História Between Love and Zombies - Go to War

Meus passos são preguiçosos e lentos. O silêncio instalado durante nosso percurso é perturbador, estou abatida e hesitante.

De longe, consigo avistar os portões e os enormes muros de toras de madeiras de Hilltop. Conforme meus passos se deslocam na direção do local, eu olho para trás e meu corpo grita para que eu corra.

Sou puxada de volta a realidade por Carl, que segura meu braço com cautela e rispidez ao mesmo tempo. Ele sabe que estou titubeante, ele sabe que se vacilar eu escapo de seus braços e corro de volta para o além das florestas.

— Estamos chegando. — Ele murmura. — Por favor, não faça nada que vá me deixar magoado.

Continuo calada. Carl mal me deu ouvidos quando implorei que não retornassemos, porém, insisti muito. Carl não teve escolha a não ser me ouvir, portanto, decidiu que iríamos para Hilltop pedir ajuda. Eu ainda estava contragosto, mas eu não estava em posição de tomar decisões precipitadas, portanto, apenas obedeci.

Percebi uma movimentação por cima dos muros e vi lanças, estagnei meu corpo no mesmo instante não querendo me aproximar. Carl se virou para mim.

— Não se assuste, eles não vão fazer nada, venha. — Carl me puxou cautelosamente e eu tornei a movimentar minhas pernas.

Um grito abafado do lado de dentro alcançou meus ouvidos, a movimentação sobre os muros se aquietou. Paramos de caminhar em frente a comunidade conforme os enormes portões eram abertos.

A princípio, os cabelos compridos e a camiseta de flanela me chamaram a atenção. Jesus sorriu para nós, um sorriso de boas vindas, olhei para sua direita onde uma figura se aproximava.

Mal consigo analisar sua face devido ao boné surrado sustentado no auge de sua cabeça, porém conforme ela se aproxima, eu a reconheço.

Carl assente para Maggie que sorri e retribui o casto comprimento tornando a olhar para mim, os olhos esverdeados meio marejados.

Olho para Carl que desata seus dedos de meu braço com cautela e eu olho para Maggie. Sem hesitar, corro em direção ao seu corpo e envolvo sua cintura com meus braços, afundando meu rosto na curvatura de seu pescoço.

Meu corpo solavanca quando um soluço me escapa e Maggie me aperta calidamente contra seus braços, soterrados seus dedos em meus cabelos. Meus olhos esquentam e eu ofego. Depois de tanto tempo no inferno, eu voltei para os braços da minha acolhedora.

— Me perdoa. — Eu murmuro quando torno a olhar para ela e seus dedos acariciam meu rosto. — Se eu não tivesse reagido, ele estaria… Ele estaria… — Minha voz embarga.

— Não foi sua culpa. — Ela responde em um fio de voz, abaixo minha cabeça e permito lágrimas solitárias rolarem.

Meus olhos cravam-se em sua barriga, estico meus dedos e espalmo minha mão tocando levemente o local, torno a olhar para Maggie, seu pequeno e triste sorriso esperançoso indica que nem tudo estava perdido.

Meu irmãozinho estava bem.

Torno a abraçá-la com força e fecho meus olhos por sinuosos segundos, ter ela perto de mim novamente trazia uma paz indescritível. Abro meus olhos afim de me livrar das lágrimas vertiginosas de uma vez por todas, Carl é alvo de meu olhar.

Enid se aproxima com passos cautelosos, ela vai em direção a Carl que olha para ela. Franzo o cenho ainda com meu rosto preso no ombro de Maggie, vejo Enid avançar contra Carl e envolvê-lo com os braços. Pergunto-me o que ela faz em Hilltop?

Engulo a seco, Carl pode achá-la mais atraente quando descobrir a verdade.

Me desfaço do abraço de Maggie e ela acaricia meu rosto, cedo ao seu mínimo afago, seguro sua mão e me afasto até soltá-la. Viro meu rosto até Jesus, um pequeno aperto some de meu peito ao ver Daryl ao seu lado.

Meus olhos lacrimejam mais do que o possível, Daryl assente para mim com sua típica pose de macho, mas parece ceder a algumas lágrimas quando eu o abraço.

Foi doloroso, vê-lo apanhando ou sendo tratado como um animal desprezível e não poder fazer nada. Fomos vítimas do poder de Negan, as coisas que eu vi nunca me deixarão esquecer quem ele é e o que ele é. Além de matar pessoas tão importantes para mim, render minha família e me submeter a seus desejos sádicos, marcou profundamente meu psicológico.

Solucei procurando as palavras certas para me desculpar por não ter dito o que Negan queria, por deixá-lo apanhar por apenas não querer dizer tudo o que ele queria saber. Daryl no entanto, apenas meneou a cabeça em negação como se pedisse que eu não dissesse nada. A contragosto, engoli minhas próprias desculpas sórdidas.

Me afastei de Daryl, Jesus comprimentou-me com um aceno de cabeça e um breve sorriso, retribui com gratidão, gratidão por ter nos ajudado.

Dou as costas a eles, Carl ainda está com Enid. Ignorando, eu procuro Maggie e a encontro nos palanques próximo ao final dos muros. Eu me aproximo da escada com cautela e paraliso totalmente ao ver dois túmulos.

Me aproximo do que está a minha frente, meu coração se aperta e algo me diz ser o de Glenn. Retiro minhas mãos da cruz espetada a ponta do túmulo, dou passos para trás sentindo o remorso me corroer e me afasto.

Uma lágrima solitária escorre e eu a limpo com o dorso de minha mão e analisando o local. Há uma pequena mancha acinzentada indicando que meu rosto ainda estava sujo pelas fuligens da casa incendiada. Ignoro a cor e continuo me afastando.

Minha vontade de fugir é maior, porém, eles não vão simplesmente me deixar partir sem uma alternativa ou motivo, não vão me libertar sem brigar pela minha presença.

Eu não sou um troféu, meus pedidos deveriam serem levados em consideração.

Voltar seria a melhor forma de poupar todos.

Cubro meu rosto suspirando em frustração. Nada do que eu disser ou fizer vai me ajudar de alguma forma, nada vai convencê-los de que eu preciso voltar, principalmente Carl.

Carl.

Porque tem que ser tão teimoso?

— Eu estava te procurando. — Me viro ao ouvir sua voz, vendo-o parado a metros de mim com os dedos nos bolsos dos jeans.

— Preciso voltar. — Arrisco, como se Carl fosse me ajudar fazer aquilo. Negou com um pequeno sorriso debochado nos lábios.

— Quer voltar porque me viu com Enid? — Arqueei as sobrancelhas. — Aquilo foi…

— Você não me deve satisfações.

Carl fica surpreso com minhas palavras e tom de voz. Eu não estava mentindo, pouco me importo se ele e Enid fizeram algo, tenho algo maior para me preocupar.

— Isso vai além disso. — Lhe dou as costas, coço minha nuca e vejo que estamos em frente a um galinheiro, parte delas ciscam o chão.

— Você está segura, não podem te encontrar, não podem…

— Não posso ficar parada aqui. — Retruco me virando para ele. — A essa altura do campeonato, não acha que Negan está em Alexandria nos procurando? — Carl pondera. — E se ele tiver matado mais alguém? Abra seus olhos! — Eu me aproximo e envolvo seu rosto com as mãos, prendendo seu olhar ao meu. — Não consegue enxergar, Carl? A minha vida não vale a de ninguém! Esse é o preço que eu irei pagar!

— A sua vida vale mais do que a de todos. — Me surpreendo. Essas palavras no mínimo teriam feito meu peito se encher de alegria e se aquecer. Eu apenas esbocei uma expressão negativa e balancei minha cabeça.

— Até a de Rick e de Judith? — Carl se cala, parece indeciso. — São eles que vão pagar, Glenn está pesando em minhas costas e… — Carl começa a negar.

— Não foi sua culpa. 

— Não importa quantas vezes vocês digam isso, não importa quem foi o real culpado. Nada vai tirar o remorso de mim.

Nós nos calamos. Me afasto de Carl e me sento no chão passando meus dedos por entre meus cabelos soltando um suspiro. Carl se senta ao meu lado. Viro meu rosto em sua direção se resvala sobre minhas olheiras.

— Você precisa descansar. — Constata, seguro sua mão.

— Não consigo, não posso baixar minha guarda. — Carl beija meus dedos e se aproximo mais, sinto sua respiração em meu rosto.

— Enquanto eu estiver por perto, nada vai te machucar ou te tirar de mim novamente.

Lhe lanço um sorriso casto. Seus dedos resvalam-se para nuca e eu fecho meus olhos ao sentir seus lábios serem prensados aos meus. Permaneço com o maxilar travado enquanto Carl me beija, os lábios quentes e macios. Solto uma risada anasalada durante o beijo, estamos nos beijando em frente a um galinheiro.*

Quebramos o beijo e eu o encaro, ainda um pouco entorpecida pelas sensações alucinantes. Carl morde os lábios e acaricia meu rosto com a ponta dos dedos.

Tudo estava bem.*

Desvio meus olhos de Carl para os portões que estão sendo abertos. Uma sensação boa trilha minhas veias quando reconheço os rostos que passam pelo mesmo.

Carl fica confuso ao ver que parei de o fitar e segue meu olhar. Quando se dá conta do que está acontecendo, se levanta e corre em direção ao grupo. Carl abraça Rick com todas as forças e ele retribui o abraço.

Me levanto do chão e saio de perto da casa, temerosa. Mal sou notada devido aos cumprimentos e abraços do grupo entre si. Mas de todos, a primeira pessoa que não deixou de me notar foi Alexia.

A princípio, ela paralisou como se estivesse vendo um morto. Sua bochecha direita estava cortada e o olho meio inchado. Eu sorri para ela, um sorriso triste e baixo que contribuiu para que ela corresse em minha direção e me abraçasse com todas as forças.

— Ai meu Deus! — Praguejou eufórica. — É você mesmo! Eu te esperei por dias, Ariana. Por dias eu esperei você voltar, mas você nunca retornou, e Negan nos fez acreditar que estivesse morta.

Alexia quase me esmaga em seus braços e eu apenas sorrio a abraçando de volta. Seus olhos estão marejados e eu seguro seu rosto em minhas mãos.

— Minha filha, Alexia. Como ela está? — Alexia sorri e assente calmamente.

— Lilika está bem, abatida pelo seu sumiço, mas bem. — Lágrimas escorreram por suas bochechas. — Não a trouxe comigo com medo dela se desviar do caminho.

— Tudo bem. — Torno a abraça-la. — O que vocês vieram fazer aqui? — Alexia sorri.

— Vamos lutar, Ariana. Vamos acabar com os desgraçados.

As palavras somem de minha garganta. Uma sensação ruim me invade, mas eu sorrio alegre por estarmos dispostos a lutar.

Alexia não consegue esconder o motivo do hematoma. Após Carl ter me tirado de lá, os Salvadores junto com Negan foram direto para Alexandria atrás de nós. Negan deixou que os Salvadores espancassem Aaron, Negan rasgou o estômago de Spencer na frente de todos após um ato de traição contra Rick.

Alexia me explicou detalhes sobre Rosita ter ganhado uma bala de Eugene que ela mesma roubou dela. Quando Rosita tentou disparar e a arma fez eco, antes que ela pudesse ser arremessada no chão por Salvadores, Alexia sacou a arma e disparou contra Negan antes de ser acertada com um soco no olho. Alexia esclareceu que roubou o projétil pois achava que a vingança tinha que partir dela, a bala apenas atingiu Lucille e que seu rosto foi cortado na tentativa de descobrir quem fez a bala.

Quando Negan descobriu ter sido Eugene e terem matado Olivia, ele o levou para o Santuário. Apenas suspirei, Negan sabe como jogar nessas circunstâncias. 

Cumprimento todas as outras pessoas do grupo. Rick demonstra um terno carinho por mim ao acariciar minha cabeça e depositar um beijo em minha testa,

Estamos reunidos novamente, prontos para lutar, prontos para quebrar alguns ovos a fim de trazer nosso mundo volta.

Atando meus dedos aos de Carl, nós dois junto a toda a nossa família, acompanhadas com Jesus, nos esgueiramos em direção a casa central de Hilltop, sedentos por vingança e para mostrar a Negan que ele mexeu com as pessoas erradas.

Abraham será vingado. Glenn será vingado.

Negan mal pode esperar o que lhe aguarda.

Continua...