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História Bad Reputation - Please, don't go


Escrita por: isasmermaid

Capítulo 3 - Please, don't go


Fanfic / Fanfiction Bad Reputation - Please, don't go

 

Point of View — Camila Cabello

Ontário, Canadá

 

Sentia o gosto amargo das palavras que pronunciei descerem pela garganta, traçando um nó em minhas cordas vocais e embolando minhas entranhas. Acelerei o passo não olhando para trás e o deixando sozinho naquela esquina.

Eu não fazia ideia do porquê de Shawn Mendes ter ido atrás de mim e muito menos o porquê de ter demonstrado preocupação pelo tapa que levei. Seus olhos entregavam todos os sentimentos de compaixão e, se caso ele já não pensasse mais como os outros, depois do que eu disse com certeza voltou a desejar minha morte.

Assim que completei o caminho da esquina até o lugar que chamo de casa, adentrei pelo portão de ferro já enferrujado, subindo a escada inacabada para meu apartamento. Eu morava no beco mais sujo da cidade, onde as prostitutas traziam seus clientes para os seus programas e os traficantes escondiam as drogas de suas biqueiras. Era sujo, nojento e nada higiênico, mas depois de tudo aconteceu em minha vida, era o único lugar que eu conseguia pagar com o salário que ganhava na lanchonete e que aceitava uma menor sem os pais.

Eu morava no apartamento 16 ao lado de uma prostituta e em frente a um viciado que roubava sua própria mãe para sustentar o vício. Entrei no único cômodo que tinha em meu lar e bati a porta, escorando minhas costas até chegar ao chão manchado e analisar as paredes mofadas.

Meu lar.

Arrastei-me até o colchão mofado, agarrando meu cobertor cor de rosa e abrindo a pequena janela que ficava ao lado da cama. O vento estava calmo, mas trazia o cheiro que ali não tinha. Calmaria. Esperança. Paz.

Encostei a cabeça no travesseiro e alisei meu rosto dolorido. Eu estava me sentindo suja e humilhada. Meu corpo enojava a mim mesma, mas eu já estava acostumada a me sentir assim, jogada aos vermes para dormir, pois era ali que pertencia.

Senti algo vibrar na cama, alcancei o celular, estranhei ao notar que era uma mensagem, pois não costumava receber nada de ninguém.

 

Mensagem:

Shawn Mendes está me infernizando para eu passar teu número. Disse que pediria permissão, pois sei como você é estressadinha. Posso?

PS: Aqui é a Normani gatinha Kordei.

 

Não evitei o riso. Normani havia sido uma das melhores amigas de Catarina e, depois do acidente, foi à única que não me tratou como assassina e, até hoje, tenta aproximar-se de mim. Foi por causa dela que eu consegui o emprego de garçonete na lanchonete e é por causa dela e de seu “bom dia gatinha” que ainda estou vivendo um dia de cada vez.

 

Mensagem:

Não dou permissão.

 

Deixei o celular cair sob o colchão. Eu precisava ir embora daquela cidade e começar uma nova vida. Preferia ser uma covarde que fugiu de seus demônios do que aguentar mais um ano no próprio inferno que é Ontário.

Agarrei novamente meu travesseiro e permiti que as lágrimas o molhassem. Eu me sentia vazia, mas minha alma transbordava sentimentos horríveis. Enfiei minha cabeça na espuma e gritei. Gritei com força. Eu estava gritando tão alto que minha garganta ardia e falhava. Ignorei os vizinhos, afinal, eles já haviam se acostumado com meus gritos que escondiam meu pedido de socorro.

 

*

 

Fui acordada com um forte clarão que entrava pela janela aberta. Cocei ao redor dos olhos, percebendo que havia pegado no sono enquanto chorava. Meu corpo inteiro doía e minha garganta ardia com um gosto forte de nicotina.

Segui até o banho e tirei as impurezas. Eu estava sem forças, fraca e com muita fome. Assim que me ajeitei da melhor maneira possível, peguei minha jaqueta, bolsa, chaves e segui até a porta.

Era exatamente 7h27min, mas o cheiro de maconha já exalava por todo prédio. Assim que sai pela porta, avistei minha vizinha.

— Eu odeio esses clientes que passam a noite toda — Dinah era uma adolescente da minha idade. Loira, alta, com um corpo definido, provida de uma beleza única. Segurava um baseado entre os dedos e usava um roupão azul escuro — Cansada desses velhos nojentos me chamando de Baby Angel — Ela levou o dedo para a boca fingindo que iria enfiar na garganta e vomitar. Eu soltei um riso nasal — Você está péssima Barbie latina.

Dinah Jane e eu tínhamos uma amizade de portaria. Nunca chegamos a conversar formalmente, apenas quando nos encontrávamos na porta de nossos apartamentos sempre pela manhã ou pela noite e normalmente eu apenas ouvia seus comentários sobre os clientes e respondia com uma risada nasal e algo breve. Eu a considerava minha amiga, apesar da falta de conhecimento sobre ela, ao menos Dinah não me julgava pela minha reputação de assassina.

— Péssimo trabalho e noite — Respondi, retirando a chave da maçaneta e jogando na bolsa.

— Então somos duas — Dinah levou o baseado na boca puxando a fumaça por longos milésimos. Assenti seguindo meu caminho escada abaixo.

 

 

Meu turno estava quase acabando. O dia havia sido exaustivo e eu só queria voltar para casa. Por sorte, Normani não me perguntou nada sobre Shawn Mendes e seu interesse em meu número telefônico, e ele e seus amigos — principalmente Cameron — não apareceram na lanchonete hoje.

Estava terminando de limpar as mesas para que Normani cuidasse do caixa quando o sino soou avisando que havia chegado um cliente. Ignorei e continuei passando o pano para tirar a mancha de milkshake que tinha se formado.

— Pergunta se ele vai pagar em dinheiro, pois estamos fechando o caixa — Normani disse e eu assenti, seguindo até a mesa próxima a janela.

Quando cheguei mais perto, reconheci aqueles cabelos ondulados em um topete perfeitamente alinhado e seu moletom cinza da universidade York, Ontário. Respirei fundo fazendo meus pulmões encherem, peguei o caderno, a caneta, limpei a garganta e finalmente perguntei.

— Vai pagar com dinheiro? — Shawn Mendes levou seu olhar até mim. Ele sorria.

— Conversa comigo — Arqueei a sobrancelha surpresa. Senti meu peito se aquecer com aquelas palavras, havia muito tempo que ninguém as dirigia a mim.

— Vai pagar com dinheiro? — Minhas forças tinham sumido tornando doloroso tentar segurar a caneta com firmeza.

— Por favor, não me afasta de você — Seus olhos continham um brilho de esperança. Sua mão tocou meu braço, suplicando por aquilo tanto quanto suas palavras. Deixei a caneta cair, sentindo meus olhos marejarem.

— Eu saio em dez minutos se você não fizer nenhum pedido — Esquivei-me de seu toque, fugindo de seu olhar hipnotizante — Se quiser conversar me espera lá fora — Ele abriu um sorriso em seus lábios, assentindo e seguindo para fora da lanchonete.

Terminei de arrumar tudo, soltei meus cabelos que estavam amarrados em um rabo de cavalo, vesti minha jaqueta jeans e sai. Para minha surpresa, Shawn Mendes estava parado ao lado da porta, com as mãos no bolso de seu moletom, observando as folhas de outono que caiam pelas ruas. Ele logo percebeu minha presença e veio até mim, ainda sorrindo.

— Podemos conversar? — Ele se aproximou ainda mais de mim, olhou para os lados vazios da rua e tocou novamente em meu braço, acariciando o pano de minha jaqueta. Desejei pelo toque em minha pele, pois já não me lembrava mais o que era ser acariciada por alguém.

— Eu preciso de café — Ele me lançou um olhar de medo, receio e reprovação. Eu entendi. — Você não precisa ir a nenhuma cafeteria e ser visto comigo — Dei alguns passos para trás, virando e seguindo para o outro lado da rua.

— Camila, espera — Pude senti-lo se aproximar, ouvindo seus passos mais firmes — Eu não ligo se me virem com você. Não acredito mais no que dizem.

— Mas já acreditou, não é? — Eu implorava para que ele negasse, mesmo sabendo que seria mentira. Queria que Shawn Mendes me dissesse que sabia a verdade.

Mas ele não fez isso.

— Vamos conversar, por favor, Camila — Seus olhos ainda imploravam e era impossível de negar algo a ele. Seu rosto angelical continha um brilho que faltava em mim, mas eu queria.

— Você pode me acompanhar até em casa, se quiser — Sorri sem mostrar os dentes, desviando o olhar para baixo. Eu estava tímida, incrivelmente tímida.

— Até o beco de drogas e prostituição? — Levei um soco na boca do estomago com suas palavras e a tonalidade que foram proferidas. Senti-me sendo jogada novamente aos vermes, onde por alguns segundos, eu consegui fugir. 

— Pelo visto você ainda acredita no que dizem — A decepção estava estampada na minha cara, então apenas a peguei e sai dali o mais rápido que consegui o deixando sozinho.

Como eu consegui ser tão burra? Como eu acreditei que alguém dessa cidade mudaria de opinião sobre mim? Ainda mais o Shawn Mendes. Por segundos, eu criei esperança como uma pobre criança ingênua e me destruí em pedaços novamente.

 

— Me desculpe, eu fui um idiota — Ele estava vindo atrás de mim, mas eu ignorei sua presença e continuei meu caminho. Segurava as lágrimas, pois não queria chorar por uma estupidez dessas.

— Você é um idiota — Disse sem parar de andar e evitar olhar para trás.

Senti algo segurar meu braço me obrigando a parar. Tentei me soltar, mas algo em meu corpo decidiu ficar ali.

— Por favor, não vai — Ele aproximou seu corpo do meu, segurando meu queixo e me obrigando a olhar no fundo de seus olhos tão lindos — Me deixa te ajudar, Camila.    



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