, fechando o círculo que havia ali. O silencio recaiu sobre a clareira.

-E então? – direcionei meus pensamentos para todos – alguma novidade?

-Cruzamos com um rastro desconhecido hoje – o lobo cinza respondeu – não conseguimos identificar.

-Rastro do que? – eu perguntei, toda a pose descontraída da reunião morrendo.

-Não sabemos, parece ser de algum tipo de magia.

-As bruxas? – eu indaguei.

-Não sabemos, mas cremos que não seja, não é familiar – ele respondeu.

-Ótimo – Itachi soltou uma risada – teremos dias agitados aqui em Mysticwood. Não aguentava mais a monotonia.

Mysticwood era uma cidade pequena, no interior de New Orleans, um refúgio para os não humanos que ainda restavam na Terra. Ela era um dos últimos sanctuarium que existiam ainda intactos, que não foram profanados pela magia negra ou até mesmo por humanos. Era ali que eu, Sasuke Uchiha, um lobisomem da linhagem Uchiha, uma das mais antigas existentes, residia com minha alcateia, com um juramento de proteger aquele lugar com nossa vida.

Porém, aquela cidade abrigava muito mais que lobisomens. Havia ainda um clã de bruxas, estabelecido ao Sul. Convivíamos em harmonia com os humanos, que de nada suspeitavam que sua pequena cidade era na verdade, um lugar sagrado e protegido para o mundo sobrenatural há séculos.

-Cala boca Itachi – revirei os olhos pra infantilidade de meu irmão – nós não precisamos de movimentação agora.

-Exatamente – concordou Gaara – estamos entrando no período do solstício, vocês sabem como isso fica complicado nessa época.

O solstício de inverno era uma data mística no mundo sobrenatural, principalmente ali em Mysticwood, onde residia um coven. Todas as pessoas da pequena cidade sentiam o clima mudar naquela época, principalmente os seres sensíveis a magia. Tudo por causa das Liliths que viviam ali. E eu sabia exatamente que era com uma delas que eu sonhava todas as noites. Aquilo me deixava profundamente irritado.

-Fiquem atentos a qualquer mudança estranha que não seja condizente com essa época e me avisem, qualquer coisa fora do normal deve ser relatada – eu encerrei a reunião – fiquem alertas.

O grupo assentiu e se dispersou pela mata, cada qual com suas obrigações a cumprir. Eu e Naruto, meu beta, fomos na direção sul, em uma patrulha rotineira.

-O que você acha disso? – ele perguntou, quando já estávamos suficientemente afastados do resto da alcateia.

-Acho que viveremos tempos agitados em breve – respondi – meus sonhos estão avisando algo que eu ainda não consegui entender.

-Realmente – ele concordou, com uma seriedade fora do normal – tem algo mudando.

O peso da magia era sentido no ar, algo se aproximava da cidade e eu temia não estar preparado o suficiente para enfrentar aquilo sozinho. Logo, estávamos passando na trilha que levava a pequena casa em que as bruxas se escondiam. Uma casa rústica, de madeira escura, em meio a floresta. Ninguém se aproximava dali.

-Cara – Naruto riu – esse lugar me dá arrepios, olha pra isso Teme, o que será que essas malucas aprontam aí? Sacrifícios de sangue?

-Respeito Naruto – eu o repreendi – ela tem seus próprios rituais, não zombe deles em meio ao território delas.

-Ele está certo sabe – uma voz feminina surgiu de repente, em meio as árvores – não zombe do que você não conhece pequeno lobo, não se sabe qual será a punição que você ganhará.

Naruto se assustou, quando uma das bruxas apareceu, com uma cesta cheia de galhos nos braços.

-Espera aí – ele grunhiu na minha mente – como ela ouve o que pensamos?

-Eu sou uma bruxa bobinho – ela saiu das árvores e a claridade da lua nos deixou enxergar a garota.

Ela era morena, os cabelos pretos eram quase azuis na luz do luar. Porém, o que mais chama a atenção eram seus olhos, o tom prateado, quase branco era inegavelmente diferente de tudo. O vestido preto que ela usava era simples, e ela andava por ali descalça.

-Continuem sua ronda, lobos – ela disse, se dirigindo a casa – não existe nada para vocês aqui nesse local, a menos que vocês queiram servir de sacrifício para a Deusa.

Naruto balançou a cabeça e saiu dali em disparada, enquanto a garota ria abertamente.

-Peça desculpas a ele, Alpha – ela riu mais – não pude resistir.

-Senhorita – eu me curvei em respeito e saí, rindo de Naruto, que me esperava há alguns quilômetros do local.

Assim que cheguei, Naruto estava resmungando.

-Belo lobo é você – eu não pude deixar de rir.

-Desculpa Teme, mas aquelas bruxas me apavoram – ele respondeu.

-Vai me dizer que não a achou bonita? – eu provoquei.

-Nem em mil anos Sasuke – ele disse, saindo dali.

Resolvi dar a patrulha por encerrada, eram por volta das quatro da manhã por mais que eu tivesse acordado há pouco mais de três horas, eu ainda precisava descansar.

Algo me dizia que a tempestade estava chegando pra assolar a pequena Mysticwood.