História Between the Flowers - Princesa Russa

Eu acordei com a luz do sol passando pelos vitrais multicoloridos da porta para o jardim, a sala de esta inteira se encontrava colorida, eu conseguia ouvir o som do mar, ainda era domingo e eu e meus amigos podíamos dormir até mais tarde, então eu fechei o olhos e me confortei no abraço.

...

Espera?

Abraço?

Eu abri novamente os olhos e me encontrei abraçado com Louis, estávamos um de frente para o outro, a minha primeira reação foi dar um pulo e um grito de susto.

Todos acordaram gritando.

-Mas que porra Alex! -Amanda exclamou saindo dos braços de Matt, ela estava toda descabelada.

-Que foi Alex? -Iris perguntou- Se assustou ao ver a Amanda descabelada de novo?

-Vai se ferrar Iris! -Amanda retrucou.

-Me desculpe, é que...

-Vamos Alex! -Anastácia exclamou -Eu quero poder voltar a dormir um pouco.

-Eu acordei com o Louis me abraçando -Eu disse- Só me assustei, só isso.

-Sou tão feio assim? -Louis perguntou fazendo bico.

-Com esse seu cabelo de emo todo bagunçado, sim -Eu respondi.

-Concordo -Disse Amanda- Mas ainda assim eu quero voltar a dormir, então calem a boca vocês!

-A casa é minha -Eu exclamei- Se está com raiva então vá embora e aproveita e assusta a dedaleira com esse seu ninho que você chama de cabelo.

-Só não bato em você porque eu não sou a Iris -Amanda disse voltando a deitar- E eu vou embora mais tarde.

Louis apenas riu.

-Bobão -Eu disse voltando a deitar- Vê se não me assusta mais!

Louis assentiu e voltamos a dormir.

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Passaram-se duas semanas ao todo, hoje é o aniversário de Anastácia, para distraí-la nesse dia pedimos aos avós que inventassem uma encomenda de vitral, para que assim ela passasse a tarde na loja fazendo um vitral para nenhum cliente, era sexta-feira. Eu e meus amigos nos encontramos no restaurante japonês dos Mizuno.

Pode ser bem contraditório você morar na Grécia e encontrar um restaurante japonês em uma ilha pouco conhecida, mas como pode ser visto, Ánemos não tem apenas gregos, mas sim pessoas de diversas nacionalidades.

Por que?

Não sei, a maioria das pessoas da ilha sofreram perdas de entes queridos, por exemplo os Mizunos que perderam metade de sua família em um tsunami que ocorrera em Nagasaki.

São poucos os que não sofreram com alguma perda, como por exemplo Amanda e Matt, mas é claro que não são as perdas que trazem as pessoas aqui, mesmo porque um dia todos nós teremos de lidar com perdas. Eu mesmo me preparo todos os dias caso minha vó nunca mais acorde, eu sempre digo para mim mesmo que ela deve viver por muito tempo, se ela morrer agora, com certeza vou ter que morar com um de meus tios, e eu não quero, eu gosto aqui e conheço tudo aqui, imagine só eu na capital da Dinamarca? Ia ser muito confuso para alguém que está acostumado a viver numa ilha onde quase todos se conhecem.

Mas novamente ela há de viver muito tempo.

Uma garçonete veio em nossa direção trazendo nossos pratos.

-Uma tábua sushis, sashimis e temakis para os três -Disse a mulher se referindo a mim, Iris e Louis.

Amanda apenas fez cara de nojo, ela odeia qualquer tipo de carne.

-E duas sopas miso com tofu para os dois -E completou entregando duas tigelas orienteis para Amanda e Matt.

-Gente, não sabia que o Matt gostava de tofu -Eu comentei.

-É que eu to tentando me controlar um pouco na carne, pela Amanda -Disse Matt.

-Pau mandado -Iris tossiu.

-Ei! -Matt exclamou- Aposto que faria o mesmo pela Iris.

-Não faria não -Iris concordou- Eu também não faria o mesmo por ela, namoro é namoro, preferência por comida é outra coisa.

-Podemos comer logo? -Eu perguntei- Ainda temos uma festa inteira para arrumar.

-Sim eu sei -Iris bufou- Faço tudo isso pela minha princesa russa.

-Que irônico não? -Eu disse.

Iris sempre chama Anastácia de princesa em referência a própria princesa russa morta durante a primeira guerra, e Ana adora o jeito que Iris a chama, aliás ela mesma chama Iris de Boadiceia, uma rainha celta que expulsou os romanos, claro ela vivia na Grã-Bretanha e não na Irlanda, mas o povo antigo é o mesmo, então isso não faz muita diferença, pelo menos não para Ana.

-Seus pais já preparam o bolo? -Iris perguntou a Matt.

-Sim -Matt respondeu misturando a sopa com o rashi. -Começaram a fazer ontem e devem estar decorando hoje.

-Ótimo -Iris disse- Eu e Alex entregamos os arranjos no casamente que Camila estava planejando segunda passada e conversamos com ela se ela conseguia nos arranjar um bom lugar para darmos a festa, foi então que ela nos lembrou do jardim Deméter.

-Ah é! -Eu exclamei me lembrando- Dizem que aquele lugar é ótimo para organizar festas.

-Então os fracassados pretendem dar uma festa -Disse Lívia brotando junto de todo o grupo dedaleira.

-Isso já tá virando entidade -Disse Iris.

-Ora essa se não é a Amanda -Disse Lívia- Ainda não entendo porque anda com eles, até mesmo o Matt não é lá essas coisas, ainda pode andar conosco, não?

-Querida -Disse Amanda- Entre ser diva ou puta, eu escolhi ser diva, porque puta já tem você e suas amigas aos montes, e só não te bato por falar do Matt porque para sua sorte eu não sou a Iris.

-E eu só não te bato porque estou de unha feita e não quero desarrumar meu cabelo -Iris retrucou- E de qualquer forma vocês nunca estariam convidadas.

-Como se eu quisesse! -Lívia exclamou. -Eu nunca iria querer.

-Ótimo, assim me pouco o serviço -Iris retrucou.

Lívia olhou-a com raiva.

-Cara feia para mim ou é genética ou fogo no cu -Iris completou- Agora se nos dão licença temos que organizar nossa festa.

Lucas apenas olhou para Louis com ódio e depois saiu junto das vacas e bois.

-Vocês não têm medo de eles fazerem algo? -Louis perguntou.

-Eles só latem e não mordem -Eu respondi- E não se preocupe com Lucas, vamos te proteger dele.

-Ainda não acredito que ele me chamou de viado achando que aquilo é uma ofensa. -Disse Louis.

Não havia problema em ele assumir aquilo na nossa frente, afinal Iris e Ana eram lésbicas e nós todos as duas, e eu até onde sei não quero ficar com ninguém.

-E a propósito, um, dos garotos da dedaleira me chamou para sair -Louis completou.

Todos quase nos engasgamos com a comida, e Matt quase cuspiu sopa quente na cara de Amanda, o que é uma pena pois teria sido hilariante.

-E você vai? -Eu perguntei- Não acha que ele não está fingindo?

-Bem... -Disse Louis pensativo- Não custa nada arriscar, quero dizer...

-Louis está certo -Disse Iris- Eles não podem simplesmente armar uma emboscada para ele, a polícia de Ánemos funciona muito bem e nunca houve nem haverá um sequestro, assassinato ou estupro.

-Sim, mas... -Eu disse pensativo- Amanda me ajuda!

-Alex está certo -Disse Amanda- Ninguém lá presta, talvez um ou outro, mas eles também não prestam por andar com eles!

-Qual a sua opinião Matt? -Louis perguntou.

Matt se assutou, ao que parecia ele queria ficar do lado de Iris e de Louis, mas tinha medo de fazer raiva em Amanda, ele suspirou e disse algo que nos espantou.

-Estou do lado de Louis -Disse Matt- Quero dizer, o que de ruim pode acontecer? Afinal quem é o garoto?

-André -Louis respondeu.

-Ah -Disse Amanda- Não é aquele garoto bonito e quieto que vive conversando com a prima de Cláudia quando ela vem visitar a tia, qual era o nome da garota?

-Viola -Eu respondi.

-Isso! Ela mesma, mas continuo apoiando Alex -Amanda concluiu.

-Não importa, de qualquer forma eu vou sair com ele -Louis disse em resposta- Ele até que é fofo e...

Eu bati com foçar na mesa.

-Vamos terminar logo nosso almoço e ir arrumar a festa! -Eu interrompi Louis.

Nisso Louis bufou e voltamos a comer.

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Tudo estava quase pronto, só faltava pegarmos cada um os presentes, eu fiz as velas de camomila para que Iris desse para Ana.

-Eu também tenho um presente para Ana -Disse Louis- E para Alex também.

Saímos do jardim Deméter e fomos até a casa dele.

Ao entrarmos no quarto encontramos dois quadros sob a cama.

-Este é o de Ana -Disse Louis pegando um quadro de tamanho médio.

Ele pintou a escadaria de Jordan do palácio Hermitage em São Petersburgo, o quadro mostrava pessoas do século XIX com vestidos longos subindo e descendo a escadaria branca com detalhes folheados a ouro nas paredes, parecia um conto de fadas.

-É lindo! -Iris gritou de alegria- Tenho certeza de que ela vai amar.

-E este é o seu Alex, em forma de agradecimento pela cesta.

Ele me entregou um quadro pequeno, porém bem detalhado, ele mostrava a ilha de Ánemos, ou pelo menos uma parte dela, com casas brancas e os tetos azuis. Eu abracei em agradecimento.

Saímos da casa de Louis com os presentes, eu deixei o meu em minha casa para depois pendura-lo, e fui rumo a festa.

Demos os toques finais com comidas típicas russas, ou pelo menos tentarmos fazer algumas, o resto teve de ser grega mesmo.

Iris mentiu que iria levar Ana para um jantar, apenas uma desculpa para que Ana se arrumasse e se perfumasse.

Tudo estava pronto, agora era preciso apenas esperar pela princesinha russa, o bolo de camomila era lindo e os pais de Matt decoraram o mesmo com as flores, e Iris segurava uma caixinha com o medalhão prateado em forma de coração que eu e ela fomos comprar.

Apagamos as luzes do jardim, os avós de Ana vinham junto com ela.

-Ana, nós queremos ir com você porque é seu aniversário, sei que gostaria de ficar a sós com Iris, mas é preciso que te acompanhemos -Disse o senhor Matrioska.

-Entendo vovô -Disse Ana-Não entendo por que ele me convidou para vir no jardim Deméter, tudo aqui está tão escuro.

As luzes se acenderam e todos gritamos surpresa, Iris correu e beijou-a com delicadeza, elas formam um casal tão lindo.

Ela entregou o presente para Ana e ela adorou.

-É por isso que eu nunca vou sair daqui -Disse Ana a todos que estavam ali- Todos vocês me amam tanto, sejam colegas, amigos, meus avós, os parentes dos meus amigos, todos vocês fazem esta ilha ser o paraíso na terra.

Realmente fiquei feliz com o comentário de Ana, cantamos parabéns, cada um entregou seu presente a ela que no meu caso eram as velas com aroma de camomila, por falar nisso acho que ela vai enjoar de tanta camomila.

Comemos o bolo delicioso dos pais de Matt, a festa apesar de não ter pista de dança alguma (Afinal ninguém aqui do nosso grupo gosta de dançar aleatoriamente, a não ser o Matt que de vez em quando dança twerk para a Amanda), mas houve muita conversa e risadas. Mas quando a festa acabou, cada um foi para sua casa deixando a limpeza com os funcionários do local, eu andei com minha avó a até a casa dela.

-Boa noite vó -Eu disse.

-Alex, aquele garoto bonito que estava com você.

-Quem? O Louis? -Eu perguntei.

-Sim ele -Minha avó respondeu.

-O que tem? -Eu perguntei.

-Nada demais -Disse ela- Eu conversei com os pais dele na festa, são tão cultos, gentis e bonitos.

-O Louis puxou a eles então, menos na parte de gentileza.

-Ele é grosso? -Minha avó perguntou.

-Não, mas é irritante um pouco, ontem mesmo ele bateu na porta da minha casa de manhã.

-E qual seria o problema querido?

-Ele bateu as cinco horas da manhã -Eu disse- E eu estava dormindo profundamente.

-Ah querido -Disse minha avó- Ele deve gostar de você.

-Mais do que os outros, ele sempre me acompanha para onde eu vou.

-Claro que sim, Ana e Iris são um casal, assim como Matt e Amanda -Minha avó comentou- Apesar que o Matt faz de tudo por aquela garota.

-Sim, mas Louis provavelmente já vai arranjar alguém. -Eu disse- Um garoto da dedaleira.

-Que pena, e você continua sozinho -Disse Minha avós de modo triste- Sabe Alex, sei que o que aconteceu com seus pais foi triste, mas precisa superar tudo isso, não pode evitar ficar sem alguém, isso deixa um vazio que nada mais pode preencher.

-Já tenho o amor que preciso -Eu disse- Todos na ilha gostam de mim, menos a dedaleira e algumas pessoas, mas enfim todos tem um pouco de afeto por mim, não preciso de mais nada, e nem quero.

-Isso vai vir um dia ou outro, e eu e Iris vamos rir de sua cara quando esse dia chegar.

-A Iris pode esperar de bunda empinada, pois nunca vai chegar -Eu disse impaciente- Eu preciso ir agora vovó, amanhã os meus amigos querem ir comigo no clube.

Minha avó me deu um beijo na testa, ela parecia triste com minha escolha, mas era minha.

Eu voltei para casa, me arrumei e fui logo dormir, mas não consegui, estava pensando, talvez...

Eu preciso arranjar alguém...

Mas quem?