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História Broken - Ato II


Escrita por: Milynha_Sh

Notas do Autor


Oi pessoas lindas!
Xent primeiramente quero agradecer pelos comentários que a fic recebeu, pois sinceramente pensei que iria chover ver críticas em cima de mim rsrs
E segundamente quero dizer que eu não sei como ficará as atualizações, pois acabou de acontecer a acidente com a fonte do meu note, pois é, levou o farelo, e eu sou uma pereba escrevendo pelo celular, simplesmente odeio pois tenho que revisar umas mil vezes mais e mesmo assim o texto sai uma bosta, enton talvez eu demore um pouco no próximo cap. Disgraça é bobagem né!

Fora isso vamos a leitura, BJ's

Capítulo 2 - Ato II


Fanfic / Fanfiction Broken - Ato II

Ciel sentia algo pontiagudo traçar uma linha em sua mão, desde a palma até a extremidade dos dedos, fazendo cócegas. Ele tentou abrir os olhos, queria descobrir o que era aquilo que lhe tocava, porém suas pálpebras pesavam uma tonelada e era difícil movê-las. Por reflexo, ele moveu os dedos ao sentir outra vez o estímulo.

“Ciel…” 

Alguém o chamava longe e não era uma voz conhecida, tinha um tom baixo e calmo, dando mais sono. Aos poucos ele se foi tornando cada vez mais ciente do momento e a letargia foi passando, alertando seus sentidos. Logo a dor e fraqueza muscular se fizeram presentes, assim com a desorientação. Afinal, o que estava acontecendo? Onde estava? Fazia frio ali. Muito frio. 

“Phantomhive...” Aquela voz parecia se aproximar, como se estivesse agora ao seu lado. “Acorde!” 

Apesar da vontade de ceder outra vez à sonolência, Ciel foi abrindo os olhos lentamente, os fechando em seguida por conta da claridade ofuscando sua vista. Resmungou fraco, sentindo sua garganta seca e áspera. Tentou abrir os olhos outra vez e quando finalmente sua vista se acostumou a claridade, percebeu haver um homem em pé ao seu lado, o olhando com expectativa. 

“Onde... estou?” Confuso, Ciel olhou a sua volta, sentindo a cabeça latejar com o pequeno movimento que fez. Estava em uma sala toda branca e cheia de aparelhos, parecia uma sala de hospital. Porque estava ali? Não fazia sentido. Era para estar no porão de sua casa, ou melhor, saindo dele. 

“Você está no hospital Yokohama Rosai. Sou Tanaka, o médico que está cuidando de você.” O médico sorriu amistoso, satisfeito em ver o garoto acordado e interagindo. 

“Mas… Porque eu... Hmm...” Ciel sentiu uma dor lancinante ao tentar levantar, sua cabeça e tórax doíam absurdamente. 

“Ho ho ho! Não faça esforço, rapaz! Seu corpo ainda está se recuperando do acidente.” O médico explicou, pegando sua lanterna clinica e seu estetoscópio. “Agora deixe-me examiná-lo.”

“Acidente?” Apesar de não entender nada do que acontecia, Ciel não se recusou em deixar o médico examiná-lo. Olhos, pulmão, coração…  Estava tudo dentro do normal. “Que acidente?” 

Após a pequena avaliação física, o Tanaka olhou para as pernas de Ciel. Examinaria ali depois. “Eu preciso que você me responda algumas perguntas, depois disso tirarei as suas dúvidas, está bem?! Qual o seu nome?” 

Ciel franziu as sobrancelhas, curioso com o porquê de toda aquela demora em contar o que havia acontecido. “Ciel Phantomhive.” Respondeu. 

“Certo. E quantos anos você tem?” Mesmo já sabendo de todas essas informações, Tanaka fazia essas perguntas apenas para testar a memória do garoto, pois devido a forte pancada que ele levou na cabeça, a qual causou um inchaço no cérebro, ele precisaria se certificar de que Ciel não sofreu alguma perda de memória. 

“Tenho 14.”  

“O nome de sua mãe e seu pai?”  

“Rachel Michaelis Phantomhive e… Vincent Phantomhive.” Ciel falou o nome de seu pai com rancor e, agora se lembrando dele, estranhava ainda não o ter visto ali. “Eu tenho o direito de saber por que estou aqui!” 

O médico suspirou, era comum alguns pacientes não se lembrarem dos momentos que antecediam algum trauma. “Você sofreu um acidente próximo de sua casa, um carro o atropelou enquanto você atravessava a rua.” O doutor guardou a lanterna e o estetoscópio, e pegou novamente uma caneta. “Você ficou em coma por pouco mais de um mês, teve um inchaço no cérebro, duas costelas quebradas e lesionou a medula espinhal.” 

Ciel ficou surpreso ao ouvir aquilo. Agora fazia sentido porque se encontrava naquele estado lastimável, parecia que todos os ossos de seu corpo haviam quebrado. Por isso sentia tanta dor, principalmente na cabeça e tórax.

“Irei examinar suas pernas agora.” Tanaka suspendeu o lençol até o joelho do garoto e passou a ponta da caneta na palma do pé dele. “Sente alguma coisa?” 

“Não.” Ciel estranhou aquilo, não parecia que o médico havia tocado a ponta da caneta em seu pé, aliás, agora entendia o que momentos atrás cutucava sua mão. 

“E agora?” Tanaka passou outra vez a ponta caneta, fazendo uma expressão decepcionada. Pelo jeito suas suspeitas estavam confirmadas. 

“Eu não senti... nada.” Choque. Foi o que Ciel sentiu. Seus olhos viram quando o médico o tocou, mas suas pernas não reagiam. Tentou movê-las. Nada. Foi então que percebeu não sentir nada da cintura para baixo. “Minhas pernas… Eu não sinto as minhas pernas… EU NÃO SINTO AS MINHAS PERNAS!” Se exaltou.

“Calma, garoto!” Tanaka tentou contê-lo e impedi-lo de levantar. “Ciel! Lembre-se que você não pode fazer esforço.”

“COMO VOCÊ ME PEDE CALMA NESSE MOMENTO!” Ciel gritou. “EU NÃO CONSIGO MOVER MINHAS PERNAS! ESTOU PARALÍTICO. PARALÍTICO!” 

Tanaka sabia que tentar acalmá-lo com palavras seria perda de tempo, então foi até a bandeja de metal e pegou um sedativo, em seguida aplicou no soro ligado ao braço dele e segundos depois Ciel dormiu. 

*** 

Fazia algumas horas que Ciel estava acordado, encarando desvanecido o forro branco do quarto. Depois do desespero que se manifestou novamente ao acordar e de uma longa conversa com Tanaka sobre sua nova realidade, onde ele na verdade descobriu estar paraplégico e não paralítico, e de um diálogo maçante com a psicóloga trazida pelo médico, Ciel agora refletia sobre a grande desgraça que sua vida havia se tornado. Estava inválido. Inútil. Preso a uma cama de hospital e, daqui a alguns dias, a uma cadeira de rodas pelo resto de sua vida.

Ciel sentia vontade de gritar, se bater. Se matar! Mas até isso não conseguiria fazer, Não era mais capaz de levantar daquela cama, caminhar até a janela e se jogar do 4° andar, e uma queda da cama até o piso do quarto certamente não conseguiria matá-lo. Ele amaldiçoava a pessoa que o socorreu, pois preferia mil vezes estar morto ao invés de estar nessa condição. Para completar a desgraça só falta seu pai parecer ali, o que sinceramente achar estar demorando em acontecer. 

“Com licença.” Uma enfermeira já de idade entrou no quarto, tinha um sorriso gentil e uma expressão simpática. “Hora da sua medicação.” 

Ciel continuou em silêncio enquanto ela aplicava a meditação em seu soro e em seguida ofereceu alguns comprimidos para ele tomar. “Quem trouxe essas flores?” Ele se referiu ao vaso com rosas brancas em um canto do quarto, temeroso de que a resposta fosse ‘seu pai’. 

“Seu irmão.” A senhora respondeu com simpatia. 

“Meu irmão?” Ciel se surpreendeu. Não imaginou que seu acidente teria tanta repercussão a ponto de fazer seu irmão vim de Tokyo até Yokohama apenas para vê-lo.  E ele também estranhava o fato de todos ali serem tão acolhedores, pois as últimas lembranças que tinha ao ter ido a um hospital, quando visitara sua mãe, era de enfermeiras rabugentas e médicos mal humorados. Certamente esse era um hospital bem longe dos padrões do qual estava acostumado.

“Sim. Ele veio aqui todos os dias, pena que você estava dormindo durante esse tempo.” Ela recolheu a bandeja de metal e caminhou para a saída, onde cedeu lugar à mulher que esperava do lado de fora do quarto. 

Ciel olhou entediado para sua nova visitante. Era negra, tinha os cabelos presos em um turbante e suas roupas deixavam claro que não era uma enfermeira. “Seja você quem for, eu não estou a fim de conversar, então eu agradeceria se você fizesse o favor de me deixar sozinho.” Já bastava a conversa que teve com Yumi mais cedo, a qual ele odiou cada minutos. Aquela psicóloga não tinha a mínima capacidade de entender o que ele estava sentindo, pois só estando na sua pele para saber o que era acordar e descobrir estar paralitico.  

A mulher sentou na cadeira ao lado do leito, fingindo não ter sido expulsa. “Se você colaborar e responder as minhas perguntas prometo que logo o deixarei em paz.” 

Ciel virou a cara, passando a observar o teto novamente e ignorando haver mais alguém no quarto. Ele pouco se importava se seu comportamento pareceria grosseiro. Nada mais importava, muito menos com a opinião alheia sobre ele. 

“Eu me chamo Winda Yoruba e sou assistente social. Creio que você já faça ideia do porque estou aqui.” 

Ciel continuou em silêncio, não sentindo a menor vontade de interagir. 

“Okay, já que você não está a fim de conversar, eu irei direto ao ponto.” Winda se manteve calma, mesmo odiando ser ignorada. “Quando você chegou ao hospital os médicos verificaram que você tinha vários hematomas que não foram provocados apenas pelo acidente e havia também indícios de agressão física e sexual.” Fechou a pasta onde lia as informações de Ciel e em seguida ajeitou os óculos no nariz. “Ficamos sabendo que sua mãe faleceu recentemente e que na casa restaram apenas você e seu pai. O que acha de me contar como era o seu relacionamento com ele?” 

Ciel permaneceu calado, sentindo vontade de cavar um buraco direto para o inferno, onde poderia queimar até não sobrar nem sua alma. Aquilo era humilhante. Haviam visto todas as provas do estupro em seu corpo, todos os sinais das barbaridades pelas quais passou. Ele se sentiu um lixo, um ser imundo e manchado, inferior a um micróbio. Agora entendia por que todos estavam sendo simpáticos e solidários, era por pena, não apenas por causa de sua invalidez, mas também pelo garoto violentado pelo próprio pai.

“Ciel.” A assistente o chamou, por mais que fosse difícil falar sobre isso nesse momento, ela precisava que o menino confessasse a sua versão da história. “Se foi seu pai que fez isso, nós precisaremos do seu depoimento para tomar as providencias legais.” 

“Onde está Vincent?” Ciel sentia medo do que seu pai poderia fazer caso ele contasse toda a verdade.

“Está detido, já que ele é o principal suspeito do estupro.” A assistente explicou. “O seu depoimento será decisivo para ele continuar preso ou ser posto em liberdade.”

Ciel mordeu tão forte a parte interna de seus lábios que chegou a machucar, essa era sua chance de virar o jogo. Seu pai não sairia impune dessa vez. Ele desgraçaria a vida de Vincent assim como ele havia desgraçado a sua. Se estava condenado a passar a vida preso à uma cadeira de rodas, era justo que Vincent fosse condenado a passar a vida em uma prisão. 

“Tudo começou quando…” Ciel fez uma pausa para equilibrar sua voz. Era difícil e vergonhoso falar sobre os anos de abuso, mas ele contaria toda a verdade. “Tudo começou quando eu tinha nove anos...” 

Ele contou tudo o que seu pai o obrigava a fazer. 

*** 

Ciel despertou com uma dor persistente na coluna, passar tantas horas deitado na mesma começava a ser desconfortável. Olhou ao redor, notando que já era noite e havia um homem sentado na maldita cadeira ao lado do seu leito. Encarou o homem. Apesar de não reconhecer as feições dele, aqueles olhos vermelhos eram impossíveis de esquecer. 

“Depois de tantos anos você resolve aparecer.” Disse gélido. Há anos não via seu irmão mais velho e, a agora que estavam cara a cara, ele não sentia a emoção que um dia imaginou sentir ao reencontrá-lo. Aliás, Ciel acreditava que seu coração estava incapaz de sentir alguma coisa. “Nem no velório de nossa mãe você teve a decência de comparecer.” 

“Eu sinto por isso, mas eu liguei explicando as minhas razões.” Sebastian suspirou. Ele já estava a um bom tempo sentado ali, esperando seu irmão acordar e meditando sobre o que fariam de agora em diante. A invalidez do garoto o pegou de surpresa.

Ciel se concentrou naquele tom calmo, porém forte. A voz suave era a mesma de antes, agradável de ouvir. Sem dúvida era mesmo seu irmão. “Não há justificativa para o que você fez, Rachel era nossa mãe e ela deveria ser prioridade ao menos em sua morte.” Ele ainda estava magoado em relação a esse assunto, e usava isso como desculpa para descarregar em alguém a culpa por tudo que vinha acontecendo. Era errado e ele sabia, mas precisava liberar tudo que estava entalado em seu peito. “Aliás, porque veio? Deveria ter enviado um cartão ou um email, assim como tem feito nos últimos seis anos.” 

Sebastian resolveu não contestar, pois reconhecia ter sido ausente desde que saiu de casa aos dezoito anos, mas se nunca mais voltou não foi por querer se afastar de sua família, e sim por motivos pessoais que o impediam de voltar àquela casa. 

“Quando o acidente aconteceu foi a vizinha ao lado de casa que socorreu você, pois a pessoa que o atropelou fugiu do local.” Sebastian mudou de assunto, continuando com seu tom calmo mesmo sendo duro ouvir aquelas acusações. “Quando os médicos examinaram você constataram os indícios de abuso sexual em seu corpo e acionaram as autoridades, logo Vincent se tornou o principal suspeito e, como essa é uma cidade pequena, os boatos não demoraram a se espalhar. Depois disso entraram em contato comigo explicando a situação e pediram que eu retornasse a Yokohama, já que sou seu parente mais próximo.” 

Ciel trincou os dentes, perguntando-se se poderia existir um nível de humilhação maior do que esse. Além de inválido, ele também seria conhecido na cidade como o menino molestado pelo pai. O estuprado: era isso que passaria pela cabeça de todos ao vê-lo.

“Se você tivesse vindo ao funeral, eu não estaria agora assim. Eu teria implorado para me levar junto com você para Tokyo.” As lágrimas começaram a cair. Ele sabia que não era justo culpar seu irmão pelos abusos, até porque ninguém tinha como adivinhar sobre o acontecia entre e seu pai, mas Ciel era repleto de mágoa nesse momento, sendo impossível raciocinar com clareza. “Tudo piorou depois da morte da nossa mãe! SEU MISERÁVEL, VOCÊ DEVERIA ESTAR AQUI QUANDO ELA MORREU!” Ciel cedeu definitivamente ao choro, extravasando a vontade que sentia desde que descobriu estar paralítico. 

“Desculpa.” Sebastian fechou os olhos por momento. Ele revelaria agora algo que apenas sua psicóloga sabia. O segredo que escondia e o atormentava durante anos. “Eu não tinha como saber que ele também faria isso com você.” 

“Como?” Ciel parou de chorar e olhou em choque para o irmão. “Você também foi…” 

“Sim.” Sebastian confirmou antes que o menino terminasse a frase. Ainda era difícil falar sobre aquilo e, até mesmo com Uane, sua psicóloga, ele demorou meses para começar a se abrir com ela. “Foi por isso que eu saí de casa quando completei dezoito anos.” 

“Então... Você já sabia como Vincent era e mesmo assim vem me dizer que não imaginava que ele faria isso comigo também?” Ciel se exaltou, indignado, era impossível acreditar naquilo. Se seu pai já fazia aquilo com um filho, é claro que faria também com o outro. “Você me deixou nas mãos daquele monstro mesmo sabendo do que ele era capaz. SEU CANALHA! COVARDE, LIXO!” 

“CALADO!” Sebastian também perdeu a compostura, logo se recompondo. Ele estava ali para tentar ajudar seu irmão e não para criar conflitos com ele. “Eu não aguentava mais aquela vida! Você, melhor do que ninguém, deveria me entender. Eu passei dez anos sendo molestado, Ciel. Dez anos. Vincent me obrigava a fazer coisas que até o diabo ficaria de cabelo em pé, a minha vida era um inferno e eu não tinha paz. Vivia atormentado, com medo. Eu até tentei algumas vezes tirar minha vida por causa disso, mas você está certo, eu sou um covarde e nem para isso tive coragem.” 

“Se isso é verdade, porque você não contou a ninguém?” No fundo Ciel já sabia a resposta, Vincent deveria chantagear seu irmão assim como fazia consigo. A raiva estava dando lugar a pena, Sebastian era tão desgraçado quanto ele. 

Michaelis puxou os cabelos para trás e suspirou, se ajeitando na cadeira. “Vincent dizia que mataria Rachel se eu contasse a alguém sobre os abusos. Além disso, depois que os abusos começaram o meu comportamento passou a mudar, eu me tornei um garoto revoltado e antissocial, e ele usou isso para fazer com que todos me odiassem. Chegou até a correr um boato pela cidade de que eu estaria usando drogas.” Sebastian riu com amargura. “Eu fui considerado a ovelha negra da família, ninguém acreditaria em mim já que todos respeitavam e admiravam Vincent. Fora isso, eu tinha vergonha de descobrirem que eu estava servindo de mulher para… aquele homem.” 

“Você também foi interrogado pela assistente social?” Ciel queria saber se Sebastian também havia confessado os abusos. Egoisticamente, sua autoestima melhoraria 1% se soubessem que ele não era o único ali a ter sido molestado.

“Sim, mas eu não contei dos abusos. Não consegui.” Sebastian não tinha coragem de falar sobre aquilo a mais alguém. Era constrangedor, extremamente constrangedor. Feria sua masculinidade.

Ciel deitou na cama novamente e o quarto entrou em silêncio. Ele definitivamente entendia seu irmão e, no lugar dele, possivelmente teria feito a mesma coisa. Alem de não contar, teria fugido para bem longe e nunca mais voltado. No final das contas, talvez não fosse diferente de Sebastian.

“Escute, Ciel.” Mesmo hesitante, Sebastian segurou a mão de seu irmão, achando impressionando como mesmo que Ciel tivesse crescido, sua mão continuava tão pequena e delicada quanto antes. “Eu vim de Tokyo apenas para conseguir a sua guarda e levar você comigo, mas para que possamos ter uma boa convivência, eu preciso que você me dê uma chance e confie em mim.”

“E se eu não quiser ir com você?” Ciel recolheu sua mão, mesmo que fosse seu irmão ali, era estranho manter contato físico com ele depois de tantos anos sem vê-lo.

“Bem. Você não tem muitas opções.” Michaelis suspirou. Ele queria ajudar Ciel, mas se o garoto não colaborasse, não havia nada que ele pudesse fazer. “Até que você atinja a maior idade, você ficará com quem a justiça determinar. Ou você ficará comigo, ou com a tia Francis, ou em um abrigo social. Eu ainda acho que eu continuo sendo a melhor opção.  Eu sei que é hipocrisia da minha parte querer ajudá-lo apenas agora, sendo que eu deveria ter feito isso antes, mas nunca é tarde para recomeçar, certo?” Sebastian deu um pequeno sorriso, esperando que suas palavras tenham tocado o menino. “Eu ainda tenho coisas importantes para te contar e quero fazer isso com calma e no momento certo.” 

Ciel teve vontade de se descabelar, nem sequer o controle sobre sua vida possuía mais. Sua tia estava fora de cogitação. Ela era uma sargentona, solteira, odiava crianças e além de tudo era viciada no trabalho, sem contar que haviam se visto apenas duas vezes na vida. O abrigo também não era a melhor opção, pois já até imaginava o bullying que sofreria quando os adolescentes de lá soubessem de sua história. No final seu irmão estava certo, ir com ele para Tokyo parecia ser o melhor a se fazer. 

“Por que você quer tanto me ajudar?” Ele entendia por que Sebastian queria assumir esse fardo. Era assim que Ciel se sentia agora: um peso. “Eu só te darei trabalho e você que mudar sua rotina por minha causa.”

“Eu quero ajudá-lo porque é isso que os irmãos fazem: ajudam o outro.” Não era apenas por causa dos laços sanguíneos que Sebastian ajudava Ciel, pois tendo passado por tudo que o garoto já passou, Sebastian sabia como ninguém o quanto era importante a ajuda de outra pessoa, alguém que apoiasse e ajudasse a lidar com os traumas, a se livrar das tormentas. Alguém para saber que não estava sozinho nessa luta. No fundo sentia que estava ajudando a si mesmo.

 ***

Ciel sentia que poderia morrer de vergonha, era assim toda vez que chegava a hora de tomar banho. Ele até tentava adiar esse momento pelo máximo que conseguia, mas como havia passado o dia inteiro sem ir ao banheiro, ele precisava satisfazer suas necessidades fisiológicas. A vergonha vinha do fato de necessitar de ajuda até para isso, já que ainda se encontrava perdido em sua nova realidade.

“Você prefere que eu coloque você na cadeira ou quer que eu o carregue?” Sebastian pegou o kit de higiene de dentro da mochila com os pertences de Ciel.

Com desgosto, Ciel olhou para a cadeira de rodas. Aquilo era horrível para se locomover e era difícil de passar dela para a cadeira de banho, mas ele não queria que Sebastian o colocasse no vaso sanitário, era constrangedor. “Acho que dessa vez vou usar a cadeira de rodas.”

“Okay, vou colocá-lo na cadeira então.” Sebastian o carregou, pois o leito era alto em relação à cadeira de rodas. Mesmo sendo mais rápido e prático carregar seu irmão até o banheiro, era melhor deixar Ciel se virar sozinho, pois ele precisava agora se adaptar ao seu novo meio de locomoção. “Quer que eu o ajude a tomar banho?”

“Não será preciso.” Ciel se acomodou na cadeira de rodas, odiando aquilo. Dava vontade de gritar todas as vezes que se sentava naquele objeto. Em pensar que há tão pouco tempo atrás poderia correr e andar livremente por onde quisesse, e agora dependeria daquela estrutura de ferro pelo resto de sua vida para se locomover.

“Tem certeza?” Michaelis recebeu um aceno afirmativo com a cabeça, então resolveu não insistir. Sua única preocupação era que Ciel se machucasse tentando passar de uma cadeira para a outra. “Aqui estão seus itens de higiene, se precisar de mim é só chamar”.

Depois de algumas erradas tentando manobrar a cadeira de rodas, Ciel finalmente acertou o caminho para o banheiro. Entrou e foi primeiro para o vaso sanitário. Ali estava outro desafio. Era preciso um grande esforço nos braços para se apoiar as barras fixadas à parede e suspender o corpo para conseguir sentar no vaso. A primeira tentativa não deu certo, pois seus braços fraquejaram, na segunda ele quase conseguiu e na terceira ele finalmente passou de um assento para o outro.

Após fazer suas necessidades, ele passou para a cadeira de rodas outra vez e foi para a parte onde ficava o chuveiro, encontrando a cadeira de banho lá. Tirou sua bata hospitalar e fez o mesmo processo que havia feito no vaso, mas dessa vez Ciel perdeu a força nos braços e acabou se desequilibrando, caindo no chão e batendo com a cabeça na parede.

“Porra!” Ciel começou a lacrimejar por causa do baque, suas costelas e cabeça latejavam e ele se sentia tonto. Ficou deitado ali até a dor e a sensação de desmaio passar. Que situação ridícula! Teria que chamar Sebastian para ajudá-lo a levantar, mas não queria que ele o visse naquela condição, jogado no chão do banheiro e totalmente pelado. Porém não havia jeito, ele sabia que não conseguiria se levantar sozinho. “SEBASTIAN!”

Segundos depois a porta do banheiro abriu. “Não me diga que você caiu!” Sebastian entrou na parte do chuveiro encontrando Ciel no chão. Suspirou. “Agora só falta eu adivinhar os números da mega sena.”

“Eu me desequilibre e caí.” Ciel sentiu seu rosto queimar, era tão vergonhoso ficar exposto daquele jeito. Se pelo menos estivesse de roupa íntima. “Acho que vou precisar de ajuda para tomar banho. Eu bati com a cabeça na parede e agora me sinto zonzo.”

“Tcs.” Sebastian tinha a leve impressão de que lidar com a paralisia de Ciel ainda lhe renderia muita dor de cabeça, pois viveria constantemente preocupado com segurança dele. Respirou para manter a calma, foi uma péssima ideia não trazer seus remédios, pois voltar àquela cidade, lidar com seu irmão naquelas condições, retomar as lembranças do passado... Tudo isso estava lhe deixando ansioso, e ele receava ter uma recaída. “Eu vou chamar o médico para examinar você.”

“Não é preciso, o mal estar já está passando.” Ciel se adiantou em falar, queria dar o menor trabalho possível a Tanaka para que com isso, ele desse logo sua alta hospitalar, assim Sebastian poderia voltar a Tokyo, onde trabalhava como engenheiro civil. Ele não queria trazer ainda mais problemas à vida de seu irmão, muito menos que ele fosse demitido por sua causa. “Agora eu agradeceria se você me tirasse daqui.”

Sebastian ofegou, arregaçando as mangas de sua camisa até o cotovelo. “Eu continuo achando que seria melhor chamar o médico, só por precaução.” Levantou Ciel do chão e o colocou na cadeira de banho, depois tirou os sapatos e levantou as pernas da calça até o joelho, então ligou o chuveirinho acoplado ao chuveiro e começou a banhar o garoto.

“Eu já falei que estou bem.” Ciel inconscientemente fez um bico.

“Certo, então pegue a esponja e se ensaboe enquanto eu lavo os seus cabelos.” Michaelis achava melhor não tocar no corpo do garoto, tanto por causa dos traumas, quanto por notar o modo como ele se encolhia tentando esconder suas partes íntimas, provavelmente pela vergonha de sua nudez, o que era compreensivo. Seu irmão já não mais a criança de oito anos que antes banhava, agora era um adolescente em puberdade e seu corpo passava por grandes mudanças, impossíveis de não notar.

Ciel logo obedeceu, assim o banho terminaria mais rápido. Aquele silêncio se tornou incomodo e, ele não sabia se era apenas impressão sua, mas Sebastian parecia irritado. Ele se sentiu ainda pior, estava de fato de sendo um fardo para seu irmão, na verdade seria um fardo para qualquer pessoa que lidasse com ele. Era horrível se sentir assim. Tão insignificante, descartável. Sua vida estava destruída e ele não tinha esperanças de um futuro melhor. Não possuía mais sonhos. Ciel não aguentou e começou a chorar, ate tentara ser forte, mas para tudo havia um limite e ele havia chegou ao limite de sua angustia, não conseguindo mais escondê-la.

“Ciel? O que aconteceu?” Sebastian ficou sem entender por que o garoto do nada começou a chorar. Seria a queda que o motivou a isso? Ele se ajoelhou na frente de seu irmão e levantou seu rosto segurando pelo queixo. “Está sentindo dor?”

“Não é isso!” Ciel fungou, limpado o nariz com o dorso da mão.

Aquela situação estava sendo tão dolorosa que ele sentia vontade de gritar até suas cordas vocais arrebentarem. Ele queria poder dormir e acordar descobrindo que aquilo tudo não passava de um pesadelo. Ou que nas pior das hipóteses, aquela paralisia não passava de algo temporário. Queria que a sua luz no fim do túnel ainda estivesse acessa, que sua esperança não tivesse morrido. Queria um milagre. Queria sentir suas pernas novamente.

“Eu não quero ser um peso para você.” Sua voz saia embargada. “Eu quero morrer, Sebastian! Morrer! Eu me sinto tão... Tão... Inútil.”

Sebastian arregalou os olhos, surpreso. Como fora desatento. Enquanto pensava que Ciel estava reagindo muito bem aos últimos acontecimentos, ele na verdade estava prendendo todos os sentimentos ruins para si, sofria calado. Claro! Foi assim que o rapaz se acostumou a viver nos últimos anos, ele já estava acostumado a sofrer em silêncio devido aos abusos de Vincent. Foi a vez de Sebastian se sentir horrível, deveria ter percebido antes o que acontecia com seu irmão, afinal, com ele acontecia o mesmo.

“Nunca mais fale isso, você não é um peso para mim.” Sebastian o abraçou, não se importando de molhar suas roupas. “Admito que a sua chegada mudará totalmente a minha rotina, e que de inicio nós enfrentaremos algumas dificuldades de adaptação, mas isso é algo que nós conseguiremos contornar em pouco tempo. E você não é um inútil, nunca mais se sinta assim. Apesar das limitações que você enfrentará de agora em diante, você é tão capaz quanto qualquer outra pessoa. Não deixe que uma cadeira de rodas roube a sua vontade de viver.”

No fundo, Ciel sabia que seu irmão falava aquilo apenas para consolá-lo, ainda assim aquelas palavras acalantaram seu coração. Por fim acabou retribuindo o abraço, agradecendo aos céus por ter seu irmão ali. Ele não estaria só.


Notas Finais


Mudei o nome da Rachel por causa do nome do sebas OK? !

BJ's e até mais ver!


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