História Bad Reputation - My love

Point of View — Camila Cabello

Lanchonete Teeneger’s.

— Eu não acredito! — A morena tinha a expressão espantada e tampava os lábios com a mão esquerda, enquanto a outra pousava em seu peito. — Vocês estão namorando? — Arregalei os olhos, negando rapidamente com a cabeça.

— Não! Claro que não! — Respondi frenética, sentindo minhas bochechas arderem com a vermelhidão que se instalava — Shawn Mendes e eu estamos apenas... Juntos... Eu acho — Digo com certa dúvida. Ela me olha desconfiada como se dissesse “você está mentindo, eu posso ver”, mas eu não estava. Realmente não sabia ao certo o que tínhamos, apenas sabia que estávamos juntos de alguma maneira.

— Eu estou tão feliz por você amiga — Normani agarrou minhas mãos e iniciou alguns pulinhos empolgados. Eu sorri. Aquilo havia sido a melhor coisa que ouvi durante o passar dos anos. Amiga. — Quero que me conte cada detalhe, viu — O sino soou por nossos ouvidos assim que a porta de vidro se abriu, a morena ajeitou o avental rapidamente, compondo-se de seu ataque e lançou um sorriso para mim. Correspondi no mesmo instante.

É tão estranho o rumo que minha vida estava tomando. A freqüência que eu estava me abrindo para pessoas que realmente parecem se importar. Eu nunca havia trocado mais de três frases com Normani durante os anos que trabalhei na lanchonete, mas mesmo assim ela me ouviu como quem acolhe uma melhor amiga num momento preciso; como alguém que quer estar presente nesses momentos, ou em qualquer outro.

Eu já não sentia medo. Grande parte do meu subconsciente gritava que eles me machucariam; humilhariam; maltratariam meus ossos. Mas, pela primeira vez em um tempo que não faço mais questão de contar, eu não pensava mais na tragédia e em como ela me dilaceraria depois que tudo acabasse. Porque, de alguma maneira, eu sentia que isso não acabaria.

Shawn Mendes havia se tornado um cais onde eu descansava meu caos. Ele era incrível e, por mais que tivesse medo de amá-lo compulsivamente e verdadeiramente, eu tinha total consciência que já era tarde demais para voltar atrás.

— Fiquei sabendo que a vadia da Camila conseguiu enganar o otário do Shawn — O sorriso que se manteve por tanto tempo em meu rosto, desapareceu em milésimos. A imagem que mais temia estava sob meus olhos. Cameron apoiou os cotovelos sob o balcão, franzindo a sobrancelha a espera de uma resposta. Engoli a seco.

— Eu disse para nunca mais falar com ela desse jeito — Normani esbravejou do outro lado da lanchonete. Eu podia vê-la apertar os copos de milkshake com tanta força que seus dedos branquearam com a falta de espaço para o sangue correr. Pedi, silenciosamente, que ela não se metesse dessa vez.

— O que você quer, Cameron? — Meus lábios trêmulos não impediram que minha voz saísse mais firme do que imaginei.

— Eu quero que você vá para o inferno! — Ele sussurrou como uma ameaça. Senti os pelos de minha coluna ouriçar. A tão conhecida ardência em meus olhos chegou mais rápido dessa vez, entregando que eu não estava pronta para seguir em frente — Você é uma assassina, Camila. Não importa o que faça ou o que invente isso nunca irá mudar — As lágrimas já caiam sob meu rosto com voracidade. Minha visão estava turva, meu peito doía e a palavra se tornava cada vez mais real em meus pensamentos.

Assassina. Assassina. Assassina.  

— Você é uma assassina — Ele sussurrou pela ultima vez e foi como se todo meu mundo desabasse diante de seus pés. Eu não tinha mais forças para lutar contra a verdade, então deixei que ela tomasse seu próprio rumo.

— E VOCÊ É UM ESTUPRADOR! — Senti minhas cordas vocais arderem e um enjôo se predominar em meu organismo. Mesmo sem uma nitidez, pude vê-lo com os lábios entreabertos e os olhos tão arregalados quanto os meus.

Todos da lanchonete tinham a atenção sob nós. O barulho estrondoso de um copo encontrando o chão ecoou sob nossos ouvidos. Normani me olhava profundamente e eu pude ouvir nossos corações serem dilacerados com a verdade que eu infelizmente pronunciei.

A visão que tinha estava sendo tomada pelo embaçar das lágrimas que caiam sem piedade, um tremor desconhecido percorreu entre meus dedos que ia lentamente tomando conta de todo meu corpo. A dor voltava e eu já não estava conseguindo contê-la.

— Estuprador — Sussurrei pela última vez, cravando a palavra que tanto temia em minha cabeça como a verdade absoluta. Senti uma bola formar-se em meu estomago. Meus ouvidos eram ensurdecidos pelo estrondo de meu coração se quebrando.

Eu podia sentir minha alma morrer e não tinha mais forças para impedir.

— O que? — Rezei; implorei; supliquei para que o dono da voz não fosse ele. Eu não saberia lidar com mais uma decepção que o obrigaria a carregar nas costas. Limpei as lágrimas agrupadas no canto de meus olhos, obtendo uma visão mais nítida e, assim que procurei a direção de quem havia dito, encontrei os olhos amargos de Shawn Mendes sob nós; sob mim. Senti os pedaços de meu coração dilacerado se tornar pó. — O que você disse, Camila? — Remexi o corpo com a fraqueza de alguém inferior a nada. Neguei com o balançar da cabeça quase pausadamente numa tentativa fracassada de fazê-lo desistir de entender.

— Além de assassina é louca! — Cameron afinou a voz como quem entrega a própria mentira entre as palavras de nervosismo. Ele encarava todos totalmente desesperado. — Mentirosa! — Clamou tentando passar convicção. Deixei um riso amargo escapar como quem não consegue acreditar no que ouvirá.

— Diga o que quiser Cameron — Abaixei a cabeça, firmando minha voz de uma maneira que não imaginava conseguir — Invente o que quiser. Isso nunca mudará o que você fez... O crime que cometeu. Você, eu e Catarina sempre saberemos da verdade.

Eu já não tinha mais nada a perder. Se todos naquela cidade desejavam e endeusavam tanto a verdade absoluta — mesmo que não fosse à verdadeira verdade — que aguentassem as conseqüências. Minha vida sempre esteve reservada ao fracasso e a solidão, aos vermes e a decepção. Sempre carreguei sozinha em meu peito toda à dor que passei e ainda sou obrigada a passar. Sei que pode parecer vingança, egoísmo ou infantilidade, mas eu não queria mais carregar tudo sozinha. Eu não era a única culpada pelos erros que me machucaram. Eu não era a única que cometeu um crime e, se um dia eu cometi, foi pelo crime de outra pessoa. Pelo crime de Cameron.

Peguei minha jaqueta jeans embaixo do balcão, seguindo para a porta até sair de trás do amadeirado velho. Pude ver Shawn silencioso a minha espera. Ele sabia, mesmo que estivesse desesperado para entender o que ouviu, ele entendia que eu precisava sair dali o mais rápido possível. Olhei pela ultima vez no fundo dos olhos de Cameron, sentindo cada átomo meu enojar sua imagem.

— Eu preciso sair daqui — Sussurrei com a voz embargada pelo choro que renascia. Agarrei a cintura de Shawn, ouvindo um “eu te tiro daqui” acompanho a um beijo rápido no topo de minha cabeça.

Naquele momento eu percebi que não merecia Shawn Mendes em minha vida, mas precisava dele mais que o próprio oxigênio que entra em meus pulmões.

(...)

O problema de agir sem pensar é que quando a realidade vem à tona, ela nunca vem sozinha. Acompanhada de toda culpa que você é obrigado a carregar, o medo, a insegurança, o desespero, aquele sentimento inexplicável que corrói seus ossos vêem de uma vez causando um ataque para aqueles que não são capazes de suportar tudo ao mesmo tempo.

Eu estava em pânico. Minha garganta trancada não permitia que nem o mínimo de oxigênio entrasse para qualquer um de meus pulmões. Eu estava eufórica tentando respirar, enquanto minhas mãos tremiam e meu peito se acelerava. Minha visão estava embargada entre o misto de realidade e fantasia, onde o que se predominava eram minhas alucinações da verdade. Shawn dizia algo desesperadamente, mas era como se algo impedisse que sua voz chegasse aos meus ouvidos, pois sabiam que, no momento em que o ouvisse, meu corpo se sentiria em paz.

Assassina. Estuprador. Assassina. Estuprador.  

    Uma voz se predominava levando minhas forças para fugir daquele ataque. Eu não estava pronta para lidar com aquilo. De repente, tudo começou a escurecer e uma maciez encontrou meus lábios, junto com duas mãos que agarravam meu rosto.

Shawn me beijava e meus músculos relaxavam.

— Por favor, não faça mais isso — Ele disse com a voz tremula, aconchegando meu corpo em seus braços num ato protetor de abraço. Suspirei, sentindo meu coração se estabilizar, encontrando a sintonia certa de bombear sangue para meu sistema.

— Eu sinto muito — Murmurei em seu peito, não permitindo entregar-me novamente ao choro desesperador — Eu não queria que descobrisse dessa maneira — A verdade é que eu não queria que ninguém soubesse o que só eu e, infelizmente Catarina, sabia.

— Eu... Eu... — Ele gaguejava, mesmo tentando manter-se firme — Camila... Me diga que entendi errado, por favor — Subi meu olhar para seu rosto e doeu vê-lo tão destruído. Seu rosto angelical estava possuído por um cansaço físico e psicológico. Suspirei, não sabendo se conseguiria responder aquilo. — O Cameron... Ele... — Pude notar a dificuldade que ele estava tendo em procurar as palavras certas — Ele abusou... De... Da Catarina?

Eu estava no inferno e já não conseguia mais sentir minha alma.

— Não Shawn — Eu mal conseguia ouvir minha voz saindo — O Cameron... O Cameron abusou de mim... Ele me estuprou.  

Ver Shawn Mendes entregar-se ao choro em meu colo tornou tudo ainda mais difícil. Eu já tinha o conhecimento de que a cada segundo que passasse a mais ao seu lado, eu destruiria mais um pouco de sua pureza.

— Por que você nunca disse a ninguém? — Ele perguntou com cautela, enquanto agarrava com força o jeans surrado que cobria minha coxa — Por que você não o denunciou Camila?

Fiquei em silencio por longos segundos. Não podia culpá-lo por querer saber, mas a verdade é que nem eu sabia ao certo o porquê ter guardado aquela escuridão comigo.

— Porque — Shawn virou seu rosto ao meu, encarando meus olhos pacientemente — Porque eu seria obrigada a aceitar que ele realmente me estuprou e... — Eu não consegui terminar, pois novamente o pânico percorreu por minhas veias rapidamente, parando apenas quando consumiu todo meu corpo.

— Calma Camila, eu estou aqui — Sua voz ecoou em meus delírios, enquanto ele me segurava em seus braços, afagando meus cabelos e depositando milhões de beijos em minha cabeça.

— É só isso que eu preciso — Digo com a voz totalmente tomada pelos soluços e tremores de um choro incontrolável — Eu só preciso que você fique comigo... Por favor, fique comigo... Fique comigo — Agarrei seu corpo com um medo temendo que ele escapasse de mim. Eu cravava minhas unhas no pano de suas roupas, pois sabia que se ele me deixasse, eu chegaria ao fim novamente.

— Eu nunca vou te deixar, meu amor.