Estava voltando para a cozinha, quando ouvi um baque metálico e algo bater contra minhas costas e me dei conta de que aquele cão imundo e fedido havia jogado a tigela que servi à ele com sua “ração”. Me virei devagar e o sorriso cínico dele estampava seu rosto de lobisomem imbecil e nojento. Apenas parei alguns segundos , contando até dez e voltei para cozinha, pegar mais um copo com sangue de veado -das-montanhas para Bella. Não que estivesse fazendo isso por ela, mas o bebê que ela injustamente carregava não tinha culpa e eu já o amava como se fosse meu.
Ouvi cochichos na sala e apenas passei a me atentar à eles.
“Aquela loira burra ainda me paga.”
“Jake, relaxa. Você conhece a Rosalie. Ela é estourada mesmo, ignore que ela para de te provocar, com ela, tem que ser do jeito difícil”
“Ela acha que pode mandar em qualquer um ou fazer o que quiser? Mas não pode! Problema dela se é revoltadinha só porque o marido a largou e ela não teve o filhinho que sempre quis. O que foi que deu tão certo em todos vocês, e nela deu errado?”
Era isso mesmo que eu estava ouvindo? Ele estava me insultando e os outros de minha espécie estavam concordando com ele? A travessa de vidro que estava em minhas mãos virou pó, e com certeza meu olho já tinha mudado de cor, passando de dourado para bordô. A casa ficou em silêncio e Carlisle entrou na cozinha.
- Rosie? O que foi isso? - Ele viu os cacos no chão.
- Isso foi a raiva da revoltadinha aqui.
- Por favor, limpe isso agora. - Ele pediu cordialmente como sempre fazia.
-Não. Não vou limpar nada! Não são os outros que são os legais? Os bonzinhos? MANDE ELES FAZEREM PORQUE EU NÃO FAÇO MAIS NADA.
-Rosalie. Abaixe seu tom de voz comigo, por favor. - Ele olhou-me sério.
-NÃO. E NÃO PASSO MAIS NENHUM SEGUNDO AQUI NESSA DROGA.
Saí correndo para qualquer lugar longe daquela casa, daquela cidade inútil. Cheguei à uma floresta densa em Oregon, e parei. Não por cansaço, claro, mas por querer esmagar algo, extravasar todo aquele ódio que tinha dentro de mim. Não era assim que eles me viam, como a vilã dos Cullen? Aquela que faz o mal pra tudo e todos? Que perdeu o marido e não teve filhos? Que vive o pesadelo de ser imortal? Pois era assim que eu ia ser realmente à partir de agora.
Respirei fundo e senti um cheiro peculiar de... sangue humano. Pessoas dentro da floresta, há não mais que 2 km de distância. Era um grupo de três ou quatro pessoas, não sabia muito bem, afinal, milhares de anos caçando apenas veados e leãos por causa do maldito “tratado de paz” com o bando de cachorros de La Push, me fez perder a prática. Então se eu já tinha o gênio ruim, aproveitei para me usufruir dele. Subi em uma árvore e fui andando até sentir o sangue das minhas caças pulsando quentes por dentro das veias. Dois garotos e uma garota. Dei uma fungada forte no ar e aquele cheiro delicioso fez minha garganta coçar, me lembrando de que eu não caçava há um bom tempo. Desci da árvore e me esgueirei atrás de um grande tronco, por onde eles passariam em alguns minutos e esperei. Quando chegaram perto o suficiente, num golpe súbito, quebrei o pescoço de todos, assim poderia sugar à vontade e sem nenhuma luta.
Primeiro, fui ao garoto mais baixo. Cravei meus dentes em sua clavícula e logo aquele líquido delicioso escorreu para minha boca. Quando passou por minha garganta, a ardência ficou mais forte e a necessidade de esgotá-lo foi voluptuosa. Suguei-o em alguns segundos e fui para a moça. Mais uma vez, senti-me revigorada, como meus primeiros dias de recém-criada, mas quando cheguei ao mais alto, a ardência já tinha se extinguido, e eu com certeza, poderia ficar algumas semanas sem caçar, eu já estava saciada.
Mesmo assim, minha raiva ainda estava latejando em meus pensamentos e a voz daquele cachorro fétido pulsava em minha mente. O pior de tudo? Nem chorar eu conseguia. Ele abriu minhas feridas que nunca iriam de fechar e remexeu-as, e não tinha ninguém para me defender e muito menos para sentir minha falta. Ao olhar para uma árvore, provavelmente secular devido ao tamanho de seu tronco, não hesitei em esmagá-la como se amassa um papel de bala, sem a menor dificuldade. E foi assim com as próximas 10 árvores. Nada daquilo estava adiantando. Eu continua com raiva e com vontade de chorar, de ter tudo aquilo que eu jamais poderia nem ter sonhado.
Sentei-me encostada num tronco menor, e abaixei a cabeça em meus joelhos, não importando em ser encontrada, denunciada, executada ou o que fosse. Eu não significava nada para ninguém e ninguém jamais se importaria comigo.
Na casa dos Cullen...
- Qual é a sua, Jacob? - Emmet avançou para cima do lobisomem como um brutamontes enfurecido. - Tá querendo mais alguns ossos quebrados?
- Emmet, sem briga. - Esme falou. Ela era a única capaz de acalmá-lo na fúria, já que ele temia enfrentá-la. - Jacob, por favor, retire o que falou.
- Ok, retiro o que disse. Mas não foi agradável o que ela fez comigo. - Ele reclamou e a casa escutou o grito estridente dela com Carlisle. Nenhum dos “filhos” tinha ousado erguer a voz para o patriarca jamais, e quando ela o fez, foi um choque. Emmet cerrou os dentes e fechou os punhos.
- ROSALIE! - Carlisle gritou e apareceu na sala. - Ela fugiu.
- O quê? Eu vou acabar com você cachorro! - Emmet foi para cima de Jacob, mas este foi mais esperto e fugiu, enquanto Edward segurou Emmet.
- Emmet, vá atrás dela. É o melhor a se fazer.
O mais alto e forte vampiro da casa saiu pela sacada da cozinha e correu rastreando sua companheira pelo cheiro. Já havia passado a fronteira de Forks quando perdeu a fragrância dela e não a encontrava de maneira nenhuma. Ele começou a se preocupar, não que ela entrasse em perigo, mas com a raiva que ela provavelmente estava de tudo e todos, ela poderia fazer besteiras, já que ela não era do tipo “pense antes de fazer”.
Já estava escuro quando a brisa trouxe até Emmet o cheiro de sua Rosie. Ela provavelmente estaria no condado vizinho. Correu até lá e adentrou a floresta. Sentiu o cheiro podre de cadáveres e logo os encontrou, mortos e quebrados no chão. Aproximou-se dos corpos e examinou suas clavículas. Rosalie estava por ali. Andou mais um pouco e pôde ouvir alguns resmungos bem feios em sua mente. Era ela próxima dele. Emmet evitou pensar em qualquer coisa, para não distraí-la e se aproximou do tronco ao qual ela estava encostada.
- Ursinha?
Ela levantou a cabeça e apertou os olhos com fúria remanescente.
- O que você está fazendo aqui, Emmet? Vai embora.
- Claro que não. O que aconteceu, ursinha? - Ele aproximou sua mão da pele pálida e gélida dela, mas ela agarrou o pulso dele, o impedindo de continuar.
- Ah, você não sabe? Talvez porque tenha rido demais de tudo o que estavam falando.
- Rosie, eu nem sei o que aconteceu. Você poderia me explicar? - Ele pediu.
- Odeio quando se faz de idiota. - Ela largou com força a mão dele e foi saindo.
Ele a segurou pelo braço, ela foi dar um golpe para se soltar, mas ele a prendeu com um paredão de pedra bem alto, arrancando alguns pedregulhos com o choque.
- Você pode estar bem alimentada, mas eu ainda sou mais forte que você. Porque fugiu?
- Todos estavam contra mim, me chamando de nervosa, que eu era o erro da casa, e aquele cachorro...
- O que ele disse eu ouvi, e ia quebrar todos os seus ossos, se Esme não tivesse me impedido. Agora, o resto? Foi mesmo motivo pra você sair de casa desse jeito e gritar com Carlisle?
- E O QUE É QUE VOCÊ SABE? VOCÊ MESMO DISSE QUE NÃO ESTAVA LÁ!
-EU NÃO ESTAVA E VOCÊ SABE DISSO! - Ela olhou com os olhos arregalados para ele. - Rosie, com certeza ninguém da nossa família...
- Eles não são minha família!
- São sim! Ninguém deles deve ter falado algo tão ruim quanto o lobisomem, porque todos te amam. Você é nervosa e todo mundo sabe disso, inclusive você. Mas Alice é compulsiva e tem delírios. Jasper é perigo constante. Edward é o mais fraco, se entregaria à qualquer sinal de risco que pudesse estar. Eu sou submisso demais. Todos tem defeitos e ninguém foge deles. Não é vergonha nenhuma. Mas você enfrentou o cara que te salvou e te acolheu por todos esses séculos, como se fosse filha dele. Você se deixou influenciar e fez coisas erradas. Matou inocentes. Rosalie! Pare de agir como se estivesse entregue ao seu passado! - Ele exclamou e a soltou. Ela caiu sentada no chão, querendo chorar.
- Desculpa! Desculpa, eu não queria fazer isso. Mas eles disseram a verdade e você mais do que ninguém sabe que não posso mudar, nem que eu tente! E meu passado me assombra sim. Meus maiores desejos escaparam das minhas mãos como pó e eu não posso ter nada. Eu não posso ser alguém melhor, não posso mudar...
Emmet se abaixou na altura dela e a olhou nos olhos.
- Ninguém quer que você mude, ursinha! Seu nervosismo é a sua marca original. É o que te faz ser você, que te faz ser tão querida. Rosalie, você é a pessoa mais fofa quando quer, a pessoa que se importa com todos, que cuida de todos. E o mais importante: é aquela que eu escolhi pra ficar comigo durante toda minha existência justamente por ser quem é. Por favor, vamos voltar?
- Não sei se posso.
- É claro que pode. E se não quiser voltar agora, podemos ir pra nossa casa, quando estiver com vontade, voltamos para lá e você se desculpa. O importante é voltar e se arrepender.
- Já me arrependi, mas não estou pronta pra me desculpar.
- Vem, ursinha. Vamos pra casa e para com esse drama, certo? Enterra o seu passado. Por mim. - Ele pediu e estendeu a mão para ela, como um cavalheiro, ajudando-a a se levantar. Ele sorriu, com todo aquele ar de infantil que ele preservava e deu as costas para ela, ainda de mãos dadas, para caminhar de volta para a pequena casa que eles tinham próximo à clareira na floresta de Forks.
- Em? - Ela chamou.
Emmet se virou.
- Eu amo você. Mais do que eu sabia que poderia amar alguém.
- Eu não disse que você era fofa? - Ele riu, apertando as bochechas dela e a beijou.
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