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História Broken - Ato I


Escrita por: Milynha_Sh

Notas do Autor


Enton, olha eu aqui com fic nova!
Xent, xeu explicar uma coisa, essa fic é um pedido feito por uma leitora a um tempinho atrás, e será bem curtinha, pq né, o conteúdo dela é muito ‘pesado’. Enton ‘P’ essa fic é dedicada especialmente a você!

OBS: Agradecimento especial a ImpureMichaelis que betou o cap para mim!

Capítulo 1 - Ato I


Avisos:

Resolvi colocar essa nota aqui, pois a maioria dos leitores não costumam ler as notas dos autores, enton né, faça o favor de ler com atenção esse aviso!

Essa fic conterá cenas de volencia, abuso, estupro, incesto e etc. Se você é sensível a esse tipo de leitura, por favor, não leia essa historia.

Quero deixar claro que eu obviamente não apoio nem incentivo nenhum dos atos citados acima.

Repito novamente se você é sensível a leitura com os itens descritos acima, POR FAVOR, NÃO LEIA! Aceitarei apenas criticas construtivas.

 

Era um dia chuvoso, as rajadas frias de vento e as nuvens escuras traziam ainda mais melancolia àquela manhã de Abril. A multidão se aglomerava com seus guarda-chuvas pretos ao redor do caixão, escutando emocionadas a homenagem feita pelo pastor. 

Todos ainda estavam chocados com a morte repentina daquela mulher tão querida, e tentavam dar todo suporte emocional a família naquele momento tão delicado. Rachel havia falecido quatro dias após ser diagnosticada com embolia pulmonar, deixando para trás dois filhos e o marido. 

Ciel se debruçou sobre o caixão, observando pelo vidro o rosto pálido de sua mãe. “Mãe…” Apoiou a testa no vidro. Sua visão estava embaçada pela água da chuva. “Eu não quero ficar só…” 

“Filho, você nunca estará só. Eu sempre estarei aqui com você.” Vincent o segurou pelo ombro, o protegendo com seu guarda-chuva. “Venha, eles já irão baixar o caixão.” 

Um arrepio percorreu a espinha de Ciel ao sentir o toque de seu pai, lhe causando náusea por saber que de agora em diante seriam apenas eles dois, já que seu irmão mais velho morava em Tokyo. Apenas eles dois naquela casa. Eles e ninguém mais. Ele ainda tentou resistir, agarrando-se ao caixão como se de fato se agarrasse ao corpo de sua mãe. 

“Filho, venha.” Com toda paciência, Vincent tentou puxá-lo, encontrando mais resistência por parte dele. “Está sendo difícil para mim também, mas não há mais como adiar esse momento, está na hora… de enterrar...” Ele não conseguiu mais falar e o pranto veio a tona outra vez.  

Foi preciso que amigos mais próximos intervissem e tirassem os dois de perto do caixão, para que os coveiros finalizassem o enterro. Aos poucos as pazadas de terra cobriam o caixão, dando espaço para alguns ramos e coroas de flores em cima. Após as últimas condolências e incentivos de superação, as pessoas foram se dispersando até só restar Ciel e Vincent fazendo o trajeto até o carro. O silêncio reinou entre eles até chegarem em casa. 

Ciel passou correndo por seu pai e foi direto para o quarto, trancando-se. Desabou em sua cama e novamente caiu no choro. Não haviam mais lágrimas, ele incrivelmente havia descoberto que até mesmo as lágrimas possuíam um estoque limitado, pois apesar de estar chorando, seus olhos estavam secos. 

E ele não sabia se sofria mais pela morte de sua mãe ou por saber do inferno que sua vida seria de agora em diante. Uma coisa era certa: estava totalmente vulnerável sem a presença de Rachel. 

“Ciel, abra a porta!” Era Vincent do lado de fora. Sem obter resposta ele começou a forçar a maçaneta. “Abra a porta, moleque. Agora!” 

Ciel se encolheu na cama, ficando em posição fetal, seu fluxo sanguíneo se tornava mais rápido por conta de seu coração bombeando o sangue numa frequência descontrolada. Ele estava em pânico. O medo tomava conta de todo seu corpo, suas mãos suavam e sua barriga doía. 

“Então vai ser assim!? Tudo bem, eu não tenho pressa. Uma hora você terá que sair daí.”  

Ele ouviu os passos de seu pai se distanciando até deixarem de ser ouvidos. Respirou fundo tentando se acalmar, por enquanto estava protegido, mas sabia que isso seria por pouco tempo. Ele não poderia passar o resto da vida trancado naquele quarto e a única forma de sair dali seria pela porta, pois a janela era gradeada – parecia uma prisão. Esgotado tanto fisicamente, quanto psicologicamente, ele logo foi vencido pela exaustão, deixando-se levar pelo sono. 

“Mãe, do que o amor é feito?” Ciel perguntou enquanto fazia seu dever de casa.

Rachel se virou com as sobrancelhas franzidas, achando a pergunta um tanto incomum. Ela nunca havia parado para pensar sobre isso, e sinceramente não fazia ideia do que responder. Apesar de ter apenas seis anos, seu filho as vezes aparecia com cada pergunta complexa que era até difícil achar uma resposta satisfatória. “Por que está perguntando?” Ela voltou novamente a atenção para os pratos na pia.

“Minha professora pediu para fazermos um texto sobre do que é feito o amor.” Ciel explicou.

“Então é isso! Vejamos...” Ela ficou pensativa enquanto olhava para seu filho, percebendo então que a resposta estava bem a sua frente. “Na minha opinião, o amor é feito de coisas boas, como: carinho, ternura, bem querer, altruísmo, proteção... Mas o amor por ser feito de coisas diferente para cada pessoa, então é algo pessoal.”

“Acho que entendi, mais ou menos!” Ciel mordeu a ponta do lápis. “Então o meu amor é feito de todos os sentimentos que eu sinto por você, pelo papai e o meu irmão.”

Rachel virou novamente para o menino, ficando emocionada com as palavras dele. Enxugou as mãos no avental e foi até Ciel, dando um beijo em sua testa. “Você não faz ideia do quanto eu te amo. Nunca se esqueça disso, você é um presente de Deus na minha vida.”

Quando Ciel acordou já era noite e não chovia mais, o quarto estava mergulhado na penumbra, sendo iluminado pela pouca claridade que entrava pela cortina. Por que tinha que ter acordado? Ele queria permanecer naquele sonho eternamente, dormir para nunca mais acordar. Ciel sentou na cama sentindo uma grande letargia em seu corpo e somado a isso havia a dor no estômago também. Há quantas horas estava sem se alimentar? A até onde lembrava, a última vez que comeu alguma coisa foi horas antes de saber da morte de sua mãe, então estava a quase 48 horas sem se alimentar.  

Olhou fixamente para a maçaneta cromada, aquela simples porta o separava de um campo minado e ele sabia ser um grande perigo sair dali, mas seu estômago doía tanto e a fome era tamanha que o fazia sentir náuseas de tanta fraqueza. Por que sua vida tinha que ser assim? Quantos outros Ciels passavam pela mesma situação? Certamente essa não era a vida esperada para um garoto de quartorze anos, mas parecia que alguém lá em cima havia se esquecido dele, como se não visse o seu sofrimento, e se via, observava apenas de braços cruzados. Rindo de sua desgraça. 

Ele caminhou lentamente até a porta, com absoluto cuidado para que seus passos não fossem ouvidos, destravou a tranca com a destreza de um cirurgião e foi abrindo vagarosamente ao passo que sentia o coração quase escapar pela boca. A casa estava tão silenciosa, que possivelmente daria para ouvir as batidas frenéticas de seu coração. Saiu pelo corredor na ponta dos pés. Aparentemente não havia ninguém além dele ali, a casa parecia estar vazia e o caminho estava livre até a cozinha. Aquele silêncio era tão ensurdecedor que chegava a dar medo, a iluminação era precária por causa da maioria das luzes apagadas, as gotas que pintavam na pia pareciam as batidas de um tambor. Tudo o deixava em alerta. Seu corpo estava completamente tenso, a sensação era de que a qualquer hora o predador daria o bote em sua presa. No caso, ele. 

Foi até a geladeira e o que viu destroçou seu coração já estraçalhado: era o bolo de chocolate que sua mãe havia feito antes de adoecer, porém já estava duro devido a tantos dias ali. Mas Ciel não manteve a atenção nele por muito tempo, sua fome não deixou. Havia algumas frutas na geladeira e ele as pegou e levou a boca de forma desesperada, estava faminto. Comeu o máximo que conseguiu, sentindo após isso um grande fastio como resultado de sua gula. Ciel olhou para suas mãos, estavam sujas de restos de comida, assim como seu rosto também. Ele foi até a pia para se limpar, lembrando que precisava voltar para seu quarto antes de ser pego. 

“Ora se não é o meu querido coelhinho.” 

Ciel sentiu o corpo congelar e sua respiração se tornou perfeitamente audível naquele silêncio. O medo o paralisou totalmente, lhe impedindo de fugir. 

“Papai sentiu tanto a sua falta, coelhinho.” Vincent se aproximou, abraçando Ciel pelas costas e passando o nariz pelo pescoço dele, indo em direção aos cabelos da nuca. Inalou profundamente ali como se fosse o mais divino aroma existente. “Acho que estou merecendo uma recompensa pelo seu mau comportamento, não acha?” 

“Não… Por favor…” A voz de Ciel saiu trêmula e embargada. A comida parecia querer voltar pelo mesmo caminho por onde entrou. Ele sentia nojo, total aversão por aquele homem. Aquele monstro não era digno de ser chamado de pai. 

“Coelhinho, não faça drama. Será por bem, ou será por mal?” Vincent levou a mão a boca do filho, deslizando o dedão por seus lábios e sentindo que a pele fina estava ressecada. Mas isso não importava. “Eu o aconselharia escolher a primeira opção, para o seu bem.” 

“Eu não sou mais obrigado a te obedecer, sua aberração.” Apesar de estar confrontando seu pai, Ciel se sentia tão nervoso a ponto de desmaiar. Medo. Desespero. Repulsa. Revolta. Era isso que se passava por sua cabeça. “Minha mãe já está morta, você não tem mais como me ameaçar, e se você encostar um dedo em mim, eu contarei para todos quem você realmente é.” 

“Vejo que meu amado coelhinho está mostrando as garrinhas.” Vincent o pressionou contra a pia e rodeou a mão em torno de seu pescoço, apertando. “Você não se atreveria a fazer isso. Ninguém acreditaria em você, o moleque retraído que todos acham estranho. Ninguém gosta de você, Ciel. Apenas eu. Ninguém irá te amar mais do que eu. Mas eu também posso te odiar na mesma intensidade e, para a sua segurança, é bom você não dá uma de espertinho. Caso contrário eu irei te fazer sofrer. Eu irei te fazer sofrer muito, você não é capaz de imaginar as atrocidades que eu posso fazer. E no final, eu desaparecerei com seu corpo para que ninguém consiga achar, e todos irão ficar penalizados com a minha dor: Inconformado com a morte da mãe, meu querido filho fugiu de casa e nunca mais foi visto." 

Ciel começou a soluçar.  Ele sabia o quanto seu pai era perigoso, um verdadeiro psicopata. Mas todos na pequena cidade estimavam Vincent. Aos olhos da sociedade, o professor de universidade era um homem íntegro e dono de uma índole imaculada, sendo admirado não apenas por seu intelecto, mas também por ser um marido sem precedentes e excelente pai. Isso era apenas aos olhos da sociedade. A capacidade de fingimento de seu pai chegava a um nível tão doentio que mesmo sua mãe nunca chegou a desconfiar de nada. 

“E então, coelhinho. Ainda irá resistir? Vamos, abaixe-se e faça o que você já sabe fazer de melhor.”  

“Você é um monstro.” A voz de Ciel era entrecortada pelo choro. Ele havia perdido, pois sabia que não possuía estruturas nem psicológicas nem físicas para enfrentar seu pai. “Faz poucas horas que minha mãe foi enterrada, mas você não tem respeito pela dor de ninguém.” 

“Sua mãe morreu e acabou. Vida que segue. Agora abaixe-se e faça o que eu mandei.” Vincent recuou dois passos e abriu a calça, expondo sua ereção. “Venha, chupe logo.” 

Aos prantos, Ciel foi baixando até seus joelhos tocarem o chão. Não havia escapatória. Pegou pênis e colocou na boca, lutando contra a vontade vomitar. Aquilo era repugnante, aquele era seu pai. Seu pai. Como ele tinha coragem de obrigá-lo a fazer algo tão nojento? Aquele gosto horrível, a sensação de estar imundo, tudo se misturava e o fazia se sentir o mais miseráveis entre todas as criaturas. 

“Faça com vontade e pare de chorar. Não é tão ruim assim.” 

Vincent segurou pelos cabelos do menino e forçou sua cabeça cada vez mais e mais. Não haviam limites. Em sua mente doentia não havia prazer maior que aquele. Era natural e justo causar dor e sofrimento ao outro, assim como um dia causaram a ele. 

“Você não quer deixar sua mãe desapontada, não é mesmo?” Frederick passou a chave na porta.

“Não, papai.” Vincent respondeu com um olhar inocente, ele faria de tudo para não deixar sua mãe triste. Ele a amava mais que tudo.

“Bom garoto.” O Phantomhive foi até o filho e se ajoelhou para ficar da sua altura. Passou os dedos pelo rosto do menino, contornando com ternura o desenho de seu pequeno queixo. “Então não conte para ela o que iremos fazer agora, caso contrário ela ficará muito desapontada com você. Entendido?”

Esta bem, eu não irei contar.” Vincent se apressou em responder mesmo não entendendo nada do que seu pai dizia.

“Agora o que acha de sentar um pouco no colo do papai…”

“Aaahhhh...” Urrou jogando a cabeça para trás, segurando firmemente a cabeça de Ciel para que ele não se move do lugar, até que o torpor passou e ele finalmente o soltou. 

Ciel se apoiou com as duas mãos no chão para não cair, e cuspiu compulsivamente para tentar eliminar qualquer resquícios de fluidos do outro. Limpou o queixo com o dorso da mão, sentindo extremo nojo ao ver aquela coisa gosmenta misturada a sua saliva. Foi levantando com dificuldade, usando a pia para se apoiar. Seu maior ódio era ver seu pai ajeitando as roupas tranquilamente como se nada tivesse acontecido, como se o seu sofrimento não tivesse nenhuma importância. 

“Não me olhe assim, não é como se você já não estivesse acostumado.” Vincent fechou o botão da calça, totalmente indiferente ao que tinha acontecido. “E de agora em diante faremos com mais frequência.” 

“Eu te odeio.” Uma lágrima escorreu do olho esquerdo de Ciel. Aquele homem era tão repugnante a ponto de querer matá-lo, causar-lhe dor, sofrimento, mas apenas a morte não parecia ser insuficiente para acalmar sua ira. 

“Mas coelhinho, eu amo tanto você.” O mais velho falou com ternura, o que causou ainda mais asco no menor.  

Todo aquele fingimento, o tom manso na voz, o comportamento dissimulado, mentindo na maior cara de pau e com a convicção de aquilo era realmente verdade. Era mesmo um psicopata. Ciel sabia como a personalidade se seu pai poderia mudar da água para o vinho e, com a rapidez de um piscar de olhos, ele mostrava o outro lado de sua face. 

“Não importa se você me odeia ou não, desde que você continue me servindo a hora que eu pedir.” Vincent continuou com o tom calmo, como se o assunto sobre o qual falavam fosse algo totalmente normal entre pai e filho. 

“Monstro, monstro, monstro… MONSTRO!” Ciel gritou e num ato desesperado pegou uma faça de sobremesa de cima da pia e avançou na direção de seu pai. Ele iria matá-lo, aquele ser miserável não merecia viver.  

Porém Vincent tinha ótimo reflexo e sendo maior e mais forte, ele rapidamente conseguiu imobilizá-lo. “Ora, ora, que coelhinho mais malvado.” Sorriu com escárnio, apertando a cabeça do menino contra o chão. “Você pensou mesmo que seria páreo para mim? Que tolo! Papai agora está muito decepcionado com você, e meninos malvados não podem ficar impune, não é mesmo? Você será disciplinado para que não pense em cometer o mesmo erro outra vez. Venha!” Vincent o arrasou pelos cabelos com agressividade, levando Ciel na direção do porão que por algum motivo já estava aberto. 

“Não, por favor.” Ciel começou a entrar em pânico, já suspeitando do que seu pai faria. Olhou para dentro do local, estava completamente escuro. "Por favor, pai. Isso não!" 

“Ah, agora eu sou seu pai? Interessante, pois segundos atrás você queria me matar e até disse que me odiava. Você não imagina o quanto isso me magoou.” Vincent parecia estar sofrendo, como se a atitude de seu filho de fato o tivesse abalado. Até que ponto isso era uma verdade ninguém nunca iria saber. “Mas veja só como eu sou um bom pai e penso em você, enquanto você estava trancado no quarto se afogando em lágrimas, eu preparei esse lugar especialmente para recebê-lo. Você ficará aqui até aprender a ser um menino obediente.” 

“Eu serei!” Ciel rapidamente respondeu, resistindo para não entrar no porão. “Por favor, eu serei um menino obediente de agora em diante.” 

“É uma pena que eu não acredite em você.” Vincent continuou a arrastar Ciel com violência, e quando chegaram ao final da escada o empurrou com força e o garoto sumiu na escuridão do porão. “Nos vemos em breve.” 

“Não! Por favor! Eu serei um menino obediente!” Ciel correu desesperadamente para tentar impedir seu pai de tranca-lo, mas não chegou a tempo, então começou a bater na porta para que Vincent tivesse misericórdia e dissesse que aquilo não passava de uma brincadeira. Ele sentia medo. Muito medo. “Por favor, eu farei tudo que o senhor quiser. PAIIIIII...” Gritou em desespero e começou chorar. “Eu farei tudo que o senhor quiser…” 

Os passos foram se distanciando e Ciel soube que não adiantaria gritar, seu pai não o tiraria dalí tão cedo. O silêncio ensurdecedor se fez presente outra vez e a escuridão se tornou ainda mais apavorante. Ele desceu a escada com cuidado para não tropeçar em um dos degraus, parecia que algo surgiria às suas costas e o agarraria por trás. O medo se tornou ainda maior ao lembrar de sua mãe morta. Era ridículo pensar em assombrações nesse momento, ainda mais com sua própria mãe, porém seu psicológico estava tão abalado e eram tantas coisas acontecendo que ele não conseguia raciocinar direito. Ciel sentia que iria enlouquecer.  

Ele se encolheu ao pé da escada, abraçando o corpo de maneira tão apertada que o lugar que ocupava no chão chegava a ser mínimo. Infelizmente por ter dormido a tarde inteira agora estava sem sono. Ele teria que conviver com seus medos até o dia clarear. 

*** 

O canto dos pássaros pareciam distantes, como se fossem abafados por alguma coisa. Ciel abriu os olhos, vislumbrando uma pequena claridade. Sentou sentindo o todo o corpo dolorido devido a posição em que dormiu, aliás, ele nem lembrava em qual momento pegou no sono. Olhou ao redor, havia um pequeno buraco no porão destinado a passagem de ar e isso trazia uma pequena claridade ao local. O porão estava vazio, havendo apenas alguns papelões jogados no chão e uma coberta, provavelmente aquilo seria sua cama.  

“Droga!” Ciel sentia que sua bexiga iria estourar, mas não havia nenhum banheiro ali, era apenas um cubículo onde a única porta era a de saída. Não havia jeito e ele não aguentava mais segurar, a única solução era urinar ali mesmo, e assim o fez.  

Ciel foi até a pequena passagem de ar, era tão minúscula que nem varava uma mão e para completar havia algumas roseiras plantadas bem a frente, ninguém conseguiria vê-lo dali e também não adiantaria gritar. Fora isso, apenas aquele minúsculo buraco não era suficiente manter para o local arejado, fazendo o calor começar a se formar. Possivelmente à tarde a temperatura beiraria o insuportável. 

Ele foi até o papelão e sentou, a única coisa que poderia fazer era esperar o tempo passar. Ocasionalmente ouvia o barulho dos carros indo e vindo, e o de pessoas conversando também, mas era algo muito baixo, abafado, servindo apenas de companhia para ele não se sentir tão solitário. Ali era tão silencioso que era quase possível ouvir seus pensamentos. 

O feixe de luz foi andando pelo chão do porão de acordo com o passar do tempo, assim como também a tonalidade da luz mudava e, ao que tudo indicava, o fim de tarde estava chegando, trazendo consigo a escuridão, que começava a reinar outra vez. 

Ciel sentia fome novamente e também se sentia sujo, a temperatura abafada ensopou seu corpo de suor e ele também sentia uma grande necessidade de escovar os dentes, e principalmente, de ir ao banheiro. Nem ele mesmo estava se suportando. Foi então que ouviu até porta ser destravada. 

“Estou com um taco de baseball, então não ouse fazer gracinha. E fique longe da porta.” Vincent abriu a porta lentamente, notando Ciel no final da escada. “Bom menino, aqui tem água e comida.” Deixou uma jarra com água e um prato de comida no início da escada e fechou a porta novamente. 

Ciel correu até a jarra com água e a bebeu de forma desesperada, sentia tanta sede que até saliva não havia mais em sua boca para engolir. Estava próximo de uma desidratação. Após saciar sua sede, ele finamente deu atenção ao prato de comida, se arrependendo em seguida por ter bebido tanta água. Pegou o prato e voltou para o papelão, comendo até onde seu estômago conseguia comportar, o resto ele guardou para quando a fome se manifestasse outra vez. 

Ele escorou a cabeça na parede, não era possível que estivesse nessa situação, parecia um pesadelo. Começou a chorar, se sua mãe estivesse viva nada disso estaria acontecendo. Por mais que ela não soubesse dos abusos que seu pai cometia, Vincent era bastante cauteloso para que ela não desconfiasse de nada e, agora que ela não estava mais aqui para lhe garantir segurança, seu pai estava livre para fazer o que quisesse. 

“Por que eu?” Começou a puxar os cabelos. Com tantas pessoas ruins no mundo, por que tinha que ser justamente com ele que isso tinha que acontecer? Por que sua vida tinha que ser assim? Como ele sentia inveja dos meninos de sua rua, de quando os via brincar sem preocupação alguma, de como pareciam terem uma família feliz, ao contrário de Ciel que vivia assombrado, com o constante medo de quando aconteceria o próximo abuso. Era injusto, era totalmente injusto. Ele nunca causou mal a ninguém para merecer uma vida assim. “Aahhhhhgggg!!! PORQUE COMIGO???” Começou a gritar, ansiando desesperadamente por uma resposta. 

*** 

“Por que as formigas andam em fileira?” Ciel observava o movimento na boca do formigueiro que havia no quintal de sua casa. 

Seu irmão pensou um pouco em uma explicação. “Dizem que é porque elas liberam uma substância por onde andam quando estão em busca de comida e esse rastro as ajudam a voltar para casa, e as outras formiguinhas também seguem esse rastro, tanto para saberem onde está a comida, quanto para se orientarem no caminho para casa.” 

“Hum!” Ciel fez que tinha entendido. Pegou um graveto jogado no chão e colocou na frente de algumas formigas que passavam na trilha, ele queria ver qual a reação delas caso perdessem o tal rastro. “Deve ser difícil a vida de uma formiga, elas têm que carregar pedaços de folhas todos dos dias, e alguns pedaços são bem maiores que elas. Isso parece cansativo.” 

Seu irmão fechou o livro e virou para ele, admirando sua maneira de analisar a situação. “Eu queria ser uma formiga.” 

“Por quê?” Ciel o olhou com curiosidade. 

“Porque os ‘pedaços de folha’ que os humanos carregam são muito mais difíceis de suportar.” Ele suspirou. 

“Mas as folhas são bem leves. Olha!” Ciel pegou algumas folhas do chão e jogou para o alto. “Até o vento consegue carregá-las.”  

“Não foi à folhas no sentido literal que eu estava me referindo, Ciel, e sim aos problemas da vida.” Ele riu e puxou o menino para seu colo. “Sabe, eu sinto inveja de você, dessa sua inocência.” 

“Mamãe disse que inveja não é algo bom.” Ciel franziu suas pequenas sobrancelhas, mas logo sorriu. “Posso te contar um segredo?” 

“Só se for daqueles guardados a sete chaves.” 

Ciel riu e puxou o rosto de seu irmão para mais perto para cochichar em seu ouvido. “Eu também sinto inveja de você.” 

“Realmente mamãe estava certa.” O maior se afastou novamente e fez um cafuné bagunçando os cabelos do menino. “Inveja não é algo bom!”

Ciel acordou desorientado, sentindo uma terrível dor de cabeça e um dolorido no corpo todo por dormir naquela condição tão desconfortável. Há quanto tempo não sonhava com seu irmão? Há quantos anos não se viam? Ele praticamente nem lembrava mais de seu rosto, e até em seu sonho a face dele era desfocada. No fundo estava magoado com ele, pois há oito anos não aparecia em casa para visitar sua mãe, e nem no velório dela teve a decência de comparecer. A conduta dele era injustificável, não havia perdão. 

Ciel sentou no papelão, não fazia ideia de que horas eram, e a única certeza que tinha era de ainda ser de madrugada por causa da escuridão. Ele começou a ouvir vários ruídos e algo arranhar o chão. Se encolheu apavorado e se manteve em alerta, não enxergava absolutamente nada, mas pelo som sentia que aquilo se aproximava. Mais perto. Mais perto e mais perto… 

“Argg...” Engoliu o grito quando aquilo tocou no dedo de seu pé, dando uma pequena beliscada. Foi então que Ciel percebeu que era um rato. O local fedia a urina e havia também o resto de seu almoço que começava a azedar, logo era imaginável que os ratos não tardariam em aparecer e, pelo barulho, eles já havia encontrado o que sobrou de sua refeição. 

Ciel foi tateando e jogou o prato para longe, torcendo para que os ratos saíssem de perto de sua ‘cama’. Aquela escuridão incomodava seus olhos, uma aflição quase desesperadora por querer pelo menos uma fresta de luz, algo em que pudesse focalizar. Se continuasse nesse ritmo ele tinha certeza que perderia a sanidade dentro poucos dias. Apesar de ainda sentir sono ele lutava para não dormir, tinha medo de pegar no sono e ter alguma parte de seu corpo devorada pelos ratos.  

“Como é bom ser criança, ficar na barriga e depois nascer. Como é com ser criança conhecer o mundo e poder viver... Começou a cantar a música que sua mãe cantava para ele quando criança, essa era a única forma que encontrou de se manter acordado.  

Inevitavelmente a vontade de urinar se fez presente outra vez, assim como também a vontade de defecar, fazendo sua barriga encher de gazes por reprimir a vontade de fazer côco. Ele não queria ter que fazer suas necessidades ali, pois o porão já estava com um cheiro desagradável em virtude da última vez que urinou, mas ele também sabia que logo teria que ceder a necessidade de se aliviar. Mais alguns minutos e não teve jeito, ele caminhou na escuridão até o canto que calculou ser o mais afastado e se aliviou, se asseando com alguns pedaços de sua cama. 

*** 

Ciel se abanava com um pedaço de papelão, o calor e o cheiro fétido estavam insuportáveis. Chegava a dar vontade de vomitar. “Eu não irei enlouquecer, não irei enlouquecer, não irei enlouquecer…” Repetia para ouvir o som de sua voz, caso contrário aquele silêncio realmente o deixaria louco. 

“Irei abrir a porta e já sabe que deve ficar longe.” Era Vincent outra vez e assim que entrou no porão, colocou a mão na frente do nariz. “Que cheirou horrível é esse? Parece que tem uma carniça aqui dentro.” Ele desceu a escada procurando de onde vinha o fedor, até que viu as fezes em um canto. “Seu porco! Moleque imundo!” 

“O que você queria que eu fizesse? Não tem banheiro aqui!” Ciel vociferou, sentindo o ódio correr em suas veias. 

“Se você fosse um bom menino não estaria nessa situação.” O Phantomhive deu de ombros. “Agora veja, eu trouxe um brinquedinho para nós.” Mostrou uma corda e uma mordaça. 

"O que você está pensando em fazer?" Ciel já começava a entrar em pânico novamente, ele sabia que as brincadeiras de seu pai eram as piores possíveis. Começou a chorar. “Por favor, me deixe em paz.” 

Vincent fingia não ouvir os apelos do garoto e passou a balançar a corda imitando uma hélice, na intenção de assustá-lo ainda mais. “Eu estava pensando em começarmos a fazer coisas novas, sabe! Antes eu não podia tocá-lo para não deixar vestígios em seu corpo, mas agora não há mais o que temer.” 

O corpo de Ciel começou a tremer visivelmente. De fato antes seu pai o obrigava apenas a usar a boca para não deixar provas de seu abuso, mas agora não havia ninguém ali naquela casa além deles dois, logo ninguém iria saber o que acontecesse ali. “Você não teria coragem de fazer isso com seu próprio filho…” 

“Não só tenho, como vou. Agora fique de costas para mim, eu irei amarrá-lo.”  

“Eu não irei fazer isso.” Ciel pôs em posição de ataque, ele não aceitaria fazer isso, jamais. 

“Pelo jeito você não aprendeu a lição.” Vincent mordeu o canto do lábio inferior e olhou para a parede ao lado. Num momento rápido e sem qualquer aviso ele acertou um soco no rosto de Ciel, o fazendo cair desnorteado no chão. “Vou te dar uma lição para você nunca mais esquecer…” Começou a dar socos e ponta pés no garoto. “Nunca mais me desobedeça, ouviu bem?! Nunca mais!” 

Quando a surra acabou Ciel estava quase desfalecido. A dor em todo seu corpo era lancinante e sua mente estava confusa devido aos vários socos que levou na cabeça. Seu corpo foi amarrado e ele sequer teve forças para reagir. A mordaça foi colocada em sua boca. 

“Você está fedendo.” Vincent puxou com dificuldade a calça do garoto até o meio da coxa e o virou de costa. “Está vendo isso aqui?” Mostrou um vidro de óleo. “É o mesmo que eu usava com sua mãe.” 

Ciel sentiu algo seu despejado em sua bunda, mas seu estado aturdido não o atentava para o perigo, ele ouvia a voz de seu pai longe e seu corpo adquiria um estado de dormência. Só quando Vincent o penetrou em um movimento brusco foi que ele despertou do transe. Quis gritar a plenos pulmões, mas a mordaça em sua boca o impedia. Felizmente ele não vivenciou muito dos momentos de tortura, pois em instantes perdeu a consciência. 

*** 

“Acorde, Coelhinho.”  

Ciel sentia algo o cutucando.  

“Vamos, acorde enquanto eu estou de bom humor.” 

Ciel abriu os olhos, a claridade era matutina e a temperatura era fresca. Era de manhã. Seria possível que tivesse adormecido desde a tarde do dia anterior? 

“Não faça corpo mole e levante.” Ergueu o corpo do filho do chão. “Hoje eu deixarei você tomar um banho, isso não é bom?!” Vincent sorriu como se tivesse fazendo a maior das caridades. 

Ciel poderia gritar de tanta dor, parecia que sua carne estava podre e todos os seus ossos, quebrados. E seu corpo fedia insuportavelmente, era um mistura de suor, fezes e esperma. Era horrível. Ele só não xingou seu pai ou falou os milhões de palavrões que lhe vieram a cabeça porque finalmente Vincent o deixaria se assear. 

“Você não irá falar nada?” A voz de Vincent engrossou, tornando-se séria. “Mostre que é um menino educado, ou não terá banho algum.” 

“Obrigado.” Ciel sussurrou com grande dificuldade. 

“Acho que não ouvi. Obrigado o quê...?” 

“Obrigado, papai.” O menino teve que engolir todo seu orgulho e ódio para conseguir falar. 

“Ótimo.” Vincent rapidamente voltou ao seu bom humor. “Agora vá na frente, e não tente alguma gracinha senão você nunca mais sairá desse porão.” 

Ciel obedeceu calado, caminhando com dificuldade por causa da surra e do estupro do dia anterior. O meio de suas pernas estava melado, a sensação era asquerosa e quando contraia o ânus, parecia que algo lá atrás havia se rasgado. Subir a escada foi um suplício, mas quando conseguiu chegar ao topo ele mal conseguia acreditar que estava atravessando por aquela porta. Parecia que há anos não entrava em sua casa. Chegava a ser surreal a alegria de sair daquele porão. 

“Ande mais rápido, você parece uma lesma.” Vincent estava ficando impaciente com aquele ritmo lento. “Eu não tenho todo tempo do mundo para esperar por você.” 

“Eu sinto muita dor.” Ciel reclamou com a voz fraca. Na verdade ele até poderia ir mais rápido, porém quanto mais lento fosse, mais ele demoraria a voltar para o porão. 

“Ande logo e pare de moleza.” Vincent o empurrou. 

Ciel ainda continuou caminhando devagar, parecendo um velho de 80 anos. Suas costelas e quadris doíam e ele era obrigado a caminhar com o corpo curvado por causa disso. Pai e filho passaram pelo corredor da sala de estar, e a porta da frente ficou a poucos metros de distância. Seu coração acelerou e suas mãos começaram a suar como nunca antes. Está era a única chance de liberdade que teria. Se tudo desse errado, ele sofreria o pão que o diabo amassou na mão de seu pai, mas se caso viesse a obter sucesso ele enfim se veria fora daquela casa. Gritaria por socorro, com seu corpo naquele estado ninguém duvidaria de sua palavra. 

Havia uma pequena cômoda logo a frente, escorada a parede, e um jarro de fores sobre ela. “Eu não aguento mais, estou sentindo muita dor.” Ele se escorou a cômoda fingindo passar mal. 

“Tsc, sempre me dando trabalho.” Vincent se aproximou para ajudá-lo. “Venha, se apoie em mim”. 

Nesse momento Ciel aproveitou a guarda baixa de seu pai e com todas as suas forças acertou o jarro de flores na cabeça dele, espatifando-o.  

“Filho de uma puta.” Vincent caiu no chão, colocando a mão na cabeça que começava a sangrar abundante. Ele tentou se levantar novamente, mas estava completamente zonzo depois desse baque. 

Essa era a chance que Ciel tinha de fugir e antes que seu pai se equilibrasse, ele correu em disparada na direção da porta, mas ela estava trancada. A sorte era que a chave permanecia na fechadura. Olhou para trás, seu pai logo o alcançaria. Rodou a chave e antes que fosse pego ele conseguiu sair de dentro da casa, e correu desesperadamente para a rua. Nada era visto, ouvido ou sentido. Ele finalmente estava livre. Livre. Qual foi a última vez que se sentiu tão feliz assim? 

Na euforia daquele momento ele não ouviu o som de pneu cantando no asfalto, mas foi impossível não sentir o impacto. Ciel caiu no chão. Primeiro veio um zunido, depois a temperatura morna do asfalto, e então veio a maior dor de sua vida acompanhada da sensação de que a qualquer instante perderia a consciência. Um raciocínio coerente era impossível nesse momento e Ciel não entendia o que havia acontecido. Tudo fora tão rápido que quando se deu conta já estava estirado no chão. 

Ele abriu os olhos, havia um para-choque de carro bem a sua frente. A porta do carro foi aberta e alguém desceu, caminhando em sua direção. Foi quando sua visão passou a ser tingida de vermelho e ele não conseguiu discernir mais nada. Então tudo apagou.


Notas Finais


coloquei um pouco de KS, quem ler a comic vai entender a referencia!

Infelizmente isso é algo que acontece muito em nossa sociedade, mas por se tratar de algo tão serio e nojento, as familias preferem abafar o caso.

Enton é isso, acho que postarei um cap por semana, bjs amorecos!


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