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História As crônicas da Condessa - Um Desertor?


Escrita por: Stefany755

Capítulo 11 - Um Desertor?


Fanfic / Fanfiction As crônicas da Condessa - Um Desertor?

As areias do Sudão são leves... Muito leves. Por isso que, quando piso sobre elas, ouvindo o vento uivando ao leste, elas descem e afundam com o meu pé, e assim, caminha-las faz parecer um sacrifício maior do que eu posso e consigo carregar.

Faz quanto tempo que eu estou nessa área de destruição em massa...? Dois...? Três...? Ou quem sabe quatro anos...? Não sei dizer... Sei lá, o tempo não passa por aqui há tantas eras... Nem eu vivo há muito tempo...

Desisti de tudo que eu tinha: estudos, trabalho, minha futura namorada, pra quê? Pra ser um patriota, voltar e ser reconhecido por todos, que tivessem orgulho de quem eu sou, e quem me tornei... Porém, eu esqueci de uma regra básica da guerra: é difícil voltar, esteja vivo ou esteja morto.

Outro motivo de eu estar aqui...? Foi ela... A menina do sorriso doce no qual me apaixonei todos os dias, quando nos encontrávamos no metrô, indo para a faculdade. Descobri com o passar dos dias os seus gostos, os seus gestos, suas manias introvertidas, seu estilo de viver sempre doido e corrido, sua personalidade tímida e alegre e ao mesmo tempo. E ela? Foi florescendo essa parte de observação de detalhes, de coração apertado de amor e o sorriso bobo que nunca havia tido antes. Uma dia me disse que queria salvar o mundo, mostrar para as pessoas que a paz e o respeito mútuo universal era possível, e que os dias assim por diante "serão lindos! Maravilhosos! O amor se espalhará! Nem que isso me custe a vida!"

E então, isso custou.

Ela foi chamada por um amigo para ajudar nos campos de batalha do nosso país como ajudante de enfermagem. Ela saiu da faculdade, saiu da cidade, saiu no que existia, em que tocava e era lembrava com ternura, saiu de tudo para ajudar nesta guerra... E nunca mais voltou.

Por ela, principalmente, totalmente e miraculosamente por ela, eu fui ao exército, entrei em um batalhão que me acolheu (Do jeito deles, mas foi um acolhimento), treinei incansáveis dias, noites e meses que não pareciam nunca ter fim em um ciclo vicioso de tortura. Fiz do meu batalhão aqui minha família, que me mostravam suas famílias em fotos, jornais, tevê, ligações via rádio, pois longe de casa nós aprendemos a confiar naqueles por perto ou a matá-los antes que nos prejudiquem, entrei naquele avião, pulei de para quedas e aprendi por vários anos a usar uma arma... Mas... Lutar por uma pessoa morta agora não faz mais sentido... Que pelo menos ela tenha me visto dos céus... Depois de ver como as pessoas morrem, como você se desespera com a morte no começo, e o pior, quando se acostuma com isso, matar quem for e o que for,você percebe o quão inútil e talvez arrisco sem graça a vida é quando voltar,e também enquanto viver com isso.

Nesse tempo desperdiçado conversei comigo, falei com Deus, se ele existir mesmo, com as pessoas que morreram na minha frente, com os corpos delas já sem alma ou espírito, como quiserem, enfim, acho que cheguei ao meu limite. Aposto que não conseguirão ler direito por usar a mão canhota para escrever, só que infelizmente ela é a única que me resta.

Mãe, pai, irmãozinho, essas são minhas últimas palavras antes de invadirem a base para me capturar, e, por vontade minha ir com meus amigos onde quer que estejam e parar de sofrer com essa hemorragia. Eu amo muito vocês, e, por favor, não façam nunca como eu fiz.



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