Alguns meses depois...
— Que lugar é esse onde você está me levando?
Nick relanceou um olhar rápido para a coelha sentada no banco do carona, mas logo tornou a se concentrar na estrada. Esboçou um sorriso de canto ao respondê-la:
— Um bar que pertence a um antigo amigo da família — Ele arqueou as sobrancelhas ao avistar uma vaga e, sem perder tempo, manobrou o carro para estacioná-lo. — Antes dos meus pais se mudarem para o centro da cidade, eles moravam aqui, nas redondezas da Praça Saara. E foi aqui onde cresci e morei até os meus nove... dez anos, por aí.
Os dois deixaram o carro após um par de minutos e seguiram caminhando pela calçada iluminada pelos poucos postes na rua. Passaram por algumas lojas de bugigangas que já estavam fechadas por causa do horário tardio, por um minimercado e pararam na frente de um bar de aparência bem simples.
— Não vá esperando nada muito chique, tá bom, Cenourinha? — Pediu Nick. Judy, ao seu lado, revirou os olhos e deu uma cotovelada de levinho no braço do predador.
— Você sabe que não ligo pra isso.
Nick deu ombros e, com uma voz jocosa, provocou a parceira:
— Ahhh... será mesmo? Tinha a impressão de que vocês, mamíferos da roça, adoravam coisas finas.
Ela deu uma outra cotovelada nele, muito mais forte do que a anterior e que fez a raposa soltar uma exclamação de dor.
— Tô brincando, Cenourinha! Não precisa partir para a agressão física — Ele massageou o braço dolorido e fez um biquinho, que foi prontamente ignorado pela coelha.
— E então? Vamos entrar ou não? — Perguntou ela, e Nick logo anuiu e abriu a porta, fazendo um gesto floreado ao oferecer passagem a Judy. — Milady, por favor.
Ela riu baixinho, cobrindo o focinho com a pata, e agradeceu com um meneio de cabeça, passando por Nick com um rebolado um pouquinho só exagerado dos quadris e entrando no estabelecimento.
O interior do bar era tão simples quanto a fachada, porém era aconchegante e tinha uma atmosfera gostosa de acolhimento. Não era muito espaçoso, com apenas seis mesas espalhadas pelo salão – das quais três estavam ocupadas por casais e uma por um grupo de mamíferos de variadas espécies – e alguns banquinhos ao redor do balcão principal do bar.
Nick guiou Judy até o balcão e abriu um sorriso largo ao avistar quem estava procurando.
— Velho Chuckles! — Exclamou, e a velha hiena atrás do balcão o respondeu com um sorriso ainda maior.
— Achei que nunca fosse aparecer, oficial Wilde — Falou com um misto de repreensão e alegria. — Tem um bom tempo que está me devendo uma visita.
— Eu sei, eu sei. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
Ele riram um pouco e Nick apresentou Judy logo em seguida. Os três conversaram bastante e, em meio a petiscos e algumas canecas de chope, trocaram histórias e várias risadas. A hiena fez questão de saber como os dois tinham se conhecido, o que levou Nick e Judy a narrarem tudo o que se passara durante o caso das uivantes, desde a mudança de Judy para Zootopia e o encontro um tanto quanto conturbado entre a raposa vigarista e a policial até a farsa que tramaram contra a ex-prefeita Bellwether. Depois, Judy perguntou a Chuckles se ele não tinha nenhuma história interessante sobre a infância de Nick. Para deleite da coelhinha e desespero da raposa, a resposta foi sim.
Chuckles tinha várias histórias interessantes e bem engraçadas, a julgar pelas gargalhadas que Judy, vez ou outra, deixava escapar.
— Dá próxima vez que formos na Tocas, vou pedir aos seus pais para me contarem de novo sobre aquela vez que você foi tentar entrar para a equipe de torcida da sua escola.
— Nick! — As bochechas dela ficaram vermelhinhas sob o pelo cinzento. — Isso é golpe baixo! Eu morro de vergonha dessa história. Na verdade, morro de vergonha de tudo relacionado a minha adolescência.
— Não posso fazer nada, Hopps. Foi você quem começou.
— Sua raposa esperta... — Murmurou ela, lançando a ele um olhar que era provocante e terno ao mesmo tempo. Bebericou mais um pouco de chope e, após um tempinho, levantou do banco, dizendo que precisava ir ao banheiro.
Quando os dois predadores ficaram a sós, a hiena não tardou a indagar, seus olhos cravados no trajeto feito pela coelha:
— Estou curioso, Nicholas. Quando você disse que ela era sua parceira... quis dizer que era apenas parceira na polícia ou ...?
Nick apoiou o cotovelo no balcão, sua postura relaxada e seus olhos verdes também fitando o mesmo que a o hiena.
— Acho que é seguro dizer que estamos namorando.
Chuckles sorriu, contente com a resposta.
— E também seria seguro dizer que é ela? A futura senhora Wilde?
O pelo vermelho da raposa escondeu um pouco suas bochechas ruborizadas, e um sorriso tímido tomou conta do seu focinho comprido.
— Nós estamos levando as coisas bem devagar, Chuckles. Ainda estamos no início da nossa carreira na polícia e tentando, aos poucos, nos acostumar com a vida a dois e com as diferenças entre as nossas espécies. Mas acho que é seguro dizer que... …que sim — Confessou ele, a voz suave, carinhosa e cheia de certeza — Não imagino ninguém melhor do que Judy para ocupar essa vaga.
Chuckles anuiu e abriu a boca para falar algo, no entanto, se calou ao ver Judy retornando.
— Sobre o que estavam conversando? — Indagou a coelha assim que se sentou.
Os dois predadores se encararam em silêncio por um tempo, e Nick, sendo a raposa astuta que era, não demorou a inventar alguma coisa, sua expressão ligeiramente maliciosa:
— Nada de mais, Cenourinha. Só comentando como você fica adoravelmente brava quando te chamo de fofa.
— NICK!
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