História Bulimia - First

Você é mais que o dedo enfiado em sua garganta para deixar sair o alimento de seu pouco regurgitado estômago.

Ah, me engano ao dizer “estômago.” O alimento sequer chegava até este músculo, este órgão, o máximo que aqueles nutrientes chegavam era até o esôfago, mas não podiam completar todo o caminho, afinal você não se permitia a ter essa necessidade básica do ser humano. E é claro que não te culpo. 

Após as refeições, as que você tanto amava no início do nosso casamento, que enchiam seus olhos como se aquelas fossem as primeiras e últimas refeições de toda a sua vida, você ia até o banheiro e se prendia lá por vinte, trinta minutos. E eu? Muitas vezes, no início disso tudo, achava que você apenas tinha ido tomar banho, fazer suas necessidades ou seja lá o que for. Como eu estava distraído tirando a mesa, lavando a louça ou mesmo te esperando enquanto ouvia músicas, não pude ouvir os sons de seu sofrimento mais profundo. Me desculpe profundamente por todos esses dias de negligência constante. 

Da primeira vez que ouvi, pensei que fosse um mal estar devido a algo que você havia comido ou mesmo essas coisas que acontecem diariamente no corpo que estavam te deixando doente, mas meu cérebro fez questão de conectar os pontos um tempo depois. Estaria você passando mal todos os dias? Não, você estava causando o mal a si mesmo.