06 de dezembro de 2016 – 20h15
Basicamente, fanmeetings se resumiam a interações e brincadeiras com os fãs, portanto eram prazerosos de serem feitos. Taehyung reconhecia este fato, mas estaria mentindo se dissesse que dessa vez o evento não havia lhe sugado todas as energias. Estava verdadeiramente exausto.
Deitar na cama e apenas adormecer era, sem dúvida, a alternativa mais inteligente a ser colocada em prática no momento. No entanto, por mais cansado que estivesse fisicamente, a sua mente continuava a castiga-lo sem piedade, repassando em loop todos os acontecimentos da última semana. Os mesmos pensamentos que insistiam em atormenta-lo há dias.
As duras palavras do manager ressurgiam como uma assombração, fazendo com que o garoto revirasse na cama, carente de sossego.
Sentindo-se confrontado, Taehyung então desistiu de descansar – algo que seria impossível de ser feito enquanto não entrasse em um consenso com a própria mente. Estava decidido a solucionar aqueles problemas.
Deitou de barriga pra cima, confortando a cabeça no travesseiro macio. Deixaria os pensamentos livres para encontrarem o caminho que achassem melhor. Não queria mais interferir. Apenas se deixaria levar.
As primeiras memorias que surgiram tinham exclusiva relação com os momentos felizes e únicos que já dividiu com Jungkook. As lembranças vinham acompanhadas por sensações já conhecidas, quais faziam o coração aquecer, o sorriso alargar e as bochechas ruborizarem fraquinho.
Porém, logo em seguida foi o medo quem resolveu dar as caras.
Taehyung Ficava apreensivo mesmo só em pensar que poderia perder o privilégio de ter Jungkook ao seu lado, sendo mais do que um companheiro de grupo. Não queria abrir mão das emoções que só se manifestavam quando estava ao lado daquele Jeon, não queria fingir que os beijos e o calor do corpo dele fossem apenas uma diversão momentânea, porque não era. Era amor, um amor insuportável e irreversível. Por isso tinha tanto medo de que suas ações e reações acabassem privando-os de continuar vivendo aquele segredo tão proibido.
A última coisa que temia era se aventurar ao lado do namorado, mas, dessa vez, não podia colocar o amor deles em risco por tempo indeterminado. Tinha consciência de que não sairia vitorioso numa batalha contra a empresa. Dessa forma, foi levado até uma conclusão.
Sentou-se na cama num sobressalto, puxando levemente os cabelos entre os dedos. Respirou profundamente e assentiu, mordendo os lábios.
– Não me resta alternativa. – disse baixinho a si mesmo.
Colocou-se para fora da cama, enfiando os pés numa pantufa e caminhando cheio de determinação até a saída do quarto de hotel.
Sabia exatamente o numero do quarto onde Jungkook estava hospedado, portanto não hesitou em ir até lá. Precisava conversar sério com o garoto, fazê-lo entender o seu ponto de vista e acatar aquela decisão.
Deu três toques consecutivos na porta, fortes o suficiente para ser ouvido de qualquer canto onde o mais novo estivesse. Não demorou a ser atendido, o sorriso presunçoso do namorado o recepcionando.
– Imaginei que fosse você. – falou com bom-humor.
Taehyung adentrou o cômodo logo atrás de Jungkook, sem dizer nada, carregando uma expressão não tão entusiasmante quanto à do Jeon.
Sentaram-se na cama, um de frente pro outro, os olhos do Kim demoraram a encontrar os do Jeon, buscando uma parcela de coragem.
– Ei, o que foi? Está sem sono? – indagou o mais novo.
– Vim porque precisamos conversar. – disse sem encara-lo.
Jungkook suspirou audível enquanto digeria as palavras.
– Sobre o que o Sejin hyung disse àquela noite, não é? – perguntou retoricamente – Eu sabia que você estava pensando sobre isso, percebi que passou os dois últimos dias meio aéreo, preocupado. Eu também estive pensando no assunto. Quero dizer, você também acha que estamos sendo óbvios demais, hyung? Acha que devemos mudar algumas atitudes?
Taehyung assentiu rápido, tomando coragem para encara-lo nos olhos.
– Esse é justamente o ponto, Jungkook! Não é a primeira vez que recebemos uma bronca desse tipo, e não é a primeira vez que tentamos mudar, porque é claro que não queremos arriscar nossa carreira, muito menos o que sentimentos um pelo outro. Mas, infelizmente, mudar agora é inútil. Porque, querendo ou não, sempre voltaremos a cometer os mesmos erros. – explicou, precisando retomar o fôlego ao encerrar.
– Hyung – a voz de Jungkook soou como um misto entre a repreensão e o desespero – Não é verdade! Nós vamos conseguir passar por isso. Vamos ser mais prudentes de agora em diante. E vamos fazer isso juntos. Certo?
Taehyung projetou a cabeça de um lado a outro devagar, negando a contragosto. Para ele era doloroso demais ter que fazer isso.
– Você não ouviu o que o Sejin hyung falou? – perguntou, embora não esperasse por uma resposta – Ele disse com clareza que o nosso relacionamento não traz beneficio algum. O que significa que é o oposto disso e acaba trazendo apenas prejuízos. E não é o que quero que sejamos, Gukkie. – disse arrastado, sentindo duas lagrimas teimosas escapar pelo cantinho de ambos os olhos – Quero que o nosso amor seja mais. Mas, por enquanto, o nosso amor não é nada. Apenas... um estorvo.
– Taehyung. – chamou, ciente do ponto onde o outro queria chegar, porém ainda assim nutria uma esperança. Não podia ser o que pensava.
– Não quero ter que fazer isso sozinho. – falou, ignorando a súplica do Jeon – Preciso saber se está de acordo com tudo que eu disse.
Jungkook suspirou e sentiu o rosto contorcer-se em uma careta desagradável, evidenciando a vontade de chorar que o corroía por dentro.
– Você quer que eu concorde em pôr um fim no que construímos duramente por tanto tempo, V? – indagou, ainda tentando manter o tom de voz calmo – Quer que eu aceite essa decisão para que não se sinta um covarde sozinho, estou certo? – rebateu – Sabemos que existem outras soluções, hyung, mas você optou pela mais simples, e pela mais dolorosa.
– Não vai doer só em você, okay? – Taehyung deixou que suas palavras soassem em um tom áspero, quase descontrolado. Não era justo ter que ouvir todos aqueles desaforos quando só estava tentando prezar pelo bem do relacionamento deles – Me escuta, Jungkook – pediu com calma – Prefere que nos façam romper tudo de uma vez, sem volta? Não vê que é melhor fazer isso agora, em consenso, só por um tempo? Além do mais, não precisamos ficar longe um do outro sempre. Podemos nos encontrar em sigilo quando a saudade falar mais alto. Precisa me entender, Gukkie!
O mais novo permaneceu calado, encolhendo-se em seu lugar, tão amedrontado quanto um animalzinho abandonado na rua.
– Tem certeza que será só por um tempo? – perguntou incerto.
– É claro! Acha mesmo que eu conseguiria manter-me longe de você por muito tempo? – tocou de leve o queixo do outro com a ponta dos dedos, sorrindo, mais não autenticamente. A ideia de terminar o entristecia.
– E, hyung, é sério que vou poder te procurar quando estiver com muita saudade? – perguntou, esticando a cabeça para perto do mais velho.
Taehyung apenas assentiu, achando engraçado e fofo a forma inocente com a qual o outro falava consigo. Por isso ele era o seu bebê.
– Não quero que fique chateado comigo por causa disso. Não estou tomando essa decisão porque sou covarde. Na verdade, devo ser muito corajoso pra estar aqui, te propondo esse absurdo. Mas só estou fazendo isso porque é o melhor pra nós. Estou tentando poupar o nosso amor. – explicou devagar para que fosse compreendido.
– Desculpa, hyung. – pediu realmente arrependido – Eu sou um idiota. Brigamos no MAMA por minha culpa e agora eu estou tentando colocar tudo a perder de novo, quando a minha função deveria ser só te ouvir e entender o seu lado. Mas eu sempre ajo por impulso e faço tudo errado.
– Ei, também não precisa se culpar, okay? Você só está nervoso, eu também estou. Não é fácil ter que lidar com todos esses problemas. – confessou Taehyung, fechando os olhos numa tentativa de relaxar.
– Tae – Jungkook chamou, chegando ainda mais perto do namorado, deixando que sua mão envolvesse a cintura alheia – Eu sei que você acha que mudar não vai resolver, mas, eu prometo que vou tentar melhorar. Certo, eu já disse isso antes, mas agora é sério. Quero mesmo fazer isso.
– Tudo bem. Mas saiba que eu amo você do seu jeitinho. – sorriu largo, quebrando a distancia entre eles e roçando os narizes carinhosamente.
Jungkook sorriu de lábios fechados com o ato, repousando os olhos.
– Hyung, – chamou baixinho, sem mover um sequer músculo, achando agradável o conforto da posição e dos corpos – acho que terei que fazer o que nosso manager me mandou, o quanto antes. Pensei em fazer uma log.
– Porque uma log? – Taehyung abriu os olhos para visualiza-lo.
– Porque até que ela seja liberada no canal demorará um tempo, e o que quer que seja que eu diga servirá apenas como um complemento dessa história toda, um ponto final. Consegue entender?
– Faz sentido. – concordou o Kim, afastando-se do mais novo.
– Acho que eu posso fazer isso hoje. – divagou Jungkook – Vou apenas ligar a câmera a e expor os meus pensamentos. Não pode ser tão ruim.
– Então, boa sorte! – desejou, sorrindo com o cantinho dos lábios – Ainda estou exausto do show. Talvez agora eu possa dormir tranquilamente.
Taehyung desocupou o espaço na cama e se levantou, caminhando sem pressa até a porta. Estava quase girando a maçaneta quando ouviu:
– Já podemos nos considerar, hm, apenas amigos? – murmurou o Jeon.
O mais velho virou o corpo para vê-lo, mas acabou vendo muito mais. A expressão derrotada e o olhar tristonho partiu-lhe o coração.
– Acho que sim. – disse amargamente – E, Jungkook, a amizade que temos não precisa mudar, okay? Só não agiremos mais como um casal.
– Eu entendi. – exprimiu cabisbaixo, sem olhar pro outro.
– Sendo assim, boa noite! – Taehyung então deixou o cômodo, e embora estivesse indo para o próprio quarto, sentia-se sem rumo.
Jungkook fora deixado sozinho no quarto, o silencio presente zumbindo em seus ouvidos de uma forma irritante. Por isso ele se levantou, conectou o celular a uma das suas caixas de som, por meio do Bluetooth, e deixou que uma música qualquer soasse baixinho pelo ambiente.
Deitou na cama de barriga pra baixo, em uma posição confortável, e acionou a câmera frontal do celular, precisando de um tempo para dar uma conferida na própria aparência. Estava prestes a dormir, mas havia tirado apenas a maquiagem ao redor dos olhos. Não gostava de aparecer para os seus fãs com o rosto completamente lavado, sentia-se inseguro. Certificou-se de que o cabelo estivesse apresentável e respirou fundo.
Embora parecesse bobo, não era simples expor metade dos seus pensamentos e emoções assim, publicamente, porque alguém havia lhe ordenado. Tocar em certo assuntos, como o ocorrido do MAMA, ainda doía. Portanto, aquela log seria realizada de uma forma bem dolorosa.
Pressionou o botão, começando a gravação.
– 2016... 05 de dezembro... Não, é dia 06. Dia 06. – começou embaraçado.
Começou explicando um pouquinho sobre os fanmeetings que o grupo realizava no Japão, mas logo tocaria no assunto do MAMA. Como o manager queria que fosse feito, Jungkook disse meias verdades e ocultou o necessário, dizendo “algo que seus fãs queriam ouvir” – palavras do próprio Sejin. Contudo, toda vez que Jungkook se atrevia a pronunciar a palavra “feliz” era como se a situação inteira se tornasse ainda mais insuportável e dolorosa, todas as sensações ruins lhe atingiam em intensidade, fazendo-o sentir tão cansado, pequeno e vulnerável.
Não era como se estivesse absolutamente triste, mas estava mentindo quando dizia que no fatídico dia dois de dezembro estava inteiramente feliz. Não, não estava. Realizado sim por ganhar um prêmio imenso numa premiação importante, porém havia algo que não se encaixava em seu coração na ocasião, por isso a tristeza. E agora, enquanto realizava esta gravação, também não estava radiante de felicidade. Havia acabado de ter uma conversa decisiva com o namorado, onde decidiram dar um tempo.
Portanto, dizer que estava feliz era uma farsa.
Em um momento ou outro achou que fosse acabar chorando, desabando de uma vez, revelando para o mundo o que de fato lhe afligia e comprimia o peito. Seria tão fácil se pudesse desabafar com sinceridade com os Armys, mas por enquanto tudo o que podia fazer era contar o mínimo.
Em meio a uma tortura interior, Jungkook ainda assim conseguiu dar continuidade a sua log até o fim, até mesmo ganhando certo ânimo próximo ao final, sendo engraçadinho e comentando sobre projetos futuros.
Após bons quatro minutos conversando com sua câmera, tratou de desliga-la e abandonar o celular para que pudesse desfrutar da maciez do colchão e assim organizar os próprios pensamentos com clareza.
Bom, então havia realmente dado um tempo em seu relacionamento com Taehyung. Nada de agir como um casal, nada de procura-lo quando o vazio da cama se tornasse insuportável, nada de beijos no meio do dia. Nada. Agora a relação entre eles era de estrita amizade, e apenas isso.
Não podia ser tão ruim. Certo?
Estava submerso em seus devaneios quando sentiu o celular vibrar ao seu lado. Por pouco o ignorou, mas achou melhor ver o que poderia ser.
Uma mensagem de Taehyung, a qual não demorou a abrir.
Dá uma olhada em nosso Twitter
Talvez isso te deixe mais feliz
Funcionou comigo
Jungkook leu cada palavra sentindo o cenho franzir em curiosidade. Saiu do aplicativo de mensagens para rapidamente se direcionar até a conta do Twitter qual dividia com os outros seis membros. O que encontrou fora uma selca que havia tirado com Taehyung no carro, no dia anterior.
Entre tantas que haviam tirado descontraidamente, o Jeon achava aquela a pior. E ainda assim conseguiu sorrir, só pelo fato de ser uma memoria com ele. Decidiu captar todos os detalhes, dando uma analisada na foto.
Por algum motivo a sua pele parecia muito pálida. Talvez fosse só efeito do frio. A covinha na bochecha direta aparecia, deixando seu rosto com um aspecto amassado. O cabelo estava bonito, escuro, caindo na testa.
Taehyung, por sua vez, parecia lindo e inocente, como de costume. Estava jogado em seu assento, agasalhado por completo, exibindo três dedos e os olhinhos pequeninos e fascinantes. O cabelo também estava perfeito.
Apesar de um defeito aqui e outro ali, Jungkook amava aquela selca, porque sabia que havia capturado a melhor essência dos dois, sendo eles mesmos, se amando em silêncio. Só percebia quem tinha capacidade.
Sorriu frouxo, mesmo sentindo um vazio lhe preencher o peito.
Decidiu que não ficaria triste pelos últimos acontecimentos e decisões. Teria que ser forte daqui pra frente, e faria isso não só por ele, mas por Taehyung também. Embora tecnicamente não fossem mais um casal, Jungkook não o deixaria ir. Ele continuaria sendo o seu hyung preferido.
O sorriso no rosto só se alargou, enquanto digitava uma resposta:
Me sinto melhor agora, hyung
Obrigada por isso
Amo você
Simplesmente enviou e, mais uma vez, deixou o celular de lado, disposto a dormir. O dia seguinte também seria cheio. Pelo menos agora podia afirmar que dormiria um pouquinho mais leve. Não só a selca, mas Taehyung em si, conseguiu deixar-lhe mais relaxado, mesmo depois de tantos acontecimentos. Primeiro o gatilho, agora o disparo. O pior já havia passado. A tendência era só melhorar – ao menos era isso que esperava.
De qualquer forma, sabia que o dia 06 tornar-se-ia uma data memorável.
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