— Não acho que seja uma boa ideia. — O rilhar dos portões sendo abertos interrompe nossa conversa, mas não nossa conexão e troca de olhares. — Eu ficar aqui. — Finalizo, Carl suspira.
— Vai estar segura. — Suas mãos calorosas envolvem meu rosto. — Ezekiel garantiu que os salvadores não podem entrar aqui.
— Por que você não fica? — Envolvo suas mãos em cima de meu rosto. — Estaremos seguros.
— Não posso deixar meu pai e o pessoal segurar as rédeas sozinhos, eu dou notícias.
Carl me puxa para perto e me beija,retribuo com cautela, desejando que aquele momento nunca acabe, desejando que não exista mais preocupações além de nós dois e mais ninguém.
Infelizmente, o momento acaba. Carl se separa de mim como se aquilo doesse e me dá as costas, tomando rumo pela rua. Suspiro, encostando-me na quina do portão assistindo Carl afastar-se e ficar pequeno cada vez mais.
Sorrio involuntariamente ao me lembrar de algo, e dou dois passos além do portão.
— Carl!
Clamo por ele. Quase no final da rua com uma das mãos na alça da mochila, ele se virou, pronto para ouvir o que eu tinha para dizer.
— Foram 6 vezes!
O corrijo com um grito. Carl parece ponderar diante de minhas palavras, e ao entender o que eu quis dizer ele levantou uma das mãos.
— Considero 7. — Gritou de volta, não consegui conter o sorriso estampado em meus lábios.
Virando em uma esquina à sua direita, Carl tomou caminho pela mesma e sumiu de minha vista. Aspiro tornado para dentro, os homens vestido com armaduras fecham os portões.
Dou as costas ao portão e comprimo meus lábios olhando ao redor. O Reino é tão pacífico, todos parecem estar apressados ou convictos de que algum serviço ou afazer o espera. No meu caso, não tenho nada para fazer a não ser caminhar.
Me desloco por entre as vegetações e mulheres que as selecionam para o consumo, continuo caminhando calmamente indo pra trás de um dos prédios.
Saindo um pouco do campo de visão das pessoas que passeiam por ali, me deparo com um pequeno coreto. Meus olhos analisam o telhado circular, as telhas levemente enfeitada com folhas amarelas secas e algumas flores pequenas carregadas pelo vento.
Me desloco em direção aos degraus. Conforme subo, noto que o coreto não está vazio. Um garoto — que reconheço por um breve momento em que ele conversava com Ezekiel — fazia, o que me parecia ser, exercícios com um bastão. De cenho franzido e com passos sucintos, me aproximei curiosa.
Observei seus pés darem passos à trás, ele ainda estava de costas para mim. Sua proximidade me fez ficar em alerta quando ele meneou seu bastão e o veio de encontro à minha cabeça. Levantei minha mão e agarrei a ponta interceptando o golpe contra meu rosto.
Tornou a puxá-lo mas percebeu que estava preso. Arqueei as sobrancelhas quando seus olhos encontraram os meus.
— Deveria olhar para onde balança essa coisa. — Resmungo e largo o bastão, ele me olha envergonhado.
— Desculpe, eu estava distraído com meu treinamento. — Torno a arquear minhas sobrancelhas.
— E como um pedaço de pau pode ser útil à você?
Ele sorri constrangido, meneia com os dedos o bastão e o lança para trás de seu corpo e me estende a mão esquerda, um sorriso de lado provém.
— Você é do grupo de Rick Grimes de Alexandria, carto? Sou Benjamin, mas pode me chamar de Ben.
— Não sei se tenho intimidade para te chamar dessa maneira. — Torço nariz, ele se constrange mais uma vez.
— E você, como se chama? — Torço meus lábios.
— Ariana. — Aperto sua mão. — Mas pode me chamar de Ariana.
— Ariana. — Ele repete. — Ótimo. — Sorri. — O que estava comentando sobre meu treinamento?
— Não será útil se seus inimigos estiverem armados até os dentes.
— Meus inimigos são os mortos, os únicos que me preocupam de verdade. — Me surpreendo com sua ingenuidade. — Os vivos, aqueles que levam parte da nossa comida toda semana, não são tão preocupantes assim.
— Você é um dos poucos que sabe do acordo, dos Salvadores? — Sussurro, lembrando-me que Ezekiel havia dito que poucos deles tinham consciência à respeito do acordo.
— Sim, eu estava lá quando seu líder fez a proposta. — Franzo o cenho, ele provavelmente era o garoto à esquerda se Ezekiel na qual não prestei atenção.
— Ele cometeu um grande erro recusando a proposta. — Rosno baixo me sentindo ofendida. — Vocês não tem noção da proporção de crueldade que aqueles homens têm. Negan é o pior deles.
— Meu rei sabe o que está fazendo. Suas decisões são para o bem do Reino e do povo, mesmo que eu não concorde continuarmos servindo àqueles homens.
— O seu rei tomou uma decisão errada. — Praguejo. — Quando um pastor hesita, seu rebanho paga o preço.
— Foi o que aconteceu à vocês? Por isso seu namorado anda com aquelas feições? — Abro a boca para perguntar, mas ele é mais rápido. — Todos viram vocês nos portões.
— Carl está passando por problemas difíceis desde que perdeu seu olho e fomos atacados pelos Salvadores. — Explico. — Desde que eu fui levada… — Permito minha voz falhar.
— Você esteve lá? Na casa deles? — Um brilho estranho encobriu os olhos de Benjamin em uma fração de segundos, cocei meu antebraço.
— Sim, fui levada como prisioneira. — Esclareço.
— Quem te tirou de lá? — Questiona, sorrio de lado com o pensamento.
— Ele… — Murmuro, visto que ele entenderia ser Carl.
— Como ele te tirou de lá?
Puxando umas das mechas de meu cabelo para trás da orelha eu fico confusa. Conforme olho para ele percebo que eu nunca havia perguntado a Carl como ele havia me tirado de lá. Ele havia tido uma ajuda? Ter feito o trabalho todo sozinho parecia meio surreal para mim.
— Eu não sei. — Respondo baixo, mordisco meu lábios encabulada. — Eu estava inconsciente.
Benjamin franze as sobrancelhas.
— Olá, pessoal.
Morgan anuncia ao saltar os dois degraus do coreto. Seu costumeiro bastão está junto a seu peito coberto pela blusa de flanela. Comprimo meus lábios em um leve cumprimento em sua direção.
— Hey, Morgan. — Benjamin o sauda, animado.
— Está treinando? — Ele assente. — Quer ajuda? — Benjamin parece pensativo, ele me olha.
— Poderia emprestar seu bastão à Ariana? — Franzo o cenho. — Ela está a fim de me ensinar algo.
— Sem problemas.
Antes que eu pudesse revidar, o bastão de Morgan ladeou meus dedos e ele se retirou tão rápido quanto o vento. Ainda paralisada e de cenho franzido, eu pigarreio.
— Não sei usar essa merda. — Praguejo, segurando o objeto desajeitadamente.
— Você aprende. — Ele dá de ombros. — Vou atacá-la, você apenas se defende. Parece ser bem ágil.
— Não posso fazer isso. — Resmungo.
— Por que? Está com medo? — Arqueio as sobrancelhas, não posso dizer o real motivo à ele.
Coloquei-me em posição de defesa, manifestado meu convencimento por ele ter me desafiado. Segurei o bastão desajeitadamente, Benjamin sorriu travesso e entrou em posição.
Ficamos parados por alguns minutos,apenas encarando um ao outro. Eu não iria atacar, não era do meu fetiche. Eu aguardo um ataque, eu me defendo e em seguida, revido com todos os meus golpes possíveis e talentos.
Com tais pensamentos, Benjamin me interrompeu com um ataque. Deu bastão veio de encontro à minha cabeça, levantei o meu e interceptei o golpe. Ele puxou de volta e empurrou à minha esquerda, dei passos atrás e novamente interceptei o golpe. Sorri vitoriosa.
Os golpes vieram para cima de mim e eu me defendi com todas as forças e improvisações possíveis. Tomei fôlego e resolvi atacar, dando um salto e tentando acertar sua cabeça. Ele desviou e o bastão acertou seu ombro, seu rosto torceu em uma careta.
— Posso não ter prática, mas não duvide da minha capacidade de improviso. — Praguejo sarcasticamente.
Dou passos atrás enquanto Benjamin se recompõe. Segura seu bastão agora como se estivesse determinado, como se tivesse parado de pegar leve comigo.
Os golpes voltaram e eu tornei a me defender e atacar, movendo meus braços com precisão a fim de derrubá-lo.
Eu estava determinada a mostrar a ele do que sou capaz.
Por um segundo, um desconforto me abate e me paralisa, é o bastante para Benjamin agir rápido e me atingir com a ponta do bastão em minhas costelas. Eu ofego alto.
Olho para trás, Benjamin se recompõe com um sorriso vitorioso, eu me irrito, aquilo não deveria ter acontecido, eu detesto perder.
Em um momento de sua distração, deslizo o bastão por seus tornozelos e o corpo de Benjamin despenca. Uma densa poeira sobe o ar quando seu chão se choca contra o chão amadeirado do coreto, viro o bastão.
A poeira causa-me cócegas na garganta e eu levo minha mão à boca quando a tosse sobe.
Algo estranho arranha minha garganta quando a tosse provém e eu a libero. Afasto meu olhar assustada ao sentir meus dedos molhados.
Meu coração descompassa ao ver o líquido escarlate que eu acabara de expelir escorrer entre meus dedos. Ben, agora de pé, me olha assustado.
O líquido rasga minha garganta e eu me ajoelho, o sumo vermelho escorre por entre meus lábios e é expelido no chão entre minhas mãos, meu estômago se contraía a cada jato fino que me escapa.
Quando terminou, eu me sentei completamente desesperada. Algo estava muito errado, isso não deveria estar acontecendo.
— Você está bem?
As mãos de Benjamin tocam meus braços e eu sinto o tremor em meus lábios com uma angústia fluindo meu peito. Eu me abraço, sentindo um choro provir do fundo de minha garganta. Seguro o tecido da camiseta de Benjamin.
— Ben, me ajuda.
Continua...
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