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História Before... - Fingir é desgastante


Escrita por: naalisaiph

Notas do Autor


Eu tô que nem o mestre dos magos, apareço de vez em quando, jogo as coisas e depois sumo.

Also, Spirit adicionou a categoria UNB, amém

Capítulo 8 - Fingir é desgastante


Quando acordei estava em meu quarto. O celular mostrava que já eram 3 horas da manhã. Eu tomei um banho demorado e frio enquanto pensava nos meus surtos naquele dia. Primeiro com Youngho, depois com Taeyong, depois com meu pai. Eu tinha que pedir desculpas para eles.

Não era como se eu conseguisse controlar aqueles sentimentos. Eu queria gritar, quebrar qualquer coisa que eu visse pela frente. Me sentia sufocado ao ponto de quase não poder respirar direito. Era como se eu carregasse toneladas em minhas costas todos os dias.

Eu nem ao menos me lembrei que era de madrugada e liguei para Taeyong.

— Quem é? São três da manhã! — disse nervoso.

— Desculpa, Tae.

— Hansol?

— Desculpa, eu fui um idiota. Você não tem que me aguentar surtando. Eu só... Me sinto frustrado. Não tinha que dizer aquelas coisas daquela forma.

— Está tudo bem. Eu sei que não tem sido fácil para você. Só aceite que a gente te ajude. Então... Amanhã não se atrase para o ensaio. Ten vai te colocar em alguma coreografia, ok? Esteja lá. Você é importante, ouviu? E vamos continuar te enchendo o saco até depois de você melhorar, então não ache que vai fugir.

Era aquele o jeito de Taeyong dizer que as coisas ficariam bem e que ele também sentia muito. Eu tentaria pensar menos naquilo. Eu não poderia ser tão sensível toda vez que falassem sobre Yuta. Ele não era parte só da minha vida, era parte da vida de todos. Yuta não era só meu, ou melhor, ele não era meu.

 

Quando saí do meu quarto, logo de manhã, meu pai terminava de se arrumar.

— Saímos daqui a pouco, ok? — disse enquanto procurava suas chaves.

— Pai, eu sinto muito por ontem. Eu fiz o senhor lidar com uma situação ruim. Me desculpe.

— Não se preocupe, ok? Só vou encontrar minhas chaves...

— Não precisa. Eu vou sozinho hoje e durmo no apartamento. Passe a manhã com a mãe e a Joohyun.

— Tem certeza sobre isso?

— Tenho. Eu vou ficar bem. Eu vou aproveitar e organizar mais algumas coisas no apartamento.

Meu pai me abraçou e sorriu. Saí de casa e fui sozinho para a faculdade. Sentado no metrô, eu observei cada pessoa ao meu redor enquanto uma música tocava nos fones em meus ouvidos. O senhor sentado ao meu lado estava concentrado em uma conversa por mensagens em seu celular, três garotas a minha frente falavam animadas sobre alguma coisa e riam o tempo todo, uma mulher olhava para o vazio com uma expressão triste, um garoto olhava para a tela do seu celular tentando conter um sorriso que surgia em seu rosto. Eu ficava imaginando o que essas pessoas estavam pensando naquele momento, se tinham passado por coisas ruins e quanto isso afetava-as, se tinham tido amores não correspondidos ou desfeitos, se conseguiram superar um coração partido.

Saí do metrô e andei com calma até a faculdade. Subi as escadas e me encaminhei até minha sala ainda com os fones escutando alguma música agitada. Eu só tirei os fones quando me acomodei na minha cadeira e chamei Youngho que estava sentado em minha frente.

— Eu... Eu quero me desculpar por ontem — disse de cabeça baixa — Eu fui rude e você só queria me ajudar.

Youngho sorriu e bagunçou meu cabelo.

— Está tudo bem, Hansol.

— Ei, não faça isso! Eu sou mais velho que você.

— Ok, Hansol-hyung. Para se desculpar, você vai até uma confeitaria aqui perto comigo. Ten vai fazer alguns trabalhos até tarde e não pode ir, então você vai me fazer companhia.

Depois das aulas, Youngho não me deu tempo de fugir e me arrastou para a confeitaria. A fachada não era muito grande, era discreto, mas bonito. Eu tinha passado inúmeras vezes na frente daquele lugar e sempre prometia entrar para comer algum doce, mas nunca cumpria a promessa. Entramos e Youngho parecia uma criança animada olhando para a vitrine cheia de bolos coloridos. Ele pediu algumas fatias de sabores variados e nos sentamos em uma mesa próxima a janela.

 — Coma, Hansol. Você é muito magro. Um vento pode te levar — disse empurrando um prato para mim.

— Por que você é legal comigo? Eu fui um idiota e você mal me conhece.

— Eu te acho interessante — disse antes de colocar mais um pedaço de bolo na boca — E você é legal. Como hoje não teremos ensaio, vamos ter um dia divertido. Você está precisando, não é?

— E o que a gente vai fazer, Youngho? — perguntei comendo um dos bolos coloridos.

— Coma logo.

Continuamos a comer a quantidade absurda de doces ali até terminarmos e Youngho me puxar para fora da pequena loja. Fomos até a estação e pegamos o metrô. Eu olhava para as pessoas a minha volta quando chamei Youngho.

— Já se perguntou o que as outras pessoas estão pensando? — perguntei.

— Eu faço isso o tempo todo. Olha só aquela moça — disse apontando discretamente para uma moça não muito mais velha que nós que lia algum livro e parecia descontente — Ela deve estar brava porque o livro está no final e não está como ela esperava. "Esse protagonista é burro?" — disse imitando uma voz feminina me fazendo prender uma risada descontrolada com as mãos — Agora sua vez.

Eu olhei em volta quando parei de rir e indiquei duas garotas com uniformes colegiais que olhavam para a tela de celular de uma delas. Elas riam cobrindo o rosto.

— Estão falando de algum idol. "Oh, ele é tão lindo! Eu te amo, oppa" — disse fazendo minha melhor atuação.

Youngho diferente de mim, não tentou esconder a risada escandalosa dele e todos olharam para nós. Abaixamos a cabeça como um pedido de desculpas e pararam de nos olhar. Ele apontou para um senhor que tinha nos encarado e acabava de se virar com uma expressão nervosa.

— "Esses jovens idiotas! Ninguém mais tem respeito nesse país" — imitou Youngho com uma voz baixa e grave.

Antes que pudéssemos imaginar o que mais alguém dizia, a estação que desceríamos chegou. Andamos por algumas quadras até um shopping.

— Vamos assistir um filme! — disse Youngho animado.

— Qual?

— Qualquer um. Já fez isso? Assistir um filme qualquer, na sorte? — eu neguei e fomos até uma das maquinas. Youngho cobriu meus olhos com a mão — Aperte em qualquer um sem ver.

Eu toquei na tela e Youngho tirou as mãos dos meus olhos. Só verificamos a sala e que começaria dali alguns minutos. Descobrimos depois de vinte minutos que o filme era alguma refilmagem de um clássico de terror. Youngho sempre dava risada quando eu me assustava e cobria o rosto, mas ele próprio se assustou várias vezes. Toda vez que aparecia um corpo coberto de sangue, Youngho segurava meu braço com força e prendia um grito, resmungando em seguida que era culpa minha. Saímos do cinema rindo de nós dois e de como parecemos duas crianças assustadas.

Voltamos a pegar o metrô, quase vazio, de volta para casa.

— Se divertiu hoje? — perguntou jogado no banco com os olhos fechados.

— Sim, obrigado por hoje, Johnny. Fazia muito tempo que eu não fazia coisas assim. Foi muito divertido.

— Então está perdoado agora — disse sorrindo e abrindo os olhos — Eu também me diverti. Vamos fazer isso mais vezes, ok?

Eu assenti e nossa estação chegou. Nossa última parada foi em um café perto da estação. Eu pedi um cappuccino gelado e Johnny pediu um latte. Andamos mais algum tempo até chegarmos a parte do caminho em que nos separávamos.

— Quer que eu te acompanhe até em casa? — perguntou.

— Não. Eu não quero. É melhor ir. Ten vai ficar preocupado por não ter te atormentado por muito tempo — antes que ele se virasse, eu sorri — Obrigado de novo, Johnny.

— Obrigado também, Hansol. Nos vemos amanhã.

 

Antes de voltar para casa, passei em qualquer mercado e comprei alguma coisa para comer. 2 pacotes de macarrão instantâneo e duas latas de refrigerante. Eu só fui reparar que comprei tudo em dobro quando saí do mercado. Era só eu, não precisava comprar tudo em dois. Eu abri a porta do apartamento e senti aquela nostalgia incomoda. Lembrei das vezes que eu chegava em casa depois de Yuta e ele aparecia de algum canto indo direto para as sacolas que eu tinha trago, reclamando por eu não ter trago as malditas balas que ele gostava tanto.

Me demorei algum tempo naquelas lembranças até começar a me movimentar. Liguei a energia de tudo e os aparelhos, principalmente o ar condicionado que me fez sorrir ao funcionar.

Fiz meu macarrão, guardando o outro para comer em qualquer outro dia que eu voltasse a dormir lá, sentei no chão da sala e liguei a televisão que não era há muito tempo usada. Peguei meu celular e digitei o número já conhecido.

— Oi, Hansol. Pensei que me ligaria mais cedo — disse Yuta assim que atendeu.

— Senti saudade. Fui assistir um filme de terror hoje. Foi legal.

— Ah, eu odeio filmes de terror! Faz tempo desde a última vez que fomos para o cinema, não é?

— A gente nunca entrava em acordo em que filme assistir — eu disse rindo — E você não tinha paciência para assistir filme nenhum quieto.

— Você está bem, Hansol? Está melhor?

— Estou. Eu acho que estou. Me sinto estranho por estar bem.

— Isso é bom, amor. Não se sinta estranho.

— Às vezes eu fico lembrando das coisas que você me dizia — eu falei com um sorriso surgindo em meu rosto — Você me dizia coisas tão lindas, Yuta. As vezes idiotas, mas ainda assim lindas. Eu queria poder esquecer. Queria que no acidente eu tivesse perdido a memória.

— Isso é algo horrível para se dizer, amor.

— Eu sei. Eu ainda te amo, Yuta.

— Boa noite, Hansol — ele disse — Se tiver pesadelos, é por causa do filme que assistiu. É por isso que não gosto de filmes de terror.

— Boa noite, Yuta.

Ele fez silêncio, mas não desligou. A ligação durou por mais alguns minutos, mas nenhum dos dois falou alguma coisa.

— Tenha uma boa noite — e desligou.

Eu desliguei a televisão e me permiti admirar o silêncio. Não consegui terminar de comer, parecia que tinha se tornado impossível engolir. Onde estavam todos os sentimentos bons daquele dia? O que tinha acontecido com a pessoa que tinha acabado de dizer que estava bem?

Quanto de mim ainda queria aquilo? Queria insistir em ter uma vida melhor ou ter dias como o que eu tinha acabado de ter? O quanto de mim realmente se importava em ser feliz?

As coisas que tentava evitar veemente voltavam com tanta força que pareciam me esmagar. Cenas, vozes, palavras... Então a culpa, medo, dor e saudade me sufocavam. Parecia muito fácil que aquela estrutura construída ruísse. Ela me mantinha longe daquilo. Se eu não pensasse sobre aquilo, não tinha acontecido, eu acreditaria apenas em mim e no que eu queria. Mas eu não podia evitar sempre e era nesses momentos que eu queria me esconder e esperar ser capaz de fingir novamente.  



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