História (BTS) A Garota do Diário - Jimin - O Diário em Mãos Erradas

JIMIN POV

De todas as pessoas naquela turma, havia apenas uma que não cumpria minhas ordens, embora outros o fizessem com um sorriso no rosto. Isso me intrigava, e muito. Por que ser tão odiado? O que eu havia feito? A princípio era o que eu pensava. Mas então com o passar dos dias, fui percebendo que havia deixado de ser o número um da escola em algumas coisas. Como por exemplo na lista de melhores da turma. Caí para segundo lugar. E o nome no topo? Yui Lee. Ela era a única que conseguia me alcançar, e de tempos em tempos, a única que me tirava do sério. Sem que percebesse começamos uma rivalidade. Pela maior fatia de bolo na cantina, o primeiro lugar na fila da turma, a melhor nota na prova... Se tornou algo inconsciente. E fazê-la me obedecer se tornou meu objetivo. Tornar possível algo impossível. Sim, eu gostava disso. Não era pela obediência ou para ter uma escrava, mas pelo simples prazer de contraria-la. Yui tinha facilidade em ficar corada quando tinha raiva, e eu uma incrivel habilidade de irrita-la. 
Mais cedo naquele dia Yui vinha em direção ao portão da escola com seu novo smartphone em mãos. Me distraí da conversa com os amigos pois previ algo: seu celular praticamente escorregou de suas mãos para o chão, próximo de onde eu estava convenientemente escorado. Com um rápido movimento eu o tinha em minhas mãos. Dei duas escolhas para Yui. Perder o celular ou fazer o que eu pedisse. Ela não respondeu, mas o fez bem rápido quando pedi um suco de laranja da máquina de sucos. Ela me entregou com os olhos cheios de raiva, provavelmente de si mesma por permitir que algo assim acontecesse.
Durante a aula ela estava cabisbaixa novamente. Isso me irritou um pouco, era por causa disso que ela não tinha amigos. Amassei uma bola de papel e atirei em sua cabeça. Com uma piscadela ela se revelou irritada, o que me entreteu. No intervalo ela foi a mais rápida para se retirar, e uma multidão de alunos a seguiu para o pátio, ansiosos pelo lanche. Foi uma confusão que derrubou diversas coisas no chão, e eu teria me incluído entre esses alunos se meu estojo não tivesse sido derrubado, espalhando meus pertences e misturando com de outras pessoas. Passei um bom tempo tentando diferenciar o que era meu, e o que não era. Foi quando encontrei um caderno bem encapado no chão. Ele não tinha nome, estava aberto. Na capa de couro apenas o desenho de uma orquídea dourada. Na tentativa de achar um dono, eu abri na primeira página.

17 de Março, 2015
É meu primeiro dia de aula em uma nova escola. Confesso já ter tido primeiros dias melhores em escolas anteriores. Os alunos estão animados. E eu não posso evitar pensar como são hipócritas com suas preocupações. "Sentarei ao lado do meu namorado?", "Farei novos amigos?", "Conseguirei namorar esse ano?". Preocupações tão egoístas. Se as pessoas se preocupassem com alguém que perdeu sua casa e não tem onde morar, ou com a mãe que não tem o que dar de comer ao filho ao invés disso, o mundo seria um lugar melhor. 
Digo isso pois hoje de manhã, enquanto fazia meu caminho rotineiro para a aula, me encontrei com um rapaz sem teto que me pediu o único pedaço de pão que estava colocando em minha boca. Seu nome era Mike. Ele poderia ter pedido dinheiro, ou me roubado. Mas ele só pediu um mísero pedaço de pão. Meu coração doeu por ele. Fiz mais do que isso, lhe comprei uma refeição completa. Jamais vou esquecer a felicidade em seu rosto ou as lágrimas em seus olhos por finalmente poder satisfazer sua fome. Estava atrasada para a aula, portanto não fiquei para ver até o final, mas não precisei de provas para saber que ele lambeu o prato até o último grão. Fiquei sem dinheiro para o lanche hoje e estou com fome, mas isso não importa. Poderei comer quando chegar em casa, e não poderia dizer o mesmo de Mike. Quantos desses alunos felizes poderiam dizer que já pensaram assim?
Espero que ele fique bem.

Segurei o livro em minhas mãos trêmulas. O que era isso que estava sentindo? Esse sentimento que pondeirava entre a culpa e o encantamento. Culpa por ser uma das pessoas que provavelmente nunca pensaram dessa forma. E encantado pela atitude dessa pessoa. Existia alguém assim nessa sala e até então eu não a reconheci? Eu precisava saber quem era a dona desse diário.

YUI POV

Talvez estivesse realmente distraída demais e não tenha notado quando apressadamente saí da sala esquecendo meu diário aberto sobre a mesa. Foi um erro, e vai trazer o apocalipse. Com certeza. Preciso dar um jeito de pegar aquele Diário de volta. Mas primeiramente tinha que encontra-lo. Ele era marrom, com capa dura de couro. Era impossível que o vento tenha levado, ou alguém simplesmente tivesse esbarrado nele. Certamente foi roubado. Conforme pensava um grande pânico preencheu meu peito, como pude ser tão burra? E se alguém ler? Minha vida estaria acabada, Jimin faria graça de mim até o fim dos meus dias. Ele continha meus pensamentos mais profundos e íntimos.

Tudo bem, eu sei. Quem em pleno 2016 ainda usa diários? Escuta. Eu sou uma escritora, é meu hobbie. Eu preciso sentir o cheiro das páginas para sentir inspiração e transformar meus sentimentos em palavras.

Respirei fundo. O primeiro passo era não dizer que eu perdi um diário ou eu estaria dando um tiro no pé. Vamos repensar. Se alguém o tem, provavelmente entregaria no achados e perdidos da escola, não é?

Ingênua. Pobre Yui. Não estava lá, precisei conferir para ter certeza. Ok. Alguém ficou com meu diário. O pânico começou a tomar conta novamente. Jimin era definitivamente a última pessoa que poderia lê-lo. A última página falava sobre ele. Sobre a raiva que eu sentia. Passei um ano todo sem precisar cita-lo, mas justo quando o fiz isso acontece... É algum tipo de karma?