História Between Coffees and Roses - A Descoberta

A Descoberta

Naquele fim de manhã de terça-feira, quando Min YoonGi percebeu que havia impressões digitais suas na garrafa encontrada no crime, com timing de hidratação anterior ao horário em que chegara até aquela cena para examiná-la, sentiu o desespero e um medo terrível lhe cobrindo por completo.

Já estava se sentindo mal por ter falhado e esquecido o pedido ao instituto de criminalística – algo que não era de seu feitio – e tudo piorava dentro de si por saber que quem havia percebido sua falha havia sido o próprio delegado e só tal fato já o deixava tenso pois sabia que NamJoon era inteligente e sua negligencia poderia ser interpretada de muitas formas e nenhuma delas poderiam ser boas para si.

Tinha conhecimento de casos em que a policia se corrompia e escondia de propósito a identidade dos criminosos, mantendo-os livres e atuantes e sempre teve nojo de tais profissionais, afinal, o objetivo da policia era colocar e manter os bandidos atrás das grades e não facilitar a vida deles fora delas e infelizmente, sabia que essa era uma possibilidade que poderia passar pela cabeça do Kim.

E se não bastasse toda aquela gama de coisas ruins e coincidências desastrosas, ainda havia agora uma prova de um possível envolvimento seu com o crime. Um prato cheio a disposição do delegado –conhecidíssimo por ser incorruptível – lhe acusar ou, no mínimo, instaurar uma investigação contra si.

YoonGi tinha certeza que não seria capaz, nem em um milhão de anos, de compactuar com tais atrocidades. Era contra mortes de qualquer âmbito violento e se descobrisse que algum conhecido seu envolvido com tal coisa, não hesitaria em denuncia-lo as autoridades e se afastar imediatamente, mas também sabia que quem visse de fora, não interpretaria sua atual situação com tamanha comoção. Sabia que se alguém soubesse que ele havia tido contato com algum objeto da cena do crime em horário pretérito a tal acontecimento, seria sumariamente acusado de envolvimento e agora, com o agravante de ter esquecido o maldito pedido de exame, também sabia que ninguém acreditaria em sua inocência e com tal pensamento já se via atrás das grades com a carreira e a vida destruída mesmo sem fazer ideia de quem era o real criminoso.

O Acobreado soube que precisava agir e teria que ser rápido. Não podia contar com a compreensão dos seus colegas de caso pois com certeza eles não acreditariam em si, então a única saída que viu foi uma das que mais lhe reviravam o estomago. Esconder tal “prova” e tentar averiguar sozinho quem era o dono daquela garrafa térmica e depois achar um jeito de cavar mais pistas para respaldar sua acusação de forma que não ficasse obvio que ele tinha uma informação extra que não constava nos autos.

Decidiu então que teria que começar por ocultar os indícios e assim, colocou os papeis que segurava em mãos dentro do envelope e se levantou da cadeira que estava, ganhando a atenção dos dois investigadores.

- Eu vou dar uma saída. Vou até o laboratório do instituto de criminalística ver as impressões digitais do cadáver pra saber se não são dele essas marcas dos relatórios. – Falou tentando soar calma e despreocupadamente e imediatamente viu Hoseok e SeokJin assentindo de forma rápida e voltando a sua discussão inútil sobre tamanhos de mãos.

Soltou um grande suspiro aliviado quando fechou a porta atrás de si pelos colegas não perceberem sua mudança de humor e se encaminhou ao estacionamento da delegacia. Como sabia que as viaturas tinham sistema de rastreamento, optou por fazer o que realmente havia dito que faria. Dirigiu pelas quatro quadras que separavam o laboratório do seu trabalho e quando chegou lá, sem pressa alguma, pegou um café, tomou com calma enquanto conversava com a recepcionista, depois andou pelos corredores cumprimentando os colegas e conversando com eles o Maximo que podia no intuito de ganhar tempo ali e por fim, foi até a sala do necrotério apenas para ter certeza de algo que já sabia. Não havia digitais da vitima na tal garrafa. Após sair da câmara fria que guardava os corpos, foi até a sala do arquivo de provas dos casos e pediu ao curador do local que lhe desse aquela garrafa que estava no lugar em que Jaesang foi morto e assim que viu o rapaz lhe entregando o objeto, bufou frustrado. Era uma garrafa preta comum, daquelas que vendiam em qualquer supermercado e só vê-la não lhe trouxe memória alguma.

Mesmo relutante e irritado, YoonGi colocou as luvas cirúrgicas, abriu o pacote transparente lacrado em que o recipiente estava e o tomou em mãos. Passou a analisar de perto o objeto, girando-a na palma para olhar todos os lados quando percebeu próximo ao fundo dela uma marca de cola de um adesivo em forma de estrela e o legista sentiu como se estivesse sendo apedrejado mentalmente com a lembrança e imediatamente a cena se fez na sua mente.

Ele estava sentado a mesa e a garrafa estava a sua frente, em sua canhota, e no mesmo instante riu ao perceber o adesivo colorido e infantil grudado no objeto, percebeu o olhar confuso de JungKook sobre si e zombou contra o mais novo imediatamente, chamando-o de criança e viu-o arrancando a garrafa das suas mãos com um ar irritado e tirando o adesivo Dalí.

A garrafa era do garçom.

Como se estivesse sendo atingido por uma rajada de balas vindas de uma metralhadora, o legista entregou novamente o objeto ao curador e saiu do laboratório quase correndo, se jogou dentro do carro e encarou o envelope que repousava sobre o banco do passageiro e sem mais delongas, dirigiu rapidamente para casa.

Durante todo o caminho tentava digerir o significado daquilo tudo. Seria mesmo JungKook o assassino? A questão lhe rondava a mente de tantas formas que o fazia nausear. Para si não era plausível cogitar o envolvimento do Jeon com aqueles crimes. Apesar das mentiras que o garoto havia tentado lhe enfiar goela abaixo, ainda lhe parecia um rapaz inofensivo e doce, centrado e responsável. Que motivos o garoto teria pra cometer tais barbáries?

No entanto YoonGi ainda tinha a preocupação de tirar seu nome do meio de todo aquele conglomerado de coisas terríveis que estavam acontecendo e assim, mesmo desgostoso daquela ideia, decidiu adulterar o documento que NamJoon o havia entregue.

Sentou-se em frente ao seu computador e abriu o editor de fotos, escaneou a primeira folha que continha a imagem da possível mão do assassino e espelhou-a fazendo com que aquela mão direita se transformasse na foto de uma mão esquerda. Escaneou a imagem da sua própria mão e editou a tal folha colocando aquela mão esquerda que havia criado e a nota de rodapé da folha original, excluindo a observação sobre a cicatriz no meio da palma. Imprimiu a sua adulteração e sorriu satisfeito com o resultado, logo em seguida desencadernou o documento, retirou a folha que lhe incriminava queimando logo em seguida em sua lareira e adicionou a “nova prova” ali e sem mais delongas retornou para a viatura rumando as pressas para a delegacia novamente.   

No caminho, YoonGi ponderou sobre como faria para ter certeza se JungKook era mesmo o assassino. O fato era que sabia perfeitamente que para observar o moreno, teria que se reaproximar dele e, principalmente depois do dia perfeito que havia tido com Taehyung, aquela não era uma ideia que lhe apetecia. O legista realmente havia gostado do garoto, havia se divertido muito com ele naquele parque e só de lembrar como foram as ultimas horas juntos, sentia seu corpo todo se arrepiar e seu baixo ventre reagir de uma forma tão violenta que não se lembrava de ter sentido nada parecido por alguém antes.

Porem tinha sua carreira como prioridade. Ser um Medico legista e um investigador renomado era o único motivo de sua família ter orgulho de si e havia lutado durante anos para alcançar tal reconhecimento e tudo isso estava em xeque agora que uma prova de um crime que era investigado por si, poderia lhe incriminar também. Teria que ser calculista e paciente. Seus próximos passos decidiriam seu futuro e não poderia errar ou deixar algo passar despercebido agora.

Enfim tomou a decisão. Iria se afastar momentaneamente de Taehyung e se reaproximar de JungKook e tentar conhecer melhor o garçom. Iria sonda-lo o Maximo possível e tentar lhe dar espaço, mesmo que estando sempre por perto, para que ele agisse e assim que o moreno desse um passo em falso, tentaria seu bote ou simplesmente aproveitaria para arrancar o Maximo de pistas que conseguisse para poder acusa-lo formalmente e após esse leque de ideias se acalmarem na cabeça, pode estacionar tranquilamente na delegacia enquanto via um Hoseok correndo desesperado até si.

Foi impossível não sorrir da própria sorte assim que viu o colega indo em direção a cafeteria. Parecia até utópico ou que estava vivendo em um universo paralelo. Jeon JungKook lhe procurando? Vindo atrás de si deliberadamente e sem nem tentar maquiar seu interesse? Parecia até uma brincadeira.

YoonGi sabia muito bem que apesar dele gostar bastante da sua companhia, o mais novo não iria procura-lo. Sempre foi assim. Se quisesse ver o garçom, teria que ir até o bar ou até seu apartamento porque esperar que ele viesse atrás de si era perca de tempo, mas pelo visto as coisas estavam mudando e estava bem feliz com aquilo.

O Acobreado ainda se sentia magoado, bravo e não tinha vontade alguma de tocar em Jeon de novo pelo simples fato de que havia mentido. Saber que ele poderia ser o ator de dois crimes nojentos, cruéis, executados sem o mínimo de compaixão ou sentimento o deixavam mais nauseado ainda e só de pensar em chegar perto de alguém tão monstruoso, sentia repulsa, mas sabia que era necessário então quando o viu atravessando a rua em sua direção, engoliu seco a vontade que tinha de lhe prensar na parede pelo colarinho e arrancar uma confissão nem que fosse a força, e estampou o tal “sorriso de gengiva” que sabia ser apreciado pelo moreno e de imediato caminhou até ele.

- Oi meu anjo! Não esperava te ver aqui hoje. – Disse logo o puxando para um abraço e escondendo o rosto no seu pescoço para não encara-lo e assim anular as chances do mais novo perceber seus reais sentimentos. – Desculpa pelo sumiço. Essa delegacia anda um verdadeiro caos! – Viu-o se soltar do abraço e observou a expressão leve e tranquila que Jeon mantinha e logo recebeu um selinho breve nos lábios. Ato esse que o deixou surpreso e desconfiado. Mais uma vez se viu pensando sobre aquele não ser o JungKook que conhecia, porque o JungKook que conhecia jamais faria algo no sentido praticamente no meio da rua.

- Não tem problema não, Min. Falta muito pra terminar seu expediente? – Disse o mais novo ainda com o corpo colado ao do acobreado e fazendo desenhos imaginários no tórax coberto pelo jaleco branco.

- Eu só vim deixar uns documentos na minha sala e já estava indo pra casa. – Observou mais um sorriso fino naquele rosto infantil e um olhar maroto lançado a si. – Por que? Tem algo em mente?

- Sei la... Pensei em dar um passeio no shopping ou ir ao cinema. Não to a fim de abrir o bar hoje e o tédio ta me matando sabe... – E dessa vez não conseguiu esconder seu espanto com as palavras do garoto e o mesmo percebeu seus olhos arregalados. – Por que? Algum problema? Tinha outro compromisso? – viu-o questionar e imediatamente tratou de se recompor para não deixar transparecer suas suspeitas.

- Na verdade não. Só estou estranhando você querer fechar o bar pra sair comigo. – Respondeu simplista e fingindo um sorriso tímido e lisonjeado.

- Desculpa YoonGi! Eu sei que você sempre tenta estar por perto e me fazer sentir bem e sei também que não tenho sido a melhor companhia pra você. Só estou tentando reparar meu erro. – O legista viu imediatamente a mentira estampada no olhar do outro que evitava o seu enquanto falava, mas optou por fingir que acreditava nele.

- Para de ser bobo! Você é sempre uma ótima companhia! Vem, vou guardar as coisas na minha sala e depois a gente sai, pode ser? – Questionou e viu o moreno assentir animadamente com a cabeça.

Apesar de imaginar que talvez, em uma possibilidade muito remota, o garoto estar se reaproximando assim e lhe procurando pudesse ser motivado realmente por saudade, seu lado racional lhe dizia claramente que ele e JungKook estavam em um jogo.

Para YoonGi, Jeon estava indo atrás de si por segurança. Ele sabia perfeitamente que o acobreado estava cuidando dos seus assassinatos e realmente seria melhor manter o legista por perto. Era bem obvio para o Min que o garçom queria lhe vigiar os passos e saber sempre que possível a que pé estavam as investigações e tal constatação fez um certo deleite nascer no peito do policial.

“Você finge que quer estar comigo pra se manter ciente sobre como as coisas andam quanto as suas merdas e eu finjo estar contigo pra poder te enfiar atrás das grades, Seu interesseiro filho de uma puta!” – Era o que pensava enquanto se dirigia até o carro do mais novo para finalmente irem ao dito passeio.

Seria um fim de dia longo tendo que bancar o mais novo ator da cidade.

~~

Após ver Hoseok deixando a cafeteria perceptivelmente irritado, ter que enfrentar um JungKook debochado e ainda assim não poder chorar ali, Jimin correu pra dentro de casa, se trancou no quarto e amaldiçoou o mundo todo por não poder ter paz por mais do que dois dias. Por que demônios aquele desgraçado daquele garoto tinha que reaparecer justo hoje? E o pior: Por que Hoseok teve que vir ali do nada, justo quando estava sendo consolado por Taehyung? E por que ele não perdia logo aquela mania imbecil de trocar selinhos com o amigo?

Essa ultima já havia posto o mais novo em varias enrascadas, mas era automático dos dois. Era só um gesto de afeto que tinham desde que se lembravam por gente, porem sabiam que quem visse de fora não acreditaria na inocência do contato e tudo só ficou pior ainda por conta daquele maldito chupão que o moreno havia deixado em si.

Já nem questionava a braveza de Hoseok. Sabia exatamente o que se passou pela cabeça do investigador e não seria ele que tentaria justificar o injustificável, até porque o que diria se fosse atrás pra se explicar? Que não era nada daquilo que o mais velho estava pensando? Que aquele selinho era só troca de carinho de amigos? Que aquela marca de dentes em seu pescoço também não era sinal de que havia transado com Taehyung menos de uma hora depois do Jung ter ido trabalhar?

Jimin estava errado desde a hora em que ele e o amigo se beijaram na cozinha e tinha ciência completa disso. Sabia também que isso deveria ser até bom pra si, já que planejava se afastar de Hoseok mesmo, mas então por que doeu tanto? Por que ver a magoa no olhar dele lhe machucou daquela forma? Por que ver os olhos do moreno marejados fizeram se arrepender de tudo o que fizera naquele dia? E o pior de tudo: Por que ver ele conversando com JungKook quase lhe passou despercebido?

Foi só então que se lembrou de tal detalhe. Até aquela constatação, estava tão imerso no seu monologo de auto-julgamento e concentrado nas próprias cagadas que nem tinha se tocado que Hoseok havia ido até a cafeteria e conversado com o Jeon antes de vir até o caixa, ou seja, de alguma forma ele sabia que o garçom estava ali. Tal historia lhe passou a cheirar muito mal e o “aroma” só piorou quando se tocou que o investigador sabia do seu passado, sabia qual era seu envolvimento com o rapaz, sabia tudo de mau que aquele garoto havia lhe feito e imediatamente a dor e a culpa deram lugar a raiva.

“E pensar que eu quase acreditei nesse seu papinho ridículo de ‘eu vou cuidar de você, Jimin’... Mentiroso do caralho!”

Não dava mais. O ruivo havia atingido seu limite e sabia que poderia tomar os frascos inteiros dos seus remédios que não se acalmaria, então aguardou Taehyung voltar para dentro de casa, já com a cafeteria fechada e lhe contou a ideia que havia passado sobre sua cabeça. Para o Park, Hoseok só havia se aproximado de si para fazer mal, provavelmente a mando de JungKook e ainda antes de concluir sua linha de raciocínio, o mais novo o interrompeu dizendo que ele estava enlouquecendo. Que ele tinha que ser mais racional e arrematou falando que confiava em Hoseok e com tal afirmação Taehyung sentiu a própria face queimar.

Em vinte e dois anos, durante toda a sua vida, nem por um misero segundo, havia cogitado a possibilidade de ver Park Jimin erguendo a mão para si. A face de Taehyung queimava com o tapa que havia tomado, mas nada se comparava a dor que tinha em seu peito. Aquele não era o Jimin que havia crescido consigo, aquele não era seu melhor amigo. JungKook e Hoseok poderiam até serem de fato dois monstros mas não arrastariam Jimin consigo, isso era uma promessa que sempre fez a si mesmo. Que não importasse o que acontecesse, ele sempre estaria ali para o ruivo e engolindo seu instinto de devolver o tapa, respirou fundo e se jogou sobre o amigo, abraçando-o com o Maximo de força que conseguia, prendendo os braços dele ao lado do corpo justamente para que não fosse afastado e praticamente o imobilizou com seu enlace. Sentiu-o se debatendo, gritando para que o soltasse, xingando-o de palavrões que nem imaginava que o mais baixo soubesse, mas Taehyung se manteve firme e afundou ainda mais o nariz no pescoço dele e se permitiu chorar, deixou que seus olhos expelissem aquela quantia absurda de água suficiente para deixar o tecido daquela camisa de uniforme encharcada. E menos de cinco minutos depois o percebeu cedendo. Percebeu quando as mãos, ainda com movimentos limitados, se seguraram na barra da  sua camisa, quando a testa de Jimin foi parar finalmente no meio do seu peito e quando aquela serie de xingamentos que saiam da boca cheinha do amigo deram lugar a um murmurar infinito de pedidos de desculpas.

A magoa queimava em seu âmago, mas Taehyung não se sentia capaz de julga-lo. Entendia melhor que qualquer ser do mundo o que estava acontecendo na cabeça do ruivo e a culpa lhe cobria por completo porque realmente o que havia sido uma piada naquela manhã, se tornou realidade. Ele havia mesmo destruído as chances de Jimin e Hoseok ficarem juntos e não tinha contento nenhum com isso. Apesar de tudo que havia se passado em sua cabeça horas antes, não se sentia no direito de privar o amigo de um namoro que já era quase certo se ele não tivesse marcado o corpo do mais velho daquela forma, e ainda perdido dentro daquele mar de culpa e arrependimento, percebeu o mais baixo lhe soltando aos poucos e finalmente teve coragem de lhe encarar.

- Tae, eu vou dar uma saída. Não me espera pra dormir e se eu não voltar até amanhã, abre você a cafeteria. Eu não sei quando vou voltar. – Falou com o rosto baixo e pegando a mochila que estava no sofá e apenas para se sentir mais seguro, o moreno questionou.

- Onde você vai Jiminie? Por favor, não faça nada de errado. – Implorou vendo-o com o olhar vacilante e o segurou pelo pulso percebendo que o ruivo tentaria sair sem lhe responder. Viu-o suspirar pesado até, relutantemente em lhe dizer.

- Eu vou ver o Professor. Não vou conseguir me acalmar sem ir ver ele. Por favor não me siga e nem ligue pra ele. Quando eu voltar te conto como foi.

Mesmo a contra gosto, Taehyung soltou o braço do Park e o viu caminhando apressado para fora de casa, já sabendo perfeitamente o que significava a tal visita ao professor da faculdade e rezando para que ele não fizesse nada que pudesse coloca-lo em maus lençóis.

Apesar de ainda ser relativamente cedo, Taehyung se recolheu ao próprio quarto e tentava dormir mas não conseguia. Ficou horas inteiras rolando na cama, sendo consumido pela culpa e tentando a todo custo pensar em uma forma de consertar toda a merda que havia feito. Ele havia ouvido perfeitamente bem Hoseok dizendo a JungKook que YoonGi o esperava e por isso sabia que o policial não havia ido atrás do garçom por si só. Até porque lhe parecia ser burrice demais o investigador procurar se encontrar com o moreno justo no estabelecimento deles. Era bem obvio pra si que se os dois tramavam algo contra Jimin, não se veriam justo com o ruivo por perto. O moreno questionou enormemente a inteligência do amigo por cogitar tal hipótese e sabendo que de burro, o barista não tinha nada, entendeu perfeitamente que todas as coisas que ele disse foram motivadas pelo nervosismo e pelo ódio. Assim como o tapa que recebera.

Por fim se levantou e tendo ciência de que não havia outra forma de se acalmar, decidiu que procuraria Hoseok. Como não sabia seu endereço, desceu até a cafeteria, preparou uma torta e um café e, já vendo a noite alta no céu, foi até a delegacia. Lá, pediu sobre onde o policial morava, alegando que ele havia feito um pedido de delivery e que por descuido não havia anotado o endereço e comemorou internamente quando a recepcionista ingênua lhe cedeu a informação com um grande sorriso no rosto.

Quando parou em frente ao prédio do investigador, preferiu não pensar sobre o que estava fazendo exatamente. Se dirigiu ao porteiro que já cochilava em sua cadeira e mal olhou na sua cara ao de entrar, e antes que o funcionário se tocasse de que havia liberado a passagem para um estranho, se embrenhou no elevador, apertou o botão do andar anotado pela colega de trabalho do investigador e ao chegar em seu destino respirou fundo varias vezes antes de tocar a campainha.

Quando a porta se abriu, viu Hoseok de cabelos molhados, com os olhos vermelhos e inchados, trajando roupas surradas e por pouco não recebeu uma bela batida da madeira na cara. Conseguiu a muito custo travar o movimento do policial e com uma força extra empurrou-o para invadir a moradia do mais velho.

- Eu não quero mais olhar pra sua cara, sai agora da minha casa Taehyung! -  Ele esbravejou e o dono da cafeteria se encolheu, mas não se deixou desistir.

- Hoseok eu tenho uma serie de coisas pra te falar e você vai me ouvir! Eu não vim la da puta que o pariu a toa! – Disse já quase perdendo a paciência.

- HAHA!! Deixa eu ver se entendi? Você invade meu apartamento a essa hora da noite depois de ter mentido pra mim como um grande filho da puta que você e o seu amiguinho são e ainda quer que eu te escute? – Disse com as mãos na cintura fuzilando o outro com o olhar.

- É serio cara! Não é nada disso que você ta pensando não! Me deixa explicar? – Taehyung havia percebido que não adiantaria bater de frente com o outro então assumiu uma postura mais defensiva, no entanto percebeu que ele não cederia.

- Um Momento! Não precisa falar nada. Me deixa adivinhar: Você e Jimin são namoradinhos desde que ele tomou um pé na bunda do JungKook. Talvez vocês tenham brigado no dia que foram pro bar e por isso se agarraram em mim e no YoonGi. Como não se acertaram, continuaram fazendo eu e o meu amigo de otários e hoje, depois que eu dormi la, vocês se arrependeram e finalmente descobriram que nasceram um pro outro. Treparam até não poder mais e depois brigaram de novo e agora você vem aqui com a intenção de se livrar desse seu namoro e jogar a bomba nas minhas costas? Nem precisa ter mais de um neurônio pra perceber qual é a de vo... – Hoseok foi interrompido por um soco vindo do punho de Taehyung e antes que se recobrasse sentiu mais um do outro lado.

- Eu não acredito que confiei em você a ponto de contar tudo o que o Jimin viveu e ainda ter que ouvir essa quantia de merda que sai da sua boca! – O mais novo bufava irritado, sentia que estava espumando de tanta raiva e já pensava em ir embora e deixar o policial sofrendo. Quanto a Jimin, já era acostumado a consola-lo e não seria diferente dessa vez.

- MERDA? Se o que eu disse não é verdade, então ande! Me conte a sua versão da história! – Perguntou debochadamente, cruzando os braços sobre o peito e batendo o pé no chão em um sinal claro de impaciência.

- Eu e Jimin nunca tivemos nada! Você já deve saber por ele já ter te dito que a gente cresceu junto, a gente sabe tudo um do outro e é esse o Maximo de vinculo que existe entre nós. Nunca fomos namorados e também nunca brigamos, nem no dia que fomos para o bar e nem depois disso. – Respondeu respirando com dificuldade tentando se concentrar ao Maximo em manter a calma. Pensava em Jimin e no sofrimento que atormentava a cabeça ruiva do amigo e tentava se manter focado no seu objetivo de, pelo menos, deixar o policial ciente da verdade. Se ele acreditaria ou não, aí já não era mais problema seu.

- Sim! Claro! – Um riso soprado debochado escapou do mais velho que ainda encarava o chão com um ar descrente. – E essa amizade de vocês é tão forte que até transar está incluso no pacote! Quero arrumar um melhor amigo assim, viu! Me parece muito vantajoso! – E mais uma vez o deboche e desprezo presente na voz de Hoseok tiraram Taehyung do serio.

- Escuta aqui: Eu não preciso justificar nada pra você! Você e ele nem tem nada! Dormiram juntos duas noites porque ambos foram irresponsáveis: Você tomando chuva e ele se entupindo de remédios! Você não tem motivos pra ter ciúme dele e realmente, a gente transou e não foi pouco. – Pela primeira vez percebeu o olhar de Jung sobre si, com uma magoa estampada que nunca havia visto nele, e antes que lhe interrompesse, continuou. - Mas eu vim aqui esclarecer que isso não aconteceu porque temos algum relacionamento ou porque ele não gosta de você. É uma historia longa pra caralho e eu não vou confiar em te contar mais nada dele porque você já se mostrou bem indigno de confiança, mas quero que tenha uma coisa em mente – Pausou a fala se aproximando e apontou o dedo indicador bem no meio da face do policial. - Não to dizendo pra você aceitar nada, mas acredite, se não tivesse desistido tão fácil, a próxima transa do Jimin poderia ser contigo! Todas as outras poderiam e quem sabe ele até se sentisse seguro ao te contar sobre o porque de termos transado hoje. Se você gosta dele o suficiente pra acreditar em mim, isso também não é problema meu, mas quero que saiba que ele já gosta de você o suficiente pra ter perdido todos os sentidos e inclusive me batido só por você ter ficado bravo com ele. – Taehyung respirou fundo mais uma vez e com um tom de voz coberto de magoa continuou. - Hoseok, em vinte e dois anos Jimin nunca ergueu um dedo pra mim, mesmo que já tenha havido motivos pra isso antes, e agora que o fez, foi por você, então pense bem se toda essa historia babaca que você criou na sua cabeça sobre ele gostar de mim, faz sentido mesmo. – E com tais palavras, o mais novo saiu do apartamento batendo a porta atrás de si tentando não pensar na mentira parcial que havia contado e Hoseok pode sentir o desespero e a dor lhe tomar.

O moreno desabou no tapete da sala com as lagrimas voltando a lhe tomar a face. Não imaginaria nunca que sentiria por alguém tudo aquilo que Jimin lhe provocava e se odiava muito por isso. Tinha raiva de si mesmo por ter se deixado encantar e se apaixonar tanto e tão fácil. Não sabia o que pensar, não sabia no que acreditar e tudo o que estava acontecendo lhe deixava tão confuso e perdido que nem forças para voltar pra própria cama ele tinha e com isso adormeceu chorando como um bebe faminto no meio da sala mesmo.

Ao despertar, totalmente sem noção da realidade em volta, sentindo como se seu corpo estivesse de decompondo em vida, Hoseok ainda teve que lidar com outra realidade frustrante e preocupante. Seu trabalho.

Percebeu que o som que o acordara vinha do seu celular jogado na estante ao lado da porta do apartamento e ao pegar o aparelho sentiu seu sangue gelar e um pressentimento muito ruim lhe atingir o peito. Era uma mensagem de NamJoon que pedia que ele fosse vê-lo em seu apartamento o mais rápido possível e ao terminar de ler o texto, Hoseok questionou a sanidade mental do chefe por saber que ainda não eram nem cinco horas da madrugada. Imaginando que talvez fosse algum problema de sinal que havia atrasado o recebimento da mensagem, respondeu perguntando que horas deveria ir e logo recebeu outro texto dizendo para que fosse imediatamente. Definitivamente não era problema da operadora telefônica ter recebido uma mensagem aquela hora.

Tentando esquecer toda a conversa que teve com o dono da cafeteria – assunto esse que lhe perturbou até em sonhos. – Foi direto ao chuveiro, tomou um banho longo mas que nem de longe o deixou relaxado, vestiu a farda, arrumou seus assessórios e rumou ao estacionamento onde pegou seu carro e dirigiu até a morada dos Kim.

Quando tocou a campainha, foi atendido por um SeokJin visivelmente cansado, com olheiras profundas e uma cara nada boa, o que indicava que ele havia dormido pouco e a causa da insônia não tinha a ver com o namorado. Foi guiado até a cozinha onde viu uma serie de folhas espalhadas pela mesa e a cafeteira ligada, fazendo o ambiente cheirar deliciosamente a café.

Antes que perguntasse sobre o chefe ouviu sua voz reverberando atrás de si.

- Bom dia Hoseok! Vou ser direto, curto e grosso. Você e SeokJin terão a missão de vigiar Min YoonGi de perto a partir de agora.