História Bad Reputation - Secrets

Point of View — Shawn Mendes

First, 21h09min

A noite estava tranquila. O vento soprava em meu rosto sem piedade, bagunçando meus cabelos e relaxando meus pulmões.

Após aquela tentativa de dança e um possível algo que não quero nomear, Camila entregou-se ao choro como uma tempestade que chega de repente, sem avisos, mas que causa um estrago irreparável. Custei a encontrar uma solução para suas lágrimas cessarem, gostaria de saber o que tanto a fazia mal ali e se, por um acaso, eu estava a fazendo mal. Decidi por fim tirá-la daquele local, trazendo-a para a cobertura do hotel, onde havia apenas nós, o vento, a lua e milhares de canos dos ares condicionados.

Camila parecia área. Brincava de equilibrismo com os tubos mais resistentes e, vez ou outra, olhava para o céu, admirada, e logo tratava de sorrir. Admirava isso nela, mesmo sem saber ao certo do que se tratava, sempre notei sua facilidade de sorrir ao analisar as pequenas coisas ao seu redor. Ela endeusava a televisão, a maneira que a luz adentrava por uma janela e, até mesmo, a fumaça de seu café com chantilly. Camila era capaz de enxergar a olho nu o que nós, seres humanos, não enxergaríamos nem se estivesse cravado em nossa pele.

Soltei um breve sorriso ao vê-la escorregar em dos canos vermelhos e bufar irritada, logo sendo atingida por uma forte ventania que levou seus cabelos para os ares.

Como você conseguia esconder essa beleza, Camila?

Suspirei, mudando meu olhar de direção. Decidi encarar as poucas estrelas que enfeitavam o céu.

Catarina nunca teve muita paciência para apreciar as pequenas coisas. Com ela tudo era sempre às pressas e, claro, às escuras. Ela não procurava entender e se quer curtir o momento. Mas era sempre tão intenso, que parecia ser importante. Não sei dizer ao certo como me apaixonei por ela e, se realmente me apaixonei. Eu nunca tive essa certeza, para falar a verdade. Catarina tinha essa necessidade de ser amada por todos e, de certa forma, tinha a certeza que você a amava. Eu a amava, mas não sei dizer se já cheguei a ser apaixonado por ela.

Desviei meus devaneios ao notar um par de olhos castanhos me analisarem com curiosidade. Pressionei os lábios e arqueei as sobrancelhas numa tentativa silenciosa de perguntar o que houve. Camila balançou a cabeça de um lado para o outro, dando de ombros e esquivando seu olhar de mim. Senti o peso do silencio ao ouvir apenas nossas respirações tranqüilas.

— Você consegue sentir isso? — A voz doce de Camila soa por meus ouvidos, puxando minha atenção para seu semblante calmo composto pelos olhos fechados. Confuso, sem saber do que se tratava demorei a responder, mas ela continuou — Consegue sentir seu corpo mais leve, como se suas células se misturassem com o vento que sopra por nossos cabelos? — Assenti, mesmo sabendo que ela não veria — É como se nós nos tornássemos capazes de tudo — Seus braços se abriram a altura de seus ombros — Se eu quisesse ser uma super heroína, o vento que bagunça nossos cabelos me transformaria em uma nesse exato momento — Ela deixou um riso escapar e, assim que percebi, eu estava sorrindo ao vê-la dessa maneira.

Eu nada respondi, apenas memorizei aquele momento o máximo que consegui. Deixamos que novamente o silêncio se predominasse, mesmo havendo milhares de perguntas que eu gostaria de fazer.

Camila abriu os olhos e retornou a encarar o céu. Por mais que eu tentasse, não conseguia parar de olhá-la por um segundo. Em alguns momentos, reparava em suas semelhanças com Catarina, em outras, Camila parecia um ser humano tão único que ninguém conseguiria se igualar.

— Me conte o seu maior segredo, Shawn Mendes — Notei um tom arrastado em sua voz, como se ela estivesse receosa ao fazer tal pergunta. Levei uma de minhas mãos aos cabelos, bagunçando-os enquanto pensava no que responder. Senti o impacto daquela pergunta, porém estava tão à vontade em sua presença que responderia sem nem ao menos pensar. Camila tinha esse efeito sobre mim, não sei se era só comigo ou se ela causaria isso com todos que se permitissem conhecê-la.

— Eu não sei se tenho um segredo — Respondi sincero. Nada que se passava em minha cabeça parecia algo de um valor tão grande ao ponto de se tornar um segredo.

— Todos nós temos segredos — Sua sobrancelha arqueada me analisava com deboche. Dei de ombros, deslizando o olhar pelo céu noturno — Vamos lá... Nunca mentiu para seus pais, fugiu para sair com uma garota ou roubou um banco? — Ri, negando com a cabeça — Qual é, Shawn Mendes... Todos nós já roubamos um banco — Nem ela conseguiu conter a gargalhada com a última frase.

Era impressionante as fases momentâneas que Camila tinha. Uma hora ela parecia uma criança inocente, encantada pelo mundo a sua volta com a pureza de um anjo; outra se tornava uma muralha fria e indecifrável da qual não permitia que ninguém se aproximasse; já por alguns instantes se tornava tão madura e intensa que chegava a roubar todo ar de seus pulmões; mas o impressionante é que em todas as fases, eu tinha uma enorme curiosidade em conhecer.

— Eu nunca fui aceito em uma faculdade — Soltei, notando a atenção da latina se dirigir a mim. — Acho que esse é meu maior segredo — Suspirei pesado.

— Como assim? Você me disse que havia trancado sua matricula... — Camila tinha a expressão confusa.  Seus lábios inquietos se abriam e fechavam a cada segundo, procurando talvez uma continuação para sua frase.

— Eu tranquei — Ela ficou ainda mais confusa e eu soltei um riso nasal, sem animo algum — Eu não fui aceito em nenhuma faculdade que tentei, nem mesmo a daqui. Então, o querido senhor Mendes, decidiu que não iria permitir um escândalo desses na família perfeita e comprou minha matricula na universidade York, de Ontário. — Camila parecia perplexa. Sua boca entreaberta e seus olhos arregalados entregavam como aquilo a pegou de surpresa.

— Eu... Nossa... — Ela suspirou forte, mordendo o lábio inferior enquanto os desenhava com o dedo.

— É por isso que eu tranquei — Senti uma forte ardência em meu nariz assim que meus olhos se marejaram. Balancei minha cabeça de um lado para o outro, tentando conter o choro preso em minha garganta. — Todos os dias que eu passava por aquela maldita porta eu me lembrava do quão incapaz eu sou; do quão fracassado eu fui e, principalmente, do desgosto que me tornei para meus pais.

— Cala a boca — Senti suas mãos apertarem meus braços, obrigando-me a olhá-la de frente — Você não é nem de longe um fracasso e muito menos um desgosto para sua família, Shawn Mendes — Tentei interrompe-la, mas ela foi mais rápida — Você é a pessoa mais inspiradora que eu já tive o prazer de conhecer... — Ela não terminou a frase. Seus lábios se pressionaram e, em segundos, nossos olhos travaram uma batalha intensa que dispensava qualquer palavra.

— Você é inspiradora, Camila — Deslizei minhas mãos para as suas, acariciando a costa de uma com o dedo. Segurei uma delas, levando-a diretamente para meu peito, apertando-a com força — Me conte o seu maior segredo — Sussurrei, dando um passo para frente, aproximando nossos corpos distantes.

— Tenho muitos — Camila tentou afastar-se, mas utilizando um pouco de força, não permiti que ela se movesse para trás ou retirasse suas mãos das minhas.

— Para de fugir de mim — Sussurrei novamente, dando apenas mais um passo. — Por que você sempre se afasta? Tem um segredo para tanta fuga? — Sorri de canto.

Estávamos próximos. Próximos demais.

Eu já era capaz de sentir sua respiração quente bater contra minha pele. Ainda segurando sua mão contra meu peito, deslizei suavemente pelo seu braço até chegar próximo ao seu pescoço, jogando alguns fios de seus cabelos para trás do ombro. Ela permanecia estática, seus olhos fixados nos meus pareciam convidar-me a mergulhar na imensidão castanha que, sem piedade nenhuma, invadia-me brutalmente. Cheguei com a ponta de meus dedos na pele exposta de seu pescoço, sentindo cada pelo de seu corpo arrepiar-se com a frieza que eles estavam. Nossas respirações se desregularam no mesmo milésimo, encontrando um único ritmo a seguir.

— Tenho medo de causar um estrago em sua vida — Sua voz saiu tão baixa que até o vento soprando soava mais alto — Não quero me envolver demais e acabar fodendo suas amizades ou sua família... — Encarei sem piedade seus lábios que pronunciaram aquele palavrão. Eu não sei dizer se o momento ajudou, mas aquilo soou tão atraente e sexy que um calor atingiu cada célula de meu sistema.

Camila logo percebeu que eu encarava sua boca descaradamente e, quase em câmera lenta, mordeu seu lábio inferior deslizando a língua ao molhá-lo.

Eu acabei perdendo todo o controle sobre meu corpo.

— Tarde demais, Camila — Sussurrei, aproximando meus lábios de seu ouvido — Eu quero me envolver ainda mais com você.

Antes que ela respondesse, deslizei minha boca para a sua, colando-as, finalmente a beijando por completo. A maciez de seus lábios causou um arrepio em minha espinha, percorrendo cada músculo de meu corpo numa velocidade surreal. Deslizei uma de minhas mãos para sua cintura, puxando-a para ainda mais perto, como se tê-la em meus braços fosse mais necessário que o próprio oxigênio. Camila subiu seus dedos para meus cabelos, enrolando-os em meus fios. Pedi passagem para minha língua e ela cedeu. Ela tinha um gosto doce. Tão doce que chegava a ser delirante. Nossas bocas se encaixaram perfeitamente, como se houvessem sido moldadas especialmente uma para outra. Nossas línguas iniciaram uma dança, encontrando uma sintonia única como se já se conhecessem há muito tempo. Arranhei sua nuca entrelaçando meus dedos nos seus fios compridos, apertando sua cintura com mais força. Era delicioso beijá-la e eu não queria mais parar.

Eu realmente queria me envolver cada vez mais com Camila.