História Between Coffees and Roses - Confusões

Confusões

Terça-feira, 10 horas da manhã e nem sinal de Min YoonGi.

Ok, não era como se tivesse importância, mas JungKook não conseguia ficar sem pensar sobre o quão estranho isso era. Se perguntava se havia acontecido algo, afinal o legista não ficava um dia só sem passar no bar há meses, nem que fosse só para tomar suas cervejas, e agora faziam mais de dois dias que não o via recebia qualquer sinal de vida seu.

Já se questionava sobre o que pudesse ter acontecido e a primeira hipótese que lhe veio a mente foi o trabalho lhe ocupando demais, no entanto a ideia foi imediatamente descartada, afinal era habito do acobreado desabafar sobre suas frustrações consigo e por mais cheio que fosse seu dia, sempre vinha a si no fim de tudo. Será que tinha feito algo errado para tê-lo distanciado?

Apesar de se sentir aliviado em se livrar de YoonGi, JungKook achava que ainda não era hora. Jimin estava vivo e seus assassinatos ainda eram investigados e sabia que os próximos também seriam de competência “dos três patetas” e se ver sem o mais velho por perto fazia-o se sentir receoso, afinal ele era sua carta na manga contra a policia e perde-la seria como andar as cegas nos próximos crimes.

Sua vontade era de realmente “ligar o foda-se”, mas sabia que não podia, então mesmo a contragosto, mandou uma mensagem de texto perguntando como ele estava, encheu de emojis de corações e outras coisas fofas que detestava, mas que sabia serem necessárias para fingir alguma saudade ou necessidade de tê-lo por perto e aguardou resposta.

Passou-se uma, duas, três horas e seu celular manteve-se mudo. Sem ligações, sem mensagens e nada de YoonGi aparecer ali e com isso um frio chato se instaurou nas suas entranhas. Já pensava sobre o que o acobreado poderia ter descoberto e refazia na cabeça todo o ultimo dialogo que tiveram durante o almoço de dois dias atrás mas não conseguia ver falha ou erro em tudo o que foi dito por si e mais uma vez com relutância, fechou o bar, subiu ao seu apartamento e se arrumou com capricho para logo em seguida ir até a delegacia que o outro havia contado trabalhar com o falso propósito de lhe chamar para um passeio, cinema talvez.

Suspirou aliviado ao chegar em frente ao prédio e avistar o carro escuro de YoonGi estacionado de qualquer jeito na calçada. Era sinal de que o rapaz ainda trabalhava e com isso agradeceu por realmente aparentar que ele estava ocupado demais mesmo e com isso se recriminou.

“Olhaí! Você todo preocupado achando que ele tinha te largado e ele ta só entocado nessa delegacia mesmo!” – Pensou suspirando, já descendo do carro, travando-o e se encaminhando para dentro da jurisdição.

No entanto, a felicidade de Jungkook não durou muito. Assim que conversou com a recepcionista que prometeu averiguar o paradeiro do legista dentro da instituição, sentou-se confortavelmente em uma das cadeiras em forma de longarina que estavam ali, tirando o celular do bolso para mandar outra mensagem dizendo que o esperava, quando Hoseok apareceu, com uma cara cansada, um copo de café em mãos e um olhar que nunca havia visto antes lhe questionando o que estava fazendo ali.

- AH! Oi Hoseok! Eu tava passando por aqui e resolvi dar uma parada pra ver se falta muito pro YoonGi deixar o trabalho. – Falou engolindo seco e se sentindo realmente intimidado pelo olhar que o investigador lançava em si. – Pensei em chama-lo para ver um filme que havíamos combinado de ver juntos. – Concluiu sorrindo amarelo.

Para o policial, ver JungKook tão cedo não era algo que cogitava ou queria. Ainda era muito recente em sua cabeça toda a historia que Taehyung havia lhe contado e por mais que fizesse sentido, havia aprendido na profissão que nunca se deve acusar alguém sem provas, por mais que o dono da cafeteria não tivesse motivos para mentir. O fato era que ver o garçom com toda a situação fresca na memória o faziam sentir repulsa ao mesmo tempo que se sentia confuso. Hoseok queria pegá-lo pelo colarinho e questionar, da forma mais agressiva que conseguisse, sobre tudo o que ouvira no dia anterior e ver se ele teria coragem de desmentir, se afirmaria, enfim, queria ver como ele reagiria ao saber que tudo o que havia feito no passado fora descoberto por mais alguém alem das vitimas. Mas, por outro lado, também não queria ouvir nada por ter medo de, no fim, acabar sendo convencido de uma inocência que sabia não existir, além do fato de saber que aquilo não era assunto seu, era um segredo de Jimin e precisava cumprir a promessa de também manter o segredo sobre sua ciência quanto aquele assunto. Seria difícil disfarçar a raiva que passou a ter do garçom, mas precisava se esforçar para não deixa-lo desconfiado de nada e se um dia tivesse a oportunidade de “por as cartas à mesa” o faria em um local mais apropriado, não em seu lugar de trabalho, e com isso respirou fundo antes de forçar-se um sorriso e responder-lhe.

- É uma pena! Ele saiu para fazer algumas averiguações do caso que estamos lidando e não sei que horas volta. Ele foi com a viatura então imagino que venha logo. – Respondeu sorrindo e imediatamente viu o mais novo se levantando novamente e se encaminhando para a porta da delegacia.

- Tudo bem então. Vou esperar ele naquela cafeteria ali na frente. Você pode dizer pro YoonGi me ligar quando ele chegar? – Falou simples e logo a cor sumiu do rosto do policial.

O Único pensamento que Hoseok teve ao ouvir tais palavras foi de que JungKook não poderia ir até a cafeteria. Primeiro porque Taehyung estava la, provavelmente sem saber que o mais novo tinha um caso com o legista e se o acobreado fosse buscar o garçom, uma bela confusão poderia ocorrer. Não sabia qual era o nível de envolvimento do colega com o rapaz e muito menos fazia ideia de como o dono da cafeteria reagiria ao saber que seu atual caso se envolvia com alguém que havia marcado seu passado de forma tão negativa. Seria uma situação no mínimo preocupante. Mas a preocupação maior de Hoseok estava em Jimin.

Não podia saber ao certo, mas com certeza o ruivo se sentiria mal ao ver seu ex-amado ali, principalmente depois de tudo o que acontecera e só de pensar em como o barista poderia se sentir, seu peito apertou. No entanto não teve tempo de agir para impedir, quando caiu em si, JungKook já atravessava a rua e adentrava ao recinto e a única coisa que o investigador pode fazer naquele momento foi rezar para que nada de muito ruim acontecesse e amaldiçoar quem quer que fosse que tivesse posto o garçom no mundo. A impressão que tinha era que aquele rapaz só existia pra estragar a vida e a tranquilidade das pessoas.

~~

- ÉCA!! Serio Taehyung, esse perfume do YoonGi é muito doce! Você poderia ter tomado um banho antes de descer e me agarrar! – Falou Jimin apertando o nariz com uma mão e secando os cabelos com a outra, sentado sobre a tampa da privada do banheiro do quarto do mais novo observando o mesmo lavando os cabelos dentro do Box.

- ALTO LA! – berrou o moreno – Você que me agarrou! Eu não tinha como adivinhar que você ia acordar com esses efeitos justo hoje e ia precisar da minha ajuda! – Falou colocando o rosto pra fora da porta de vidro. – Principalmente depois do Hoseok ter dormido aqui... – Concluiu sorrindo sugestiva e maliciosamente para o ruivo que conseguiu ficar com as bochechas ainda mais rubras que o cabelo devido a vergonha de se lembrar do policial.

- EI! Pode parar de ficar pensando besteira! Não aconteceu nada entre eu e Hoseok. Eu só cuidei dele porque ele passou mal e depois ele cuidou de mim, só isso! – Jimin já se levantava e se dirigia para frente do espelho e Taehyung saiu do chuveiro com a toalha em mãos se secando. Perceber a timidez do ruivo quanto aquele assunto o deixou empolgado a continuar com a brincadeira.

- Aaaa! Mas bem que você queria! – Andou até ficar atrás do ruivo, aproximou o rosto da orelha dele antes de continuar a provocação. – “Isso Hoseok! AAH! Aí de novo Hoseok!” – Falou imitando debochadamente a voz do mais velho que imediatamente se virou e lhe deu uma toalhada na cara.

- Para com isso Tae! Eu não gemi assim! – Voltou-se novamente de frente para o espelho e passou a examinar as marcas. – E olha só o que você fez, seu vampirozinho miserável! Se havia alguma chance de ter alguma coisa com ele, acabou de ser extinta por sua culpa! – Concluiu choramingando.

- Desculpa por isso. Se esconda por um dia ou dois, que logo a marca some. – O olhar do moreno expressou certo pesar, mas logo voltou a se animar quando se tocou do que havia ouvido. – Pera la! Você realmente cogitou transar com o cara? – Viu os olhos arregalados do ruivo como se tivesse sido pego de surpresa cometendo algum delito e antes que ele pudesse negar ou justificar continuou. – E por que não tentou algo? Vocês ficaram quase um dia todo trancados no quarto! – Taehyung tentava soar de forma divertida, mas sua cabeça já suspirava feliz por, finalmente, ver Jimin se interessando por alguém de novo.

- Porque mais da metade desse tempo eu fique desmaiado, né cabeçudo?! – Novamente percebeu que poderia ser interpretado diferente do que gostaria de ter soado, só pelo olhar malicioso que o moreno lhe lançava através do espelho. – EI! Não to falando que teria dado pra ele não! Só... sei la Tae. Ele me faz sentir umas coisas estranhas quando me beija. – Jimin abaixou o olhar ao pensar sobre tudo o que tinha em mente quanto aos acontecimentos e suspirou fundo. – Eu tenho medo Tae... – Confessou e logo o mais novo o abraçou, em um ato de consolo tão doce que nem parecia que estavam se provocando até segundos atrás.

- Jiminie, você não pode ter medo pra sempre... – Falou tentando ver como o mais baixo reagiria e vendo-o se aninhar em si, continuou. – Eu sei melhor do que ninguém tudo o que aconteceu contigo, mas passou! Eu sei que o que o Jeon fez nunca vai ser esquecido pela sua cabecinha ruiva, mas Jimin... – Chamou e aguardou até que ele lhe encarasse novamente. – Nem todo mundo é como JungKook. Você já parou pra imaginar quantos caras legais dispensou por medo de serem como aquele otário? – Viu o ruivo negar com a cabeça. – Se não pensou antes, tente pensar agora que você pode estar prestes a dispensar um cara legal que vai te fazer bem e eu não to falando só de sexo, porque aqui entre nós, você já tem o melhor do mundo! – Brincou com um ar de quem se gabava e ouviu-o rindo leve contra seu pescoço.

- Para de ser convencido! – Falou dando um tapa leve no torço desnudo do mais novo. – Você sabe que não é fácil assim pra mim. E se ele só quiser isso mesmo? E se eu me apegar a ele e depois que a gente transar, ele sumir? Ou pior! E se ele me machucar e me magoar? – Um suspiro longo saiu dos pulmões do mais baixo e assim ele ergueu o olhar até encontrar o do amigo. – Sabe Tae, eu queria mesmo confiar em alguém como confio em você pra poder me entregar a esse alguém como me entrego a ti, mas eu tenho medo! Seria tão mais fácil se a gente se apaixonasse um pelo outro, né? A gente já mora junto mesmo, até ia poupar o casamento. – Gargalhou ao fim da frase e percebeu que o moreno não o acompanhou e tal fato o deixou constrangido. – Bom, vamos parar de falar besteiras até porque já estou bem atrasado em abrir a cafeteria e você tem que dormir, afinal passou a noite em claro né!? – Disse já se soltando do abraço e deixando rapidamente o cômodo rumo ao próprio quarto com o intuito de se arrumar novamente e trabalhar.

Ao se ver sozinho, Taehyung se sentiu relativamente leve por não precisar encarar o mais velho, mas ao entrar em seu quarto e ver as roupas que ambos usavam antes de transarem, espalhadas pelo chão, um aperto estranho surgiu no peito do mais novo.

Ele se sentiu, pela primeira vez em mais de vinte anos, confuso com relação ao amigo mesmo sabendo que tudo estava claro demais desde o começo. Eles seriam sempre amigos, transariam quando sentissem necessidade mas não se envolveriam de outra forma. Esse era o combinado e ambos cumpririam, mas porque ouvi-lo falar sobre sentimentos entre eles fazia seu coração bater tão rápido assim? Porque saber que seu amigo não o amava de uma forma alem da fraternal o doía tanto?

Ainda segurando as peças que havia ajuntado do chão, sentou-se a cama e pegou um dos travesseiros e apesar dos traços adocicados do perfume do legista, era muito mais nítido o cheiro amadeirado do perfume do ruivo, o que explicitava o obvio. Jimin dormia ali com frequência, por mais que não transassem sempre e foi só nesse momento que se tocou do quanto gostava, do quanto apreciava mesmo a proximidade entre eles e então Taehyung notou que, pela primeira vez, era ele que estava prestes a ter que se afastar de Jimin para respeitar um possível relacionamento dele. Foi só então que percebeu que pela primeira vez, entendia o que o mais velho sentiu quando ele mesmo começou a namorar Baekhyun, ainda no colégio. Mas havia algo mais lhe incomodando, lhe doendo, e não era só o fato de saber que seu amigo precisaria de espaço. O que doía era o fato de que teria que vê-lo com outro cara pela primeira vez, ser posto em segundo plano pela primeira vez.

Se pôs a imaginar aquele corpo que tanto gostava de apreciar, sob o corpo magro de Hoseok, lembrou com um pesar que jamais revelaria a ninguém, a voz aguda do amigo gemendo o nome do policial naquela manhã e pela primeira vez na vida toda sentiu algo que nunca achou que fosse sentir de Jimin. Ciúme. Teve ciúme só em pensar em outra pessoa o tocando da forma como só ele havia tocado, ciúme de outro alguém ouvindo aquelas arfadas e suspiros, de outro ser o fazendo suar, tremer e se arrepiar como sabia só ele mesmo ter o feito e por um momento quase se odiou por ter incentivado o barista a se entregar de uma vez para o investigador.

E no meio de todas aquelas constatações internas, lhe veio a pior de todas. Talvez, depois de tantos anos, será que estaria finalmente sentindo seu coração reagir a Jimin com o mesmo fervor que todo o seu corpo já reagia? Será que estava se apaixonando pelo seu melhor amigo? Pelo cara que crescera consigo e que justamente por se sentir seguro ao seu lado, havia optado por dividir a casa, o trabalho, a vida toda como se realmente fossem um casal, mesmo prometendo constantemente não deixarem esses sentimentos nascerem?

E por fim a culpa lhe tomou. Sabia que não tinha o direito de estragar a vida do sócio e nem de descumprir aquela promessa. Imediatamente se pôs a tarefa de tentar afastar as ideias e sentimentos que estavam lhe fustigando as vistas e se repreendeu. Poderia sim ter ciúme do amigo, mas como amigo. Como alguém que o tem integralmente a disposição e que não estará assim tão disponível caso arrume um namorado.

Teria sim que se acostumar com a ideia de outro cara frequentando a casa e tomando para si, parte dos mimos que até então haviam sido completamente seus. Teria que engolir a possibilidade de dividir a mesa do café da manhã com uma terceira pessoa e ver Jimin o tratando com o mesmo carinho, cuidado e doçura com que lhe tratava. Seu sentimento de posse com relação ao pequeno era imenso, mas depois de mais de vinte anos teria que se habituar com a ideia de que o ruivo não era propriedade sua. Sequer era propriedade de alguém e por isso tinha o direito de viver sua vida como bem entendesse, fosse sozinho ou só consigo ou com outra pessoa.

Taehyung decidiu dormir de uma vez para silenciar toda aquela balburdia que acontecia em sua mente e ao se deitar, percebeu algo que não era seu sobre a mesa de cabeceira. Se esticou e pegou o aparelho celular do acobreado e passou o dedo pela tela que imediatamente exibiu um pedido de senha como requisito para desbloqueio. Viu que o mesmo tinha notificações de sete ligações perdidas e duas mensagens de um remetente que o fez rir mesmo sem conseguir ver o conteúdo dos textos.

“Que tipo de gente chama outra pessoa de Kookie?” – pensou bloqueando a tela novamente.

Imediatamente lhe veio biscoitos a cabeça e sabendo da fama que policiais tinham de amar donnuts e coisas no sentido, imaginou que fosse o apelido ridículo de algum colega do trabalho do dono do aparelho e suspirou fundo ao lembrar do dia anterior. Não poderia ser idiota e negar que havia sido uma das melhores noites da sua vida. Havia sido libertador visitar o parque abandonado na companhia de Min YoonGi e apreciar a gama imensa de personalidades que se escondiam por trás dos olhos rasgadinhos do legista. Também não poderia ser hipócrita e negar como tinha amado o fim do passeio, ali naquela mesma cama e com tal memória, Taehyung se sentiu uma verdadeira puta. Daquelas bem vadias mesmo pois havia amanhecido com o policial dentro de si, para menos de uma hora depois, acabar no mesmo leito, dentro do amigo.

Foi automático para o moreno comparar as duas transas. Ele sabia o quanto gostava de dominar Jimin, de ter o controle de tudo e do ar submisso que o amigo tinha enquanto enlaçava sua cintura com as pernas grossas e bem torneadas. Era uma sensação de poder inigualável, mas também havia adorado a forma como YoonGi o dominou, foi cuidadoso consigo mas ao mesmo tempo, potente, imponente, diria até majestoso. De todos os lados que havia visto do mais velho, aquele foi o que mais apreciara justamente pela excitante intimidação que o olhar dele lhe passava, aquela impressão de que seria cruelmente punido se não obedecesse e principalmente, a fome, a sede, a pressa que o outro tinha em saciá-lo e se saciar também.

Pensando nas duas situações, ponderou novamente de forma comparativa e por mais que gostasse da forma como o amigo se cedia, não podia negar que gostava muito mais de ceder e já se sentindo muito melhor do que quando deitara, Finalmente Taehyung adormeceu com a imagem daquela águia poderosa o fazendo cavalgar sobre si.

~~

Após se vestir com pressa, Jimin abriu finalmente a cafeteria, com seu lado responsável recriminado brutalmente seu lado desleixado por estar começando a trabalhar com mais de duas horas de atraso.

Nas primeiras horas mal teve tempo de respirar. A atividade de abrir o estabelecimento por si só lhe exigia concentração ao operar as maquinas, ainda havia a mobília a ser limpa, as geladeiras para repor e organizar os balcões e percebeu até com certa irritação que a tarefa de fechar a casa, no dia anterior, havia sido executada com grande descuido e pressa. Fez uma nota mental de repreender Taehyung mais tarde e antes de concluir aquelas atividades, já percebeu maioria das mesas ocupadas, indicando que aquele seria um dia cheio.

Já passava das duas da tarde quando finalmente conseguiu atender todos os clientes, que agora apreciavam seus pedidos com um ar satisfeito no rosto, e com isso se escorou no balcão para relaxar mesmo que minimamente. Foi só aí, com sua mente acalmada pelo trabalho, que relembrou do fim do dialogo que havia tido no banheiro do quarto de Taehyung.

Foi impossível não estranhar a forma como seu amigo reagira a sua piada e se colocou a pensar sobre o que significara aquele silencio do mais novo. Não conseguia imaginar ou ver o que poderia existir de errado no que falara, era só mais uma das milhões de brincadeiras que sempre fez sobre se darem muito bem desde pequenos, combinarem em tantas coisas e ainda assim não terem se apaixonado. Somente um cego tolo não veria o quão mais simples seriam a vida de ambos se eles se amassem de verdade e realmente vivessem como um casal alem do sexo, assim como na vida também, mas para Jimin não era algo em cogitação.

O Mais velho sempre foi ciente que para o outro, ele era apenas o melhor amigo, não conseguia sequer imaginar Taehyung lhe olhando de uma forma diferente justamente porque o moreno sempre deixou claro quais eram as intenções que existiam alem da amizade. Era sexo sem envolver sentimento, apenas para alivio fisiológico de ambos, no entanto ainda se sentiu imensamente desconfortável com aquele silencio que havia se instaurado entre eles quando comentou sobre as vantagens de namorarem mesmo.

No entanto, os devaneios do ruivo não duraram muito. Ainda estava escorado ao balcão, com o olhar perdido quando ouviu a sineta da porta tocar, indicando que havia mais um cliente chegando e ainda sem olhar para tal pessoa, pegou seu bloco de pedidos e se encaminhou para onde viu-o se sentando. Colocou o melhor sorriso que tinha no rosto, puxou levemente o colarinho da camisa para cima –ato repetido pela milésima vez naquele dia, graças ao “vampirozinho miserável” – e se anunciou ainda encarando a folha em branco apoiada em sua bandeja.

- Boa Tarde! O que deseja? – Falou e ao perceber o silencio relativamente longo demais, encarou o cliente e ao ver aquele rosto sentiu como se uma bola de demolição estivesse lhe acertando em cheio.

Imediatamente se questionou sobre o que significava Jeon JungKook sentado em uma de suas mesas esperando para tomar um café seu e sua vontade era de pegar o moreno pelo pescoço e coloca-lo porta a fora, gritando aos quatro ventos que não queria que ele aparecesse nunca mais, pra depois se trancar no seu quarto e se dopar de remédios pelos próximos quinze dias e só não fez isso por conta da cafeteria cheia de clientes que obviamente não o olhariam com bons olhos caso executasse suas vontades.

Já para Jeon, a surpresa foi maior ainda. Foi impossível não sorrir com a própria sorte de, por acaso do destino, ter finalmente descoberto o paradeiro de Jimin. Ainda observando o ar perturbado que o ruivo tinha ao lhe encarar, escancarou seu sorriso mais debochado e sabendo que aquela raiva toda expressa naquele olhar, não lhe faria mal algum, continuou com o dialogo cliente-atendente.

- Um Machiatto, por gentileza, Jimin-ah! – Falou fazendo questão de citar o apelido e percebeu o outro estremecendo.

Jimin sentia o estomago revirar só de pensar no tom debochado em que ouvira novamente o apelido que aquele garoto lhe dera. Tentava se concentrar para confeccionar a bebida, mas depois de ter errado a receita pela quinta vez, desistiu. Jogou o pano de prato que tinha sobre os ombros dentro da pia e dirigiu-se para dentro de casa, rezando para Taehyung ainda não ter apagado e poder descer para lhe ajudar já que não tinha mais condição alguma de continuar trabalhando sozinho e quando entrou no quarto do mais novo, o mesmo estava enrolado nos cobertores dormindo como um anjo.

O Ruivo pensou em desistir do plano e se esforçar mais uma vez, tentar atender os clientes em normalidade e fingir que estava tudo certo consigo mesmo, mas sabia que o seu tormento ainda estava aguardando, sentado em sua mesa com aquele maldito sorriso de coelho então, mesmo contra a vontade, caminhou até a cama e chamou por Taehyung, pediu que ele descesse o mais rápido possível para lhe ajudar e ouviu-o protestando com um muxoxo baixo, mas já abandonando o leito. Voltou ao balcão e ficou de costas para a área dos clientes apenas para não precisar encarar JungKook e alguns minutos depois foi surpreendido por um abraço pelas costas e um selar singelo na curva do pescoço.

- O que você precisa de mim, Jiminie? – Perguntou o moreno, já lhe soltando e observando o ar tenso no rosto do mais baixo.

- Preciso que você faça um Machiatto e leve até a mesa nove. – Respondeu ainda com o ar baixo e Taehyung se pôs a sua frente, levou dois dedos até seu queixo e o levantou, encarando fundo o seu olhar.

- Ei!, O que aconteceu? Por que você ta assim? – Questionou novamente e ouviu um “faz o que eu te pedi que quando você levar lá, você vai entender” E o mais novo o obedeceu.

Quando Taehyung chegou a mesa, com o seu típico sorriso quadrado estampado no rosto e viu aquela face, com aquele sorriso de lado, tão frio e maquiavélico que lhe lembrava um vilão de filme de terror, sentiu o sangue gelar e realmente como Jimin o havia dito, entendeu tudo.

Não conseguia pensar sobre o que aquilo significava. Não conseguia entender a presença de Jeon ali e o pior de tudo, não entendia a expressão de deleite que o mesmo tinha apenas por estar no seu estabelecimento. A feição de JungKook, com aquele sorriso gigantesco e psicoticamente escancarado no rosto fez um calafrio fortíssimo percorrer cada célula do corpo do dono da cafeteria e por algum momento chegou a achar que ele havia vindo ali de propósito justamente para atormentar o amigo, ou talvez pior, tentar se aproximar de alguma forma e fazê-lo mal de novo.

Após entregar o pedido e voltar para trás do balcão, Taehyung puxou Jimin para próximo ao caixa onde os clientes da área em que as mesas estavam dispostas não tinham muita visão e abraçou o corpo do amigo, lhe afagou os cabelos e naquele mesmo instante percebeu-o chorando. Sabia que o amigo não teria mais condições de continuar ali e falou para que ele subisse para o quarto para dormir, mas o ruivo negou de imediato. Disse que não era justo já que no dia anterior o moreno havia trabalhado o dia todo sozinho e concluiu reafirmando a fala do mais alto, horas antes.

“Tae, eu não posso ter medo e sofrer pra sempre. Ele não pode fazer nada contra mim agora, então eu vou ser forte! Eu vou ficar aqui! Só não me deixa sozinho.”

Com uma ponta de orgulho, Taehyung enxugou as lagrimas do rosto do amigo e lhe afagou por mais uns instantes percebendo-o se acalmar e o brilho triste do olhar dele dando lugar a um aspecto frio e morto. Quase tão maléfico quanto o do moreno que estava sentado ali perto tomando o seu café e o mais alto se questionou internamente sobre o que havia passado na cabeça de Jimin para fazê-lo assumir tal postura.

~~

Hoseok andava da um lado para o outro na recepção da delegacia. Sabia que deveria estar em sua sala estudando seus casos e aguardando la o retorno de YoonGi ou ajudando SeokJin, mas não conseguia. Sua cabeça estava em um turbilhão frenético sobre como faria para tirar JungKook de onde estava, mas tinha muitos problemas envolvidos nisso. Ele sabia que não podia simplesmente ir até a cafeteria e pedir que o garçom o seguisse para sair de la. Além de achar que soaria muito estranho para o Jeon, faria Jimin desconfiar sobre ele saber da sua historia e essa não era uma hipótese plausível, afinal havia prometido segredo a Taehyung. Sabia que não poderia pedir que Jin fosse em seu lugar pois o colega o questionaria sobre seu interesse em manter o ruivo longe do mais novo e mais uma vez esbarrava em sua promessa de sigilo e então optou por esperar YoonGi voltar e pedir que ele ligasse para JungKook.

Voltou ao seu caminhar infinito, hora olhando o estacionamento da delegacia que tinha inicio na rua de traz do prédio, hora tentando enxergar dentro da cafeteria através da vidraça e passando as mãos pelos cabelos constantemente pelo nervosismo que lhe assolava. Aquela hora sabia que seu garoto já deveria ter visto o causador do seu tormento e a única coisa que pedia aos céus era que desse força ao menino para aguentar firme até que ele pudesse afastar aquele maldito rapaz de lá.   

Hoseok já estava quase pegando uma outra viatura para ir atrás do legista quando viu o carro em que ele havia saído entrando pelo portão dos fundos da delegacia e estacionando ao lado do prédio e sem nem pensar em se controlar, correu em direção ao acobreado. Parou ao lado da porta do motorista, esbaforido pela corrida e apoiou as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego enquanto o Min descia do carro com um ar preocupado.

- Hoseok? Você ta bem? – Vendo que o outro não respondia, levou as mãos até os seus ombros e os apertou de leve. – Aconteceu alguma coisa? – o investigador levantou o olhar, já com fôlego o suficiente para falar e respondeu.

-O JungKook... – Puxou o ar fundo dos pulmões tentando medir até onde poderia falar sobre o ocorrido. – Ele ta na cafeteria. – Concluiu observando a pele branca de YoonGi perder qualquer resquício de cor logo de imediato.

- Taehyung... – Falou baixo, quase que em um sussurro com os olhos arregalado e isso fez Hoseok se lembrar que o garçom na cafeteria não seria um problema só de Jimin. – Hoseok, corre lá e fala que eu to aqui esperando ele.

- YoonGi, não dá! – Falou tentando achar uma desculpa e suspirou aliviado quando a ideia lhe veio a mente. – O Tae vai estranhar se eu for la e falar pro Jeon que você ta esperando ele aqui. Liga pra ele! – Hoseok observou o bufar frustrado do acobreado e sentiu o desespero lhe tomando ainda que sem saber o motivo de tal expressão no rosto do mais velho.

- Não tenho como ligar pra ele, Hoseok! Eu esqueci meu celular la no quarto do Taehyung! – A vontade do moreno foi de pular no pescoço do legista, tamanha raiva que sentia pela sua negligencia e por alguns minutos, o silencio se instaurou, enquanto ambos pensavam em como tirar o garçom da cafeteria. – Faz assim: Vai la e chama ele pra fora e fala que eu to esperando ele na sua sala, cuida pra ninguém ouvir vocês. Se eu for lá o Tae vai me ver e não vou ter como explicar. Se você conseguir, pega o meu celular com ele depois. Não precisa se preocupar se eles verem você falando com o Jeon porque os dois sabem que a gente frequenta o bar dele, depois você inventa uma desculpa pro Jimin.

Mesmo que a contragosto, Hoseok não tinha muita escolha e realmente aquela era a única saída possível e assim assentiu ao acobreado e uma ultima vez esfregou as palmas no rosto e arrumou levemente o cabelo, suspirou profundamente varias vezes tentando se acalmar para só assim rumar até a rua que era entrada da cafeteria.

No entanto antes de atravessar a via, ainda pela vidraça, viu uma cena que lhe doeu e nem entendia o porque. Taehyung estava escorado no balcão do caixa e Jimin estava agarrado ao seu corpo. Era visível de longe a força do abraço deles e a forma como o moreno acarinhava aqueles cabelos do ruivo e vez ou outra lhe plantavam selares singelos na bochecha, mas foi só ao chegar bem perto que viu o que mais lhe doeu.

Ainda do lado de fora, mas já com a mão na maçaneta, observou pela vitrine quando o mais baixo se afastou brevemente do mais novo e o olhou nos olhos. Como se seu mundo estivesse desabando em câmera lenta, viu os olhos deles dois se fechando e logo os lábios se tocaram em um selar simples, mas longo o suficiente pra marejar as orbes do investigador. Mais uma vez amaldiçoou seu coração adolescente por se entregar tão fácil e percebeu ali que não deveria nunca ter se preocupado com o barista, já que era obvio naquele momento que só estava usando-o e com tal constatação, entrou, passou reto pela bancada e foi até a mesa onde o garçom estava e disse sem medir tom de voz ou coisa parecida.

- JungKook, o YoonGi chegou. Ele ta te esperando na minha sala. - Viu o sorriso largo do moreno se abrir ainda mais e já se levantando.

- Avisa ele que eu já to indo e fala pra ficar pronto pra gente sair. Vou só pagar a conta e já chego la.

Antes de retornar a delegacia, Hoseok fez questão de olhar para o caixa onde viu um ruivo com os olhos arregalados e marejados e um moreno boquiaberto segurando um celular com força e pela capa de couro preta reconheceu ser do legista, então andou até la, tomou o aparelho das mãos do mais novo e lançou o olhar mais irritado que conseguia expressar.

- Acho que isso não é seu. – E quando lançou um ultimo olhar para Jimin, viu um hematoma em seu pescoço.

Foi impossível conter a umidade que surgia em sua visão e antes que chorasse na frente do garoto, apenas saiu rapidamente, rezando para que NamJoon estivesse de bom humor e o deixasse ir para casa. Já havia vivido muitos dias ruins na vida, mas não se lembrava de quando fora a ultima vez que se sentiu tão mal quanto naquela terça-feira.