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História Bite - Capítulo 2


Escrita por: txemin

Capítulo 2 - Capítulo 2


Fanfic / Fanfiction Bite - Capítulo 2

– Não acredito que vivi para te ver apaixonado. – Taehyung coloca as mãos na boca, maravilhado.

– Não estou apaixonado, fora que eu nem o conheço direito. – Era só o que me faltava.

– Tá sim.

Faz uma hora que cheguei. Fui recebido com muito carinho pelos meus parentes e progenitores. Assim que Tae me viu, quase me derrubou com seu abraço esmagador – tenho lá minhas dúvidas se ele é mesmo um ômega. Quando tive a oportunidade, puxei-o para a biblioteca e contei tudo sobre o moreno.

– Não, eu não estou. Só me ajude a procurar o livro. – Repito: era só o que me faltava.

– Teimoso.

Procuramos o livro que minha avó costumava ler para mim. Ele conta sobre lendas da nossa espécie desde seu primórdio e como nos comportamos.

– Por que mesmo que você quer esse livro, hyung? – O ômega me pergunta enquanto passa os olhos pela prateleira ao meu lado.

– Porque eu lembro que nele conta que alfas podem marcar ômegas de maneiras diferentes e, se eu não me engano, dependendo do local onde a mordida é feita ela pode ser “trocada”.

– Você morderia o ômega? – Ele me pergunta com um sorriso malicioso. Estreito os olhos para ele.

– Por que eu te contei mesmo?

– Você me ama que eu sei.

– Ômega convencido... – Resmungo.

– É de família. – Rio de sua resposta. Admiro e muito Taehyung por sempre falar o que pensa sem se importar com o que os outros irão pensar, ainda mais por ser ômega e vivermos em uma sociedade estereotipada.

Ficamos alguns minutos em silêncio procurando pelo livro, o que estava sendo perturbador, já que o rosto de Jungkook insistia em aparecer na minha mente, junto com a lembrança de seu cheiro. Jamais me senti tão atraído pela essência de um ômega assim.

– E então, ele é bonito?

– Lindo. – Solto um suspiro e escuto Tae gargalhar. – Podemos continuar a procurar?

– Como ele é?

– Aish, por que está tão curioso? – Paro de procurar por um instante e encaro meu primo que mantém um sorriso nos lábios.

– Nunca te vi apaixonado.

– Eu não estou.– Rebato sério.

– Negar é a prova. – Ele cantarola.

– Aigo, não te conto mais nada!

– ACHEI! – Tae dá um grito me assustando. Ando até a prateleira ao meu lado, onde está, vendo-o esticar o braço e retirar um livro grosso e de aparência velha, todo cheio de poeira, passando a mão pela capa para tirar um pouco da sujeira. – Está em latim! Nossa avó sabia latim? – Pergunta incrédulo.

– Não sei. O importante é que o encontramos.

– Eu encontrei, na verdade.

 – Sim, você encontrou. Agora vamos sair daqui que eu preciso ir embora. – Dou meia volta, indo em direção à porta.

– Mas já, hyung? – Escuto seus passos apressados para chegar ao meu lado.

– Jungkook tá sozinho no apartamento, preciso voltar.

Saímos da biblioteca e assim que fecho a porta, dou de cara com meu appa.

– Tae, querido, poderia deixar eu e meu filho a sós por um instante? – Ele pergunta com o olhar fixo em mim.

– Claro, Senhor Park. – Antes de sair, o ômega me entrega o livro.

– Vai me contar o que está acontecendo? – Cruza os braços.

– Estou ajudando um ômega que foi estuprado e marcado. – Despejo de uma vez, quanto mais direto, melhor.

– Jimin! – Passa as mãos pelos cabelos, exasperado. – Um ômega marcado?

– Não é uma marca comum.

– Como não é uma marca comum? – Questiona confuso, o que me faz suspirar, espero de verdade que eu não esteja equivocado.

– Não é no pescoço e nem no peito onde fica o coração, é do lado oposto.

Meu appa para de puxar os cabelos e olha para mim como se finalmente entendesse o que estou falando.

– E por isso precisa desse livro?

– Exato, eu preciso ajudá-lo, está tão machucado... – Digo triste ao me lembrar de como o encontrei algumas horas atrás.

– Está apaixonado, meu filho? – Encaro-o surpreso.

– Aish, não venha você com essa também. Eu só conheço o ômega há poucas horas, impossível isso acontecer.

– Na verdade, não é impossível. – Ele sustenta um sorriso esperto nos lábios.

– Como não é impossível? Eu nem o conheço! – Digo confuso.

– Descubra por si só, quando ler esse livro irá entender o que estou falando. – E assim sem mais nem menos, me dá as costas e deixa-me sozinho com meus pensamentos.

 Minha família está louca. Só pode. Onde já se viu eu me apaixonar por alguém que mal tive contato! Por querer ir embora logo, caminho a passos apressados ao local onde minha família se encontra.

– Já está de saída, querido? – Minha omma pergunta assim que chego à sala.

– Sim. – Vou até meus tios, que estão sentados no sofá, e me despeço deles, quando chego perto de meu primo para me despedir, o mesmo se levanta e agarra o meu braço.

– Vou com você.

– Por que quer vir comigo? – Retiro delicadamente sua mão de meu braço.

– Te explico no caminho.

Taehyung pega seus pertences e sai porta a fora. Confuso, despeço-me de minha omma e de meu appa e vou atrás do ômega.

– O que pensa que está fazendo? – Pergunto ao meu primo que está parado ao lado do meu carro.

– Hoje vou dormir na sua casa. Quero conhecer esse ômega.

– Por quê? Você vai assustá-lo!

Taehyung fecha a cara.

– O pobrezinho deve estar precisando de um amigo ômega e é só por um dia!

– Ele já deve estar dormindo.

– E?

Passo a mão massageando a têmpora, quero nem ver no que isso vai dar.

– Entra no carro logo.

O caminho até em casa foi em um silêncio tranquilo, onde permaneci focado no trânsito enquanto o Kim deixava sua cabeça escorada no vidro, quase dormindo. Ao chegarmos, fomos direto dormir. Parecia que meu corpo estava pesando algumas boas toneladas, tanto que ao me deitar, minhas pálpebras fecharam instantaneamente.

– Jimin!

Escuto alguém me chamando. Viro na direção contrária da voz, escondendo-me debaixo do cobertor. Não, eu não acabei de deitar?

– Aigo, alfa dorminhoco. Acorda logo! – A voz de Taehyung se torna próxima e sinto minhas cobertas serem puxadas.

– Sai daqui, Taehyung! – Solto um rosnado o assustando.

– Depois que você levantar eu saio.

Com muito esforço, forço os olhos abrirem e coloco uma mão na frente dos mesmos devido à claridade. Aish, dormi que nem pedra, ao que parece. Mas ninguém merece acordar cedo em pleno fim de semana!

– Fecha essa droga de cortina!

– Não, você vai levantar.

Agarro um travesseiro e jogo na direção da voz, escutando sua risada preencher o cômodo.

– Errou, agora levanta logo.

– Já te disseram que você é um chato?

– Já te disseram que tem um ômega dormindo perto do seu quarto?

Levanto-me num salto ao me lembrar de Jungkook.

– Vou tomar um banho. – Aviso meu primo antes de fechar a porta do banheiro.

Tiro minhas roupas e ligo o chuveiro na água gelada para despertar. Depois do banho, seco-me e escovo os dentes. Dou uma olhada no espelho e ajeito os fios loiros do cabelo que estão molhados devido ao banho. Visto roupas frescas e confortáveis, já que passarei o dia em casa.

Arrumado, saio de meu quarto encontrando Taehyung parado de frente para a porta ao lado da minha.

– É aqui que ele está?

Ando até a porta que está fechada e abro uma fresta, encontrando Jungkook dormindo agarrado a um travesseiro. Até dormindo é adorável e o cheiro... Ah o cheiro, simplesmente maravilhoso.

– Licença... – Meu primo passa por mim e entra no quarto.

– O que você vai fazer, criatura? – Pergunto em um sussurro.

– Só quero ver ele de perto. – Tae responde no mesmo tom, aproximando-se e agachando-se ao lado da cama fazendo um sinal para que eu faça o mesmo. Aproximo-me e fico na mesma posição.

– Ele é mesmo muito bonito, entendo essa sua cara de apaixonado.

Reviro os olhos.

– Não estou apaixonado.

– Admita que sente algo.

– Não vou discutir isso a essa hora, é ridículo. – Olho sério para Taehyung.

Tae abre a boca para responder algo, mas para o ato assim que escutamos um barulho vindo do Jeon.

Desviou a atenção para ele e vejo-o coçando suas pálpebras. Jungkook, ainda de olhos fechados, vira para o outro lado.

Solto a respiração que não tinha percebido ter prendido.

– Vamos. – Puxo meu primo pelo braço e levo-o até a cozinha. – Por favor, não fale mais sobre eu estar apaixonado pelo Jungkook neste apartamento, ele podia ter escutado!

– Admite que está? – Pergunta sorrindo de lado.

– Vou te colocar pra fora, e por que insiste tanto nisso? – Juro que não estou entendendo aonde ele quer chegar com isso.

– Qual é, Jimin, posso estar há dois anos sem te ver, mas eu sei, meus appas sabem, todo mundo sabe que você nunca se interessou por ômega algum.

Dou risada.

– Exagerado, e outra, eu só estou ajudando ele! Você não viu como eu o encontrei.

Tae solta um suspiro e começa a mexer nos armários da cozinha.

– Vá acordar o Jungkook, eu preparo o café.

Desta vez, sou eu a soltar um longo suspiro antes de voltar ao quarto do ômega e quando entro, encontro a cama vazia.

– Jungkook?

O moreno sai pela porta do banheiro com os cabelos molhados, usando uma regata preta e short branco.

– Desculpe Jimin, encontrei essas roupas no armário e quis tomar um banho. – Responde sem jeito enquanto seca com uma toalha os fios castanhos.

– Pelo menos serviram. – Sinto minhas bochechas esquentarem e desvio os olhos de seu corpo olhando em seu rosto. – Meu primo está aqui em casa e está preparando o café da manhã.

– Hyung, eu posso usar o telefone? Preciso ligar para os meus pais.

 – Pode ser depois do café da manhã?

– Claro, hyung.

– Como estão seus machucados? – Dou um passo em sua direção. Mais uma vez, seu cheiro impregna minhas narinas. Quase solto mais um suspiro, apesar de ser por um motivo bem diferente.

– Melhores, já não sinto tantas dores graças ao remédio e seus cuidados. – Deixa um sorriso pequeno nos lábios.

– Onde dói? – Aproximo-me mais um pouco. Parece que minhas pernas ganharam vida própria.

– As minhas costas doem. – Seu tom de voz diminui conforme me aproximo. – A mordida dói. – Diz num sussurro.

– Me deixa cuidar de seus ferimentos mais uma vez? – Levo minha mão direita à sua bochecha fazendo um carinho. Jungkook assente e sinto meu estômago dar cambalhotas quando nossos olhares se cruzam, notando o negrume de seus orbes. – Dormiu bem?

Deve ser fome, por isso estou agindo assim!

– A cama é muito fofa. – ele dá um sorriso mostrando seus dentes de coelhinho.

Pela primeira vez, sinto uma vontade gigantesca de beijá-lo. Por que fico tocando nele o tempo todo? Deve ser meu instinto protetor. Agarro-me nessa ideia e afasto outros pensamentos que me deixam nervoso. Com isso, obrigo meu corpo a se afastar do ômega, mordendo os lábios em um gesto involuntário.

– Você precisa comer, vamos? – Estendo minha mão para o maior que a pega. Quase solto o aperto quando sinto um choque passar assim que ele entrelaça seus dedos finos e delicados nos meus.

Andamos até a cozinha escutando um barulho alto vindo da mesma.

– Tae, me diz que você não destruiu a cozinha.

O moreno solta a minha mão se sentando em uma cadeira perto da bancada. Tal ato não passa despercebido pelos olhos do meu primo que mantém um sorriso esperto nos lábios.

– Engraçadinho. Estou fazendo tudo com muito carinho e vai ficar uma delícia! – Taehyung se afasta do fogão e se aproxima de Jungkook. – Me chamo Kim Taehyung, sou primo do baixinho ali. – ele indica com a cabeça na minha direção fazendo o mais novo rir.

– Prazer, me chamo Jeon Jungkook.

– Chim me falou sobre você.

– Falou? – Jungkook olha para mim e suas bochechas coram levemente.

Faço uma cara de bravo para meu primo antes de responder o Jeon.

– Só contei que estou cuidando de você. – Sorrio para ele e me aproximo do fogão. – O cheiro está divino, Tae.

– Pode sair daí. – Taehyung me afasta e volta a cuidar da comida.

Após alguns minutos, o cheiro do café da manhã recém feito impregnou a cozinha. Ajudei Taehyung a arrumar a mesa para então, nos servirmos.

Por incrível que pareça, o café da manhã foi agradável. Taehyung passou o tempo todo conversando com Jungkook que se abria aos poucos. Talvez ter trazido Tae não tenha sido uma péssima ideia, mas não admitiria isso em voz alta. O ômega já é convencido naturalmente.

Falamos sobre coisas fúteis para descontrair o mais novo; como comidas e roupas. Claro que meu primo aproveitou a chance para contar alguns momentos constrangedores de quando éramos crianças, mas pelo menos fez Jungkook rir, o que me deixou, por alguma razão, extremamente feliz.

Obviamente, após comermos, começamos a arrumar a bagunça feita. Contudo, acabo por me lembrar do pedido do Jeon e paro, por um instante, de guardar alguns alimentos em seus respectivos lugares.

 – Jungkook? – Chamo-o estendendo meu celular.

Ele me encara por um instante como se escolhesse me dizer algo.

– Jimin-hyung, você poderia vir comigo? – Assim que solta essas palavras, Tae para o que está fazendo e nos encara com seu sorriso quadrado. Lanço um olhar em um pedido mudo para que fique em silêncio e ele faz um gesto de fechar a boca com o zíper. Mais adulto, impossível.

– Por que quer que eu vá com você?

– Porque eu sei que irei desabar assim que falar com minha omma.

– Certo, vou com você.

Lado a lado vamos para o seu quarto, fechando a porta em seguida. Sento-me na beirada da cama enquanto o moreno permanece em pé discando o número e levando o celular à orelha. Depois do terceiro toque, alguém finalmente atende.

– Alô? – Uma voz de mulher se faz presente do outro lado da linha.

– Omma? Sou eu, Jungkook.

– Onde você está seu ômega imprestável? Não acha que me deve explicações? – Meu coração falha uma batida pela forma como sua omma o trata e vejo o Jeon levar a mão livre aos cabelos, puxando-os.

– Omma, e-eu... – Ele respira fundo. – Um alfa abusou de mim e me marcou.

A linha fica muda por um instante.

– Nunca, ouviu bem? Nunca mais apareça na minha casa. Você estava prometido para um alfa! Como vai ficar a reputação dessa família? Você é e foi um erro, sinto nojo. Tem até de noite para buscar suas coisas, caso contrário, queimo tudo. Você não é meu filho.

E com essas palavras duras ela encerra a ligação.

Jungkook abaixa a cabeça e senta ao meu lado. Passo os braços ao seu redor e o trago para perto de mim, escutando seu choro baixinho.

Sinto meu coração apertar. Que omma faria isso com seu filho? Afago suas costas na tentativa falha de acalmá-lo.

– E-eu sou tão horrível a-assim? – Jungkook me aperta mais forte.

– Não, meu anjo. Sua omma que é uma pessoa horrível.

– Eu sempre fiz t-tudo certo, sempre f-fui um bom filho...

– Shh... – Afago seus cabelos – Agora você vai ficar aqui comigo, tá? Vou cuidar de você, eu prometo. Se quiser vou buscar suas coisas.

O ômega não responde e me aperta ainda mais contra si.

Algumas dores não acabam facilmente. Elas podem deixar marcas profundas, mas se permitir sentir é o primeiro passo para seguir em frente.

Com o tempo, Jungkook foi se acalmando até parar de chorar. Ele foi ao banheiro lavar o rosto enquanto fui atrás da caixinha de primeiros socorros para cuidar de seus ferimentos novamente. A caixinha estava no mesmo lugar que eu havia deixado no dia anterior. No sofá da sala.

Ao adentrar a mesma, vejo meu primo sentado no sofá assistindo à um dorama.

Ando até o sofá e pego a caixinha torcendo para que esteja muito concentrado para não conversar comigo.

– Como ele está? – Fecho os olhos por um instante antes de me virar para o ômega.

– Triste, a omma dele é uma pessoa desprezível.

– O abraçou?

– Você não presta. – Não consigo segurar o riso – Faz um favor pra mim?

– O que quer?

– Liga para o Hoseok e pede para que ele retorne a ligação daqui a meia hora?

– Por que você mesmo não liga?

– Vou cuidar dos machucados do Jungkook.

Taehyung solta um suspiro, pega o controle e muda de canal.

– Já irei ligar.

– Obrigado.

Viro-me em direção ao corredor pronto para voltar ao quarto quando me chama mais uma vez.

– Hyung?

– Sim TaeTae? – Olho para ele.

– Quanto tempo não escuto esse apelido... Eu queria pedir desculpas, admito que fui um chato.

– Você é meu primo “barra” melhor amigo, acha mesmo que fiquei bravo?

Ele dá de ombros.

– É que eu nunca te vi se preocupar tanto com alguém que não conhece, que acabei me empolgando. – Um bico se forma em seus lábios.

– Tá tudo bem TaeTae. – Vou até ele e deixo um beijo estalado em sua testa.

– A omma dele foi tão horrível assim?

– Ela o culpou e o expulsou de casa. – Meu primo me olha aterrorizado.

– Ainda bem que você o encontrou. Gostei dele e pode contar comigo para ajudar.

– Você é o melhor. – Bagunço seus cabelos e me afasto indo em direção ao quarto do moreno.

Bato de levinho na porta.

– Posso entrar?

– Claro, hyung.

Entro no quarto e vejo o ômega sentado na cama.

Sem camisa.

Engulo seco e busco me concentrar em colocar a caixinha na cama e retirar os algodões, a pomada e os curativos.

– Hoje não vai arder muito, já que não preciso passar o antisséptico.

– Jiminie, eu tenho dois melhores amigos e... – Olho para ele e vejo que está com vergonha para pedir algo.

– Quer que eles venham aqui? – Completo.

– Sim, se não for incômodo. – Diz apressado.

– Hey, pode pedir qualquer coisa. Está em casa agora. – Sorrio para ele ganhando um sorriso tímido de volta.

Não falamos mais nada conforme cuido de seus machucados. Desta vez, Jungkook observa cada movimento atentamente, fazendo vez ou outra uma careta de dor.

– Suas sobrancelhas ficam juntinhas quando concentrado. – Ele toca nelas me fazendo arrepiar.

O que está acontecendo comigo?

Procurei cuidar de seus ferimentos o mais rápido possível, pois sentia minhas mãos tremerem levemente conforme ele observava atentamente cada movimento que eu fazia. Não queria que percebesse meu nervosismo que nem eu mesmo entendo o motivo para tal.

Após isso, fomos para a sala onde Jungkook se sentou no sofá perto de Taehyung, que estava esparramado no tapete, para assistirmos à um filme na televisão.

– Liguei para o Hoseok. Ele disse que estava ocupado no momento e pediu que você retornasse a ligação, porque de acordo com ele, se esqueceria de ligar – Tae diz com os olhos vidrados no filme.

– Obrigado Tae, vou à cozinha preparar pipoca para vocês dois. – Peguei o telefone que estava na mesinha da sala e digitei o número para ligar para o meu hyung enquanto ia em direção à cozinha.

Hoseok atendeu no segundo toque.

– Hyung, está ocupado? – Escorei-me na bancada.

– Bom dia, Chim. Não estou ocupado agora. O que quer falar comigo?

– Na verdade eu quero pedir um favor. – Mordo o lábio inferior.

– Estou ouvindo.

– Eu tenho um livro antigo da minha avó que está em latim, e como o hyung sabe latim...

– Quer que eu traduza?

– Sim, e o quanto antes, se puder.

– Chim, faz dois dias que não falo com você e já está me escondendo as coisas? – Meu hyung pergunta se fingindo de ofendido, dou risada. – E claro que faço esse favor para o meu dongsaeng, mas por que pegou um livro em latim?

– Espera um minuto. – Vou ao corredor que leva a sala e espio os mais novos vendo que estão concentrados no filme e volto para a cozinha. – Só faz dois dias que a gente não se vê e nesse tempo muita coisa aconteceu.

– Fala logo.

– Hyung, eu queria te contar pessoalmente.

– Estou curioso, agora pare de enrolar.

– Ontem eu saí mais cedo da empresa e no caminho o pneu do carro furou. Parei em uma rua sem saída para trocá-lo e quando desci do carro escutei um choro. Me aproximei do local de onde o choro vinha e encontrei um garoto todo encolhido no chão com as vestes rasgadas e machucados por todo o corpo. – Faço uma pausa me recordando do dia anterior antes de continuar. – Eu queria levá-lo para um hospital, mas ele negou e então decidi trazê-lo aqui em casa para cuidar de seus ferimentos.

A linha fica muda por alguns instantes.

– Um garoto alfa? – Meu hyung pergunta em um tom de voz desconfiado.

– Ômega.

– Park Jimin, o que isso tem a ver com o livro?

Solto um suspiro criando coragem para contar o resto.

– Aí vem a parte complicada: o ômega foi estuprado e marcado, só que a marca dele é em um local diferente e o livro da minha avó explica sobre isso.

– Puta merda Chim! E a família desse ômega?

– A omma o expulsou de casa.

– Pretende mantê-lo aí?

– Sim. – Mordo os lábios nervosamente.

– Você está interessado por um ômega marcado, Park Jimin? – Meu hyung grita ralhando comigo ao telefone, obrigando-me a colocar o aparelho longe.

– Aish, não grite! Não estou interessado, só quero ajudá-lo. – Por que é tão difícil de me entenderem? Estou certo, não estou?

– Jura? – Pergunta debochado. – Ele é bonito?

Sinto minhas bochechas esquentarem antes de responder. Já até sei qual vai ser a reação de Hoseok.

– Ele é lindo. – Digo em um sussurro.

Ouço meu hyung gargalhar. Bipolar.

– Não acredito que um ômega marcado mexeu com esse seu coraçãozinho, que sorte, hein? – Diz irônico.

– Não estou gostando dele. – Bufo com seu comentário.

– Ah, por favor. Você nunca se importou com outros ômegas e um que conhece há poucas horas já te deixa suspirando. Pode negar para si mesmo, mas a mim você não engana.

– Aigo, já não basta o Tae e meu appa com essa história sem pé nem cabeça, agora até você? -Pergunto incrédulo.

– Minnie, isso é porque a gente te conhece. Vou ter que desligar agora, mais tarde passo aí para pegar o livro. Quero conhecer esse ômega e quero que me explique direito essa história da mordida.

– Você é igual ao Tae. Impossível.

– É para isso que os amigos servem! – Ele encerra a ligação.

Hoseok é meu melhor amigo desde a época da faculdade. Nós nos conhecemos no segundo ano; eu cursando administração e ele dança. Lembro-me que quando nos conhecemos o mais velho me contou que antes de entrar para a faculdade tinha dúvidas se cursava dança ou línguas, já que tem facilidade para aprender as duas. Por fim, ele escolheu a dança que sempre fora sua paixão e quanto a aprender outros idiomas decidiu deixar como um hobby.

Desperto-me de meus pensamentos e começo a preparar pipoca, pegando todos os utensílios e colocando-os na bancada.

Conforme a panela esquenta, escuto os primeiros barulhos da pipoca estourando. Depois de certo tempo, despejo-as num recipiente para em seguida salgá-las. Guardo o sal em seu lugar e deixo a panela na pia, para enfim retornar à sala.

– Nunca pensei que um alfa cozinhasse. – Jungkook desvia os olhos do filme para mim.

– Eu não cozinho muito, mas gosto de fazer isso de vez em quando. – Sento-me ao seu lado.

– Chim, posso ficar aqui até amanhã? – Tae me pergunta enquanto pega um pouco de pipoca com as mãos.

– Claro. Se precisar de roupas posso emprestar.

– Duvido que sirvam.

Estreito os olhos para ele.

– É brincadeira, hyung! – Taehyung prende o riso e volta a prestar atenção ao filme.

No início, até me concentrei na história do filme; onde um jovem dançarino, novo na cidade pequena, se apaixona pela filha do pastor. Porém, minha atenção vai para o ralo quando o Jeon deita a cabeça em meu colo. Passei o resto do filme acariciando seus cabelos sedosos e me embriagando em seu cheiro de morango.



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