História Carpe Diem - O bilhete

Annabeth –

Eles estavam novamente na sexta-série. A professora de história falava, distraída sobre os romanos. Uma Annabeth, com doze anos, prestava atenção, absorvendo cada detalhe do que a mulher dizia. Sentado na cadeira ao seu lado esquerdo,  estava Percy, dormindo e roncando, ao mesmo tempo que babava. Jason, que estava atrás, chutou-lhe a perna, fazendo-o acordar atônito e mal-humorado. O garoto loiro fez um movimento com a cabeça em direção a Annabeth. Percy engoliu em seco e negou com a cabeça, rapidamente. Jason insistiu, revirando os olhos e fitando a menina (que por sinal nem notava a situação) pela segunda vez.

Percy, contrariado, inclinou-se um pouco na cadeira até Annabeth.

- Oi – sussurrou ele, não parecendo saber o que dizer

Ela virou-se, parecendo um pouco irritada por ter que se desligar do que a professora dizia:

- Oi.

- Será que você poderia me responder... isso? – o menino tirou um papelzinho pequeno do bolso do jeans e entregou para Annabeth, que parecia confusa.

No começo ela chegou a pensar que era uma pergunta de alguma matéria do amigo, mas ao abrir o papel, se deparou com um bilhete. A seguinte pergunta era: “Você seria...?” o resto da pergunta estava borrada e era totalmente ilegível. Era com se alguém tivesse segurado o papel por muito tempo e o suor tivesse molhado as palavras. Annabeth fez uma careta e devolveu o papel para ele estendido. Ela esperava que ele entendesse que não estava conseguindo ler, mas o garoto continuou olhando fixamente para o seu rosto, como se esperasse por alguma resposta.

Mas Annabeth virou-se de novo para a professora, não expressando nenhum reconhecimento pela cara do rapaz, esperando por algo. Percy inspecionou o papel e virou-se de novo para Annabeth, totalmente horrorizado. Ele olhou para Jason com uma cara triste. O amigo pareceu entender o que ele estava dizendo e pediu o papel. Percy estendeu o papel e o colega leu. Pegou o lápis e escreveu algo. Assim que pôde ler, havia escrito: “Levou um fora”

Percy baixou a cabeça e não prestou mais atenção em nada. Estava completamente arrasado. Só queria voltar para sua casa.  Mas Annabeth não parecia notar. Ela não fazia ideia do que ele tinha perguntado. Não fazia ideia de que era importante. Continuou prestando atenção na aula, sem saber o que estava escrito e quando já estava na hora de ir para casa, ela nem lembrava da existência de tal bilhete ou nem mesmo que Percy o tinha entregado.

- Annabeth. Meu Deus, acorde logo! Pela décima terceira vez! – ouviu a voz de alguém gritando, uma voz feminina.

Annabeth abriu os olhos, devagar. Thalia estava inclinada sobre ela, visivelmente irritada. Logo no começo, notou que a amiga estava toda arrumada. Havia retocado o delineador e havia colocado uns shorts rasgados, juntamente com uma camisa de alguma banda de rock.

- Você está dormindo faz umas três horas! – gritou Piper do outro lado da sala.

- E roncando também! – berrou Reyna, enquanto as duas riam juntas

Annabeth não pôde deixar de sorrir. Logo depois, notou que estava deitada no sofá da sala. Tinha ido experimentar, é verdade... Mas era tão macio, que acabou caindo em um sono profundo. Com que estava sonhando mesmo? Ah é. Com a sexta série... Com aquele bilhete que anos depois foi resgatar na memória que tinha existido. Deveria ser  besteira... então por quê estava tão interessada nisso a ponto de sonhar?

- Bem, então os meninos vão lhe encontrar assim? – perguntou Rachel, sentando ao lado dela no sofá.

- O... o quê?

- Eles vão  vir para cá. Hazel estava falando com Frank no telefone agora mesmo. Querem passar aqui. Não nos veem a séculos – continuou Thalia

Annabeth deu um pulo do sofá. Passou correndo pelas amigas e foi direto para o banheiro, pegando antes as coisas que iria usar. Se olhou no espelho. Uau... ela estava um trapo. Seus cabelos estavam um ninho de rato. Todos enrolados e embaraçados. Seu rosto estava amassado em um dos lados e o desenho da almofada estava marcando-o. Tomou banho e saiu de toalha para os quartos. 

- Piper – chamou ela, apressada – Que horas eles vem?

- Daqui a pouco – informou ela, enquanto pegava uma maleta que continha maquiagem

Annabeth sabia que Piper não gostava de se entupir de maquiagem, muito menos era patricinha. Mas se arrumar um pouco não fazia mal a ninguém. E afinal, ela era espetacular fazendo aquilo. Tinha um dom natural.

- Você faria minha maquiagem? – perguntou, ansiosa

- É claro – Piper deu de ombros, sorrindo – Depois de fazer a de Reyna, Rachel e Hazel.

A garota penteou e secou os cabelos, logo depois pondo um vestido vermelho, que terminava em um certo ponto das coxas. Escovou os dentes e se arrumou o melhor de pôde, só faltando fazer a maquiagem, coisa que sua amiga se encarregou. Se olhou novamente no espelho minutos prolongados depois. Agora sim. Colocou um salto alto que usava com pouca frequência.

Todas se arrumaram e depois, ficaram na sala, conversando.

- O que vamos pedir? – começou Hazel

- Para comer? Não faço ideia. Uma pizza? – falou Reyna

- Não precisamos pedir – interrompeu Annabeth, fazendo todos os olhares se voltarem para ela – Compramos massa de pizza. Posso fazer as pizzas.

As suas amigas comemoraram. Todas adoravam sua comida. Por um segundo ela parou. Uma dúvida surgiu  na sua mente:

- O Perseu vem?

- Hora, mas é claro que vem! – disse Rachel

- Hm. Por que esse interesse repentino, Annabeth? – perguntou Thalia, começando a sorrir.

- Não é nada...

- Meu primo é um chato, mas admito que vocês formariam um belo casal – concluiu ela, alargando o sorriso, ao mesmo tempo que todas as garotas começavam a rir.

Annabeth estava completamente vermelha. Ela negou com a cabeça, sentindo o sangue subir até as orelhas, que estavam ficando quentes:

- Ah, parem, por favor! Nós só tínhamos doze anos quando nos conhecemos. Nem sei como ele é agora. Na verdade, virou um completo estranho.

- Depois de hoje, duvido que ainda será – comentou Hazel pelo canto da boca, arrancando mais risos.

- Calem a boca, vocês! – riu Annabeth, ao mesmo tempo que ouvia a campainha tocar. Eles tinham chegado.