História Between Coffees and Roses - O Mentiroso

O Mentiroso

Ao abrir os olhos, Hoseok se sentiu relativamente confuso sobre onde estava, num primeiro momento, mas bastou olhar para o lado e ver aqueles cabelos vermelhos desgrenhados sobre o travesseiro branco e assim se lembrar da noite anterior.

Ainda sentia o corpo fraco e estava com a roupa levemente úmida de suor, provavelmente pela febre, mas não havia resquício algum de sono em si e chegou a comemorar internamente por não ter tido pesadelos sobre os dois casos que haviam lhe perturbado no sono anterior. Olhou para o criado-mudo e viu ainda ser perto das sete horas da manhã. Bufou com isso pois sabia que era muito cedo para acordar seu anfitrião, mas não tinha vontade alguma de ficar naquela cama. Relutou e pensou por alguns minutos até que decidiu se levantar mesmo assim, e rezava mentalmente para não ser considerado um intrometido por estar “explorando” a moradia de Jimin e com isso, resolveu descer até a cozinha, já com a ideia de retribuir o cuidado dedicado a si na noite anterior, com um belo café da manhã.

Mas foi só ao terminar de descer a escada que se tocou que não havia sequer olhado o cômodo em que estava no momento e ao ver a estante da sala com alguns porta-retratos, sua curiosidade o fez se aproximar para observar as fotografias.

Haviam varias delas com apenas dois meninos que imediatamente reconheceu serem os donos da casa. Riu quando reparou que em nenhuma delas a cor do cabelo de Taehyung se repetia. Havia uma foto em que estava com o cabelo em um tom forte de Laranja enquanto Jimin tinha o seu bem preto e muito mais curto do que estava agora, outra em que Tae tinha o cabelo violeta e Jimin tinha o mesmo corte da outra foto só que completamente bagunçado e bem mais claro, depois tinha uma com o garoto mais alto de cabelos loiros e por fim viu uma meio escondida. Levou a mão até o objeto e pegou-o e quase caiu pra traz com a foto ali.

Era uma imagem visivelmente antiga. Taehyung tinha seus cabelos castanhos da mesma cor que carregava agora, o que fez o policial pensar que era seu cabelo natural. Seu sorriso quadrado estava imensamente aberto e ele abraçava um outro garoto pelos ombros e esse garoto também tinha um sorriso bem grande e notavelmente feliz no rosto. Aquele segundo garoto lhe pareceu bem familiar e tentava saber de onde conhecia as feições. Observou a armação grossa do óculos encostando nas bochechas fartas e sorriu sobre o quão fofo e doce aquele garotinho parecia, analisou os olhos na imagem e aquela felicidade tão genuína era algo que com certeza nunca havia visto, mas ao observar melhor o sorriso soube imediatamente quem era. Naquela fotografia, os dois amigos não aparentavam ter mais que catorze ou quinze anos e se impressionou com a mudança absurda no rosto e no pouco que mostrava do corpo de Jimin. Olhou mais uma vez para aquele par de olhos brilhantes e refez mentalmente sua promessa da noite passada. Iria sim recuperar aquele brilho, não importando o que havia acontecido naquele intervalo entre o retrato e os dias atuais.

Sorriu mais uma vez e deixou o quadro no lugar de antes e já se encaminhava para a cozinha, retomando seu plano inicial do café da manhã quando, em um aparador que estava próximo a parede oposta, percebeu um quadro daqueles de formatura de ensino médio.

Curioso sobre a imagem, pegou-o em mãos também e passou a olhar rosto por rosto naquelas pequenas fotos 3x4 que cada aluno da classe tinha ali e ao lado havia uma pouco maior de Taehyung. Achou divertida a brincadeira de tentar adivinhar os nomes daqueles alunos, já conhecendo dois deles ali até que seus olhos pousaram sobre um rosto em especifico. Estreitou os olhos juntando as sobrancelhas e dessa vez seu esforço em reconhecer quem era foi bem menor porque aquele sorriso de dentes grandes e feições faciais infantis eram inconfundíveis e se sentiu bem surpreso por saber que Jeon JungKook havia estudado juntamente a Jimin e Taehyung, e já se perguntava mentalmente porque não havia visto nenhum dos garotos cumprimentando o Garçom no bar, na sexta-feira, quando ouviu passos na escada ao seu lado acompanhado de um “bom dia” rouco e sonolento vindo do ruivo.

Voltou seu corpo em direção ao som e o viu ao pé da escada, esfregando ambos os olhos com a manga da camisa branca que usava e Hoseok achou aquela cena uma das coisas mais adoráveis que havia visto na vida toda. Depositou o quadro em seu lugar de origem e caminhou até ficar em frente a Jimin que ao retirar as mãos do rosto, o fitou com um olhar sutilmente receoso, envergonhado até, e o policial pensou que já não queria mais qualquer tipo de timidez ou desconforto entre eles e sem dizer nada, enlaçou o menor pela cintura e lhe depositou um selar breve nos lábios e o ruivo não fez menção alguma de se afastar, muito pelo contrario, levou os braços até o pescoço do moreno e ao fim do beijo, sorriu aberto.

- Bom dia! – Respondeu Hoseok ainda o encarando – Você acabou de estragar a surpresa que eu ia te fazer! – Falou fazendo um leve bico fingindo descontentamento e viu o outro franzir o cenho.

- Que surpresa? – Questionou Jimin estranhando aquilo e se afastando levemente para encarar melhor o outro.

- Eu estava sem sono aí pensei em fazer um café da manhã pra você como um agradecimento por ter cuidado de mim ontem. – Respondeu sorrindo e logo foi surpreendido por um selinho cálido vindo do mais novo.

- Ai Hoseok! Pare com isso! – Disse tímido – Você ainda não está completamente bem. Olhe só pra essas olheiras! Eu que tenho que cuidar de você. Não tem nada que me agradecer! – Riu soprado e já o puxou para a cozinha, fazendo-o se sentar à mesa. – Pode deixar que eu faço café para nós hoje. Da próxima vez eu deixo você cozinhar.

Ao escutar aquilo, novamente sentiu aquela coisa gelada na boca do estomago que havia sentido na noite anterior. Ouvir Jimin citando uma “próxima vez” deixou seu coração acelerado e extremamente feliz e logo sabia que estampava seu característico sorriso escandaloso no rosto.

Apesar de ter julgado ser cedo demais pra sair da cama, Jimin se pegou receoso ao abrir os olhos e ver seu lado vazio. Foi até o banheiro e não achou Hoseok lá e ao ouvir passos pela sua sala soube que ele ainda não havia partido e esse pensamento lhe cobriu de medo ao pensar que o outro estava sozinho explorando sua casa e talvez encontrasse as coisas que escondia até de Taehyung. Tentando se controlar para não descer as escadas correndo, o viu ainda dos primeiros degraus olhando a foto de turma da sua formatura do ensino médio e mesmo sem expressar exteriormente, se sentiu aliviado por ele, aparentemente, não ter visto nada demais. Fingiu-se sonolento e riu internamente sobre a intenção do moreno de cozinhar para si e percebeu ainda mais aliviado que realmente o policial não havia ido até o seu escritório onde guardava, mesmo sabendo que não deveria, todas aquelas imagens que o torturavam tanto.

Já distraído na sua tarefa de cozinhar as panquecas que seriam a refeição, mal percebeu quando Hoseok se levantou da cadeira e se aproximou, lhe abraçando por trás e apoiando o queixo em seu ombro. Jimin se sentiu um pouco desconfortável por não ser acostumado a caricias de alguém que não fosse Taehyung mas tinha que admitir que não era de um todo ruim e até gostava um pouco. Era estranho ter o Policial por perto assim, tão carinhoso consigo e isso fazia uma parte do Ruivo temer. Fazia ele se lembrar de todas as coisas ruins que havia passado da ultima vez que havia confiado em alguém e permitido se aproximar daquela forma e foi impossível não lembrar do rosto de JungKook naquele momento e sua vontade foi de se afastar, mas como não achava motivo plausível para explicar tal ato, apenas manteve-se concentrado na frigideira sobre o fogo e como se adivinhasse seus pensamentos ouviu a voz de Hoseok lhe questionando.

- Jimin, Você e o Taehyung estudaram na mesma sala que um tal de Jeon Jungkook? – Questionou inocentemente o moreno já o soltando e se escorando na mesa atrás de si e o susto e nervosismo causados pela indagação, fizeram Jimin derrubar a pequena panela que segurava com a destra. Sentiu o coração subir na boca ao perceber que o outro havia estranhado seu nervosismo e aguardava uma resposta sua, então respirou fundo tentando conter a tensão que se instaurava pelo seu corpo todo.

- N-Não que eu me lembre assim, logo de cara... – Tentando esconder o que sentia, virou-se de frente para o mais velho e continuou forçando a si mesmo uma auto confiança que sabia bem não ter. – Por que pergunta? É algum conhecido em especial? – Replicou tentando soar o mais natural possível e observou o rapaz se sentando novamente na cadeira, ainda com os olhos fixos em si.

- Sabe o bar que a gente se encontrou sexta-feira? – Questionou novamente e viu o ruivo assentir e se voltar de frente para o fogão novamente. – Então, o dono daquele bar está na foto de formatura de vocês. Achei que você se lembraria. – Concluiu rindo soprado e Jimin se limitou a responder um “Não lembro de muita gente do tempo da escola” e tal resposta foi considerada vaga demais pelo policial.

Mesmo sem querer, ao ver o mais baixo derrubar a frigideira quando ouviu o nome do garçom, Hoseok acabou entrando no que chamava de “modo trabalho” E imediatamente após ouvi-lo gaguejar sobre conhecer ou não JungKook, O Investigador teve certeza que ele mentia. E mais! Pela forma como havia falado podia jurar que não era só um colega da escola. Ninguém ficaria nervoso, respirando fundo e tentando controlar a voz daquele jeito se estivesse falando de alguém que não tinha importância alguma na sua vida e por um momento se pegou pensando sobre que tipo de relacionamento eles tiveram e se Jimin já havia gostado dele. Ainda pensando sobre isso, lembrou-se de YoonGi ter comentado consigo sobre ter sido o primeiro cara que JungKook havia se relacionado e isso fez Hoseok pensar que realmente talvez Jimin havia gostado do garçom, mas talvez na época do colégio ele não tivesse interesse em meninos e isso pareceu explicar até um certo ponto o nervosismo do ruivo.

“Lembrar de um amor não correspondido pode realmente deixar alguém desconcertado” – Pensou e com isso deu o assunto por encerrado na sua cabeça.

Ainda de costas para o policial, Jimin olhou para o relógio de pulso e quase choramingou sobre como Taehyung estava demorando para voltar. Havia adorado a companhia do mais velho e mesmo que tenham sido apenas caricias inocentes as que tinham trocado na noite anterior, aquilo fora único e obviamente o marcara, mas depois daquela questão sobre seu passado, sentia o estomago revirando e já suava frio e assim como na sexta-feira, se sentia como se ele não estivesse ali, era como se o mundo tivesse se reduzido as suas lembranças ruins e mais uma vez sentia vontade de se trancar no quarto e gritar até aquilo tudo passar mas sabia que não podia fazer isso, não podia perder o controle de si e nem desmontar o personagem que havia criado para o mundo achar que ele estava bem e havia superado tudo, quando na verdade era como se tivesse acontecido no dia anterior. Não poderia se expor assim, ainda mais a Hoseok, um cara que apesar de conhecer a algum tempo, não conhecia o suficiente pra se sentir seguro ali.

Engolindo seco, serviu as panquecas e o café já decidido sobre o que faria e assim que terminou de pôr a mesa, pediu licença e subiu as escadas de dois em dois degraus indo direto ao seu banheiro, parou em frente a pia e encarou seu reflexo no espelho e se questionou como havia ficado daquele jeito assustador em questão de menos de uma hora. Os Olhos arregalados, narinas estufadas, pupilas dilatadas, pele sem cor e lábios secos pela respiração ofegante que sustentava. Chegou a não se reconhecer por alguns segundos mas logo soube que tinha que agir rápido, caso contrario teria outra crise ali, na frente do policial e isso seria péssimo pra si. Abriu o armário e retirou os dois frascos de antidepressivos e os encarou tentando respirar mais calmamente, destampou-os e retirou logo duas capsulas de cada que era o recomendado em casos de extrema necessidade, lembrou da voz do médico lhe dizendo para nunca, sob hipótese alguma tomar mais que isso, mas seu desespero era tão grande que ignorou tal voz e assim tirou mais um de cada. Observou os seis comprimidos na mão já tremula, sentia o coração batendo cada vez mais forte e o suor escorrendo pela sua nuca e já sentia todos os sinais de que teria um colapso a qualquer instante quando levou todos os medicamentos a boca, encheu o copo que estava ali com a água da torneira e engoliu tudo de uma vez só.

A atitude de sair do cômodo quase correndo, aumentou ainda mais o estado de alerta de Hoseok. Era obvio demais que algo estava muito errado com Jimin e depois de um bom tempo sem nem sequer tocar na comida posta a sua frente, o policial decidiu averiguar o que estava acontecendo com o ruivo e se levantou com calma para não fazer barulho, saiu da cozinha e quando estava chegando na sala viu uma porta que provavelmente dava acesso ao fundo da casa se abrir e viu Taehyung entrando com o casaco parcialmente molhado pela chuva forte que caia la fora e assim que o percebeu, o mais novo arregalou os olhos.

- Hoseok? – Questionou confuso. – O que você ta fazendo aqui?

Tentando não parecer um invasor, o investigador lhe contou sobre sua sequencia de azares do dia anterior e no meio da breve conversa, Taehyung perguntou sobre onde Jimin estava e o outro respondeu que ele havia subido para o quarto algum tempo atrás e disse que estava preocupado pois o ruivo parecia nervoso e após a afirmação, ambos tomaram a escada acima.

Pé ante pé, entraram no quarto de Jimin chamando-o pelo nome mas não ouviram resposta ou som algum. O mais novo questionou quanto tempo fazia que o ruivo havia deixado Hoseok sozinho na cozinha e ele ponderou que já deveria fazer mais de meia hora e assim Taehyung direcionou-se ao banheiro do quarto e de la, o policial ouviu-o gritando para que fosse ajuda-lo.

Ao chegar no cômodo, viu Jimin caído no chão ao lado da bancada do banheiro. Hoseok não hesitou em se aproximar e pegá-lo nos braços.

- A gente precisa chamar uma ambulância, levar ele pro hospital, sei la! Qualquer coisa! – Disse o mais velho assustado pela cena e quase se irritou com a calma do outro ali.

- Não precisa nada disso. Só deita ele na cama dele e fica aqui. – Respondeu voltando a bancada do banheiro e pegando os dois frascos de remédio.

O Policial assistia atento os atos do moreno. Ele abriu um dos recipientes e despejou todas as capsulas sobre a cômoda ao lado da cama e contou-as, logo após pareceu fazer um cálculo mental e repetiu o ato com o outro frasco.

- Ele tomou só três de cada. Ainda não temos com o que se preocupar. Ele só vai dormir igual uma pedra até amanhã a noite. Não é a primeira vez que isso acontece. – Falou Taehyung suspirando aliviado mas logo seu cenho se franziu e ele encarou Hoseok de forma intimidadora e se sentou ao lado dele na cama. – Deixa eu te perguntar uma coisa... – Observou o outro acenar com a cabeça lhe indicando que continuasse. – Sobre o que vocês conversavam quando ele subiu aqui pro quarto?

- Nada demais. Eu vi a foto da formatura do ensino médio de vocês la na sala e o dono do bar que eu vou de vez em quando está no retrato aí perguntei se ele conhecia o cara. Não entendi nada na verdade. Ele ficou nervoso e subiu correndo e agora está assim. – Respondeu com um ar confuso no rosto e Taehyung bufou irritado sobre ter entendido tudo o que havia acontecido com Jimin. Levou ambas as mãos a face e a esfregou logo empurrando a franja pra traz e ainda tentando se acalmar ouviu o policial questionando-o – Olha, eu acho que está BEM OBVIO que tem algo de errado na reação dele. Eu sei que não tenho direito a nada, mas quero que saiba que eu realmente me importo com Jimin e eu quero mesmo ajudar ele e que ele se sinta bem, sabe. – Hoseok se lembrou da foto antiga da estante e sentiu o coração apertar e resolveu continuar. – Eu vi uma foto de quando vocês dois eram mais novos e Tae, é claro que aconteceu algo com ele pra ele não ter mais aquele olhar brilhante e eu quero saber o que é. – Viu o outro lhe encarando pensativo sobre seu pedido e continuou. – Eu quero ajudar o Jimin a ser como ele era antes...

Taehyung ponderou por um momento sobre o pedido de Hoseok e se via em uma grande batalha interna sobre contar ou não o que havia acontecido com Jimin no passado. Mas o fato era que, para o Próprio Taehyung, aquilo tudo pesava demais. Já não aguentava mais guardar só pra si todas as dores do amigo e precisava mesmo desabafar com alguém. Precisava falar sobre aquilo na esperança de “descarregar” um pouco todo aquele peso que tinha em si e também tinha a esperança de que, com mais uma pessoa sabendo de tudo, tivesse ajuda ou conselhos sobre como lidar com as crises e a depressão do ruivo e no fim aceitou e chamou o policial para irem a sala.

Ao chegar no cômodo, Hoseok se sentou no sofá e Taehyung foi até a estante e pegou a tal foto antiga que estava escondida atrás das outras. Olhou-a com carinho nítido enquanto passava o dedo sobre o vidro e pensava em como começaria contando a historia e sobre o que poderia falar e o que deveria omitir até que suspirou decidindo contar de uma vez.

- Olha Hoseok, em primeiro lugar eu preciso MESMO que você prometa que a nossa conversa não vai sair dessa sala e que ninguém nunca vai saber de tudo que vou te contar porque até agora só eu, Jimin e Jungkook sabemos o que aconteceu então por favor, mantenha segredo. Não por mim, mas pelo Jimin que já sofreu demais com isso tudo e ainda sofre todo dia pelas memórias que a cabeça dele guarda. EU estou fazendo um voto de confiança em você e não hesitarei em te matar se souber que contou algo a outra pessoa. Posso confiar? – Falou levantando o olhar até o Policial que assentiu prontamente, já receoso com o que ouviria, tendo certeza que era uma historia horrível só pelo tom de voz do outro e pela clara ameaça a sua vida, feita sem nenhuma hesitação e com obvia realidade.

- O que conversarmos aqui, morre aqui. Por mim, nem Jimin saberá que você me contou isso. – respondeu e viu o outro suspirar aliviado.

- Ok. Bom, Como você pode perceber pela foto, meu amigo não tinha o corpo bonito que tem hoje desde sempre. Até toda essa coisa acontecer, ele era gordinho. Bem gordinho mesmo e sempre foi zoado, sempre zombaram dele por isso e ele realmente não se importava muito com o peso até tudo acontecer. – Ele fez uma pausa e respirou fundo e Hoseok o ouvia atento, apreensivo, tentando imaginar melhor como o ruivo poderia ser quando mais novo, já que aquela foto não mostrava muito bem seu corpo. – Enfim, a gente sempre foi muito próximos um do outro. Crescemos juntos e nunca nos separávamos até que na metade do Segundo ano do ensino médio eu arrumei um namorado e obviamente a gente acabou se afastando um pouco, mas ainda éramos muito amigos. Quando começou o terceiro ano, entrou um novato na nossa escola. – Mais uma vez Taehyung levantou o olhar para o policial e continuou. – Jeon JungKook. Lembro como se fosse ontem do Jimin correndo me contar que havia falado com ele e que ele era lindo e havia sido muito simpático consigo na primeira semana de aula. Mas isso não continuou, sabe. Os dias foram passando e toda vez que meu amigo ia falar com ele, ele fugia, ignorava o Jimin, fazia de conta que ele não existia e teve até vezes que falava pro Jimin não ficar perto de si, mas o trouxão la não dava ouvidos. – O Mais novo bufou alto e se endireitou no sofá e passou a mão pelo cabelo e fitou um ponto qualquer da sala. – Ele tava apaixonado pelo JungKook. Cara, era horrível ver ele correndo atrás daquele filho da puta, praticamente implorando atenção e sendo rejeitado sempre, e eu tinha vontade de socar a cara daquele moleque porque no fim de tudo Jimin só queria ficar perto do garoto, sabe. Não era como se meu amigo fosse contestar a heterossexualidade dele. Mas eu até fiquei feliz um tempo. Quando estava perto do fim do ano, o Jeon começou a trata-lo bem. As vezes eu via os dois lanchando juntos e conversando animados mas eu não me aproximava, primeiro por saber que Jimin me mataria por atrapalhar um momento deles, segundo porque tinha meu namorado também e seria bem chato largar ele pra ficar vigiando meu amigo.

- E no fim, ele se declarou e o JungKook rejeitou ele? Foi isso? – Questionou Hoseok e viu um riso soprado sair de Taehyung que abaixou a cabeça, mas não rápido o suficiente pra esconder as lagrimas que saiam.

- Antes fosse só isso... – Respirou fundo e ergueu o olhar para o teto tentando apagar a raiva que sentia crescer em si só por lembrar de tudo aquilo e engoliu seco, tentando escolher a forma menos impactante de contar o que mais havia acontecido. – No finzinho do ano, faltava umas duas semanas para acabar as aulas, Jeon chamou o Jimin pra um encontro num parque perto da escola. Lembro perfeitamente do brilho único que o olhar dele tinha enquanto se arrumava para ir vê-lo e saiu de casa tão feliz que eu achei que finalmente ele também teria um companheiro pra si. Ele nunca me contou exatamente tudo o que aconteceu no encontro, só falou que eles haviam tomado café e que ele tinha ganhado uma rosa branca do Jeon e que no fim da tarde quando a nevasca começou a ficar mais forte eles foram pra casa de maquinas do tal parque pra se esconder do frio. – Taehyung pausou a fala ponderando sobre contar aquele detalhe seguinte ou não, e por fim acabou decidindo não omitir o fato, já que ele era uma das principais causas de tudo. – Enfim, eles transaram la e o idiota fotografou ou filmou tudo e na segunda feira espalhou as imagens pela escola toda. Jimin foi motivo de chacota e piada mais uma vez, agora por alem de ser gordo, ser gay também e quando percebeu que o rosto do JungKook não aparecia nas fotos ele foi tirar satisfações e o idiota falou que não sabia de nada, que era pra ele sumir. Humilhou ele na frente de todos os colegas da nossa sala e jogou na cara dele que ninguém nunca ia querer ficar com ele por ele ser gordo como era. – Lembrar daquilo fez as lagrimas rolarem grossas pelo rosto do mais novo e Hoseok sentia a garganta seca e não conseguia acreditar que o garçom simpático e sorridente que tinha um caso com seu colega de trabalho poderia ter sido alguém tão cruel daquele jeito. Era como se não fosse a mesma pessoa e ainda envolto nisso ouviu Taehyung continuar. – Mas isso nem foi a pior parte. Depois disso ainda teve um dia que, quando a gente tava voltando pra casa depois da aula, um amigo do JungKook chamou Jimin falando que seu amado queria vê-lo. Meu amigo me mandou ir sozinho pra casa e eu fui, mas fiquei com um pressentimento ruim sobre o que aconteceria e nem entrei em casa. Fiquei no quintal esperando ele voltar mas como demorou muito, voltei na escola pra ver se achava ele e achei. – Falou respirando fundo, imerso na dor de lembrar daquela imagem e tentando controlar os soluços que tentavam fugir pela garganta e com muito custo continuou. – Olha, eu não posso dizer com certeza se foram os amigos do JungKook ou se foi o próprio Jeon, mas o fato foi que espancaram muito ele, estupraram ele e só Deus sabe o que mais fizeram por que ele nunca me contou nada sobre o que aconteceu nas horas que a gente ficou separado naquele dia. Só sei que foi ali que o Park Jimin alegre e feliz que cresceu comigo morreu, e deu lugar ao Park Jimin que a gente conhece hoje. Depois daquele dia ele passou dias inteiros no quarto chorando, falava em vingança e até me pediu ideias, mas não achava de um todo certo e sempre tentava tirar aquilo da cabeça dele e até hoje também não sei se ele fez algo pro Jeon já que eu não pude ir no baile de formatura e nunca mais nem eu nem Jimin vimos ele depois que o colégio acabou. Enfim, É por isso que ele toma aqueles remédios, é por isso que ele nunca se envolveu com ninguém e é por isso que, provavelmente ele dispense você. Porque ele tem medo. Medo de todo mundo ser como Jeon JungKook foi pra ele.

Hoseok tentava digerir aquilo tudo, e a cada palavra ouvida mais boquiaberto ficava, mais pena sentia e mais raiva lhe apossava e chegou a ter vontade de ir até o bar tirar satisfações com o garçom. Era horrível demais pra si escutar aquilo tudo e realmente rezava para Taehyung se levantar rindo e dizer que era uma brincadeira, que Jimin só era com cara quieto e “na dele” mesmo, mas as lagrimas no rosto do outro moreno deixavam claro que não era brincadeira. Os remédios na cômoda do quarto do ruivo deixavam obvio que era verdade e a diferença no brilho do olhar que o ruivo tinha nos dias de hoje comparados ao brilho daquele olhar da foto esfregavam em sua cara que sim, aquele rapaz tinha motivos para ter mudado tanto e a admiração que Hoseok tinha pelo Barista só cresceu ali. Se pôs no lugar dele e imediatamente pensou que não aguentaria viver lembrando de tudo. Com certeza teria se matado ou feito alguma besteira bem grande e saber que mesmo depois do que lhe aconteceu, Jimin tentava se manter firme e seguir a diante fez com que o policial suspirasse alto sobre o quão fantástico Jimin pudesse ser.

Após aquela conversa tão tensa, o mais velho pediu se teria problema em ficar um pouco mais e Taehyung disse que ele poderia ficar a vontade e com isso, subiu novamente ao quarto de Jimin, deitou-se ao seu lado na cama e ficou horas velando seu sono que parecia tão tranquilo enquanto tentava pensar em alguma forma de não ser afastado dele, de conquistar a confiança daquele garoto e percebeu ali que realmente já se sentia bem mais atado ao ruivo do que deveria.

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Perder o sono, principalmente no estado de exaustão que se encontrava não era algo comum para Min YoonGi. Apesar de ter passado a noite em claro, ter dormido pouco na madrugada anterior e ter trabalhado como louco, sua cabeça não parava um segundo sequer e tinha a impressão que iria enlouquecer e a causa disso tinha nome e sobrenome. Jeon JungKook.

O legista tinha plena ciência de que não conhecia bem o moreno, que haviam convivido muito pouco, mas se tinha algo que havia aprendido muito bem na academia de policia e em todos os cursos que havia feito na investigadoria, esse algo era ler mentiras e estava bem obvio para si que tudo o que ouviu desde que entrara naquele apartamento no fim da manhã até a hora de vir pra casa não passavam de mentiras atrás de mentiras. Invenções que julgava porcas e estava completamente irritado sobre a forma como JungKook praticamente atentava contra a sua inteligência agindo daquele jeito.

O Primeiro indicio de que nada estava em seu lugar era aquela sede toda que demonstrou ao agarra-lo sem nem lhe deixar perguntar se estava bem ou qualquer dialogo mínimo. Se havia gostado? Obviamente! Mas aquele não era JungKook. Não era o garçom relutante e difícil que havia conhecido e isso incomodava. Sabia que ele não havia mudado, aquilo era nitidamente alguma forma de esconder algo e evitar conversa e isso resultou em uma pulga plantada atrás da orelha do acobreado ainda antes de chegar no quarto.

O segundo indicio fora o fato de, logo após a transa, Jeon se levantar e vestir-se tão rápido que era impossível não estranhar. Não que ficassem horas abraçados após o sexo, trocando caricias ou juras de amor, mas nunca ele saia das cobertas tão de imediato. Sempre conversavam um pouco, trocavam mais beijos ou até iriam para um “segundo round”. Porem aquele dia parecia todo estranho e logo YoonGi se viu sozinho no quarto enquanto ouvia-o dizendo que iria fazer o almoço já que passava do meio dia e tanta insistência no “não dialogo” alimentou ainda mais a dita “pulga atrás da orelha”.

No entanto tudo piorou durante a refeição. JungKook comia com o olhar voltado ao prato e raras vezes erguia a cabeça ou lhe encarava e o Min se sentia mal por ter a impressão que estava incomodando mesmo tendo sido convidado pelo anfitrião para estar ali. Tentando amenizar o desconforto, perguntou sobre sua saída e observou o garoto ficar nervoso, sutilmente tremulo, lhe contando que havia ido pescar com o pai por sua mãe ter viajado ao trabalho e o senhor se sentir sozinho. Ainda enquanto ouvia o garoto falando, se lembrou de uma vez que ele comentara que odiava programas que envolvessem mato ou coisa no sentido. Lembrou de quando o mais novo lhe contou que sua mãe era falecida e sua madrasta havia ido morar no Japão assim que terminou o ensino médio e ela e seu pai se separaram e que ele não tinha um relacionamento muito próximo ao progenitor. Também se lembrou sobre alguma vez em que ele dissera que sua família toda sempre morou na cidade e que nunca tinha ido para o interior ou saído do meio urbano e se pegou questionando sobre qual daquelas falas todas eram mentira ou verdade. Se questionou sobre realmente a família dele ter uma propriedade rural ou ser uma desculpa para não contar onde havia ido de fato e sua desconfiança sobre a possível mentira só se confirmou ainda mais quando comentou que gostaria de conhecer o pai de JungKook e o mesmo se engasgou todo, ficou vermelho e gaguejava, tremia e evitava lhe encarar a todo custo enquanto fingia casualidade dizendo que os apresentaria um dia.

Tentando não se irritar ou brigar com o garçom por estar mentindo-lhe descaradamente, decidiu que iria pra casa e talvez voltasse mais tarde, mas sabia que não era o melhor a fazer. Estava profundamente bravo. YoonGi preferiria mil vezes que o Jeon apenas lhe dissesse que não queria falar sobre o assunto, deixasse claro que não gostaria de conversar naquele momento e seria prontamente respeitado. O legista não era nenhuma criança e o entenderia se quisesse apenas guardar pra si tudo o que lhe incomodava. Mas não. O moreno preferiu mentir e se tinha algo que Min YoonGi tinha repulsa, era de mentiras contadas como se fossem verdades a serem digeridas. Ele não suportava que brincassem com sua racionalidade e foi exatamente isso que aconteceu naquele dia.

Mas ainda havia algo que o deixou um tanto o quanto mais intrigado.

Quando estava deixando o apartamento, passou pelo carro de JungKook parado ao lado da escada e ao olhar para o banco do caroneiro através do vidro, viu uma coisa que lhe deixou bem perturbado.

Havia um óculos de grau caído no assoalho do carro, uma câmera fotográfica de festas e o pior: Um copo descartável sujo de um liquido escuro e dentro dele um preservativo usado e sua embalagem aberta jogados sobre o banco.

“Você é o pior mentiroso que eu já conheci na vida, Jeon JungKook.”