Nunca havia pensado em uma morte tão súbita quanto aquela. Sempre pensava que teríamos uma morte justa, rápida e indolor com poucos anos para chegar no tão esperado centésimo aniversário. Não entendemos os planos do universo, não entendemos até mesmo a nossa existência.
Verdadeiramente dizendo eu já estava morta há muito tempo, meus sentimentos já se decompunham desde o pior dia o qual vivi, o dia em que eu mesmo estava prestes á me atirar por um prédio ou até em frente á uma rodovia movimentada.
Certas pessoas ainda não entendem a capacidade extrema que tais possuem de conseguir magoar uma pessoa, outras já usam os mesmos malefícios para o mal e o propositam intencionalmente para o mal da pessoa, mas até hoje não entendo se aquilo foi ou não intencional, apenas entendo que carreguei aquela amargura até o dia em que embarquei naquele avião...
Mesmo morta por dentro eu ainda havia planos para mim. Eu pretendia mudar, talvez tirar aqueles sentimentos horríveis de dentro de minha pessoa e trair a minha depressão com uma possível alegria tal como a mulher dos meus sonhos havia feito contra a minha pessoa.
Não só entreguei o visto de minha passagem á uma linda atendente como também me senti entregando todo o meu passado. Devolvi o lindo sorriso amarelo da moça negra com um belo de um sorriso carregado de tristezas porém aparentando total felicidade, não é isso mesmo que as pessoas fazem nos dias atuais?
Além de minha arrasada consciência, eu também levava em minha vermelha mala um lindo suéter negro o qual me trazia lembranças de anos desperdiçados. Tais humanos que não tem muito o que viver também estranhariam uma viajante sem coisa alguma e tudo o que eu queria era me sentir normal e não tão observada como todos geralmente faziam na tentativa de mim mesma me sentir uma completa estranha.
Eu tinha aracnofobia, claustrofobia, acrofobia e mais alguns tipos estranhos de medo o qual prefiro não citar, ao entrar naquele imenso meio de transporte tão apreciado por todos eu não senti medo algum. Apenas pensava no meu futuro em Los Angeles, porém foi apenas questão de tempo ao vir a primeira turbulência juntamente com um intenso medo.
Não deveria ser coincidência eu me encontrar com a própria amante de minha mulher ao meu lado. Ou todas as lésbicas desse mundo deveriam estar migrando para Los Angeles como eu ou o universo pretendia algo para com alguém desse maldito triângulo amoroso.
Já estava me acostumada á me esconder de todos, então não foi difícil evitar o próprio capeta em pessoa em meio aquela turbulência inacabável. Desejei á mim mesma que Felícia morresse em meio aquilo tudo, no entanto contive meu ódio com um tic-tac verde o qual permanecia guardado até o momento em meu vestido azul e uma música lenta e suave selecionada em meu ipod.
Quando a primeira classe voou literalmente para fora do avião eu não reagi. Todos esavam certo ao afirmar que realmente um filme passa por sua cabeça no dia da sua morte, mas eu ainda não entendia como conseguiram afirmar aquilo, será que alguém havia voltado da morte?
Aquele não era o momento certo de se questionar com coisas idiotas como sempre fazia em momentos tediosos da minha vida, porém foram esses os tais momentos que mais me agradavam no filme de minha cansável vida. Eu não desejava me assistir com a tola que machucou meus sentimentos e então o que fiz foi mais tolo do que aquilo.
Ao som da melodia retirei meu cinto e também a máscara de oxigênio proporcionada pelo avião. Levantei de meu assento de descanso que já deveria estar cansado de me carregar por horas e então fui levada pelo vento para o mais longe possível daquele avião, de todas aquelas memórias e até mesmo de Felícia que ainda se encontrava lá.
Por um momento pensei estar sonhando, até me belisquei e me mordi, porém a surpresa foi ainda maior. Olhei para acima á procura do maldito avião e tudo que pude enxergar foi o topo do arranha-céu em que eu trabalhava. Eu não vestia um vestido azul ou escutava melodia alguma, apenas senti como se o avião fosse a minha turbulenta vida.
Mas naquele instante eu pude então finalmente me sentir feliz. Não enxergava mais prédios ou aviões que fossem me proporcionar tristezas ou incansáveis depressões pelo resto de minha vida. Minha mente havia me enganado pelo meu próprio bem e eu agredeci á mesma.
Assinado por Felícia Montgomery.
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