Sexta, 14 de Julho de 2017.
Kim Jisoo saiu apressada da estação de metrô, checou as horas e sorriu aliviada ao ver que ainda teria tempo suficiente de chegar no restaurante onde seu irmão tinha marcado o encontro. Caminhou em passos ligeiros enquanto prendia o casaco amarelo mostarda ao corpo, sorrindo largo ao chegar à frente do prédio imponente, tinha com certeza mais de três andares e toda a fachada de vidro; um tapete vermelho longo ligava a beira da calçada a porta giratória. Jisoo cruzou todo aquele caminho tentando não olhar para as pessoas que passavam. Quando entrou no grande elevador panorâmico, apertou o botão do último andar e aproveitou os poucos segundos dentro da cabine para arrumar os fios escuros e longos do mesmo jeito que tinha deixado antes de sair de casa.
Quando enfim chegou perguntou a funcionária que estava em frente ao hall por seu irmão e sua namorada, sorrindo para ela quando apontou para a mesa num canto mais reservado onde os dois conversavam com sorrisos bonitos no rosto. Curvou-se brevemente para algumas das pessoas que a olhavam e abraçou seu irmão com fervor, sentia falta de Jiwon, ele era um acionista de sucesso e vivia viajando, enquanto sua namorada Soohyun era professora de uma escola primária.
- Você andou crescendo, maninha? Quanto tempo que eu não te vejo? - Perguntou-me com um sorriso que mostrou seus dentes tortos, antigamente todos lutavamos para que ele usasse aparelho, mas depois de muita negação aquilo tornou-se seu charme pessoal.
Jiwon, nos vimos tem duas semanas, seu dramático. - Comentou com um sorriso e virou-se abraçando sua cunhada como fizera com o irmão. - E você, Soo? Como tem estado?
A mais nova entre todos ali sorriu largo e arrumou uma mecha dos cabelos para trás da orelha, ela era muito bonita, seu irmão teve sorte, muita sorte. - Eu estou na mesma, as crianças estão dando um pouco mais de trabalho, mas nada muito difícil de lidar.
A conversa parou ali quando o mais velho levantou-se e fez sinal para que as duas fizessem o mesmo, virando para o senhor que chegara em frente a mesa. - Boa noite, senhor Yang. - Cumprimentaram-o com uma reverência e logo todos ocuparam seus lugares, seu irmão pediu um vinho enquanto o advogado da família tirava alguns documentos de sua pasta.
- Vocês devem estar no mínimo curiosos para saber o porquê chamei vocês aqui hoje. Bom, não sei se lembram que tem um bisavô, não sei nem se sabiam da existência dele. Bem, o que eu quero dizer é que ele infelizmente morreu a alguns dias, e o que eu tenho para tratar com vocês é exatamente isso. Mesmo que não tenham conhecimento sobre ele, seus nomes são os únicos citados no testamento. Bem, sem enrolar vou dizer o que ganharam e vou precisar de suas assinaturas.
“Eu, Jang KiYong, me encontrando no meu perfeito juízo e entendimento, livre de qualquer coação, deliberei fazer este meu testamento particular, como efetivamente o faço, sem constrangimento, em presença de três testemunhas, Senhores Park Sandara, minha ex-cônjuge; Song Mino, meu advogado e Kim TaeHyun, meu grande amigo , que se acham todas reunidas em meu quarto de hospital, no Arirang medical center, no qual exaro minha última vontade, pela forma e maneira seguinte: sou sul coreano, casado, com 92 anos de idade, tendo nascido em 1925, filho de Kim Sehye e de Jang YoungGi, não tendo ascendente vivo, instituo meus herdeiros na totalidade de meus bens, o Sr Kim jiwon, meu bisneto e Kim Jisoo que ficaram responsáveis agora pela posse de minha empresa, a M.U.P e todos os seus lucros; Minhas propriedades na ilha de Jeju, Hanam e em Busan. Assim expressando este testamento particular minha última vontade, pedindo à Justiça de meu País que o faça cumprir como este se contém e declara e às testemunhas, perante as quais li este mesmo testamento, que o confirmem em juízo, de conformidade com a lei. Dou, assim, por concluído este meu testamento particular, que com as aludidas testemunhas, assino, nesta cidade de Seoul aos 10 dias do mês de Julho do ano de dois mil e dezessete (2017).”
O advogado leu em tom suficiente para que os presentes ouvissem e assim que terminou, tirou do bolso interno de seu terno, colocando sobre o documento que deixara sobre a mesa. Os garotos se entreolharam por um bom tempo, discutindo em baixo tom sobre o que deveriam fazer. - E antes de decidirem recusar... - O mais velho começou, tirando um envelope amarelo de sua pasta, tirando de dentro dele fotos de floriculturas junto a um documento com vários números.- A M.U.P não é uma floricultura qualquer, ela conta com mais de 20 filiais espalhadas não só pela Coreia, como pelo resto do mundo. Os lucros são quase exorbitantes. - Concluiu antes de bebericar o vinho que fora servido a algum tempo.
Depois de uma longa conversa, um jantar maravilhoso e mais algumas taças de vinho, ambos assinaram o documento e despediram-se, seguindo seus rumos. Jisoo olhou para seu relógio e sorriu ao ver que ainda poderia usar o metrô para voltar a república onde morava.
Quando seu relógio marcava meia noite em ponto, entrou na casa que dividia com mais cinco garotas, tirou os sapatos ainda na entrada e deixou a bolsa sobre a bancada da cozinha encontrando Rosé, Jennie e Lalisa cabisbaixas na sala, acabando com toda a euforia que sentia para contar-lhes a novidade.
- Chi Choo unnie, temos notícias não tão boas. - Lisa choramingou enquanto apertava a almofada que tinha em mãos. Jisoo deixou seu casaco amarelo sobre o encosto do sofá e sentou-se junto a elas esperando por uma melhor explicação. - A Ha yi vai voltar a morar com os pais e a Hana vai trancar a faculdade. Unnie, com o aumento do aluguel que o proprietário informou nós quarto não vamos conseguir pagar o aluguel, Eotteoke? - A tailandesa choramingou e então o silêncio reinou na sala, olhavam para cantos aleatórios como se aquilo amenizasse a aflição.
“ Instituo meus herdeiros na totalidade de meus bens, o Sr Kim jiwon, meu bisneto e Kim Jisoo que ficaram responsáveis agora pela posse de minha empresa, a M.U.P e todos os seus lucros; Minhas propriedades na ilha de Jeju, Hanam e em Busan.”
- Carvalhos! - Jisoo gritou e levantou num pulo recebendo toda a atenção das garotas. - Se eu falasse palavrões eu diria muitos nesse momento. Eu também tenho novidades e quase esqueci de contar. - Ela sorriu largo e voltou a se sentar. - Gente, vocês lembram que eu vim de um jantar com o Jiwon? O advogado da família também estava lá. Não que isso seja bom, mas um bisavô que não fazíamos ideia que tínhamos morreu e deixou pra mim e para o meu irmão três casas e a empresa dele, gente, resumindo tudo basicamente herdamos o suficiente para nos sustentarmos por pelo menos o resto de nossas vidas sem esforço. - Riu com a forma que os olhos das garotas aumentavam de tamanho à medida que citava tudo mesmo que rapidamente. - Meninas, uma das casas é em Hanam, de carro não levamos nem uma hora pra chegar aqui. E se eu falar com o Jiwon e pedir pra ficar com a casa? Podemos morar lá até o fim da faculdade, e o dinheiro que ganhamos podemos usar só pra pagar as contas e comida pra casa. - Sorriu largo e voltou a levantar. - Tsc, o que estão esperando? Vamos arrumar as coisas, vamos visitar a casa amanhã!
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No sábado de manhã, as quatro levantaram cedo e com os últimos detalhes, passando antes no escritório do advogado apenas para pegar as chaves da casa antes de seguirem viagem até Hanam, que foi regada a risadas e cantorias. O gps ligado as informava o caminho, a estrada mais alta e muito bem conservada as permitiram observar o rio que cortava o mar de árvores. Numa estrada de terra batida e plana, elas observavam as árvores que quase formavam um arco, quase indicando a entrada daquela pequena cidade. Várias casas bonitas e com um aspecto mais rebuscado deixavam todas encantadas, Jisoo não deixou que sua câmera descansasse um minuto, sempre capturando as cores daqueles imóveis.
Quando o gps informou que haviam chegado, custaram a acreditar. Em meio a tantas casas bonitas, aquela era totalmente o oposto do que imaginavam. “Estamos num cenário de um filme de terror. Diz que é uma brincadeira.” Jisoo ouviu alguém falar mas não pode identificar a voz de quem. Em quase desespero tirou o telefone do bolso ligando para o senhor Yang e depois de alguns minutos desligou irritada e voltou para onde estavam. Tirou o molho de chaves do bolso e abriu o primeiro portão depois de testar algumas das chaves, quando voltou para buscar o carro percebeu que alguns moradores, - em sumo pessoas mais velhas - as olhavam espantados. E não entendendo bem aquilo apenas voltaram ao carro e entraram no terreno vasto.
- Seu avô te deu uma mansão mal assombrada, é isso? - Jennie perguntou enquanto amarrava o casaco na cintura. - Woa, ao menos a casa é enorme. Você sabe se ao menos tem energia elétrica ou água encanada aqui? - Perguntou ainda rindo e aproximou-se dos poucos degraus e subiu até a pequena varanda. Jisoo voltou a observar a casa como um todo.
Ela era grande, dois andares. Era toda feita de madeira, que estava suja e aparentemente muito velha. A maioria das janelas estavam quebradas e pareciam deixar muito pouca luz entrar. Quando destrancou a porta, o que encontraram lá dentro foi ainda mais impressionante, alguns móveis velhos cumpunhavam o que parecia ser uma sala de estar, tudo estava muito sujo e sem cor viva alguma, exceto pelas pequenas flores azuis que nasciam por entre as madeiras, subindo pelas paredes e móveis.
O resto da casa estava no mesmo estado e acabaram descobrindo que não tinham energia, e a encanação da casa parecia velha demais para funcionar “Vejam pelo lado bom, ao menos nesse quarto um espírito não vai se esconder num canto” Jennie comentou quando chegaram ao primeiro do andar de cima. Quando estavam quase voltando para Seoul, Rosé apontou para o teto, mostrando as demais a estava encolhida, e depois de uma rodada de ‘pedra papel e tesoura’ ergueram lisa para que ela puxasse a escada. Ligaram as lanternas de seus telefones e uma a uma subiram com cuidado aqueles degraus deparando-se com um porão velho e iluminado precariamente por uma janela no topo de uma das paredes. Caixas e mais caixas estavam amontoadas umas sobre as outras de forma desajeitada, alguns papéis estavam espalhados não só pelo chão junto a algumas coisas que não podiam identificar. “Uau, é agora que nós morremos? “ Jisoo comentou enquanto ria alto.
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De volta a Seoul, o resto do sábado foi tranquilo e mesmo domingo de manhã Jisoo ligou mais uma vez para o advogado e para o irmão, marcando um encontro em uma boa cafeteria ali no centro.
- Jiwon, eu quero a casa de Hanam, mas tem um porém, ela está em péssimo estado. Nós temos dinheiro ‘pra uma reforma urgente? Ao menos para instalarem energia e arrumarem as paredes. - Jisoo falou depois de um gole de seu café com leite.
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Um mês depois, com uma grande ajuda de Jiwon, a casa enfim estava pronta para morar. As paredes e pisos de madeira foram envernizados e as que estavam quebradas, substituídas. As janelas foram todas mudadas e os móveis restaurados quando não trocados por mais novos. No sotão, as caixas foram empilhadas corretamente, e os papéis que antes bagunçados estavam em caixas novas.
Uma semana depois, aproveitando as férias da faculdade, as garotas puderam enfim se mudar. Foram alguns dias de risada, música alta e organização até que tudo estivesse fora das caixas e nos lugares corretos. Os vizinhos continuavam com os mesmos olhares, mas as garotas pareciam nem notar.
Quando os primeiros raios de sol daquele sábado iluminaram o quarto de Jisoo, ela vestiu seu hobbie e calçou suas pantufas, indo até a cozinha e deixando que a máquina preparasse um café. Desde a primeira vez em que esteve naquela casa, o lugar que mais lhe chamara a atenção foi o sotão e suas caixas. Assim que seu café ficou pronto, ela seguiu em silêncio e até lá e subiu com cuidado. Deixou a xícara grande sobre a escrivaninha e puxou uma das caixas, tirando de dentro dela um bolo de envelopes de diversas datas. sentou em frente ao móvel também de madeira e desfez o laço que os prendia juntos e depois de olhar todos os envelopes, pegou um onde tinha escrito “Sábado, 6 de Fevereiro de 1887” e abriu-o com cuidado, tomando um gole de seu café antes de começar a ler.
C O N T I N U A . . .
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