História Bad Reputation - Pedaços de ti.

Point of View — Camila Cabello

Senti uma dor excessiva e latejante em minha cabeça. A dificuldade de abrir os olhos era intensificada pelo peso de minhas pálpebras. Remexi-me num colchão confortável, sentindo várias partes de meu corpo serem atingidas por pesos ainda maiores. Acordei completamente depois de muito luta, por fim.

A primeira imagem que avistei foi um quarto que não era meu, mas sim de Shawn Mendes. O peso que me impedia de mover qualquer músculo eram compostos por três garotas. Franzi o cenho, tentando recuperar alguma memória que pudesse explicar o porquê de Normani, Dinah e Lauren estarem dormindo à minha volta na cama de meu namorado.

— Finalmente você acordou — A voz da minha vizinha ecoou após tua cabeça levantar de minha barriga — Puta susto do caralho que você deu, Barbie Latina.

— Olha a boca, Dinah Jane — Agora foi à vez de Normani acordar — Ela acabou de despertar, não assusta a garota. — Eu não estava assustada, só não entendia nada e deixei bem nítido na minha cara de tacho.

— Oi Camz — A voz rouca de Lauren arranhou meus ouvidos, logo em seguida seus cabelos fizeram cócegas em minha bochecha. — Calem a boca vocês e deixem-na acordar direito — E assim começou uma discussão com três garotas que eu não fazia idéia de que se conheciam e, principalmente, eram próximas; ou quase isso.

— Mas que porra está acontecendo? — Interrompi ríspida, não percebendo que falei um palavrão soando muito furiosa, sendo que estava apenas confusa e com uma extrema dor de cabeça. Cruzei os braços, ajeitando meu corpo na cama e esperando a resposta de alguma delas.

— Você teve praticamente uma overdose — Dinah disse na lata. Arregalei os olhos. — Ou foi um coma alcoólico? — A loira arqueou a sobrancelha, pensativa. — Ah, você teve um desses dois se não os dois — Deu de ombros, simplesmente.

— O que? — Retirei as palavras do fundo da garganta, atravessando o nó que se formava por ali.

— Calma. Deixa que eu explique de uma maneira menos carinhosa — Normani diz irônica, fuzilando Dinah.

— Se ela tivesse tido os dois, estaria morta, não? — Lauren cortou Normani, fazendo-me ficar a cada segundo mais assustada.

— Caladas. — Normani diz brava. Limpa a gargalha e apóia suas mãos em minha coxa. — Você não se lembra de nada? — Nego balançando a cabeça, tentando puxar algo em minha memória. — Ok. Mila, você bebeu e usou algumas drogas e não me pergunte o motivo, também não sei. Te encontrei no beco de um boteco, quase desacordada, Shawn apareceu e acho que aí você apagou completamente, então ele te trouxe para cá. — Shawn! Céus, onde ele está?

— E por que vocês estão aqui? — Tentei soar o menos grossa possível. Respirando fundo e contento o nervosismo ao pensar em Shawn Mendes.

— De nada por estar aqui, viu — Dinah diz sarcástica, fazendo-me soltar um riso frouxo pelo nariz.

— Shawn veio pedir minha ajuda na lanchonete, dizendo que precisava de umas roupas suas e alguém que pudesse ficar com você, enquanto ele ia a algum lugar. — Normani explicou tranquila, acariciando minha coxa.

— Eu estava na lanchonete na hora e acabei ouvindo, então me ofereci para ajudar — Lauren continuou a explicação, olhando-me serena com suas íris esmeraldas.

— E eu peguei o problema quando ele chegou à porta de teu apartamento, enquanto ia ascender um baseado — Dinah completou, fazendo todas nós rirmos.

— E onde está o Shawn? — Perguntei finalmente, contendo meu coração que queria sair pela boca. O que eu havia feito? Droga.

— Ele foi à igreja — Uma voz desconhecida apareceu entre a porta do quarto. Avistei uma mulher de cabelos escuros com uma bandeja em mãos; dona Karen, mãe de Shawn. — Bom dia querida. — Arregalei os olhos. — Alimentem-se garotas, se precisarem estarei lá embaixo.

— Tudo bem, isso foi bem estranho — Digo assim que a mulher deixa o quarto. Torço o nariz, sentindo uma ânsia de vomito atingir fortemente meu estomago.

— Se eu te contar como ela tratou a gente, tu desmaia de novo então — Lauren diz brincalhona, franzindo o cenho e rindo em seguida.

— Acho que ela não sabe que sou prostituta — Dinah tinha uma tonalidade séria na voz, fazendo-me gargalhar ao jogar a cabeça para trás.

Ficamos conversando por um tempo extenso e, pela primeira vez, sentia-me rodeada de pessoas que realmente se importavam comigo. Era assustador pensar que aquelas três garotas estavam ali por minha causa; porque queriam o meu bem. Meu coração apertado pela angustia da falta de Shawn ao meu lado, aos poucos se preenchia com um calor amoroso quando ouvia as gargalhadas das garotas.

— Espero que você fique bem sem mim, Barbie Latina — Minha vizinha apóia tua mão sob a minha. Percebo um brilho tristonho em seu olhar. — Sentirei sua falta. — Completa.

— Por que está dizendo isso? Vai morrer? Ou eu que vou? — Brinco, mas as outras garotas não riem de minha piada.

— Vou embora Latina — Dinah funga, entregando que sentia vontade de chorar.

— Como assim ir embora? — Pergunto assustada, sentindo uma pontada forte em meu peito.

— Irei para Nova Iorque recomeçar minha vida.

Sinto o olhar de Lauren sob mim. Eu sabia o que ele significa e foi ali que meu coração se dilacerou com a dor de saber que mais uma pessoa iria embora de minha vida.

[...]

Não aguentava mais olhar para as paredes bem pintadas do cômodo, enquanto sentia, a cada segundo a mais, tornar-me tão pequena diante da solidão que se estabilizava ali. Todos haviam ido embora, deixando-me sem forças para lutar contra a escuridão que implorava para adentrar em mim. Era doloroso lutar contra as memórias que atingiam minha mente como flashbacks da noite passada. Era ainda mais doloroso imaginar que Shawn Mendes podia estar atrás de respostas e, finalmente, encontrando-as. E eu sabia que sim.

— Oi — Aquela voz doce arrastou-se até meus tímpanos, fazendo meu coração dançar. Guiei meus olhos até o rapaz da porta, avistando teu semblante cansado e um sorriso amargo que desenha teus lábios. Sussurrei um “oi” inaudível, sabendo que minhas forças estavam esgotadas. — Como está?

— Com medo — Confessei quase atingindo um próprio murro em meu rosto. Ele riu sem animo, dando passos até a cama.

— Por que você não me contou? — Shawn sentou-se no colchão coberto por um lençol azul marinho. Dei de ombros, fingindo não entendê-lo. — Encontrei sua mãe procurando por você, Camila — Meus olhos começaram a arder. Neguei com a cabeça, pedindo para ele se calar. — Por que não me disse que eles te perdoaram? Por que nunca me disse que sua família não te odeia de verdade? — Eu continuava implorando pelo silencio em minha cabeça, mas ele apenas continuava falando. — Meu amor, por que você sempre opta pelo sofrimento?

— Eles me odeiam — Digo exausta. Shawn nega com a cabeça. — Eu me odeio por eles não me odiarem — Desabafo.

O silencio se estabelece entre nós. Nenhum de nós tinha coragem de dizer nada. Eu não sabia como responder as perguntas e, no fundo, também não queria. Era difícil explicar que meus pais me perdoaram pelo acidente e confessaram nunca acreditar na má reputação. Alejandro e Sinu não me trataram mal, apenas deixaram que eu me afastasse; o que tornou ainda mais doloroso. Mas eu não os culpava, afinal, se fosse eu no lugar deles, também não gostaria da minha presença. Eu não gosto, sinceramente.

— Por que você me ama? — Quebrei o silencio. Shawn me olha confuso. — Por que fica comigo? Não pode ser pelos momentos que eu choro ou as inseguranças das madrugadas em claro. Não pode ser pelas burradas que faço. — Respiro fundo — Então, por que continua comigo?

— Também é pelo choro, insegurança e madrugadas em claro. E admito, pelas burradas também — Ele ri — Camila, eu te amo principalmente pelo que vem depois de tudo isso — Ele suspira, puxando-me para seus braços — Odeio te ver chorar, mas amo sua necessidade de me ter por perto depois que ele cessa. Sua insegurança me rende oportunidades para dizer o quanto você é maravilhosa e, claro, eu consigo aprender um pouco sobre elas. As madrugadas em claro me rendem explicações com sua voz rouca, culpando minha ausência e isso só entrega que precisamos um do outro na mesma intensidade. Suas burradas só me fazem te amar ainda mais, mesmo me machucando, eu sei que executa cada uma delas pensando que é o melhor a ser feito, mesmo não sendo — Rimos juntos — Eu amo tudo em você, é por esse motivo que continuo.

Era impressionante como Shawn Mendes sabia dizer tudo que precisava ouvir, mesmo quando nem eu mesma sabia. Algumas lágrimas brotam, escorrendo por minha bochecha até salgarem minha boca. Agarrei-o com força, necessitando de seu corpo perto ao meu, inalando o cheiro único que só ele exalava.

— O que mais ama em você? — Shawn encerra nosso abraço, envolvendo meu rosto em suas grandes mãos.

— Você — Ele ri.

— Não amor. Estou falando o que mais ama em você — O canadense toca meu peito com seu indicador, apontando para mim.

— Em cada pedaço de mim, tem um pedaço de você — Acaricio seus lábios com o polegar — E eu amo isso mais que as folhas de outono. — Shawn deixa uma lágrima pequena escapar, desenhando seu rosto pálido até as bochechas avermelhadas, encontrando meu polegar e molhando-o.

— Eu preciso te amar por inteira, Camila — Suas íris escurecem em milésimos. Encaro-o tão profundamente encontrando sua alma desejando-me com uma chama ardente. A respiração que sai de minhas narinas se descontrola, acelerando meu coração que batia a mil — Eu quero que sinta como eu te amo. — Perco o fôlego quando seus lábios agarram os meus e suas mãos dançam em meu corpo, tatuando seu toque em minha pele, enquanto começa a dar indícios que retirará as roupas que cobriam meu corpo.