STÉFANY
-Venha logo Yuri, olhe só para isso! - Eu puxava sua mão para me seguir entre as flores do jardim de Asuna. Era um campo de rosas, lírios, yasmins e orquídeas altas, seguidas de brotos novos e recém floridos na silvestria, todos num campo sob a luz do Sol poente. O perfume do orvalho mixado ao doce e ácido aroma das plantas entrava pelo meu nariz, mas atingia meu coração com ardor.
-Ei, calma Stéfany! Não precisa ter tanta pressa!
-Você anda igual uma mula manca, não tenho culpa!
Assim que chegamos no pico sem mais árvores para sentir o calor do Astro Rei senti o toque caloroso de seus raios em minha pele, e um brilho color em meus olhos. Por algum motivo eu me sentia completa e infantilmente feliz, rindo sem preocupações. Abri meus braços como se abraçasse a minha vida fervorosa, e assim pude sentir que estava bem.
Música em violinos e twidies ressoavam em minha mente, e como uma boa elfa não pude deixar de dançar. Yuri estava parado olhando aquilo tudo sem que eu notasse.
-Ei, não se faça de sonso! Venha dançar! Está preocupado com quê?
Ele se sentou sorrindo e apoiando uma das mãos no queixo –Não obrigado, prefiro só olhar.
Eu, mesmo com raiva ignorei aquilo e rindo o puxei para o Sol –Não é apenas olhando as coisas acontecerem que você vive! Vamos! -Não se negando ele resolveu me deixar levá-lo, mas ainda sim ficando parado no meio do campo.
Músicas e brincadeiras se passavam pela minha cabeça, meu riso misturado com os meus pensamentos acabaram me levando. Eu puxei a barra da saia e comecei a girar como se levantasse voo, depois batia palmas enquanto dava pequenos pulos e trocava a posição das pernas rapidamente. O calor e a vista de Yuri me acendiam, e meu sorriso era inevitável.
Tanta euforia por causa de um clima, de flores, de lembranças, de um sorriso...
-A-Aaaaaah!
*Pow*
Perdida nesses pensamentos eu tropecei na barra do meu vestido e caí deitada na grama. Não doeu, mas o reflexo me fez dizer “Ai!”. Estava pronta pra levantar, quando eu parei para ver o céu. Eram nuvens róseas envoltas em todo um laranja do céu, enquanto o Sol abaixava lentamente, nunca deixando de brilhar. Eu murmurei para mim mesma, suspirando pesado -Tão... Lindo... -Enquanto isso ouvi os passos de Yuri na minha direção, parecendo preocupado ele apareceu na minha frente -Você está bem? Eu vi você caindo, e como não levantou achei que tinha batido a cabeça. Eu sorri para ele e levantei uma das mãos em direção ao Sol
-Desculpa, eu errei.
-Hã? Eu sei, eu vi seu tombo.
-Não isso criatura...! Estou falando do que eu disse antes.
-O quê?
Eu fechei os olhos, relaxei meu corpo e senti uma brisa levemente passar pelas flores envolta -Talvez apenas observar às vezes seja bom sim...
YURI
-Talvez apenas observar às vezes seja bom sim... -Ela disse vendo a Lua aparecer, e com o resquício das estrelas em seu olhar desviou aos meus olhos, cercada pelas pétalas suaves ao tocar seu rosto e se misturando aos seus cabelos -...E talvez, apenas talvez, seja bom aproveitar com alguém, mesmo que um amigo -E enfim sorriu, apontando para um lugar entre as flores ao seu lado -Poderia me fazer companhia? C-Claro, se quiser. Não gosto de induzir as pessoas, é uma coisa feia!
Por um momento eu ri, sentindo um estranho calafrio na barriga enquanto a olhava, vendo cores festivas em seus olhos. Senti-me trêmulo por estes que, mesmo ativos, me fizeram sentir tão em paz. Eu sentei ao seu lado, ela emburrada se levantou -Sério? Vai ficar sentado? Eu pedi pra me fazer companhia, e companhias ficam na mesma posição! -Empurrando meu peito para trás ela se deitou também.
Aquilo não foi nada sutil, se eu quisesse me deitar eu o faria. Conseguiu estragar todo o momento. Bom, não importa, me mantive calado.
Acho que, por esse silêncio ela se mantive inquieta. Parecia pensar longe, mas logo virava a cabeça para me ver, ou para o outro lado, até eu já estava inquieto com aquilo -O que foi? Você parece meio nervosa.
-Eu? Nervosa? Claro que não! É que...! É que... -Respirava pesado e depois suspirara, finalmente falando com uma calma que eu nunca havia visto antes -O... O que você acha das estrelas?
-Estrelas? Bom, são bonitas, brilhantes... Nunca pensei muito sobre isso. Porque o interesse?
O vento soprava nos fios aleatórios de seu cabelo, tocando seu rosto com pouca pressão. Sua expressão era esperançosa, com um delinear de sofrência. Porém os olhos, os olhos continuavam intactos -Bom, sempre que eu olho para as estrelas, parece... Parece que há alguma coisa que eu não consigo ver, mesmo que eu tente. Mesmo assim, esse mistério de alguma forma me mostra que eu posso resolvê-lo. De alguma forma, eu consigo sentir que o que está omitido é para... para... para nos dar esperança! É envolvente, é estupefato, é um esplendor frio! Entretanto, eu posso sentir, sei que posso fazer...! esse esplendor frio se torar algo surpreendentemente quente, mais profundo, aconchegante...
A olhava atentamente, surpreso pelos pensamentos dela, e confuso por não entendê-los -E o que você quer dizer com isso?
-Yuri, toda vez que te vejo, a primeira vez que li sua alma... E-Eu senti isso! Não leve a mal se você não se sente assim, é o que eu acho, mas... -Ela virou seu corpo totalmente e fixou seus olhos em mim, como se apelasse -Mas por favor, me deixe te descobrir!
Enquanto a olhava fixamente nos olhos, mas observando ao longe a lua pousar sobre nós, senti que essas palavras me tocaram de um sentimento indeterminado. Meus olhos se arregalaram, tive um desnorteio repentino, um aperto fervoroso em meu peito. Jamais na vida havia encontrado alguém que se importasse comigo, mas ao mesmo tempo foi engraçado saber que alguém que se preocupava por pouca coisa. Leu minha alma, chega a ser estranho. Eu soltei um riso que nem mesmo sabia que possuía: Um riso espontâneo, sem limitações, de doer a barriga, quase me fazendo chorar, bem idiota. Era um riso feliz, acho eu. Ela ficou surpresa por um momento, me olhando como uma criança, e depois que entendeu a situação vi, ainda que com a fraca luz que emanava da lua, seu rosto se ruborizar aos poucos. Seus lábios se retorciam e seu olhar se desviou do meu, esbanjando arrependimento. Ainda sim ela tentou agir como se estivesse com raiva -H-HÃ? Eu disse algo muito engraçado?!
Eu soube naquela hora, enquanto via ela fingir estar com raiva para parecer mais forte, que ela era a pessoa mais fofa que eu já havia conhecido na vida. E que alguma coisa diferente eu sabia que sentia quando estava perto dela, o problema é que eu não sabia o quê.
Assim que consegui parar a risada eu continuei com um sorriso imenso no rosto, virando o corpo para poder olhá-la nos olhos. Ela de cabeça baixa estava emburrada, ou tentava parecer isso. Tinha cabelo na frente de seus olhos. Por algum motivo quis tirar, mas não o fiz. A razão...?
Bom, acho que os vaga-lumes flutuando pela nossa volta como lamparinas brilhantes, as flores que nos cercavam já fechavas em seus botões, a Lua cálida que transformava tudo ao nosso redor em um branco azulado, as estrelas “esplendorosamente frias e silenciosas” cujo reforçavam aquele maravilhoso e estranho brilho dela todas as vezes que me olhava...
Talvez tudo isso seja um pouco a razão do meu desejo de beijá-la naquela hora, naquele exato momento. E não mais talvez, acho que foi a escolha certa.
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