História Anjo caído - Hiatus - Estou ficando louco?

- Jungkook e Namjoon estão juntos ou o quê?

  - Ahh, entendi – disse Kang, e depois riu. – Por que não pergunta a ele você mesmo?

                                                          [...]

  O cabelo de Jimin pingava e o pés ainda estavam descalços quando ele se viu rodando a porta de uma grande sala de musculação. Ele queria ter ido direto para o vestiário se trocar e secar. Jimin não sabia por que essa coisa com Namjoon estava o afetando tanto. Jungkook podia ficar com quem quisesse, certo? Talvez Namjoon gostasse de garotos que mostrassem o dedo a ele.

  Ou, o que era mais provável, esse tipo de coisa não acontecia com Namjoon.

  Mas o corpo de Jimin se sobrepôs à sua mente quando vislumbrou Jungkook mais uma vez. Ele estava de costas, parado num canto, escolhendo uma corda fina e vermelha com pegadores de madeira, e então ir até o espaço aberto da sala. Sua pele era quase radiante; e cada movimento que fazia, seja alongando o longo pescoço ou se dobrando para coçar o joelho esculpido, deixava Jimin completamente arrebatado. Ele ficou lá, jogado contra a parede de entrada, sem perceber que seu queixo tremia e a toalha estava ensopada.

  Quando ele levou a corda para trás dos tornozelos um segundo antes de começar a pular, um déjà vu invadiu Jimin como uma onda. Não que ele sentisse já ter visto Jungkook pulando corda, mas sim a postura que ele assumia, que lhe parecia inteiramente familiar. Os pés afastados seguindo a linha dos quadris, os joelhos relaxados, e os ombros baixos enquanto enchia o peito de ar. Jimin quase podia ter desenhado aquilo.

  Foi apenas quando Jungkook começou a girar a corda que Jimin acordou daquele transe... e entrou direto em outro. Nunca em sua vida ele vira alguém se mover como ele. Era quase como se Jungkook estivesse voando. A corda passava pelo seu corpo alto tão rapidamente que desaparecia, e os pés – seus graciosos e estreitos pés – estavam mesmo tocando o chão? Ele se movia tão rapidamente que nem deveria estar contando.

  Um grunhido alto e uma batida do outro lado da sala de musculação tiraram a atenção de Jimin. Wonwoo estava caído na ase de uma daquelas cordas cheias de nós para escalada. Ele lamentou momentaneamente por Wonwoo, que estava olhando para as mãos cheias de bolhas. Antes que pudesse olhar de volta para Jungkook para ver se ele tinha notado, uma agitação fria e negra próxima de sua pele fez Jimin tremer. A sombra subiu por ele, lenta a princípio, gelada, tenebrosa, seus limites indiscerníveis. Então, subitamente e com violência, caiu sobre seu corpo e o empurrou para trás. A porta da sala de musculação bateu em seu rosto e Jimin se viu sozinho no corredor.

  - Ai! – ele gritou, não exatamente porque tinha se machucado, mas porque nunca havia sido tocada pelas sombras antes. Olhou para seus braços nus, onde tinha sentido quase como se mãos estivessem agarrando, enxotando-o da sala.

  Era impossível – ele simplesmente parou num lugar estranho; uma corrente de ar deve ter passado pelo ginásio. Hesitando, Jimin se aproximou da porta fechada e pressionou o rosto contra o pequeno retângulo de vidro.

  Jungkook estava olhando de volta, como se tivesse escutado alguma coisa. Ele tinha certeza de que não sabia que era ele: Jungkook não estava fazendo sua famosa cara feia.

  Jimin pensou na sugestão de Kang de simplesmente perguntar a Jungkook o que estava havendo, mas rapidamente afastou aquela ideia. Era impossível perguntar qualquer coisa a Jungkook. Ele não queria trazer aquela carranca de volta a seu rosto.

  Além disso, qualquer pergunta que pudesse fazer seria inútil. Já ouvira tudo que precisava ouvir na noite passada. Só se fosse algum tipo de sádica para pedir a ele que admitisse que estava com Namjoon. Ele se virou em direção ao vestiário quando perceber que não podia fazer isso.

   Sua chave.

  Deve ter escorregado de suas mãos quando ele tropeçou para fora da sala. Jimin ficou na ponta dos pés para enxergar o chão através da janelinha do vidro da porta. Lá estava, uma mancha cor de bronze no tapete azul da academia. Como é que tinha ido parar tão longe, do outro lado da sala, tão perto de onde Jungkook estava pulando corda? Jimin suspirou e empurrou a porta novamente, pensando que, se ia ter que entrar ali, pelo menos faria isso rapidamente.

  Esticando-se até a chave, ele deu um último olhar para Jungkook. Seu ritmo estava diminuindo, mas os pés ainda mal tocavam o chão. E então, com um último pulo, leve como o ar, ele parou e se virou para olhá-lo.

  Por um momento, não disse nada. Ele podia sentir que estava corando.

  - Oi. – Foi tudo que Jimin conseguiu pensar em dizer.

  - Oi – respondeu ele, num tom de voz mais calmo. Então, apontando para ele, perguntou: - Ganhou?

  Jimin deu uma risada triste e apagada, e balançou a cabeça.

  - Longe disse.

  Jungkook franziu os lábios.

  - Mas você sempre...

  - Sempre o quê?

-  Quero dizer, você parece ser um bom nadador. – Jungkook deu de ombros. – Só isso.

  Jimin deu um passo na direção dele. Estavam parados a apenas trinta centímetros de distância. Gotas de água caíam de seus cabelos e tamborilavam como chuva nos colchões de ginástica.

  - Não era isso que você ia dizer – insistiu ele. – Você disse que eu sempre...

  Jungkook se ocupou enrolando a corda em volta do pulso.

  - É, eu não quis dizer você você. Você em geral. Sempre deixam você ganhar sua primeira corrida aqui. Um acordo de cavalheiros entre nós, veteranos.

  - Mas Namjoon também não ganhou – disse Jimin, cruzando os braços sobre o peitoral – E ele é novo. Ele nem entrou na piscina.

  - Ele não é exatamente novo, apenas voltou depois de um tempo... longe. – Jungkook deu de ombros de novo, não revelando nada de seus sentimentos pelo mesmo. Sua obvia tentativa de parecer despreocupado deixou Jimin com mais ciúmes ainda. Ele o observou terminar de enrolar a corda num caracol, suas mãos se movendo quase tão rapidamente quanto seus pés. E aqui estava ele, tão desajeitado e sozinho e gelado e deixado fora de tudo por todo mundo. Seus lábios e seu queixo ainda tremiam.

  - Ah, Park Jimin – sussurrou ele, suspirando profundamente.

  O corpo inteiro dele se aqueceu com aquele som. Sua voz era tão íntima e familiar.

  Ele queria que dissesse seu nome de novo, mas Jungkook já estava de costas. Ele pendurou a corda num prego.

  - Tenho que me trocar antes da aula.

  Jimin pousou uma das mãos em seu braço:

  - Espera.

  Ele se afastou como se tivesse levado um choque – e Jimin sentiu isso também, mas era um tipo de choque bom.

  - Você não tem a sensação... – Ele levantou os olhos para encontrar os de Jungkook. De perto, viu como eram incomuns. Pareciam cinzentos de longe, mas de perto havia riscos de castanho neles. Jimin conhecia outra pessoa com olhos assim... – Podia jurar que já nos conhecemos antes – disse ele. – Estou louco?

  - Louco? Não é por isso que está aqui? – ele disse, desconsiderando.

  - Estou falando sério.

- Eu também – O rosto de Jungkook estava inexpressivo. – E, para seu governo – ele apontou para um dispositivo piscando no teto -, os vermelhos também monitoram perseguidores.

  - Não estou perseguindo você. – Jimin estivou as costas, muito ciente da distância entre seus corpos. – Pode dizer que não faz ideia do que estou falando e não mentir?

  Jungkook deu de ombros.

  - Não acredito em você – insistiu Jimin. – Olhe nos meus olhos e diga que estou errada. Que nunca vi você na minha vida antes dessa semana.

  Seu coração disparou quando Jungkook se aproximou dela, colocando as duas mãos em seus ombros. Os polegares se encaixaram perfeitamente nos sulcos de sua clavícula, e ele queria poder fechar os olhos com o calor de seu toque – mas não o fez. Jimin olhou para Jungkook enquanto ele abaixou sua cabeça de forma que seu nariz estava quase tocando o dele. Jimin podia sentir a respiração dele no seu rosto. Podia sentir um toque de doçura em sua pele.

   Jungkook fez o que ele pediu. Olhou-o nos olhos e disse, muito lentamente, muito claramente, para que suas palavras não pudessem ser mal compreendidas:

  - Você nunca me viu na sua vida até essa semana.