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História Before... - O passado é o choque


Escrita por: naalisaiph

Notas do Autor


Para ser honesta, eu estou um pouco desanimada, mas eu estou me esforçando para continuar, já que dessa vez não me sinto bloqueada a escrever.

Capítulo 6 - O passado é o choque


Youngho se sentou na minha frente depois de me entregar uma caneca com chá. Estávamos um de cada lado do balcão da cozinha, eu tentava prestar atenção apenas na sensação do frio da pedra de mármore e o calor da caneca de chá entre minhas mãos. O silêncio estava em toda parte naquela madrugada. Muita coisa passava pela minha cabeça rápido demais. Não só pelas coisas que Taeyong tinha dito. Taeyong sempre era capaz de rachar a estrutura que eu tinha construído, as palavras dele formaram uma rachadura nela e eu estava tentando encontrar um jeito de cobri-la ou ignorá-la.  

— Eu sei que quer perguntar — eu disse em voz baixa. 

— Mas eu não vou. 

— Por que? 

— Porque percebi que está escondendo algo e não é da minha conta.  

— Obrigado.  

— Taeyong não deve ter falado por mal. Ele está bêbado.  

— Eu sei. 

Não falamos mais sobre aquilo. Falamos sobre qualquer coisa, como as coreografias que eles estavam ensaiando, o que eu estava achando de voltar para a faculdade, como estava tudo... apenas para não pensar no que Taeyong havia me dito.  

O primeiro a acordar de manhã foi Ten que se sentou ao lado de Youngho. Entreguei um pouco de chá para ele e Ten bebeu tudo de uma vez.  

— Minha cabeça... Dói — disse deitando a cabeça sobre o balcão. 

Depois de Ten, Doyoung e Jaehyun acordaram. Taeyong continuou dormindo no chão enquanto eu e Youngho fizemos chá para os outros. Mostramos os vídeos de cada um e rimos deles.  

Taeyong surgiu na cozinha com uma expressão confusa. Youngho olhou para mim e serviu o chá para Taeyong também. Youngho e eu ficamos em silêncio enquanto os outros conversavam e brincavam sobre alguma coisa.  

— Vocês não filmaram o Tae? — perguntou Jaehyun.  

Youngho ia dizer que não, mas eu o interrompi pegando o celular dele sobre a mesa e colocando no vídeo, entregando nas mãos de Taeyong. Eles deram risadas até a parte em que Taeyong gritou o nome de Yuta. Seus sorrisos sumiram e eles olharam para mim. Ficaram em silêncio até o vídeo acabar. 

— Hansol, eu juro que não quis dizer isso. Eu estava bêbado.  

Levantei pegando minha mochila no chão da sala e colocando meus sapatos no hall de entrada.  

— Hansol... 

— Eu vou indo, ok? Eu estou com sono e preciso ir.  

Youngho pegou suas coisas e me seguiu, mesmo que eu dissesse que não precisava. Andamos em silêncio até eu começar a chorar no meio da rua e Youngho me arrastar para um parque ali perto para nos sentarmos em um banco de concreto. Eu chorava pela raiva. Eu queria brigar com Taeyong, dizer que ele não sabia de nada do que eu passei, queria dizer que ele não podia saber o quanto tudo aquilo me afetava nem como Yuta tinha partido meu coração. Principalmente queria dizer que ele não sabia sobre a situação toda, que ele não conhecia as coisas que tinham acontecido naquela época. Mas seria mentira. Taeyong sabia de tudo, dependendo até mais do que eu.  

Não me importei com Youngho ao meu lado e liguei para Yuta, não sendo atendido de novo. Quis jogar o celular no pequeno lago a minha frente, mas antes que eu fizesse isso, Youngho tirou o celular da minha mão.  

— Está melhor? — eu assenti limpando meu rosto — Quer alguma coisa? 

— Estou com fome. 

— Vamos comer alguma coisa e depois você vai para casa, ok? 

Fomos até uma barraca de comida ali perto, pegamos qualquer coisa para comer e voltamos a sentar no banco em silêncio.  

— Sabe... Eu tinha uma vida completamente diferente da que eu tenho hoje — disse Youngho — Eu deixei muita coisa para trás e tive que aprender a seguir em frente. Nem sempre foi fácil, eu quis voltar tudo para o jeito que era, mas eu não podia. Quis consertar tudo que eu fiz. Mas não é assim que funciona. Ou eu seguia em frente ou deixava as coisas me consumirem. Com todo mundo é assim. Você passou por coisas, Yuta também, Taeyong e os outros também. Eu não preciso conhecer a situação, ou conhecer você há muito tempo ou conhecer Yuta, para saber que cada um tem sua história. Eu não faço ideia do que passou, mas... Sei que está ressentido com o Tae e ele deve ter algum motivo para falar aquelas coisas, então conversem. Ele é seu amigo e gosta muito de você.  

No mesmo instante, meu celular começou a tocar e o nome de Taeyong apareceu na tela.  

— Ele acha que sabe pelo que eu passei... Ele sempre acha que sabe das coisas. 

— Às vezes você só precisa dizer que ele não pode saber de tudo. Ninguém disse que a vida é fácil, Hansol. Aprender isso é o primeiro passo para não se deixar levar ao fundo do poço. 

Por um momento, Youngho me lembrou Yuta falando. 

"As lágrimas que derramamos não vão voltar. São memórias. E você escolhe se quer aprender ou se deixar destruir por elas" Yuta tinha dito da última vez que nos vimos. 

— Eu tenho saudade da minha vida de antes — eu disse depois de alguns minutos — Queria poder voltar todo esse tempo e ter tudo do jeito que era. 

— Mas você não pode. Se eu pudesse, voltaria para quando tinha 15 anos — Youngho sorriu olhando para o pequeno lago — Eu era tão feliz! Eu fazia mil e uma coisas e estava sempre cansado, mas era tão bom! Eu morava em Chicago, depois da escola alguns amigos e eu íamos para um parque e treinávamos dança até o Sol sumir. Se eu pudesse voltar no tempo, eu voltaria para aquela época, não porque não aproveitei, mas porque gostaria de viver de novo.  

— Eu voltaria para a época que Yuta voltou para mim — eu disse mais para mim mesmo do que para Youngho — Para a época em que nos mudamos para nosso apartamento e que éramos felizes.  

— Vocês eram felizes, não é? — perguntou Youngho com um sorriso. 

— É... Boa parte do tempo eu achei que éramos felizes — a minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia — A gente teve que pintar as paredes porque o apartamento era velho. E eu estava tão cansado quando terminamos, mas estava feliz porque foi divertido. Eu não tinha noção de quanto eu tinha me divertido naquele dia. 

— Pronto, viu? Acabou de reviver aquele dia. Você não pode ter mais nada igual ao que foi, Hansol, porque os momentos em nossas vidas são únicos. Como agora. Estamos vivendo um momento único, mesmo que não pareça, mesmo que nós esqueçamos no futuro. O hoje é único. Por isso temos as memórias porque nada volta, Hansol. Nada. 

— Isso é triste. 

— Isso é maravilhoso! Qual seria a graça de viver sempre as mesmas coisas? Os momentos não teriam importância nenhuma — ele tinha um sorriso que me fez sorrir também — Seja lá o que Yuta fez para você, ou você fez para Yuta ou vocês fizeram um para o outro, tem que saber que o tempo passa e se dói agora, uma hora a dor se transforma em algo menos pesado de se carregar. 

— Eu amei Yuta minha vida inteira — eu disse — E ele me deixou. Tem ideia disso? Às vezes eu queria esquecer que ele existiu ou pelo menos conseguir fingir.  

— A vida seria mais fácil se pudéssemos apagar quem nos machucou, mas não é desse jeito que a vida funciona. Nem tudo é sobre o que você quer. 

E eu gostei de ouvir aquilo. Liberdade demais assustava e eu não tinha liberdade demais. Eu não podia mudar o que aconteceu comigo, eu não podia voltar no tempo, eu não podia fazer com que Yuta ficasse comigo para sempre. Eu não podia continuar sempre no mesmo lugar.  

Depois que saímos do parque e antes de nos separarmos, Youngho sorriu. 

— Apareça na terça-feira no ensaio. Vai ser legal que esteja lá. E converse com o Taeyong.  

Eu assenti e o vi se afastar. De vez ir direto para casa, fui primeiro para o apartamento. Aquele lugar precisava de uma limpeza e foi isso que eu fiz. Arrastei os móveis, tirei o pó, limpei cada canto daquele lugar. Fui até a cozinha e joguei fora algumas coisas fora da data de validade que haviam sido esquecidos por minha mãe alguns meses antes. O aspecto abandonado foi embora depois de algumas horas de limpeza.  

Achava um desperdício de dinheiro continuar a pagar as contas dali e ninguém o usar, mas meus pais eram irredutíveis quanto a isso. Meu plano era poder voltar aos poucos para lá, assim nem eles nem Taeil reclamariam. E no dia que eu conseguisse entrar naquele quarto e mexer em tudo eu voltaria definitivamente para minha casa. 

Quando eu terminei, sorri satisfeito pelo trabalho acabado e pude me despedir do lugar indo para a casa dos meus pais logo no final da tarde. 

 

— É um bom plano, Hansol — disse Taeil quando contei sobre meu plano de voltar a morar sozinho.  

— Sério? 

— Sim. Acho que se conseguir entrar naquele quarto já estará pronto para voltar para seu apartamento. Você gosta de lá? 

— Muito. Ali é meu lar. 

— Então se dedique a melhorar para poder voltar ao seu lar, mas não tenha pressa, você tem todo o tempo do mundo — ele deu uma pausa e se ajeitou na poltrona maior — Quer falar alguma coisa sobre o acidente? O que te disseram quando acordou? 

— Disseram que não foi minha culpa. Disseram que... Eu entrei em choque e não pude impedir.  

Disseram que o acidente não tinha sido causado por mim. Eu não tinha bebido, eu não usava drogas, eu não estava com sono, eu prestava atenção e os pneus eram os certos para o tempo de quase neve, o carro também não tinha nenhum problema. O problema foi o outro motorista que perdeu o controle do carro e bateu no meu, fazendo o meu veículo, que era pouca coisa menor, ser jogado em uma ribanceira ao lado da estrada. O carro talvez tenha girado uma dezena de vezes até parar e o silêncio dominar tudo. Devem ter dito umas três ou quatro vezes que, segundo a perícia, meu acidente foi um em um milhão. Não era para ter acontecido daquele jeito.  

Me disseram que o outro motorista estava bêbado, mal conseguindo andar direito, disseram que ele entrou em desespero quando percebeu o que tinha feito. Eu nunca vi quem fez isso, muito menos sabia o nome dele. E eu pretendia não procurar. O processo correu nos primeiros meses da minha recuperação, meus pais acompanharam todo o caso e as audiências. Eu não sabia nada sobre ele, não sabia se tinha ficado preso ou tinha sido solto algum tempo depois do processo acabar, se tinha morrido, se sabia do estado que eu fiquei. A única coisa que eu soube foi que ele pagou uma indenização grande além de pagar toda a conta do hospital, um acordo proposto pelo próprio advogado dele. Meus pais guardaram essa indenização e usavam para pagar as contas do apartamento (que não eram muitas já que ninguém usava) e alguns outros gastos necessários. 

Não importava quantas vezes dissessem que não era minha culpa, que não era eu o responsável por aquilo tudo. Eu sabia que era. Mas falar sobre aquilo desenterraria mais coisas, machucaria mais e mais então eu apenas dizia que entendia. 

— O que você sente em relação à essa pessoa? — perguntou Taeil. 

— Eu... Eu não posso dizer que não sinto nada, mas não sei bem o que sinto. Não tenho sentimentos de perdão e não costumo pensar nessa pessoa. Acumular ódio por alguém não me fará bem.  

— Isso é um começo, Hansol. Ninguém pode te julgar por não querer perdoar essa pessoa.  

Assim que saí de lá, fui para o consultório do meu médico ortopedista. Era uma segunda-feira, mas tinha faltado as aulas apenas para isso, já que ele só poderia me atender em um horário muito especifico.  

— Como estão as dores? Tem dificuldade de andar? — perguntou enquanto me examinava. 

— Não, eu estou andando bem — ele sorriu e anotou alguma coisa em um bloco de notas — Eu queria saber se posso voltar a dançar? Eu tinha te dito, se lembra? Eu dançava e isso realmente me ajudaria.  

Ele pareceu ponderar e continuou anotando algumas coisas depois lendo outras. 

— Tem que tomar cuidado. Nada de praticar muitas vezes, nada de parar os remédios e se sentir dor intensa é para parar na hora, Hansol.  

— Então eu posso voltar? 

— Sim, pode fazer bem para seu coração e para seus pulmões, mas sem exagerar, ouviu? Vá com calma. 

Eu saí do consultório um pouco mais animado do que entrei. Mas no segundo seguinte uma nova onda de tristeza me abraçou e eu me sentia horrível sem motivo nenhum. Sentia como se meu coração fosse quebrado em mil pedaços e separados em cada canto do mundo para que eu não os encontrasse tão facilmente. Eu sabia que toda minha luta se resumia a isso: tentar juntar todos os pedaços do meu coração até que ele estivesse inteiro de novo. As vezes eu tinha a esperança de conseguir, as vezes eu achava que só conseguiria reunir metade dos pedaços. E outras vezes eu me achava incapaz de conseguir encontrar qualquer pedaço do meu coração.  

"Seu caminho é longo e nem sempre vai ser fácil" foi o que Taeil me disse uma vez. Eu o achava mais longo e mais difícil do que eu conseguia suportar.  

Quando cheguei na casa dos meus pais e me joguei na minha cama, tentei ligar para Yuta, ignorando as chamadas de Taeyong dos últimos dias.  

Primeiro toque. 

Segundo toque. 

Terceiro toque.  

Eu queria falar com Yuta apenas uma vez. Eu me sentia mal e a vontade de chorar me consumia a cada toque impaciente do telefone. 

Quarto toque. 

E Yuta não atendeu. Joguei o celular na mesa ao lado da cama e me enrolei nas cobertas para dormir rezando para sonhar com Yuta, sonhar com seus sorrisos que eu tanto amava, com o jeito que ele me beijava, sonhar com nossos bons momentos. Porque parecia que eu só tinha isso agora. 


Notas Finais


Obrigada por ler ^^


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