História Anjo caído - Hiatus - Seis - Sem Salvação

*AVISO MUITO IMPORTANTE NAS NOTAS FINAIS*

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  Bem cedo na manhã de quinta-feira, um alto-falante ganhou vida no corredor do lado de fora do quarto de Jimin:

  - Atenção, alunos da Dragon Claws!

  Jimin virou para o outro lado com um grunhido, mas, por mais que apertasse o travesseiro sobre os ouvidos, não dava para bloquear os latidos de Randy que ecoavam pelos corredores.

  - Vocês têm exatamente nove minutos para a apresentação no ginásio, é o exame de aptidão anual. Como sabem, não temos muita paciência com quem se atrasa, então estejam prontos e a postos para suas avaliações físicas.

  Exame de aptidão? Avaliação física? Às seis e meia da manhã? Jimin já estava se arrependendo de ter ficado fora até tão tarde na noite anterior... e de ter se revirado na cama até mais tarde ainda, nervoso.

    Logo que começara a imaginar Jungkook e Namjoon se beijando, Jimin tinha se sentido enjoado – aquele tipo especifico de enjoo que parecia por saber que tinha feito papel de bobo. Não havia nem possibilidade de voltar para a festa. Conseguiu apenas se desgrudar daquela parede e deslizar até o seu quarto, para entender por que se sentia tão estranho quando estava perto de Jungkook, o que pateticamente achara ser algum tipo de conexão. Tinha acordado com o gosto amargo da ressaca da festa na boca. A última coisa em que queria pensar agora era em exercícios.

  Ele jogou as pernas para fora da cama e pisou no frio piso de vinil. Enquanto escovava os dentes, tentava imaginar o que Randy queria dizer com “avaliação física”. Imagens intimidadoras de outros alunos – Yoongi, de cara feia, fazendo dúzias de exercícios na barra, Namjoon escalando sem esforço uma corda de 9 metros até o céu – inundaram sua mente. Sua única chance de não parecer uma idiota – de novo – era tentar tirar Jungkook e Namjoon da cabeça.

  Ele atravessou o lado sul do campus até o ginásio. Era uma grande estrutura gótica com contrafortes altos e torres de pedra que a faziam parecer mais uma igreja do que um lugar para onde alguém iria para se exercitar. Enquanto Jimin se aproximava do prédio, a camada de trepadeiras cobrindo a fachada sussurrava na brisa da manhã.

  - Hope – chamou Jimin, vendo o amigo usando um moletom e amarrando os cadarços do tênis num banco. Jimin abaixou os olhos para seu uniforme e botas pretas e subitamente entrou em pânico por medo de ter pulado alguma observação sobre uniformes diferenciados para esse tipo de avaliação. Mas, por outro lado, outros alunos estavam parados do lado de fora do prédio e nenhum deles parecia estar vestindo muito diferente dele.

  Os olhos de Hoseok estavam cansados.

  - Tão acabada – falou. – Cantei um pouquinho demais no karaokê ontem à noite. Achei que poderia compensar tentando pelo menos parecer atlética.

  Jimin riu enquanto Hope se atrapalhava com o laço do tênis.

  - O que houve com você na noite passada, afinal? – Hoseok perguntou. – Não voltou mais para a festa.

  - Ah – Jimin exclamou, enrolando –, eu resolvi...

  - Aaaii. – Hope tampou os ouvidos. – Qualquer barulho parece um martelo batendo no meu cérebro. Pode me contar depois?

  - Tudo bem – disse Jimin. – Claro. – As portas duplas para o ginásio se abriram com violência. Randy saiu, usando pesados tamancos de borracha, segurando uma onipresente prancheta. Ela indicou com as mãos para os alunos entrarem, e um a um eles pararam ao lado dela para serem orientados em direção à sua estação de ginástica.

  - Jung Wonwoo – Randy gritou enquanto o garoto de joelhos bambos se aproximava. Os ombros de Wonwoo se curvavam para a frente como parênteses, e Jimin podia ver rastros de um forte bronzeamento de trabalho na fazenda em sua nuca. – Pesos – mandou Randy, empurrando Wonwoo para dentro.

  - Jung Hoseok van Syckle-Lockwood – berrou em seguida, fazendo Hoseok se encolher e apertar as palmas contra os ouvidos mais uma vez. – Piscina – instruiu Randy, pegando uma sunga vermelha e uma caixa de papelão as suas costas e atirando para Hope.

  - Park Jimin – continuou Randy, depois de consultar sua lista. Jimin deu um passo à frente e ficou aliviado quando Randy continuou – Piscina também. – Jimin deu um pulo para agarrar a sunga atirada no ar. Estava esgarçada e fina como um pedaço de pergaminho entre seus dedos. Pelo menos tinha cheiro de limpo. Mais ou menos.

  - Kim NamJoon – Disse Randy logo depois, e Jimin se virou para ver a nova pessoa que menos gostava no mundo se pavonear em uma bermuda e uma regata fina preta. Ele estava naquele colégio a três dias... como já tinha conseguido fisgar Jungkook?

  - Oiii, Randy – disse Nam, arrastando as palavras com um tom nasalado que fez Jimin ter vontade de imitar Hoseok e cobrir os ouvidos.

  “Tudo menos a piscina”, Jimin desejou. “Tudo menos a piscina”

  - Piscina – Randy sentenciou.

  Andando ao lado de Hope em direção ao vestiário masculino, Jimin tentou desviar o olhar para trás e encontrar Namjoon que rodopiava o que parecia ser a única roupa “nova” da pilha. Em vez disso, Jimin se concentrou nas paredes de pedra cinzentas e nas velhas parafernálias religiosas que as cobriam. Ele passou por cruzes de madeira cuidadosamente esculpidas com relevos retratando a paixão de Cristo. Uma série de trípticos desbotados estava pendurada na altura dos olhos, com apenas os contornos das auréolas das figuras ainda visíveis. Jimin se inclinou para ver melhor um grande documento escrito em latim, numa moldura de vidro.

  - Decoração animadora, não? – perguntou Hoseok, engolindo algumas aspirinas com um gole da garrafa d’água em sua mochila.

  - O que são todas essas coisas? – Jimin quis saber.

  - Parte da história. As únicas relíquias restantes de quando esse lugar ainda era o local da missa de domingo, na época da Guerra Civil.

  - Isso explica por que parece tanto uma igreja – disse Jimin, parando em frente a uma reprodução em mármore da Pietà de Michelangelo.

  - Como tudo mais nesse buraco infernal, eles fizeram um trabalho medíocre tentando dar uma atualizada. Quero dizer, quem constrói uma piscina no meio de uma igreja velha?

  - Está brincando – disse Jimin.

  - Quem me dera. – Hoseok revirou os olhos. – Todo verão, o diretor cisma em tentar me obrigar a redecorar esse lugar. Ele não admite, mas toda essa coisa católica dá nos nervos dele – explicou. – O problema é que, mesmo se eu tivesse vontade de ajudar, não teria ideia do que fazer com todo esse lixo, nem mesmo como fazer uma limpeza sem ofender, tipo, Deus e todo o “nosso mundinho aqui”.

  Jimin relembrou as imaculadas paredes brancas dentro do ginásio de Layser, fileiras de fotografias profissionais dos campeonatos do colégio, cada uma acompanhada da mesma legenda azul-marinho, todas as molduras douradas combinando. O único corredor “santificado” em Layser era da entrada, onde todos os melhores-alunos-futuros-senadores e vencedores de bolsas na Guggenheim e bilionários saídos do nada exibiam seus retratos.

  - Você podia pendurar os procura-se dos alunos atuais – ofereceu Namjoon atrás deles.

  Jimin começou a rir – tinha sido engraçado... e estranho, quase como se Namjoon tivesse lido sua mente –, mas então se lembrou da voz do garoto na noite anterior, dizendo a Jungkook que ele era a única pessoa que tinha. Jimin rapidamente engoliu qualquer simpatia por ele.

  - Estão enrolando! – gritou uma treinadora desconhecida, aparecendo do nada.

  Ela – pelo menos Jimin achava que era uma mulher – tinha um chumaço frisado de cabelo castanho puxado para trás num rabo de cavalo, panturrilhas com jarretes de porco, e aparelhos “invisíveis” amarelos cobrindo os dentes de cima. Ela apressou os garotos furiosamente para dentro do vestiário, onde cada um recebei um cadeado com uma chave e foi direcionado até um armário vazio com um empurrão.

  - Ninguém se arrasa sob a vigilância da treinadora Wendy.

  Jimin e Hope se atrapalharam ao vestir as sungas desbotadas e largas. Jimin estremeceu com seu reflexo no espelho, e então cobriu o máximo possível de si com uma toalha.

  Dentro do úmido ginásio da piscina, ele imediatamente entendeu do que Hoseok estava falando. A piscina em si era gigantesca, de tamanho olímpico, uma das poucas coisas benfeitas que tinha visto até agora naquele compus. Mas não era isso que o fazia excepcional, Jimin se impressionou. A piscina tinha sido construída bem no meio do que costumava ser uma imensa igreja.

  Havia uma fileira de lindos vitrais, com apenas alguns painéis quebrados, abrangendo as paredes até perto do teto alto e arqueado. Havia nichos instalados onde provavelmente costumava ficar o altar. Se Jimin não tivesse sido criado sem religião, e sim como um paroquiano temente a Deus, como o resto de seus amigos da escola primária, teria considerado o lugar um sacrilégio.

  Alguns dos outros alunos já estavam na água, sem fôlego enquanto completavam suas voltas. Mas eram os alunos que não estavam dentro d’água que chamaram a atenção de Jimin. Yoongi, Kang e Jin estavam largados nos bancos junto ás paredes, rindo de alguma coisa. Kang estava praticamente dobrado de tanto rir, e Jin enxugava lágrimas de riso. Estavam usando roupas de banho bem mais bonitas que as de Jimin, mas nenhum deles parecia ter a mínima intenção de chegar perto da piscina.

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