História Carpe Diem - Relação complicada

Annabeth-

Era agradável manter uma conversa com Will. O garoto nunca deixara de ser simpático com ela, e em nenhum momento a faltara com respeito. Não era do tipo de dizer para ela parar de chorar, e que era tudo uma grande besteira. Não. Pelo contrário, ele lhe disse para chorar, e eliminar toda a tristeza que achava que poderia conseguir para fora de seu corpo. Quando conversou um pouco com ele, as lágrimas foram secando, e ela se sentiu bem melhor, embora ainda tivesse um vazio dentro de si. Will comia um pão de queijo, com suco de laranja. 

- Sabe... – dizia ele, enquanto estavam sentados numa lanchonete, naquela mesma noite – Talvez o seu ex-namorado só estivesse confuso. Nico o conhece muito bem. Pelo o que ele diz, este rapaz é bem trapalhão. Também me disse que ele a amava muito.

- É estranho ver um menino de quem eu gosto... gostava – corrigiu-se, balançando a cabeça – Beijando uma das minhas amigas, que sabia que eu o queria como meu, desde aquela época.

Solace inclinou a cabeça. Annabeth sentia que ele a escutava, porém, nunca parecia pensar em uma resposta, ela só saía, prontamente, assim que acabava de falar, como se sempre soubesse as respostas para quaisquer perguntas. Isso lhe passava ainda mais confiança.

- Percy era bem novo – continuou o rapaz – Talvez não soubesse o que estava fazendo. Às vezes nós fazemos coisas que surpreendem a nós mesmos. Ele já gostava de você. Ele sentia sua falta. Provavelmente só tentou se aliviar de uma forma errada. Tentou se aliviar da dor. Beijando Rachel...  – ele deu uma pausa – Não que tenha sido certo. Mas algo inconsciente, sim. Pode até ter lhe imaginado em seu lugar.

- Você está certo em tudo que diz – admirou-se Annabeth – Da mesma forma, eu por algum motivo não consigo superar essa situação.

- Dê tempo ao tempo. Para falar a verdade, o tempo não cura. Ele só faz melhorar. Ainda está muito recente. Ele não pode lhe culpar por se sentir assim agora. Foi um choque, é normal.

A loira encarou o copo de refrigerante, bebericando o canudo, bebendo pouco, até que decidiu retomar a conversa:

- Eu vi que você estava com o Nico.

Will continuou com a mesma expressão relaxada.

- Me desculpe se interrompi. Eu não queria ter... Estragado nada. – concluiu

- Não se culpe por nada – ele sorriu – Está tudo bem, quero dizer, assim que você também estiver.

- Você me ajuda muito – Annabeth sorriu de volta – Muito obrigada.

Eles continuaram conversando, e aquela conversa triste sobre a foto e a surpresa foram deixadas para trás. A garota não estava nem mais lembrando do ex-namorado quando uma coisa aconteceu. Estavam todos tranquilos, conversando com suas famílias ou amigos, comendo seus hambúrgueres e tomando seus milkshakes. De repente, na televisão da lanchonete, começaram a relatar algo sobre uma briga em um bar.

O qual parecia ser um dos garçons do local aumentou o volume, também se sentindo interessado. Todos começaram a prestar atenção. Até mesmo Annabeth. A repórter estava na frente de um lugar que a loira nunca tinha visto antes, embora tivesse certeza pela aparência que era ali por perto. Ela falava alto e rápido, enquanto alguns policiais passavam atrás dela. Também tinha uma ambulância. Annabeth virou-se na cadeira, e tentou ouvir melhor o que a moça dizia.

“Boa noite. Hoje, em Nova York, houve um caso sério envolvendo uma briga no bar, que se transformou em uma verdadeira briga. Segundo as pessoas que estavam na hora do acontecimento, um jovem veio e bebeu demais. Parecia irritado. Logo após, um homem empurrou-o sem querer e então eles começaram a gritar. O sujeito se estressou com a primeira demonstração de agressão verbal do adolescente, mesmo vendo que ele estava bêbado. Chamaram a atenção de todos, que pararam o que estivessem fazendo para prestar atenção. O sujeito levantou-se espancou o menino, lhe causando sérios danos e contusões. A câmera de segurança do local gravou toda a cena, enquanto alguns dos presentes tentavam afastá-los, outros, incentivar a demonstração de violência.”

O vídeo da câmera de segurança mostrou-se no jornal, uma imagem em preto e branco, mas ainda se podia ver a situação com clareza. O homem que agrediu o jovem era enorme, e Annabeth notou que ele também parecia extremamente irritado. Não era gente com que se mexesse. Viu-o desferindo golpes e mais golpes contra o jovem, que caiu, praticamente desmaiado. Depois de se levantar com esforço, ainda quebrou uma garrafa de vidro sobre sua cabeça, e várias pessoas tentaram segurá-lo. No chão sangue se espalhava e o menino parecia desacordado, quase morto. Annabeth sentiu algo estranho em seu peito. Aquele rapaz lhe parecia familiar, mas não conseguia ver seu rosto de perto, já que sempre estava de costas, levemente de lado.

“O homem fugiu antes que as autoridades chegassem, empurrando todos que andavam na avenida e fugindo com um carro que algumas fontes disseram ser um Camaro em péssimas condições.  A emergência o levou, afirmando que haviam contusões sérias em seu corpo, e que precisavam tratá-lo imediatamente, fazendo pontos em sua cabeça, estampando o sangue. A polícia está a sua procura por agredir um menor, que pode ser identificado como Perseu Jackson, com dezessete anos, sua mãe Sally Jackson já foi informada da...”

Annabeth parecia ter engolido uma bola de boliche. Ficou branca imediatamente, parando de ouvir tudo o que a repórter falava. Olhou para Will, com um ar desespero. O menino também parecia estar em estado de choque. Todos na lanchonete estavam em silêncio, surpresos com uma coisa que parecia ter acontecido trinta minutos antes, em uma avenida perto dali. Até alguns garçons pararam para ouvir mais atentamente o final da notícia. Annabeth não tinha ideia do que fazer em seguida. Não havia sido informado qual hospital Percy havia sido enviado, mas poderia ter ideias de alguns.

- Por favor. Vamos para o hospital mais próximo. Ele pode estar lá.  – suplicou Annabeth, virando-se para Will

O menino concordou imediatamente, dizendo que chamaria um táxi. Deixou Annabeth sozinha ali, momentaneamente, refletindo.

Os olhos da garota se encheram de lágrimas novamente. Percy nunca bebera deste jeito. Nunca arrumara confusão por nenhum motivo. Parte daquela culpa com certeza era dela, senão toda. Agora ele poderia estar até morto... e ela não saberia. Já não sabia mais para quem aquela relação estava mais complicada. Namorados ou não, ainda era complicada...