História Antes das minhas cartas (NAMJIN) - Thirteen

Eu não faço a mínima ideia de como peguei no sono, mas lembro de acordar e perceber que estava dividindo um sofá com Yoongi. Ele estava deitado sobre meu braço e por um momento eu tive medo do que eu poderia ter feito na noite anterior, mas logo me lembrei de Namjoon rindo da minha carta, de que eu vim correndo em prantos até aqui e de um Yoongi paciente que me consolou até que eu pegasse no sono.

-“Do jeito que te conheço você deve tá problematizando tudo.”- A voz de Yoongi soou rouca enquanto ele saía de meu braço e se sentava no sofá. -“Somos amigos Jin, nunca faríamos isso.”- Suspirei em alívio e me sentei também.

Logo após Yoongi foi tomar um banho e eu preparar o café. Enquanto fritava ovos e colocava a água do café para esquentar não conseguia parar de pensar em Namjoon e no quanto eu estava triste por conta dele. Eu não conseguia acreditar que ele achava graça de meus sentimentos, não encaixava em minha mente. Talvez fosse como Yoongi disse, talvez eu apenas tivesse entendido tudo errado.

Depois de tudo pronto preparei torrada com ovos e coloquei o café em uma xícara para mim. Comi enquanto Yoon tomava banho e quando ele saiu fui logo me arrumando. Ele me emprestou uma roupa que ficava bem grande nele e eu tomei um banho rápido.

-“A mudança é hoje né?”- Acenei positivamente com a cabeça -“Você tem certeza que vai ficar bem? Qualquer coisa eu tô aqui.”- Ele me acompanhava até a porta.

-“Sim, é hoje. Vai ficar tudo bem Yoon, não se preocupa.”- Dei um abraço no meu amigo e saí rumo a minha nova casa.

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A mudança deu tudo certo e já fazia praticamente dois meses que eu era o mais novo vizinho do Namjoon. Como eu sabia os horários dele sempre me mantive esperto para não nos encontrarmos. Eu ainda mandava cartas a ele, ainda não tinha me convencido que tudo foi um grande mal entendido, mas tentava fingir que não. Talvez tenha dado errado já que com o tempo passei a tratá-lo indiferente e a frequência que enviava cartas diminuiu bastante. Me foquei mais no meu estudo, eu fazia faculdade de gastronomia, já estava perto de terminar, eu tinha trancado quando vim morar com meu pai, mas foi só pedir transferência.

Era um dia normal de sábado, onde eu ficava jogado no sofá de casa assistindo qualquer filme e comendo a tarde toda. Já estava tudo pronto, a pipoca, o suco, o chocolate. Eu passaria mais uma das minhas incansáveis tardes de filme. Mas não foi isso que q vida planejou para mim. Sentei-me na cadeira disposto a escrever minha última carta para Namjoon. Quando finalmente tinha terminado e iria assinar o verso do envelope meu telefone tocou e eu pude visualizar o número de Yoongi, normalmente ele me ligava pra saber como eu estava, mas nunca fim de semana. Ele dizia que o fim de semana era sagrado, eram os dias que ele dormia o tempo inteiro.

-“Oi Yoongito, me ligando essa hora, isso sim é uma surpresa.”- Falei assim que atendi o telefone.

-“Jinnie.. eu preciso de você”- A voz chorosa de Yoongi se fez presente e eu senti um aperto no coração por saber que meu amigo estava assim.

-“Tô indo pra sua casa agora, me espera.”- Desliguei o telefone apressadamente e vesti uma roupa.

Peguei a carta que eu iria dá pra Namjoon. Não dava tempo de colocar nas correspondências então só entreguei ao porteiro e pedi para que ele desse a Namjoon. Peguei um táxi em direção a casa de Yoongi. Eu estava muito preocupado com meu amigo, eu nunca tinha visto ele assim. Ele nunca ficou assim tão triste que precisou de alguém. Não era típico dele. Chegando no apartamento Yoongi me recebeu com os olhos vermelhos e inchados provavelmente de tanto chorar. Abracei-o na mesma hora e fechei a porta atrás de nós, levando-o para o sofá ainda abraçados.

-“Ele disse que precisa de espaço Jin, de novo ele precisa de espaço.”- As palavras dele se confundiam em meios aos soluços e suas mãos apertavam forte meu corpo. -“Eu tô em outra cidade, ele ainda assim quer mais espaço que isso. Eu não sei mais o que fazer.”- Abracei-o ainda mais forte e me mantive calado.

Eu sabia que tudo que ele precisava naquele momento era de um ombro amigo. Ele não queria minha opinião, nem meus conselhos. Ele só precisava de mim ali para chorar em meu ombro e me abraçar, pra sentir que apesar de tudo não estava sozinho. Assim como ele fez comigo.

Nos mantivemos calados durante bastante tempo, apenas abraçados e aproveitando da presença do outro. Eu também não estava bem, comecei a lembrar da carta que a propósito já deve estar nas mãos de Namjoon. Lembrei do começo daquela carta e do quanto foi difícil pra mim escrever aquilo.

Agora você já deve saber que estou mais perto do que deveria estar. Estou na cidade.

Eu estava disposto a dizê-lo toda a verdade. Estava disposto a me encontrar com ele e tirar toda nossa história a limpo.

Soube que você não tem se alimentado e tem dado surtos de raiva, chegando a quebrar as coisas de casa. Como chegou a esse ponto Kim Namjoon?

Eu não precisava saber por ninguém. Eu era o vizinho de frente dele, mais do que ninguém eu ouvia os surtos e as coisas sendo destruídas.

Você já deve saber, mas encontrei alguém por quem me apaixonei perdidamente, me desculpe.

Essa foi a pior mentira que já contei, não existia ninguém. Nunca iria existir ninguém. Desde o momento que ele falou comigo pela primeira vez que não existia espaço pra mais ninguém.

Com pesar, Kim Seokjin.

Assinei da forma mais triste possível o meu nome. Assinar aquilo era como assinar uma carta prestando condolências a alguém. Talvez fosse isso, aquela era carta prestando condolências a meu coração, que a partir daquele dia eu tinha certeza que tinha parado de vez. Talvez já tivesse passado da hora de eu seguir em frente sem Namjoon.

Voltei a mim e percebi que ainda estava abraçado com Yoongi. Me desvencilhei daquele abraço e limpei suas lágrimas.

-“Yoon, você pode me beijar?”- Meus olhos estavam fixos nos dele, e eu sabia que tanto eu quanto ele já estávamos com os olhos cheios de lágrimas.

-“Você realmente quer isso?”- Concordei com a cabeça e me aproximei mais dele. -“Ta bom então.”- Yoongi concordava e ao mesmo tempo chorava.

Fomos chegando mais perto e em minha mente só passava uma coisa, eu precisava voltar pro Namjoon, mas pro Namjoon de antes das minhas cartas.