História Beta - Bonito, vivo e respirando

(Narrativa na terceira pessoa)

Jimin acordou aos poucos, revirando-se em uma cama que sabia que não era sua. Ele estranharia, mas sabia porquê estava ali, seu membro ainda acordado, o calor incômodo e aquela sensação interior que fazia-o se contorcer eram claras. Seu lado racional era pouco presente, queria apenas voltar ao quarto, para o beta, ao que estavam fazendo. Um rosnado subiu por sua garganta e ele acabou gritando com toda sua força, se sentando no colchão.

Ofegava com toda aquela confusão, seu suor ainda escorria.

Queria sair dali, precisava de Jeon Jungkook agora. Foda-se qualquer outro ômega que o beta quisesse oferecer. E esse pensamento o fez recordar de como se sentia com toda aquela insegurança que o outro possuía.

Raiva.

Não importa se entendia, apenas sentia raiva porque Jungkook era tudo que o Park desejava em alguém, tudo que sempre procurou para ser ele sem se preocupar com julgamentos.

Seu punho foi de encontro à parede. Encarou a porta à sua frente.

— Me tirem daqui! — falou alto sabendo que haviam pessoas o observando do outro lado. — ANDEM! Eu quero sair daqui! — seu corpo já se movia para sair da cama.

Esse não era o convencional Park Jimin. Existiam apenas suas vontades, seus desejos, seu querer. Eram parcialmente os sentimentos que o alfa vinha guardando, todas as vezes que se conteve, todas as vezes que teve que sair de perto, todas aquelas que precisou esfriar os nervos. Ali era apenas o alfa nele comandando seus passos. E por isso ele quebrou o quarto todo, por isso rasgou o colchão e por isso machucou os punhos sem se importar, de tanto bater na porta de aço retorcendo o material, mas não o abrindo.

Estava tudo de cabeça para baixo naquele cômodo e as dores voltavam a incomodá-lo. Abaixou a cabeça ofegante, apertou os olhos e escorregou até o chão.

— Jungkook... — sua respiração parecia não acompanhar a necessidade de ar. — Kookie... — chamava tentando entender porquê o beta fugiu de si, por que foi renegado? — Eu... Quero, gosto de você, seu beta teimoso.

Ele ainda sentia o toque, os beijos, as sensações das peles se tocando. E pensar naquilo era bom e extremamente ruim. Por um lado havia de fato feito algo, mas não queria ter assustado o amigo, e menos ainda feito algo assim em seu cio.

Por que tão quente?

Ele estava para desmaiar quando a porta se abriu com vários enfermeiros entrando. Perdeu sua consciência em seguida sem tomar conclusões, sem se saciar, sem saber quem era.

{β}

Jimin passou mais um dia no mesmo estado. Tomou um pouco mais de razão no terceiro dia, mas não foi nada agradável. Seu corpo estava exausto, não tinha vontade de comer, não queria sair da cama e nem respondia às enfermeiras. Ele havia entendido o que fez e estava se odiando por isso.

Por um momento desejou que algum dos halteres da academia magicamente escorregasse e caíssem na cabeça de Jeon, enquanto ele estava lá fazendo seus exercícios, o fazendo esquecer-se de pelo menos as últimas duas semanas. Porém, durou pouco esse seu humor sombrio. Logo foi invadido pela culpa, rejeição e desânimo.

— Ele me odeia. — disse encarando a parede, suspirou e desejou sumir verdadeiramente.

{β}

Hoseok entrou no quarto se sentando na cama, esperando que trouxessem os comprimidos. Assim que o entregaram, ele engoliu com ajuda de um copo de água e se arrastou no colchão com dificuldade afundando seu rosto no travesseiro, tentando apertar seu corpo ao colchão para conter suas dores, mas foi pior: a fricção que causou de seu membro no colchão o fez gemer e ele virou do mesmo instante, colocando a mão em sua testa afastando seus fios grudados, enquanto ofegava de olhos fechados. Manteve-se assim tentando esvaziar sua mente e logo o remédio fez efeito, o fazendo dormir.

O problema dos comprimidos é que apagam seu corpo, não sua mente. Os sonhos do ômega não foram tranquilos. Por muitos momentos quis apenas ser cego. Sentir? Tudo bem. Ver? Nem pensar! Então quis ser surdo, porque só podia estar louco em ouvir aquelas coisas!

Mãos passeavam por seu corpo, ele beijava alguém e era bom assim como os lábios em seu pescoço. Aí era virado e os lábios trocavam as posições. “Tão lindo” um dizia “Tão gostoso” era a resposta do outro e o ômega gemia. Não lhe restava nada além de reagir a tudo. Seu membro era estimulado enquanto o outro insinuava penetrar-lhe. E ele queria mais que tudo que o fizessem logo.

— Tae... — pediu e sentiu dentes roçarem em sua clavícula em ambos os lados. — Yoongi... — gemeu soltando o ar que havia em seus pulmões. — Me marquem, por favor...

E assim que sentiu as duas mordidas, ele acordou em um pulo. Sua respiração rápida, a mente o convencendo que era um sonho, a frustração e o alívio por ser um sonho. Colocou as pernas para fora da cama apoiando os pés no chão e os cotovelos em suas pernas, afundando a cabeça no meio enquanto deslizava os dedos em seus cabelos.

— Os dois... Os dois não, por favor. — suplicou fechando os olhos.

{β}

Depositou a caixa pesada sobre a mesa encarando a mesma em seguida. Seokjin estava com raiva. Nenhum dos mais novos apareceu para encontrá-lo e nem tiveram o trabalho de se explicar até agora.

Estava arrumando sua sala nova, mas delicadeza era tudo que não tinha. Batia os livros, os empilhando na estante, fazendo o barulho ecoar na sala.

— Escolha a escola deles, isso... — depositava com força três livros. — Seja um hyung idiota que se mata de estudar pra passar na prova de seleção do cargo pra ELES NEM APARECEREM PRA TE CUMPRIMENTAR! — resmungava consigo mesmo. — Vou matá-los! Torcer um pescoçinho de cada vez enquanto estão ajoelhados no milho, amarrados e se resmungarem eu ainda afogo eles na primeira privada que encontrar… — disse simulando um enforcamento com as mãos.

Não era um ômega muito amigável quando contrariado. Nunca foi, jamais seria e coitado daquele que tentasse mudar isso. Isso às vezes trazia muitos problemas para ele, mas não era como se conseguisse mudar isso em si mesmo. Por mais que fosse um psicólogo muito bom mesmo estando em formação ainda, haviam características que ele não conseguia moldar ou mudar em si mesmo, pois faziam parte de sua personalidade. Então ele avisava sempre para não o estressarem ou conheceriam outro lado seu, longe do amigável e amoroso.

— Hyung? — uma voz tímida atrás de si chamou e um livro voou ao lado da cabeça do beta que havia escutado parte da reclamação, o fazendo arregalar os olhos. — Meu Deus, Jin, eu pretendo viver ao menos mais alguns anos!

— Não parece que é uma vontade real. — Jin continuava seu trabalho de pôr os livros na estante.

— Eu não sabia que já estava na escola. — Jungkook tentou ser cauteloso. — Tae me avisou hoje na aula, mas não consegui ir no almoço…

Seokjin fez um gesto para que se calasse e ele o fez.

— Você eu penso em perdoar. Tae e Yoongi eu vi ontem e os avisei. Jimin e Hoseok são os primeiros a morrer... Eu acabei de sair do meu cio! É impossível que eles não tenham sentido meu cheiro! — a voz firme e convicta assustava Jeon.

— Hyung... — disse temeroso. – Jimin e Hoseok estão na ala dos cios. — apertou os olhos, vendo o mais velho arregalar os seus.

— Como não me contaram isso antes? — cada sílaba era dita pausadamente com o ômega aproximando-se do beta que vacilava para a porta. — Não ouse fugir! — esbravejou.

— JIN! — Jungkook perdeu todo seu controle entrando em uma desesperada explicação. — Jimin foi tão, tão de repente... Sei lá... No meio da noite ele estava lá ge... — ele quase disse "Gemendo". — Gritando! — mentiu. — Ele estava, estava tão... Meu Deus! O cheiro no quarto. Eu quase sufoquei. Ele, ele... Jin... Jimin... — ele passava as mãos em seus cabelos. – Nós... Não sei, talvez.

— 'Tá possuído ou precisa de um remédio, criança? – Jin ironizou a confusão do beta que o olhou sério e depois suspirou, se enterrando em uma das poltronas. – Quer uma água? Benta, talvez? — continuou sua brincadeira.

— Hyung! — Jeon o repreendeu.

— Tudo bem. — o beta suspirou, sentando-se na outra poltrona. — respire fundo e tente me contar o que te deixa tão atordoado. E por favor... Jimin não gritaria em um cio tendo você no quarto. — Jin sorriu. — Eu conheço aquele alfa e sei muito bem quem seria o alvo entre vocês dois.

— Nossa! Obrigado por fazer eu me sentir melhor. Acho que sua profissão não tá começando bem, Jin hyung. — Jungkook foi um pouco ácido.

— Respeito ou sua orelha vai conhecer minha força. — sorriu se recostando na poltrona. — Comece…

Jungkook olhou para o teto, tentando achar como explicar as coisas para o mais velho entre eles e o mais racional, mas não conseguia achar por onde, até sua mente parar em como ele se sentia com tudo. Era apenas um beta. O tipo que os alfas não querem, o tipo que não existe na família dos Park, o tipo insuficiente. Sentiu seus olhos marejarem.

— Hyung... — chamou com a voz notavelmente embargada fazendo Seokjin se preocupar. — Eu sou um beta.

— Sim, Kook. — Jin confirmou sem entender o que o outro queria dizer.

— Eu… Eu... — tentava externar o que pensava e as lágrimas começaram a escorrer.

Desde que ele realmente entendeu o que era e o que os outros eram, se sentiu a última escolha em tudo. Seu jeito tímido só fez com que tudo piorasse, o fazendo ser excluído nas classes, e os poucos que o notavam nunca estavam de fato interessados em quem ele era, e sim em quem seus pais eram. Jungkook sempre viveu em sua bolha, seu mundo isolado e sozinho até Jimin aparecer. Os últimos dois anos se tornaram tudo o que ele nunca imaginou viver e ele se sentia bem com o alfa, se sentia completo, como se precisasse dele para ser aquele Jeon Jungkook feliz.

Seokjin se levantou e se sentou ao lado do beta o abraçando e deixando-o com seu choro silencioso, largando somente quando o ouviu respirar fundo. Olhou nos olhos do mais novo e sorriu terno, limpando seu rosto molhado.

— Há quanto tempo você guarda isso? — viu os olhos dele vacilarem de novo. — Pode chorar, não se preocupe. — e as lágrimas vieram de novo fazendo Jin aconchegá-lo em seus braços. — Jimin me contou... — começou a afagar os cabelos do beta. — Eu só posso dizer que você é suficiente pra si mesmo, para seus amigos, para sua família. Não se prenda nesses rótulos. Você será feliz Jeon, e será com aquilo que tiver.

— Jimin... — fungou sentindo que já não respirava pelo nariz normalmente. — Hyung… Eu gosto tanto dele. Não sei o que fazer. — Kook o olhou. — Ele é um alfa, eu não sirvo para alfas.

Jin acaba rindo um pouco fazendo Jeon sentir seu coração apertar, provavelmente seu hyung achava mesmo que não fosse possível para ele.

— Quem vai decidir isso é o Jimin. Foi ele que disse isso? — indagou, vendo o outro negar. — Então não fale assim. — Jeon respirou fundo e olhou para baixo pensativo. — O que aconteceu ontem?

— Hãn? — surpreendeu-se. — AH! Ontem... Bem, ele entrou no cio. — falou simplista notando seu rosto queimar.

— Só isso Jeon Jungkook? — cruzou os braços.

— Talvez... — torceu o rosto um pouco. — Tenhamos nos beijado.

Seokjin sorriu largo, mas tampou seu sorriso. Sentia-se feliz pelos dois, já imaginava que acabaria nisso, mas não havia falado nada pois sabia que ambos se resolveriam sozinhos. Mas quem disse que não podia rir daquilo?

— Mas... Eu sei que não foi porque ele quis. Não era ele, não mesmo. — Jungkook entrava em desespero novamente.

— Você fugiu dele, Jeon? — ainda ria um pouco.

— O que eu poderia fazer?! — quase gritou.

— Ajudar seu hyung, oras... — balançou a cabeça negativamente. — Taehyung podia doar um pouco daquele fogo pra você. — abraçou o mais novo. — Vai ficar tudo bem, não se preocupe tanto e venha conversar quando quiser. Ok?

— Obrigado, hyung.

Um tempo depois Seokjin recebeu um chamado para comparecer a ala da enfermaria que cuidava dos alunos no cio, obviamente foi correndo quando soube que era por seu primo.

— Como ele está? — perguntou para a enfermeira no quarto.

— Não come há dois dias. O cio já acabou e foi uns dos mais conturbados que vimos. — a enfermeira tinha feições preocupadas, Jin colocou a mão no ombro dela.

— Vou conversar com ele. — e assim entrou no quarto, vendo o corpo pequeno encolhido na cama que não se mexeu ao ouvi-lo. Foi para o banheiro e pegou o copo que havia na pia indo para o lado da cama. Em pé, ele estendeu sua mão com o copo e o virou na cabeça do alfa, fazendo-o se sentar no susto. — Hora de acordar, Park Jimin.

— Eu vou matar você, Kim Seokjin! — Jimin esbravejou.

— Já ouvi essas ameaças. Continuo bonito, vivo e respirando.

— O que faz aqui? — enxugava o rosto com raiva.

— Vim chutar sua bunda gorda dessa cama. Só porque você deu uns amassos no coitado do Kook, vai entrar em depressão?

— Co-como sabe disso? — arregalou os olhos.

— Ele veio falar comigo. — suspirou.

— Ele me odeia e eu me odeio também…

— AISH! Crianças... — Seokjin reclamou para os céus. – Não, ele não te odeia. Está assustado e inseguro como você me disse que ele é. Mas ele vai te odiar se ficar aí, eu já estou te odiando…

Jin cruzou os braços e levantou as sobrancelhas encarando o alfa que se convencia de que seu primo não iria sair dali se ele o ignorasse. Não, Seokjin era insistente em suas razões.

— Não vai me deixar em paz, né? — suspirou cansado.

— Não. — relaxou o corpo.

— Você é psicólogo dessa escola, não minha babá. Sabia? — Jimin bufou.

— Em primeiro lugar, sou seu primo. Segundo, sou mais velho que você. — levantava os dedos indicando os números. — Terceiro, sou sim o psicólogo. Quarto, você tem de me obedecer por todos os motivos anteriores. Quinto…

— Tá, tá, tá... — disse se levantando. — Me levantei, vou tomar um banho e sair daqui.

— E ir comigo ao refeitório antes que você devore seu colega de quarto. — Jin colocou a mão sobre a boca. — Opa! Talvez você queira isso... — saiu rindo, deixando o alfa raivoso para trás.

{β}

Jimin havia comido muito, nem sabia que estava com tanta fome, e sentia que em poucas horas poderia comer a mesma quantidade novamente. Foi divertido estar com Seokjin, o ômega estava empolgado em estar ali com todos e conseguiu rir com todas as ameaças que mais velho fazia a Tae e Yoongi. Esses dois com toda certeza estavam encrencados.

Quando chegou na ala de seu quarto, engoliu em seco. Não havia encontrado com ninguém e muito menos com o beta. Ele estaria no quarto? Park sabia que esse horário ele podia ou estar na academia ou fazendo tarefas no quarto. Rezava fielmente pela academia.

Respirou fundo quando encontrou a porta fechada e pediu aos céus para que acontecesse tudo tranquilamente. Girou a maçaneta e abriu a porta lentamente.

Nada.

O quarto estava vazio. Seu corpo relaxou de forma considerável como se tivesse carregando quilos que já não estava aguentando. Entrou tranquilamente e se jogou em sua cama, tentando esvaziar sua mente, mas um barulho o fez se assustar. A porta do banheiro se abriu e Jeon saiu de lá — vestido ao menos —, com cabelos molhados e bagunçados, olhos e nariz vermelhos... Parou no lugar assim que viu Jimin.

— Hy-hy-yung?

Jimin não sabia o que fazer. Falava do que aconteceu? Fingia que não lembrava? Ou pulava pela janela torcendo que não morresse por estarem no terceiro andar?