História Best of You - When you receive an invitation

Os dias passaram rapidamente, e na mesma proporção o relacionamento, não definido ou nomeado, de Taehyung e Jeongguk também avançou. Já não se sentiam mais estranhos com beijos e abraços trocados, na verdade o que realmente pesava era ter aquele tipo de contato com outro garoto, mais ainda, um com o outro, porém aquilo rapidamente passou. Sentiam como se ansiassem por isso há muito tempo e agora que poderiam fazer a hora que quisessem - e tinham admitido para si mesmos acima de tudo que queriam aquilo e muito – usavam qualquer tipo de desculpa ou motivo para que estivessem se tocando, se beijando, ou apenas na companhia um do outro.

Os encontros na escola tornaram-se rotineiros, mesmo após o castigo da detenção ter sido cumprido. Jeongguk e Taehyung estavam sempre juntos, em algum momento na vista de todo mundo como duas pessoas que começaram a desenvolver uma amizade, ou escondidos de todos, aos beijos e amassos, como dois corpos sedentos e desejosos um pelo outro.

Os dois ainda não tinham se visto longe do ambiente escolar, não sabiam dizer o motivo disso ainda não ter acontecido, mas o fato era esse; Kim Taehyung e Jeon Jeongguk não se viam fora dos muros da escola.

Era como se aqueles muros mantivessem escondido o segredo que eles tentavam manter e, ao mesmo tempo, sentiam como se a partir do momento em que o que quer que tivessem saísse da escola e fosse para o “mundo real” a coisa iria se tornar séria, para os dois, e os dois não sabiam se estavam preparados para aquela seriedade necessária.

Sendo assim, os finais de semana eram passados longes um do outro e por conta disso as mensagens trocadas eram constantes, os áudios começaram a ser cada vez mais necessários e então longas chamadas vieram, fazendo-os ficar presos ao telefone noites adentro.

Dessa vez, a pedido de Taehyung, os dois estavam tentando algo novo naquele final de semana tedioso. Domingos não costumavam ser tediosos para Taehyung, ele sempre tinha um programa para fazer, festas para ir, amigos para encontrar, contudo nada daquilo lhe despertava interesse. O que ele queria mesmo fazer era estar com Jeongguk, porém, por um acordo mudo e estúpido estabelecido pelos dois ele não podia.

Por isso uma chamada de vídeo pelo computador fora a forma que Taehyung encontrou para aplacar aquela vontade de querer ver o mais novo.

— Gukie, quando é que você vai parar de fazer cu doce e deixar a gente ter as nossas experiencias homo? – O Kim perguntou casualmente, tomando um gole do refrigerante que trouxera para seu quarto. Do lado de fora a noite já se fazia presente há bastante tempo, talvez tivesse passado até mesmo da hora em que deveriam dormir, porém os dois garotos se perderam no tempo, conversando um com o outro. Aquilo já tinha se tornado costumeiro, eles não se impressionavam mais, apenas olhava para os números do relógio e deixavam eles passarem.

— O que foi que você disse? – O mais novo indagou. Em dúvida de que tinha escutado direito o que o loiro dissera.

— Nossas experiencias homo. – O Kim disse sério, encarando o mais novo através da tela do seu notebook. – Quando é que vamos partir para algo mais íntimo? – Taehyung queria, queria muito, ter algo mais íntimo com Jeongguk. Não estava mais tentando se enganar que queria apenas transar com o mais novo, contudo, não é também como se ele tivesse parado de pensar em como seria fazer aquilo. E, apesar de Jeongguk estar muito mais receptivo agora, diferente do chilique que o mesmo havia dado no primeiro dia em que se beijaram – que agora faz Taehyung rolar os olhos sempre que se lembra – o mais novo não parecia fazer esforço para ter algo mais do que beijos e amassos com o loiro. O que acabava frustrando bastante o Kim.

— Eu não sei como você consegue falar isso assim, tão naturalmente.

— Porque é normal, Gukie. Comece a pensar que é normal e você vai sentir que é normal. – O mais velho respondeu prontamente. – Hoje em dia a homossexualidade está aí para quem quiser ver, mesmo na nossa cultura retrograda e fechada.

— Eu não estava falando por esse ponto, Taehyung.... – E realmente não estava. Jeongguk não se sentia estranho por não achar o que tinham normal, ou a homossexualidade num quadro geral. Ele estava falando sobre o fato de Taehyung falar, mesmo que indiretamente, sobre eles fazerem sexo. Pensar naquilo que lhe deixava confuso. E por pensar demais naquele tópico, várias vezes por dia, acabava se sentido muito confuso.

Repassando na cabeça a frase que o mais velho acabara de lhe dizer Jeongguk se ateve a uma coisa.

— Você é gay, Taehyung?

— Eu? Eu não sou gay, Jeon.

— Mas poderia ser... visto que... – Fez um gesto mudo para si e para o outro através da tela do computador.- Você entendeu.

— Sim, eu entendi. Mas eu não sou.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Eu não tenho interesse por homens. – Viu o mais novo arquear uma sobrancelha. – Não tenho interesse por outros homens. – Explicou-se, rolando os olhos.

— Ou não teve até agora... – Jeongguk pontuou. - Ou você pode ser bi. Até mesmo o seu tão adorado apelido combina com isso. V... Bi. O V é bi. – Disse brincalhão, com um sorriso no rosto.

— Pare de rir de mim, seu idiota. – Esbravejou o loiro.

— Toquei no seu ponto fraco? – Jeongguk disse provocando o mais velho.

— Eu não tenho ponto fraco, seu babaca. E fique sabendo que se estivéssemos cara a cara a única coisa que iria tocar seria o meu punho no meio desse seu rostinho bonito.

— Então você me acha bonito, TaeTae? – Disse sorrindo, sem parar de provocar o outro. Gostava de fazer isso.

— Você já disse que eu sou bonito, por que eu não poderia dizer a mesma coisa? – Falou seriamente. – Além do mais se você não fosse bonito não estaria comigo, o V. – Piscou o olho direito para o mais novo, através da webcam, dando um sorriso convencido.

— Odeio quando você faz isso, sabia?

— Isso o que?

— Como o que? Isso. – Abriu as mãos no gesto amplo, em direção ao outro. – Quando você começa a falar de si mesmo, todo cheio de marra, se achando o melhor, todo convencido. O seu ego é enorme.

— Eu sou assim, Jeongguk. E você sabe disso

— Sim, eu sei, mas...

— E também eu não disse nada que não fosse verdade. – Sorriu, dando outra piscada para o Jeon. Dessa vez virando o jogo e provocando o mais novo.

— Certo, Kim. Deixa pra lá... – Jeongguk rolou os olhos, já perdendo a paciência com o loiro. Apesar de saber que existia uma provocação ali, Jeongguk também sabia que Taehyung não pensava muito diferente de si mesmo do que costumava falar. O ego do Kim era inflado demais, todo mundo sabia disso.

— Tudo bem, vamos deixar pra lá. – O loiro concordou. – E vamos voltar ao tema onde estávamos antes. Que era mesmo?

— Eu perguntei se você era gay.

— Eu já respondi que não sou.

— E então?

— Então o que?

— Por que você insiste tanto nessa coisa de “experiencias homo”? – O mais novo fez aspas.

— Eu não acredito que vamos ter essa conversa outra vez, Gukie. Ainda por cima através de uma webcam. – O loiro disse rolando os olhos. – Eu já disse, inclusive agora a pouco, que eu não tenho interesse por outros homens. Só por você. Só por você, entendeu seu idiota? – Esbravejou apontando o dedo para o outro pela câmera da chamada de vídeo. – Você é o único cara que me deixa excitado, que me faz ficar de pau duro. Então, sim. Se meu pau fica duro por você eu quero ter experiencias homo com você. Entendeu agora? Fui bem claro?

Ouvir aquela “declaração” recheada de palavreados chulos fez com que Jeongguk sentisse vontade de rir, porém se conteve. Não se surpreendia mais com o jeito desbocado e direto do mais velho, com todas as conversas que tiveram nos últimos dias o Jeon já estava acostumado com aquele jeito de falar do Kim.

— Você é tão imoral e desbocado. – Ainda assim não lhe impedia de provocar o outro.

— Desbocado o cacete! – Respondeu com raiva o Kim.

Um silêncio se instalou entre os dois. Não era algo estranho ou incomodo. Estavam apenas mostrando um para o outro o quanto poderiam ser teimosos, a suas maneiras. Seus braços estavam cruzados em frente ao peito, a expressão fechada enquanto encaravam um ao outro pela tela de seus respectivos computadores.

Poderiam desligar aquela chamada de vídeo e ir dormir, era o que deveriam fazer visto que já estava tarde e eles teriam que acordar cedo para ir à escola no dia seguinte, contudo não queriam fazer isso. Não queriam desligar a chamada e parar de se ver. Eram apenas teimosos e continuariam naquele cabo de guerra invisível até que o primeiro desistisse. Era uma atitude infantil, sabiam disso. Taehyung não importava com isso e Jeongguk, era competitivo demais para se importar também.

— Gukie... – O Kim disse, baixo, suspirando forte após dizer o nome do outro. Entortou a boca ao ver o mais novo sorrindo. – Tira esse sorrisinho bobo do rosto, idiota.

— Você já não consegue viver sem mim, não é Taetae? – Provocou.

— Vai sonhando, otário. – Porém não pode deixar de sorrir quando respondeu ao mais novo. – Eu só te chamei porque você não me disse.

— Disse o que?

— Se é gay ou não.

— Eu não sou gay, Taehyung.

— E como pode ter tanta certeza? – Questionou, arqueando uma sobrancelha, usando a mesma frase que o outro usara consigo minutos atrás.

— Eu já fiz a prova. – Deu de ombros.

— Você já ficou com outro cara? – O Kim pediu exasperado. De todas as coisas que esperava ouvir de Jeongguk aquilo nunca passara por sua cabeça. Lembrava-se que o mais novo havia lhe dito que nunca tivera qualquer experiência homossexual com outro homem, e, no entanto, o mesmo lhe joga aquela bomba de “já ter tirado a prova”. Taehyung não conseguiu evitar se sentir traído. Esperava ser o primeiro de Jeongguk assim como Jeongguk seria o seu primeiro.

— Claro que nunca fiquei com outro cara, seu idiota. Eu já falei isso para você.

O alívio tomou conta do corpo de Taehyung enquanto um pequeno sorriso brotava nos lábios do loiro.

— Então como você pode ter tirado a prova?

— Olha, Kim... – Molhou os lábios. – Eu já vi muitos homens pelados na minha frente. – Lembrou-se do dia em que avaliou o corpo de Jimin no vestiário. Seu corpo de músculos firmes, o abdômen definido e a bunda avantajada e redondinha. Jeongguk não iria negar, Jimin tinha uma bunda bonita, porém qualquer um que tivesse olhos iria afirmar a mesma coisa, independentemente de ser gay ou hétero. Aquilo não era atestado de homossexualidade, nunca seria. Lembrou-se de até mesmo ter olhado para as partes íntimas de seu amigo, avaliando seu pênis e todo o pacote que compunha a sua masculinidade. Não sentira nada além de estranhamento. Era diferente do que sentia ao apenas imaginar ver o Kim daquela mesma forma. – E eu nunca senti nada em nenhuma dessas vezes. – Concluiu a sua resposta.

— Ver homens pelados é normal, Gukie.

— Sim, é. Mas eu não me senti atraído por eles. Excitado.

— Não como se sente atraído por mim? – O loiro completou, arqueando as sobrancelhas, lançando um sorriso prepotente para o outro.

Jeongguk não respondeu nada.

— Você não precisa ter vergonha de admitir, Gukie. Eu pensei que já tínhamos estabelecido e concordado com isso. Você sente atração por mim e eu sinto atração por você. Ponto!

— Sim, que seja. – O Jeon concordou com um rolar de olhos.

Taehyung sorriu. Era fofo ver Jeongguk negar o óbvio.

— Você está falando sobre ver outros homens pelados quando está no vestiário do seu clube de natação, não é? Isso quer dizer que os outros caras de lá também já te viram pelado?

— Não sei, Taehyung. Talvez. Do mesmo modo que todos do seu time de basquete devem ter te visto pelado também no seu vestiário. O que tem de mais, nisso?

— É diferente.

— O que tem de diferente?

Taehyung não poderia dizer, não em voz alta, que sentia uma onda de ciúmes sem tamanho, ou até mesmo possessividade com o outro. Só de imaginar os outros olhando para o corpo nu do seu Jeongguk lhe deixava louco.

Seu Jeongguk.... Quando foi que começou a pensar no outro assim?

— Esquece o que eu disse. – Abanou a mão ao falar, tentando dispensar aquela conversa e ao mesmo tempo aqueles tipos de pensamento de sua cabeça.  – Espera um momento. – Falou alto ao perceber uma coisa. – Você disse que nunca ficou excitado por outro cara além de mim?

— O que tem isso? O que há com você essas perguntas aleatórias?

— Não são aleatórias, Jeongguk. – Falou animado. – Eu estava pensando... O que você acha de se animar, tipo, agora? – Perguntou com um sorriso provocante dirigido ao mais novo.

— O que você está planejando, Taehyung? – Indagou, receoso.

— Nada demais, Gukie. – Deu de ombros. – Só vou fazer um strip-tease para você, aqui pela cam.

— Você o que? – Perguntou alterado. – Como você diz que vai fazer algo assim com essa maior cara de pau?

— Ué, você não quer?

Jeongguk desviou o olhar, o rosto queimando, suas bochechas rubras eram evidentes mesmo através da câmera do computador. Ele não respondeu nada, porém nem precisava. O seu silêncio era resposta suficiente para o loiro.

— Eu sabia que você queria. – Disse sorrindo sacana enquanto se levantava e dava passos para trás, tentando enquadrar seu corpo inteiro no vídeo

Passou a mão pelo peitoral, descendo suavemente pelo abdômen e indo em direção a barra da calça de moletom que usava para dormir. Jeongguk continuava em silêncio, contudo não conseguia despregar os olhos da tela de seu computador, seguindo os movimentos das mãos do mais velho pelo seu corpo.

Taehyung mordeu os lábios, provocando o mais novo, passando os polegares pelo elástico da calça, fingindo que iria retirar a peça, mas não o fazendo. Um rápido olhar para a tela do computador notou que não estava bem enquadrado. Sua cabeça não estava aparecendo. Queria que Jeongguk aproveitasse a vista completa. Andou em direção ao notebook e o trocou de posição, forçou a tampa para abrir o máximo que podia. Estava estressado, não queria perder tempo com aquilo.

Sem querer bateu com a mão no refrigerante já esquecido sobre a mesa e o mesmo caiu, virando seu conteúdo sobre o computador que na mesma hora apagou

— Eu não acredito nisso. – Gritou enquanto pegava o computador já com a tela desligada. Virou o mesmo para o lado vendo o liquido escorrer pelas bordas. – Que droga! – Fechou bruscamente a tampa do notebook, deixando-o ali já sabendo que não iria conseguir fazê-lo voltar a funcionar. Andou pisando duro em direção a sua cama, se jogando sobre a mesma e enterrando o rosto no travesseiro.

Ajoelhou-se sobre a cama e puxou o travesseiro para o meio das suas penas, começando a socar o objeto macio a fim de querer descontar a raiva que sentia. Parou o que estava fazendo ao ver o seu celular, que estava sobre a mesinha de cabeceira, tocar. Pegou o aparelho já sorrindo ao ler o nome “Gukie” na tela acompanhado de uma foto do mesmo. Uma selca que tirou ao lado de Jeon em um dos seus dias cumprindo a detenção. Na foto Taehyung sorria, mostrando a língua. Jeongguk estava mais contido, tentando ficar sério, mas o canto de sua boca repuxado indicava um pequeno sorriso.

— Você ligou para tirar com a minha cara? – Fora o que disse ao atender a chamada.

— O que aconteceu com o seu computador?

— Eu derrubei refrigerante nele e ele apagou.

— Só você mesmo, Kim Taehyung... – Ouviu o riso do outro garoto do outro lado da linha. – Parece mesmo uma criança, hyung.

Aquela era a primeira vez que Jeongguk lhe chamava de hyung e mesmo que houvesse uma tonelada de sarcasmo naquela palavra, Taehyung gostou de ouvir. Gostou de ser chamado de hyung por Jeongguk e queria ouvir mais vezes.

— Ei, essas coisas acontecem. – Se defendeu. – E eu não sou uma criança. Eu sou o mais velho aqui, saeng.

— Certo... baby V. – Jeongguk riu ao falar e ouviu xingamentos vindo do outro lado da linha em resposta. O que só lhe fez rir ainda mais. Para o desgosto do mais velho.

— Eu só queria te excitar com o meu strip-tease, Gukie. – Falou fazendo manha. – E queria te mostrar também o quanto eu estava excitado. – Taehyung dera um pequeno gemido ao terminar de falar.

Jeongguk imaginou o mais velho se tocando novamente, a mão grande se perdendo dentro da calça do mesmo, se movendo dentro dela. Taehyung não sabia o quanto Jeongguk já estava excitado apenas com aquela pequena amostra que tivera.

— Não era para acontecer, Tae.... Não essa noite.

— Mas vai acontecer, Gukie. – Disse firme. – Agora é uma questão de honra.

— Quer dizer que você vai tirar a roupa e rebolar na frente de outro cara pra poder terminar o seu strip-tease? – Provocou

— Não! Eu quero dizer que vou tirar a roupa e mostrar pra você o quão duro você me deixa, Jeon Jeongguk. – Respondeu seriamente. – E aí quando você ver isso você não vai escapar de mim.

Jeongguk engoliu em seco.

— E... eu vou desligar agora. – Anunciou gaguejando, para o divertimento do mais velho. – Eu preciso ir dormir. Nós dois temos que ir dormir. Temos aula amanhã.

— Você tem razão. Amanhã vamos ter um jogo contra o time de uma escola de outra cidade. Eu preciso estar bem-disposto para esse jogo. Você vai me ver jogar, não é Gukie?

— Eu não sei, Taehyung.... Não sei se seria uma boa ideia.

— Certo, vou esperar você lá então.

— Mas Taehyung eu não disse que...

— Boa noite. Até amanhã no jogo. – Interrompeu o mais novo. – E sonhe comigo. – Disse antes de desligar a chamada.

Jeongguk colocou seu celular sobre a mesa de cabeceira ao lado de sua cama. Puxou os lençóis até a altura do peito, se aconchegando melhor para dormir. Sorriu ao lembrar do que o loiro lhe disse antes de desligar.

Ele não sabia que sonhar com Kim Taehyung havia se tornado constante para Jeongguk.

ººº

Na segunda feira Jeongguk não conseguira falar com Taehyung como costumava fazer todos os dias antes das aulas, ou como se tornou um hábito entre eles. Taehyung chegou atrasado, com o professor já em sala. O Kim deu um “foi mal pelo atraso, professor” ao entrar na sala e seguiu para o seu lugar de sempre, ouvindo as reclamações do professor sobre o seu atraso.

Durante todo o período da aula Taehyung apenas lhe olhou rapidamente e lhe lançou um sorriso junto a uma piscadinha. Este fora o único contato que tiveram. Jeongguk queria falar com o loiro, porém o mesmo se sentava do outro lado da sala. Ficou decidido que eles sentariam em lados opostos desde o começo do ano, o que acontecia desde sempre, pois quando a professora da sexta serie tentou forçar uma aproximação entre os garotos fazendo eles se sentarem lado a lado, acarretou em brigas durante as aulas e dois dias depois eles foram separados. Cada um em um lado da sala de aula, longe um do outro.

Aquele esquema durou até os dias atuais e agora Jeongguk odiava aquilo.

Tentou falar com o mais velho na hora da saída para o intervalo, porém a única coisa que conseguiu foi ouvir um “Não esqueça de ir me ver jogar mais tarde, Gukie. Vou estar esperando por você”

No refeitório o time de basquete se mostrava animado para o jogo que teriam logo mais. Brincadeiras, risadas altas e gritos vinham das mesas onde o time se encontrava. Taehyung estava lá, no centro do grupo, recebendo toda a atenção que gostava de receber.

O Kim não voltou para o resto das aulas, Jeongguk não o vira mais.

Quando as aulas enfim terminaram todos os alunos se dirigiram para a quadra. Os jogos de basquete sediados na escola eram como um grande espetáculo, todos os alunos assistiam, as arquibancadas estavam sempre lotadas, cartazes de apoio ao time e principalmente ao seu capitão eram levantados no meio do público. Taehyung tinha fãs, admiradores e ele gostava de se mostrar para eles.

Quando Jeongguk, acompanhado de seus amigos Jimin e Yoongi, entraram na quadra, a mesma já se encontrava cheia, o zumbido de conversas paralelas se misturava ao som da bola quicando na quadra e o barulho estridente do atrito do tênis dos jogadores com o piso liso característico daquele tipo de lugar.

Taehyung fazia o seu costumeiro show antes do jogo começar, o que era para ser um aquecimento do time para o Kim era o momento de ele dar um pouco de atenção para seus admiradores, passando a bola com habilidade por entre as suas pernas, enterrando a bola na cesta, marcando cestas de três pontos ou até mesmo acertando-a do centro da quadra. Cada jogada sua completada era seguindo de gritos e aplausos. Taehyung estava sempre com os olhos nas arquibancadas, porém, dessa vez não eram os seus fãs que ele buscava, mas sim o garoto de pele alva e cabelos negros que até um tempo atrás ele considerava seu inimigo.

Estava ansioso, queria Jeongguk ali. Buscava o mesmo a todo momento, no meio das pessoas nas arquibancadas, na entrada ou no fluxo de pessoas que caminhavam e seguiam para seus lugares. Sua concentração aos poucos foi se esvaindo ao notar que que a hora do jogo começar estava próxima e Jeongguk ainda não havia chegado. Seus companheiros de time falavam consigo, contudo ele não prestava atenção.

Achava que se o Jeon não aparecesse o seu rendimento seria no mínimo horrível. Iria perder a concentração, o foco no jogo. A única coisa que iria conseguir pensar seria em como amassar a cara daquele garoto com dentes de coelho e boca gostosa de beijar.

Quando o viu entrar, junto aos seus amigos, todos os pensamentos que tivera sobre socar Jeongguk se extinguiram e deram lugar a vontade incontrolável de ir até o garoto e lhe arrancar o ar dos pulmões com um beijo. Porém tivera que se contentar dando um sorriso e uma piscadinha para o mesmo quando seus olhos se encontraram.

— Pare de ficar se exibindo para as garotas e se junte ao time, Kim. O jogo já vai começar.

— Sim, técnico. – O Kim respondeu ao virar para o mais velho e ir se juntar aos seus companheiros de time para ouvir as instruções do técnico.

— Eu nunca tinha vindo para um jogo de basquete nessa escola. É legal. – Yoongi comentou com os amigos quando se sentaram em seus lugares na arquibancada, localizados bem no meio da mesma. Uma vista privilegiada que Jeon fizera questão de escolher.

— Estranho você nunca ter assistido a um jogo de basquete aqui já que esse é o seu esporte favorito, hyung.

— É o meu esporte favorito, Jeongguk. Porém o time da escola é um pé no saco.

— Yoongi hyung já chegou a pensar em entrar no time. – Jimin se pronunciou. Estavam sentados Yoongi, Jeongguk e Jimin respectivamente numa fileira da arquibancada.

— Eu nunca fiquei sabendo disso. – O Jeon disse surpreso, virando-se para o mais velho dentre os três.

— Foi há muito tempo atrás, eu queria fazer parte de um time e como eu gosto de basquete pensei que seria uma boa. Mas ao ver que Taehyung fazia parte do time eu nem mesmo fiz a minha inscrição. – Respondeu o Min com descaso na voz, olhando para a quadra.

O som indicando o início do jogo soou alto pela quadra e todos os três viraram os rostos para frente para assistir os times. Logo nos primeiros minutos Taehyung fizera uma cesta, que fez a arquibancada ir a loucura e Jeongguk também, mais contido, porem tão animado quanto. Nas próximas duas cestas do Kim, Jeongguk continuou animado, procurando se conter para não dar bandeira, contudo sua empolgação não passara despercebida por seus amigos que trocaram um olhar cúmplice entre eles.

— O time da escola é realmente bom. – Yoongi comentou

— Sim, eles são bons mesmo. – O Jeon concordou, sem tirar os olhos da quadra, seguindo cada jogada que Taehyung fazia.

— O capitão do time também é muito bom. Eu tenho que admitir. – Jimin continuou, do outro lado. Atento as reações de seu dongsaeng. – Não é verdade, Jeongukie?

— Sim, Jimin. Taehyung é um bom jogador e um bom capitão.

— E você viu como ele sorriu para o Jeongguk quando chegamos, Yoongi? – O Park disse sorrindo.

— Não só vi isso como também notei que ele sempre busca o Jeongguk e sorri para ele a cada nova cesta.

— O que vocês estão querendo dizer com isso? – Jeongguk pediu, franzindo o cenho alternando o olhar entre os dois amigos.

— Que vocês estão se dando muito bem agora.

— Claro que estamos, Jimin. Nós somos amigos agora.

— Bem até demais para duas pessoas que viraram amigos tão recentemente sendo que antes eram inimigos mortais. – O Min pontuou.

— Ouso até dizer que estão íntimos. – Park completou.

— Não estamos íntimos, somos apenas amigos. – Jeongguk respondeu na defensiva, vendo o sorriso de Jimin aumentar. – O que que há? Por que vocês estão insistindo tanto nesse assunto? Estão com ciúmes da minha amizade com o Kim?

— Claro que não estamos com ciúmes de você, Jeongguk. – Yoongi respondeu com seu jeito costumeiramente calmo.

— Só estamos observando o quão íntimos vocês parecem. – Jimin continuou a provocar. – Não irei me surpreender se tiver algo mais nisso, afinal o nosso Jeonggukie aqui já ficou excitado somente porque o Kim o viu pelado, não é mesmo? – Riu de sua brincadeira ao terminar de falar. Tomando um gole do refrigerante que levara consigo.

— Sabe o que significa para mim ser íntimo de alguém, Jimin? – Jeongguk  pediu, fuzilando o amigo com os olhos, e o viu apenas arquear uma sobrancelha enquanto tomava o seu refrigerante. – Bater uma punheta pra alguém enquanto deixa essa mesma pessoa bater uma punheta pra você e te dedar ao mesmo tempo.

Riu com gosto da reação do amigo, que cuspiu numa garota a sua frente todo o refrigerante que bebia e se engasgava com o resto que ficara em sua boca.

Em um dos finais de semana que não saiu, porque desde que começou o seu “lance” com o capitão do time de basquete, mais conhecido como V, - porém para si era apenas Kim Taehyung, o bobão – Jeongguk perdeu a vontade de sair de casa. Seus amigos lhe obrigaram a passar o final de semana com eles e o combinado fora um dia de jogos na casa dos Park. Jimin inventou de tomar algumas cervejas e como dentre os três o Park era o mais fraco para álcool em pouco tempo o mesmo estava alegre, dançando pelo quarto, sorrindo sozinho e contando histórias que ninguém pediu para escutar. Uma delas fora essa experiência em questão que tivera com o seu outro amigo, Min Yoongi.

— Fala baixo, idiota. – Jimin falou nervoso, olhando para os lados para se certificar de que ninguém estava prestando atenção neles. – Eu só estava brincando com você, não precisa ficar irritado.

— Eu não estou irritado. – Jeongguk respondeu com um sorriso brincando nos lábios. — Estava apenas brincando junto com você.

— Eu não achei graça. – O Park retorquiu.

— Só porque dessa vez é o seu traseiro que está na reta. – Jeongguk riu com o duplo sentido de sua frase, Yoongi acompanhou o mais novo na risada.

— O meu traseiro não está na... – Jimin se aproximou do mais novo a fim de falar sem deixar que os outros além dele ouvisse. – O Yoongi não me dedou.

— Por que negar agora, Jimin? Você já contou tudo em detalhes naquela vez na sua casa, quando estava bêbado. – Yoongi disse ainda rindo.

— E você deveria ter negado tudo! – Acusou bravo, apontado o dedo para o mais velho. Yoongi apenas deu de ombros e voltou sua atenção para o jogo na quadra.

— Seu molestador. – O Park acusou bravo, olhando para o mais velho.

— Eu seria se não tivesse sido consensual. – Yoongi respondeu sem tirar os olhos do jogo. – E você mesmo confessou para Jeongguk naquele dia que você pegou a minha mão, lambeu meus dedos e enfiou no seu...

— Certo eu já entendi. – Cortou a fala do outro, bravo. – E você pare de rir. – Disse autoritário para o mais novo que se divertia assistindo a discussão entre os amigos.

Jeongguk levantou as mãos em sinal de rendição ganhando um rolar de olhos seguido de um bufo do Park.

Jimin virou o rosto para assistir ao jogo e Jeongguk entendeu que aquela conversa, assim como qualquer intenção de seus amigos de brincarem com a sua cara havia acabado. Se sentindo mais tranquilo, o Jeon voltou a assistir ao jogo e prestar atenção em Taehyung.

Após os quatro tempos da partida o time da casa se consagrou como vitorioso, o que já era esperado. Taehyung estava lá, no centro da quadra, sendo levantado por seus companheiros de time, ouvindo seu nome ser gritado tanto pelos integrantes do time como pelos torcedores na arquibancada.

Não fora nenhuma surpresa ele também ter sido o cestinha da partida.

— Você vem, Jeongguk? – Yoongi perguntou ao mais novo quando todos começaram a se encaminhar em direção a saída.

— Não, eu preciso falar uma coisa com o Kim.

— Você quer ficar a sós com ele, Jeonggukie? – Jimin provocou, dando um sorrisinho sacana para o mais novo.

— Hyung, leve o Jimin com você e dê um “toque” nele. – O Jeon fez questão de fazer as aspas no ar para que os amigos entendessem do que ele estava falando. – Talvez depois do seu toque ele para de ser tão chato.

— Pode deixar. – Yoongi riu da brincadeira do mais novo.

— O Yoongi hyung não me dedou, Jeongguk. – Jimin falou próximo ao amigo, se defendendo. – Ele tentou, eu parei o que estava fazendo na hora. No máximo foi só de raspão.

Os outros dois explodiram em risadas. Contudo Jimin continuava sério. Sua defesa não foi uma piada.

— Jimin, para de tentar negar o que aconteceu, você está sendo ridículo. -Yoongi disse para o mais novo, passando o braço pelos ombros do mesmo e o levando para fora da quadra. Virou rapidamente o rosto em direção a Jeongguk e piscou o olho para ele, sem Jimin perceber.

Jeongguk sentou-se novamente e esperou. Ao seu redor as pessoas se levantavam e seguiram em direção a saída. A quadra se esvaziava e no centro da mesma os times começaram a se dispersar. Em pouco tempo o Jeon se encontrava sozinho. Puxou o celular de seu bolso a fim de jogar alguma coisa ou dar uma olhada nas redes sociais para matar o tempo.

— Está esperando por mim?

Jeongguk levantou os olhos e em sua frente se encontrava Taehyung, ainda com o uniforme do time de basquete, o cabelo loiro colado na testa molhada de suor assim como sua camisa estava colada ao seu corpo. O Jeon engoliu em seco antes de se levantar e ficar cara a cara com o mais velho.

— Você gostou do jogo, Gukie?

— Foi um jogo bem legal, eu nunca tinha visto um jogo de basquete assim, ao vivo. Eu gostei.

— Viu como eu jogo muito? – Um sorriso convencido surgiu no rosto do loiro. – Cara, eu sou muito foda.

— Sim, Taehyung, eu vi. – Rolou os olhos. – Você é um ótimo jogador, é convencido demais, mas não posso tirar os seus méritos tanto como jogador solo como capitão do time.

— Eu disse, eu sou foda.

— Para com isso.

— Certo... – Se aproximou do mais novo. – Então me dá um abraço me parabenizando por eu ter ganhado o jogo. – Abriu os braços, se inclinando na direção do outro.

— Nem pensar. – Postou a mão no peito do Kim, o afastando. – Você está todo suado.

— Qual é, Gukie, é só um abraço. – Tentou se aproximar novamente do outro, porem outra vez fora impedido.

— Eu não vou te abraçar, TaeTae.

— Seu chato. – Taehyung se afastou, cruzando os braços e fazendo bico, coisa que o Jeon achou adorável, contudo jamais diria em voz alta. – Se você não quer me abraçar para me parabenizar então por que está me esperando aqui?

— Eu vim te parabenizar, sim. Mas não com abraços.

— Pois então você vai ter que compensar isso.

— O que?

— Eu vou querer algo em troca

— Como o que? – Perguntou desconfiado.

— Vai ter uma festa hoje à noite para comemorar a nossa vitória. Eu quero que você venha comigo.

— Você tem certeza disso?

— Por que não? Somos amigos agora, todo mundo sabe disso. Ninguém vai desconfiar de nada.

— Eu vou pensar melhor sobre esse assunto.

— Você não vai pensar nada, você vai na festa comigo, sim.

Jeongguk encarou o mais velho com as sobrancelhas arqueadas. Sorrindo divertido para a pretensão do outro.

— Você é um idiota muito convencido, Kim Taehyung.

— E você um babaca muito metido, Jeon Jeongguk. – Rebateu. – E você vai na festa comigo, sim.

— Eu só vou porque não quero ter que escutar suas reclamações depois.

— É tão fofo você tentando negar que não resiste ao meu charme e quer ficar perto de mim um pouco mais, Gukie. – Taehyung disse sorrindo, apertando a bochecha do mais novo.

— Sai. – Afastou a mão do outro de si. – Onde vai ser essa tal festa.

— Na casa do Jongin. Os pais dele estão viajando então está tudo liberado.

— Na casa do Jongin, hein...

— Sim. Não se preocupa, eu te pego e a gente vai junto.

— Busca.

— Busco, pego. De qualquer forma eu vou te pegar. – Brincou, segurando a cintura do mais novo, piscando para ele.

— Cai fora, cara. – Jeongguk o empurrou outra vez, contudo não pode esconder o sorriso em seu rosto. – E não precisa ir me buscar. Eu sei onde fica.

— Tudo bem, então. – Se afastou andando de costas a fim de seguir para o vestiário e tomar o banho que já deveria ter sido tomado se não estivesse ali conversando com Jeongguk. – Lá eu te cobro o abraço que está me devendo. Vou cobrar com juros. Juros altíssimos que você terá que pagar apropriadamente.

Jeongguk sorriu sabendo do que o loiro estava falando. Queria muito ir a essa festa e pagar a dívida que Taehyung estava lhe cobrando. Seria bom, mesmo que fosse na casa de Jongin.