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História Before... - As lembranças são fotos


Escrita por: naalisaiph

Notas do Autor


Mas cês viram que eu mudei a sinopse? Eu odiava aquela, não tô 100% satisfeita com essa, mas tá melhorzinha.

Capítulo 5 - As lembranças são fotos


O barulho alto. 

O choque do meu corpo com todo aquele metal. 

A solidão.  

A solidão assustava. Eu gritava sozinho — pelo menos eu acho que gritava — eu chorava sozinho, eu pedia que alguém viesse.  

E era tão frio! Como podia fazer tanto frio? Quase não nevara naquele dia, mas estava tudo tão gelado enquanto eu esperava para morrer, porque eu não acreditava que sairia dali. Parecia tão irreal quanto qualquer conto de fadas. E eu esperei. E eu chorei. E então alguém apareceu para me ajudar.  

 

Acordei com as lágrimas molhando meu rosto. Minhas mãos tremiam sem parar. Eu chorava assustado enquanto abraçava minhas pernas e pegava o celular discando o número já conhecido. Mas ele tocou e ninguém atendeu.   

Yuta não apareceu por vários dias. Mais precisamente duas semanas. Sem aparecer no nosso apartamento, sem mensagens, sem ligações. Temi que ele tivesse se cansado e tivesse ido embora.  

Ele sempre foi inconstante e difícil de entender. As vezes ele chegava em nossa casa e mudava todos os móveis apenas porque estava cansado da mesmice. Às vezes Yuta me acordava 4 horas da manhã para irmos até outra cidade de carro e voltar a noite. Ele dirigia animado enquanto uma música animada tocava no som do carro. E mesmo que chegássemos em casa exaustos, ele parecia feliz. Talvez Yuta tivesse medo de parar, como se algo fosse pegá-lo se ele ficasse parado por muito tempo. A inconstância de Yuta era parte dele. A inconstância de Yuta também me fazia sofrer. 

 

Não tinha passado das cinco da manhã, mas fui para meu apartamento com esperança de ver Yuta lá, mas ele não estava. Era tudo tão quieto e sem vida. Por um momento, até eu ligar o disjuntor e acender as luzes, aquele lugar não parecia meu. Era desesperador porque era o único lugar desde que tudo aconteceu que eu me sentia minimamente bem. Mas a sensação foi passando quando me sentei em frente ao piano e tentei tocar alguma música. Tentei as mais fáceis, as difíceis, qualquer uma, mas não tive sucesso. A música não saía. Então peguei o celular e tentei ligar para Yuta de novo. 

Só mais uma vez... Só dessa vez. 

E apesar de saber que ele não atenderia, eu esperei.  

— Eu vou desistir de você! Por que nunca me atende? Por que você sempre me deixa? — eu disse quando caiu na caixa postal, mas apaguei a mensagem antes de ser enviada. 

Fui para o corredor. A porta à esquerda era o banheiro, a porta à direita era um escritório meu e de Yuta e a porta no final do corredor era o nosso quarto. Entrei no escritório e sorri. Estava quase tudo do jeito que deveria, a não ser por algumas poucas coisas de Yuta que não estavam mais. Na parede da esquerda tinha uma estante com livros velhos que íamos acumulando, na outra parede uma mesa em L com duas cadeiras — com rodinhas, porque Yuta não conseguia ficar parado. Eu ainda lembrava como era antes. Livros jogados, papéis das balas favoritas de Yuta, trabalhos da faculdade. Agora não tinha mais tantas coisas. Só alguns livros e cadernos — todos meus que foram deixados ali acumulando poeira. 

Abri as janelas e deixei que a luz quente entrasse pelo cômodo que provavelmente não tinha sido muito iluminado no último ano e meio. Sentei na cadeira em frente à mesa e peguei um dos poucos cadernos de Yuta que foram esquecidos. Yuta adorava escrever. Fazia reflexões sobre seu dia, sobre as aulas chatas, fazia desenhos. Ele desenhava muito bem.  

Em uma das folhas com data de três anos antes, em maio, tinha um desenho de mim. Eu lembro quando ele tinha feito aquele desenho. Tínhamos um monte de coisas da faculdade para fazer, estávamos em época de prova, mas Yuta parou tudo para me desenhar. 

— Não posso perder essa oportunidade! — disse pegando o lápis e o papel. 

"Ji Hansol, para você todo o amor que existir em mim. Para mim, toda a alegria que eu puder te dar. Para nós, toda a eternidade que conseguirmos alcançar" estava escrito em baixo do desenho. 

Era um dia completamente igual aos outros, mas Yuta viu algo de diferente que sentia precisar registrar. Eu nunca pude conhecer mais do que se escondia nos pensamentos de Yuta. Às vezes, ele era absurdamente triste. Foram muitas as noites que fiquei acordado abraçando-o enquanto ele se deixava chorar. Ele nunca sabia bem o motivo para chorar. Eu queria sempre ser o suficiente para ele, mas nunca era, eu nunca fui o que Yuta precisava e eu achava que ninguém poderia ser, mas em outras vezes... Outras vezes, Yuta era a pessoa mais radiante que eu conhecia, era como fogos de artifício e a beleza em cada pequena coisa no mundo.  

Enquanto Yuta registrava por desenhos, eu registrava por fotos. No alto da estante tinha uma caixa verde clara que eu guardava todas as fotos que eu tinha mandado revelar. Quase deixei a caixa cair sobre mim, estava pesada e eu não lembrava de ter tanta dificuldade para carregá-la. Coloquei a caixa em cima da mesa tentando afastar qualquer um daqueles pensamentos que me levariam a chorar novamente. 

Por volta de dezembro e janeiro do primeiro ano em que estávamos morando juntos, fiz uma série de fotos sobre nosso cotidiano. Era o período de férias e, como não tínhamos muito dinheiro na época, acabávamos ficando o tempo todo dentro do apartamento. Algumas vezes saíamos para o parque cheio de neve. No meu aniversário Yuta tinha me dado uma câmera analógica. Todas as fotos eram em preto e branco. O filme estava mais barato e a revelação em preto e branco — que era tão difícil de encontrar quanto o filme — estava com um preço um pouco melhor. Vi cada foto, uma por uma. Gostava de tirar fotos quando Yuta estava distraído, como quando ele assistia televisão jogado no sofá ou quando estava falando enquanto cozinhava. Uma delas, era quando Yuta estava fazendo ramyeon — por pura preguiça nossa — e, depois de escutar o barulho da câmera, ele se virou e sorriu, então dei o segundo clique. Yuta nunca posava para mim, depois dos primeiros dias achando aquilo estranho, ele passou a me ter tirando fotos dele algo completamente normal então nem ao menos parava de fazer as coisas para que eu tirasse as fotos, o máximo que ele fazia era olhar rapidamente para mim. 

Minha foto favorita tinha sido tirada em uma manhã particularmente fria. Eu estava sentado na poltrona que tinha no quarto, perto da janela fechada e Yuta estava deitado na cama embaixo de algumas cobertas. Enquanto eu ajustava as configurações da câmera, Yuta olhou para mim completamente sério. 

— Eu te amo. 

— Por que você me ama? — perguntei e bati uma foto. 

— Porque todos os dias você me salva de um jeito diferente. 

Então por que não foi o suficiente para você ficar? 

Eu quis gritar, quis que ele estivesse naquele cômodo para que eu colocasse a culpa de tudo nele, para que eu o xingasse e dissesse que o odiava, mesmo que fosse mentira. 

Eu estava cansado de chorar, de sentir que memórias como aquelas machucavam tanto. Guardei a caixa no lugar onde estava, fechei a janela e tranquei a porta ao sair. Olhei para a porta do quarto parando em frente a ela, mas não consegui entrar. Minha mão tremia sobre a maçaneta sem conseguir fazer aquele único movimento. Então desisti. Tentaria em outro dia, um dia que eu me sentisse mais preparado para aquilo. 

Voltei a desligar o disjuntor, coloquei o pano sobre o piano novamente e respirei fundo antes de ir para a faculdade. 

 

Algumas aulas tinham sido canceladas e eu me preparava para ir embora quando uma mensagem do Ten chegou em meu celular. 

"Oi, hyung, estamos na sala de treino. Seria legal vir aqui". 

Todo aquele tempo eu não tinha voltado para aquela sala onde eu passava uma boa parte do meu tempo antes do acidente. Eu nem lembrava do lugar. Aquela época do ano, meio de setembro, era uma das épocas que eu mais praticava para as apresentações no começo do outono.  

Respirei fundo e entrei na sala de pratica da faculdade. Ten e Taeyong tentavam explicar um passo para Doyoung enquanto Jaehyun ria descontroladamente dos três. Eu sabia aquele passo, tinha o feito várias vezes. Era complicado no início, mas depois ficava mais fácil.  

— Doyoung, não seja burro! — reclamou Taeyong — Dois passos depois você vai para o lado. 

— Não me chame de burro!  

Ten me viu e correu até mim, me puxando até eles. Joguei minha mochila no canto da sala e sorri.  

— Hansol-hyung sabe essa coreografia, não é? — disse Jaehyun me colocando de frente para o espelho que tomava toda a parede. 

— Eu não sei se me lembro bem.  

— Vamos só tentar — disse Taeyong ficando ao meu lado.  

A música começou e fiquei feliz de conseguir me lembrar de quase tudo. Taeyong e eu entramos em sincronia. Os movimentos que envolviam mais os movimentos dos braços e do tronco não eram tão difíceis, mas na parte que exigia mais dos movimentos das pernas eu me esforçava muito para fazer. Até que minha perna direita começou a doer e eu perdi o equilíbrio, caindo no chão de uma vez só. 

— Eu estou bem — disse quando todos se aproximaram — É minha perna... Não é mais como antes. 

— Está doendo? — perguntou Ten sério se sentando ao meu lado no chão. 

— Um pouco. Sempre dói, na verdade. 

— Não foi uma boa ideia, não é? Sinto muito, hyung — pediu Jaehyun me ajudando a levantar. 

— Eu quero tentar mais uma vez — eu disse tirando o casaco e me alongando. Todos olharam para mim e eu sorri — Eu vou ficar bem, só quero tentar. 

— Vamos devagar dessa vez, ok? 

Passamos os passos sem a música dessa vez, mais devagar. Quando terminei, quase me joguei no chão pelo cansaço. Eu não dançava tão bem quanto antes, meus movimentos eram menos intensos e mais curtos, sem contar que eu estava mais lento, eu não tinha nem metade da força de antes. Eu me sentia frustrado.  

— Não fique assim, Hansol — disse Taeyong. 

— Vocês ainda estão aqui no mesmo horário de antes? — perguntei.  

— De terça a sexta depois das aulas — disse Ten. 

— Eu não vou poder me apresentar com vocês. Eu fui horrível, mas seria legal treinar de novo.  

Taeyong me abraçou animado. Eles começaram a me passar uma coreografia nova, menos intensa. Hora ou outra eles paravam para perguntar se estava tudo bem continuar e eu apenas assentia e continuava apesar da dor.  

— Você não deveria falar com seu médico sobre isso? — perguntou Jaehyun quando eu tive que fazer uma pausa — Não pode voltar de repente. 

— Eu vou falar. Não tem problema um pouco de exercício.  

Ficamos um tempo em silêncio enquanto bebíamos água. Eu sabia que eles estavam preocupados comigo, mas eu não queria a preocupação deles. Ter a preocupação de todos eles, mesmo sendo mais novos que eu, era incomodo. 

—Hansol... Você está bem? — perguntou Ten, não era sobre minha perna ou se eu estava cansado. Eu assenti me levantando e voltando a fazer os movimentos que eu não conseguia muito bem. 

Um tempo depois a porta da sala se abriu e Youngho entrou correndo. 

— Desculpa, eu sei que eu estou bem atrasado — disse jogando a mochila no canto.  

— Youngho, está atrasado de novo! — disse Ten batendo nele. 

— Foi mal — ele se virou para mim e sorriu — Oi, Hansol. Não sabia que também dançava. 

— Hansol era... 

— Eu era o maior espectador do grupo deles — menti interrompendo Doyoung — Eu não danço muito bem, mas tento.  

Doyoung ia desmentir, mas Taeyong deu um tapa fraco em seu ombro para que calasse a boca. Eu não queria explicar porque eu não dançava mais como antes, porque eu me afastei da dança, porque os meus movimentos estavam tão ruins e tudo mais. 

Eu deixei que eles treinassem em paz enquanto eu os assistia. Eu sentia saudade daquilo e nem tinha me lembrado que sentia, não me lembrava que gostava tanto da dança.  

Yuta quem tinha me convencido a fazer algumas aulas de dança quando tínhamos onze anos. Mesmo quando Yuta foi para o Japão eu continuei as aulas e depois que conheci os outros, fizemos um grupo apenas por diversão. As vezes conseguíamos algum dinheiro com isso. Yuta assistia todos os nossos ensaios e as vezes participava de uma ou outra coreografia que ele gostasse.  

Depois que o ensaio terminou, apenas de noite, saímos para um bar próximo ao campus. Sentamos na mesa e Jaehyun se ofereceu para pegar algo para bebermos.  

— O que vão querer? — perguntou. 

— Soju! — pediu Ten e Doyoung. 

— Cerveja — pediu Taeyong. 

— Eu não bebo. Só quero um refrigerante — disse Youngho.  

— Para mim também — eu disse mesmo que fosse óbvio. 

Jaehyun puxou Taeyong para ajudá-lo a pegar o que tínhamos pedido. 

— Você também não gosta de beber? — perguntou Youngho sentado ao lado de Ten. 

— Hansol não pode beber — disse Ten sendo acertado por mim e por Doyoung por baixo da mesa. 

— Eu... Eu tomo alguns remédios. Não é legal misturar. 

Além de alguns remédios para as dores constantes, também tomava ansiolíticos e antidepressivos. Um pouco de bebida alcoólica poderia ser perigoso, coisa que foi dita pelo meu médico e enfatizada toda consulta. 

— Eu só não gosto muito. Não faz meu estilo — disse Youngho. Agradeci mentalmente por ele não perguntar as funções dos remédios que eu tomava. 

Jaehyun e Taeyong voltaram se sentando um ao lado do outro. O número de garrafas sobre a mesa foi aumentando enquanto conversávamos e os quatro ficavam mais animados.  

— É melhor irmos embora — disse Youngho quando Taeyong começou a falar coisas sem sentido enquanto abraçava Jaehyun e Ten e Doyoung estava deitado sobre a mesa rindo um pouco. 

Saímos do bar e fomos para a casa de Taeyong que era mais próxima do que as outras. Liguei rapidamente para meus pais para dizer que não iria para a casa e ficaria para cuidar dos outros. Eu já os tinha visto bêbados algumas vezes. Definitivamente eles iriam precisar de mim. 

— Pode ir embora — eu disse para Youngho quando os quatro se acomodaram no chão da sala — Eu fico com eles. 

— Precisa de companhia — disse se sentando ao meu lado no sofá e pegando o celular — Além do mais quero filmar eles.  

O primeiro vídeo foi de Ten chamando Youngho para irem para casa. Ele se levantou do chão de repente e tentou puxar Youngho. 

— A gente tem que ir para casa, Johnny! — disse fazendo esforço para tentar levantar o mais alto. 

— Hoje você vai dormir aqui na casa do Tae — disse Youngho tentando controlar o riso.  

E depois sentou no chão colocando a cabeça sobre o colo de Youngho até dormir de novo. Doyoung começou a falar sozinho sobre algo que não entendemos bem, mas filmamos do mesmo jeito.  

— É legal filmá-los bêbados — disse Youngho — Toda vez que a gente sai é material para mais de uma semana. 

— Geralmente era eu a estar bêbado quando saíamos juntos então eu era a ser filmado — eu disse. 

Eu não era de beber muito, mas as vezes era legal apostar com os outros quem bebia mais. Eu não precisava me preocupar se apenas uma garrafa poderia me fazer ficar completamente louco ou se eu bebesse uma quantidade eu poderia entrar em coma. Mas de qualquer forma eu não sentia vontade de beber. 

Quando Taeyong acordou, se sentando no chão e tentando conversar com a gente, Youngho começou a filmar. Ele tinha uma expressão quase infantil de confusão quando começamos a rir. 

— Johnny! Para com isso. Você tem que prestar atenção no que eu estou dizendo — disse Taeyong irritado e se virou para Jaehyun o sacudindo — Jae, eles não me escutam. Jae, eles estão rindo de mim.  

Jaehyun assentiu puxando Taeyong e o abraçando pelo pescoço. Taeyong se desvencilhou do abraço de Jaehyun e se sentou novamente enquanto eu e Youngho riamos.  

— Yuta! — gritou — Olha o Hansol, ele está rindo de mim! Yuta, seu japonês idiota vem aqui — então ele ficou em silêncio e olhou para baixo demorando alguns segundos assim até olhar para mim de novo — Eu sinto muito, Hansol... Eu pensei que ele estava aqui. Yuta, aquele filho da puta! Desculpa por isso também. Eu sinto falta do Yuta. Você sente falta dele também, não é? Você nunca fala do Yuta, Hansol. Por que nunca fala dele? 

Youngho ia parar de filmar quando percebeu que eu não ria mais. Peguei o celular e continuei a filmar. Não sabia por quê, mas o fiz, talvez pela irritação e frustração, para ter algo para gritar com ele quando estivesse sóbrio. 

— Hansol... — Youngho tentou falar alguma coisa, mas fiz sinal para que ficasse quieto. 

— Você nem ligou para quando ele foi embora, não é? E continua sentindo pena de você mesmo. Ele deveria estar aqui agora para te xingar. Eu sinto falta do Yuta, sinto falta de você — Taeyong começou a chorar — Você não liga para mais nada! Eu sei que você sofreu, mas você não quis ninguém perto. Eu quis te visitar no hospital, quis cuidar de você, mas você afastou a gente. Você está afastando todo mundo não importa o quanto a gente tente! — ele se deitou ao lado de Jaehyun o abraçando enquanto chorava.  

E voltou a dormir. Eu parei de gravar e entreguei o celular para Youngho. Ficamos em silêncio por um bom tempo até Youngho afastar Ten com cuidado e colocá-lo deitado no chão, se levantando em seguida e me chamando com um sorriso. 

— Vamos, eu faço chá para você. 


Notas Finais


Obrigada por ler!


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