História Bad Reputation - Sobre partir...

Point of View — Camila Cabello

A claridade que adentrava pela janela incomodava meus olhos, obrigando-me a abri-los mesmo a contra gosto. Remexi na cama, sentindo-a grande demais para alguém tão pequena como eu. Com o tempo, passei a odiar acordar sem o Shawn ao meu lado, ocupando praticamente todo espaço, enquanto apertava meu corpo em seus braços bem definidos. Era sempre assim quando ele ia embora logo após me colocar para dormir. Eu sei, parece até infantil, mas apeguei-me ao seu cheiro tão profundamente que o necessitava para conseguir entregar-me ao sono.

Levantei, sentindo meus ombros doerem com a saudade que ali se estabilizava e segui até o banheiro. Por um impulso, meu cérebro permitiu-se lembrar do dia de hoje, fazendo uma conta rápida de quantos dias se faltavam. Algo incomum apertou meu peito com certa agressividade, quando me dei conta que em uma semana, eu planejava pegar o dinheiro que consegui juntar com o trabalho da lanchonete e dizer adeus a Ontário. Suspirei, sentindo ainda à dor ao lado esquerdo do peito, que se tornou ainda mais forte quando a imagem de Shawn sorrindo invadiu meus pensamentos.

 Abandonei meus afazeres no mesmo instante, guiando meus pés até a cama, onde tratei logo de ajoelhar-me para alcançar o que havia debaixo dela. Peguei uma pequena lata de molho de tomate um pouco enferrujada, abrindo-a e apanhando as inúmeras notas de dinheiro que consegui economizar durante os anos.

Aquilo parecia errado. Tudo que eu planejei e acreditei que seria o melhor para mim, parecia errado agora. Mas tão errado que, de alguma maneira, fez com que sempre houvesse sido à pior decisão a ser feita.

Desviei meus pensamentos quando o barulho de leves batidas na porta ecoou pelo quarto. Cerrei o cenho por estranhar um pouco. Shawn já se sentia livre para entrar e sair sem avisos, assim como Dinah que, mesmo não tendo completa intimidade comigo, decidiu que já poderia abrir a porta de meu quarto e invadi-lo quando quisesse, com ou sem minha presença. Guardei as notas, devolvendo a lata para debaixo da cama, seguindo até a porta e abrindo-a sem pressa.

Os olhos esmeraldas desviaram o foco do chão, alcançando diretamente minhas íris castanhas. Seus cabelos negros que caiam sob os ombros, mesmo agora bem mais longos, continuavam bagunçados de um jeito adorável. Pude notar o meio sorriso em seus lábios, que deixavam amostra os dois dentinhos maiores da frente. Senti uma ardência em meus pulmões que clamavam por ar e só então percebi que havia prendido a respiração diante de minha antiga melhor amiga do colégio.

— Lauren?  — Perguntei quase sussurrando, assustada com a presença da morena que estava parada em minha porta.

— Oi Camz — Ela sorriu e, inevitavelmente, acabei sorrindo ao ouvir meu antigo apelido. — Posso entrar? — Lauren arqueou a sobrancelha, olhando em seguida para dentro de meu quarto. Chacoalhei a cabeça um pouco atordoada, assentindo positivamente e dando espaço para que ela entrasse.

  — É... Hm... O que veio fazer aqui? — Fui direto ao ponto não notando que acabei soando um tanto grossa, obrigando-a a desviar sua atenção do cômodo mofado e encarar-me vergonhosa.

— Já faz um tempo que ando querendo vir — Ela da de ombros, deslizando os dedos por seus fios negros. Engulo a seco, sentindo-me nervosa. — Fiquei sabendo que está namorando o Shawn Mendes, quem diria hein? Lembro que falávamos por horas no colégio de como ele era um gato.

— E apaixonado pela minha irmã. — Completei, vendo o sorriso em seu lábio se desmanchar quando percebeu que não fiz o mesmo. Respirei fundo, mordendo a boca ainda mais nervosa — Está tudo bem? — Encaro-a profundamente, procurando uma deixa que me fizesse entender o que estava acontecendo.

— Eu sinto sua falta, Camz. — Seu peito estufou por conta da enorme quantidade de ar que Lauren inalou pelo nariz. Arregalei os olhos, surpresa. — Já faz alguns dias que me lembrei sobre seus planos, sabe? Aqueles de ir embora. — Eu não consegui esconder como aquilo havia me pegado de surpresa. Lauren aparecer justo no dia que eu tinha me lembrado sobre esses planos, dizendo que também se lembrará, era muito estranho.

— É, eu acabei me lembrando dele também — Ri sem animo, limpando a garganta. — Agora me lembrei também do dia em que te contei sobre meus planos de ir embora — Dei de ombros, sorrindo amargamente ao deixar meus pensamentos levarem-me as memórias daquela noite.

Lauren sempre foi minha melhor amiga no colégio. Desde o primeiro ano, nos tornamos aquelas amigas que contam tudo uma para outra, enquanto riem de besteiras e planejam um futuro juntas. Mas as coisas mudaram após o incidente com Cameron. Lauren não agüentou a pressão de ser amiga de uma garota depressiva que pensava em suicídio e não sabia o motivo de uma mudança tão repentina. Ela foi embora de minha vida sem avisos e, sinceramente, não a culpo. Se fosse eu, também não ficaria.

Logo após o acidente que levou Catarina, Lauren apareceu em minha casa quando os boatos começaram a ficar mais fortes, ela me prensou contra a parede e perguntou o que estava acontecendo, se eu havia me tornado uma pessoa triste por conta de minha irmã, se o acidente foi forjado ou algo assim. Aquilo destruiu minha alma, mesmo que ela tivesse encerrado nossa amizade há um tempo, ouvir a pessoa que eu mais confiava não confiar em mim, me dilacerou de uma maneira extremamente dolorosa.

As coisas não ficaram mais fáceis depois, então numa discussão que começou na porta de sua casa quando eu fui tentar resolver as coisas, eu disse que iria embora. Dei o dia, mês e ano. E sim, eu havia planejado exatamente tudo. Esperaria completar dois anos e cinco meses, pois era o tempo de contrato que consegui na lanchonete e ajudar a dona, para depois começar uma vida em qualquer outro lugar do mundo. Lauren disse que não via à hora de eu partir e, bom, depois disso, eu comecei também.

— Naquela noite eu não queria que você fosse embora — A morena apoiou sua mão em meu ombro, dispersando as memórias de nós.

— E agora quer? — Soltei um riso nasal, engolindo a seco logo depois.

— Sim — Um soco atingiu meu estomago, fazendo minha visão se tornar turva. Quantas vezes eu seria destruída pela mesma pessoa? Quantas vezes eu me deixaria enganar pela bondade inexistente dos outros que não se importam mais ou nunca se importaram comigo? Doía. Doía tanto. — Hei. Eu só quero o seu bem, ok? — Ouvi tua voz rouca mais próxima. Neguei com a cabeça numa tentativa de não entregar-me ao choro por acreditar naquelas palavras. — Camila, eu quero que você vá porque essa cidade não te faz bem, as pessoas são cruéis e sempre irão te machucar.

— O Shawn não me machuca mais, ele me faz bem — Esbravejo, sentindo minha voz começar a embargar.

— É por isso que eu estou aqui — Lauren apoiou sua outra mão em meu outro ombro, obrigando-me a encará-la bem no fundo de seus olhos — Quando eu soube que você começou a se envolver com o Shawn, eu imaginei que iria desistir de ir embora e recomeçar sua vida por causa dele.

— Eu ainda não decidi nada, Lauren — Interrompi. — Ainda não desisti de ir embora. — Confessei, mesmo sentindo que estava mentindo.

— Mas você vai — Ela soou doce, respirando pesado — Camila, você sempre pensa antes nos outros ao invés de pensar em si mesma. Eu sei disso, você abre mão da sua felicidade e do que é melhor para si, só para fazer o melhor pros outros, fingindo que também é o melhor para você. — Aquilo estava começando a me machucar. Eu nunca imaginei que, depois de tanto tempo, Lauren ainda me conhecesse como ninguém.

— Mas...

— Camz — Interrompeu — Por favor, não cometa o mesmo erro que cometeu com o Cameron — Arregalei os olhos, esquivando-me para trás. — Não sei ao certo o que você fez, mas se não o entregou antes ou contou a mim o que havia acontecido, é porque estava acobertando alguém.

As lágrimas já caiam de meus olhos com voracidade. Senti o corpo de Lauren encontrar-se com o meu, abraçando-me forte e calorosamente, enquanto eu sussurrava desculpas incompreensíveis.

Depois de toda tempestade que ocorreu em nosso reencontro. Lauren e eu estávamos conversando bem e relembrando do nosso passado como se nada houvesse afastado nossa amizade em um período tão longo. Eu estava deitada em seu colo, enquanto ela afagava meus cabelos e ria de minhas piadas sobre como ela era apaixonada pelo Jack Gilinsky e ele só a esnobava.

— Shawn está tentando mudar as coisas — Digo, após conseguirmos encerrar o ataque de risos. Olho-a profundamente, passando a confiança que sinto em minhas próprias palavras. — Eu o amo e sou correspondida. Acredito que ele possa melhorar tudo, afinal, já melhorou muito. — Lauren sorriu, deslizando deus dedos por meus cabelos, suspirando depois.

— Espero que agora eu possa melhorar também — Abri um largo sorriso, fechando os olhos e aproveitando a sensação de ter minha melhor amiga de volta.

— Já está.

(...)

A língua de Shawn Mendes explorava cada centímetro de minha boca, enquanto sua mão explorava meu corpo. Estava quente demais. Era um calor ardente que me obrigava a agir de maneiras exageradas. Eu estava em seu colo, agarrando os fios que ficavam pouco acima de sua nuca, embolando meus dedos em seu cabelo ondulado e macio.

Eu nunca escondi a vontade que sinto em ser amada por Shawn. Mas a maneira que ele estava demonstrando seu desejo, enlouquecia-me entre delírios e necessidades. Eu queria senti-lo, ainda mais que agora.

— Amor... — Sua voz rouca estava ofegante, fazendo meus pelos ouriçarem — Eu te amo — Ele sussurrou, tornando a me beijar — Mas vamos com calma, ok? — Bufei, afastando-me de seus lábios.

— Por quê? — Questionei irritada, cruzando os braços como uma criança birrenta. Tudo bem, eu sabia que estava sendo infantil demais para um assunto tão maduro, mas não conseguia conter. — Sempre que as coisas estão mais... Quentes, sabe?... Você para. — Shawn solta um riso, fazendo-me ficar ainda mais brava.

— Você parece uma criança, sabia disso? Nem parece que estamos discutindo sobre sexo. — Ele tornou a rir, fazendo-me rir um pouco, mas logo fechar a cara novamente.

— Eu te odeio, sabia? — Revirei os olhos, observando-o morder o lábio inferior numa maneira provocativa.

— Sabia, assim como odeia bananas, não é? — Passei meus braços envolta de seu pescoço aproximando nossos rostos para beijá-lo.

— Até mais — Completei, voltando a juntar nossas bocas.