História As crônicas da Condessa - Ano Novo, Vida Nova

Olhe ela lá, sentada na mesa com aquelas roupas curtas e estranhas numa mesa de lanchonete. Ela sempre gostou de ser colorida quando se vestia, pra mostrar os sentimentos que levava com ela naquela hora, mas em seu coração ela estava sempre com uma trança longa, um vestido e uma jaqueta, todos brancos. "O branco é o puro" dizia ela, "é a mais perfeita mistura das cores, e a falta delas. Realmente, não é a minha preferida, mas sinto que é a que define melhor".
E olhe ela agora, de saia colada, uma jaquetinha curta, uma camiseta que mostra a barriga, um salto poderoso... Tudo branco.
Outro dia a vi no bar, ela sentou-se para ficar sozinha, mas quando me viu me convidou para ficar junto dela. Bebia muito, andava nos dias de dor de cotovelo, como mesma diz. Tentava me fazer rir, me divertir, porém uma hora parou de tentar. Eu a perguntei qual o problema, e então ela olhou no fundo dos meus olhos, e eu pude perceber que estava desnorteada. "Sabe..." dizia enquanto tomada outro martelo de whisky como se fosse água, "nem a mais açucarada das bebidas me faz esquecer eu mesma. É estranho, continua me perseguindo. Quando faço coisas insanas, ela volta para me dizer que devo sentir culpa, quando eu uso dos outros ela me olha com dor, e quando eu digo que não consigo amar, ela me abraça, diz que esquecer nunca é fácil. Odeio ela..." assim, novamente ela emborcou mais um martelo, e, depois de balançar a cabeça e dar uma leve tossida com o efeito forte do galão tomado, ela me olhou com lágrimas nos olhos, "...Mas porque sinto que não quero perdê-la?"
Eu não me lembro da minha reação, entretanto consigo me recordar que ela se levantou e saiu correndo do local, mesmo que cambaleasse. Eu a segui a pé, ainda sim ela fora muito rápida. Chegando a um local deserto uma chuva fina começou a pairar, para depois se transformar num turbilhão de gotículas caindo com certa fúria.
Eu pensei em chegar perto dela, porém, enquanto estava no meio da rua, ela caiu nos próprios joelhos. Como que soubesse que permanecia ali escondido. "Às vezes não sei o que fazer comigo... Entende? Canso muito, muito mesmo...". Logo ela se levantou com a cabeça baixa. Era naturalmente linda, quase fofa, e não gostava de usar maquiagens, assim não pude ver se chorava. Andando lentamente ela foi embora, me deixando ali, sem saber o que fazer.
E agora ali está ela, sentada numa mesa de lanchonete, com o segundo cara que se encontrava na semana. Era um ciclo vicioso aquela vida dela: fazer o que bem entender, sem se preocupar, apenas se alimentando cada vez mais daquilo. Quando se desesperava por não aguentar mais extravasava, e recomeçava tudo outra vez. Eu sabia disso, pois ela havia me dito. Uma saia colada, uma jaqueta curta, uma camiseta que mostrava a barriga e um salto poderoso... Todos... Brancos.