PERCY –
Percy já estava cheio. Não poderia mais levar aquilo consigo, normalmente. Ele já havia estragado tudo com Annabeth e agora mais ainda. Viviam brigando. Ele a amava demais para ficar aguentando tudo isto calado. Estava cego de fúria. Caminhava pelas ruas à noite, chutando as latas de lixo que poderia encontrar, olhando para frente, mas sem enxergar. Seus punhos estavam cerrados. Sua foto com Rachel... Um grande erro. Estúpido! Nunca deixaria Annabeth por nenhuma outra. E ainda tinha feito o pior agora. Não tinha feito a garota ficar com raiva. A tinha feito ficar magoada. O que era horrível. Andava pisando forte. As pessoas que passavam nas ruas de Nova York não notavam muitas coisas. Geralmente elas já estavam acostumadas a ver gente com cara feia, ou maluquices por aí, afinal era uma cidade grande e todo tipo de coisa poderia acontecer. Da mesma maneira, algumas observavam Percy passar, surpresas. Sua cara deveria estar de poucos amigos.
A noite estava fria, mas ele não estava nem aí. Saía esbarrando nas pessoas, querendo arrumar qualquer confusão que pudesse tirar sua cabeça daquilo. Sem pensar, entrou em um bar qualquer, passando por um bolo de gente. Lá dentro estava movimentado. Homens e mulheres riam, contavam piadas e falavam alto. O rapaz ignorou todos, se dirigindo para um banco, solitário. Lhe perguntaram o que gostaria de beber. A intenção ao entrar no lugar nem fora aquela. Tudo bem, era um bar. Mas Percy nem estava atento a isto. Só queria sentar e se sentir mal sozinho.
Olhou para o homem que lhe fazia a pergunta. Pediu uísque. Agora já era tarde. Esvaziaria sua frustração ali, antes que ela a consumisse por inteiro. Bebeu tantos copos que não saberia mais quantos. O barman tentava lhe dizer calmamente e delicadamente que já bastava. Não lhe dava ouvidos. Sua cabeça estava doendo e o mundo começou a girar levemente. Pensara estar se afastando de seus problemas, enquanto só estava arranjando maiores. Copos e mais copos. Um homem sentou-se ao seu lado, empurrando-o sem querer com sua pança, quase jogando-o do assento.
- Olhe por onde anda, animal! – rugiu Percy, com amargura
O sujeito virou-se para ele imediatamente, como que a ofensa tivesse soado um alarme. Era pelo menos duas vezes mais alto que o menino, e tinha uma barba grande, que lhe passava um aspecto de mau. Os cabelos eram longos o suficiente para prender em um pequeno rabo de cavalo, e estavam penteados para trás. Usava roupas que eram curtas demais para ele, e deixavam aparecer um pouco de sua barriga. Sua altura também se aplicava a sua largura, e ele ergueu os óculos escuros que usava, mesmo estando de noite, o que não faria o mínimo sentido, se não aumentasse a impressão que qualquer pessoa teria: NÃO SE META COM ELE.
- O que você disse, playboyzinho? – interrogou, estalando os dedos
- Você me ouviu. Ou será que é surdo, além de gordo? – Percy levantou-se, derrubando o banco com um estrondo enorme.
Algumas pessoas pararam de conversar para observar o que era aquela agitação. Jackson não estava raciocinando direito. A bebida havia lhe tirado toda sanidade que teria para nem mesmo falar com aquele cara. Agora estava brigando com um armário. Ótimo. Somente boas notícias, como o usual. Com sua fala, o estranho sorriu, mostrando dentes amarelos e um bafo de cigarro. Chegou bem perto dele e falou:
- Será que você é tão ruim de matemática, que não percebe que pelo meu tamanho, poderia quebrar você em dois, como um palito de dentes?
Percy xingou-o, e o empurrou. Brigara com Annabeth... Sim, brigara. Havia sido um idiota. Não uma vez, mas duas. Havia evitado a garota mais linda do mundo que tinha gostado dele, por medo. Era um babaca, um completo inútil. E seu lado bêbado não era inofensivo e engraçado como o de Annabeth.
- Está com medo de encarar?!
Gritava, fazendo o sujeito ficar com cada vez mais raiva, seu rosto vermelho, parecendo uma morsa gorda. Até que o mesmo lhe deu um empurrão tão forte que cambaleou violentamente e caiu numa mesa, onde as pessoas que ali estavam, gritaram e saíram dali. Ouvia pessoas berrando. Umas, querendo interromper a violência. Outras, incentivando.
- Briga, briga, briga! – dizia um coro
Os funcionários do local tentaram segurar o homem, que os arrancou de seus braços como se fossem insetos incômodos. Avançou para Perseu novamente, agarrando-o pela camisa.
- Certeza que não quer mudar de decisão? Ainda há tempo, meninozinho – perguntou, quase sussurrando, sorrindo.
Se era algo retórico ou não, Percy nunca saberia. Nunca bebera tanto antes, e nem gostava desse tipo de ideia... Estava descontrolado, perdido. O rapaz riu, como um insano, deixando bem claro o quão bêbado estava:
- Você é um covarde! Por isso deve estar aqui, como um otário, bebendo, sem ninguém para ter em companhia!
- Então somos você e eu. – grunhiu o outro, antes de lhe dar um soco, com o punho enorme, acertando o nariz do rapaz, que começou a sangrar rapidamente
O moreno tentou revidar, mas via vários do mesmo sujeito, e seu punho socava inutilmente o ar. Algumas pessoas gritavam para deixá-lo em paz, mas se o sujeito ouvia, não dava a mínima. Continuou desferindo golpes raivosos em Percy, que sabia que só havia incentivado aquele homem a descontar o ódio que tinha no coração, batendo nele, tentando aliviar qualquer resquício de dor. Enquanto isto, as de Percy só aumentavam.
Sentiu ser chutado, em vários pontos, e sentiu uma dor horrível no braço. Na mesma hora teve certeza de que estava quebrado. Pontinhos pretos foram surgindo em sua visão, e ele gemia de dor. Quando sentiu que ninguém mais estava o batendo, tentou se levantar, apontando para onde achava que o homem estaria:
- Seu idiota... Vai ver quan...
Viu o sujeito partir o que parecia ser uma garrafa de vidro em sua cabeça, e foi quando caiu novamente, vendo os funcionários finalmente conseguindo conter o homem. Percy colidiu com força no chão, tirando o resto de ar dos seus pulmões. Agora, o mundo tinha ficado preto.
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