História Carpe Diem - Foi grave

Percy –

Percy mexeu-se na cama, inquieto. Não fazia muito tempo, tinha acordado novamente. Não estava com tanta dor quanto antes, os remédios pareciam estar fazendo efeito, porém também o deixavam sonolento. O rapaz não conseguia parar de pensar em uma coisa, que estava naquele momento perturbando sua mente.

Quando Thalia despediu-se dele, o disse para dormir e descansar. Avisou que sua mãe, Sally, estava em uma viagem, em outro país, mas que assim que soube da notícia, pegou o primeiro voo de volta. Estava desesperada, mas reconfortada por seu filho estar bem. Provavelmente chegaria em cerca de três ou duas horas. O garoto tentou relaxar e deitar a cabeça no travesseiro fino, quando começou a ouvir duas vozes , conversando baixo e suavemente, com cautela. Abriu os olhos discretamente.

Na porta do quarto, Thalia se encontrava junto com um médico, e ambos pareciam ter faces cheias de preocupação. Devem imaginar que estou dormindo – pensou Percy, mantendo-se em silêncio. Tentou escutar o que estavam falando. Não conseguiu compreender todas as palavras, mas no geral, ao que parecia, o homem ao lado de sua amiga lhe dizia que Percy poderia ter sofrido algo muito pior, mesmo que não aparentasse. Falou que por ver a notícia e a força que foi exercida no homem sobre sua cabeça, com uma garrafa de vidro grosso, dependendo do lugar do batesse, poderia ter tido um traumatismo craniano.

Quando processou a informação, Perseu ficou surpreso. Não parecia tão sério. Enquanto tentava se lembrar da luta que tivera no bar – ou melhor, da surra que levara – Pode resgatar a memória de que o homem tinha muita força no braço. Como era o dobro do seu tamanho, não seria difícil causar uns danos aqui e ali. Mas o grandalhão realmente ficou com raiva, quase como descontando todas as frustrações da vida em Percy, como se todo mal que houvesse no mundo fosse sua culpa.

Pelo visto então, a luta tinha sido muito mais que alguns socos.

- Se seu amigo continuar se metendo nesse tipo de coisa, pode não durar muito tempo. Ainda mais se for com as pessoas erradas – falou o doutor, em tom de repreensão

Thalia não expressava muitas emoções ao mesmo tempo, só mantinha a cara de horrorizada. Ela virou-se para observar Percy, que teve o reflexo de fechar os olhos depressa. Logo depois, passos ecoaram pelo corredor, e o estalo suave da porta se fechando se espalhou. Estava sozinho. Pelo que se lembrava, Thalia tinha um compromisso urgente, então teria que sair do hospital, mas havia lhe dito que voltaria assim que pudesse, e que ligaria para saber de seu estado.

O menino se manteve imóvel no colchão. Só moveu sua cabeça, para olhar ao redor no cômodo. Tinha um pequeno espelho, como se fosse um espelho de lojas de ótica, em cima de uma bancada. Pôde observar seu reflexo, e foi um choque. Seu rosto estava machucado, com vários hematomas, agora levemente roxo.Com certeza no dia anterior haviam tratado de seu rosto com pomadas, e deveria estar muito pior na noite do acontecido. Ainda se encontrava levemente inchado, mas não tanto. Tinha um pequeno corte acima da sobrancelha, que pode ter sido um dos cacos de vidro ao atingi-lo. Se sentia moído.

No momento em que adormeceria de novo, mesmo com mil pensamentos na cabeça, a porta do quarto abriu-se novamente. Uma mulher com cabelos descabelados, entrou em passos rápidos. Percy viu que ela parecia exausta e sua pele estava meio pálida.

- Mãe.

- Ah, Percy! – quando suas mãos o tocaram ele percebeu que estavam geladas, e trêmulas também

Se sentiu péssimo na mesma hora. Ele tinha proporcionado toda aquela preocupação, para todas as pessoas que se importavam com ele.

- Eu estou tão feliz de ter ver bem, que bom que o encontrei acordado! – Sally proferia as palavras rápido, uma em cima da outra, como se estivesse com pressa – Querido, eu fiquei tão preocupada...

- Me desculpe por toda essa burrice.

- ... Quando Thalia me avisou eu não soube o que fazer! Encontrei o primeiro voo disponível e vim o mais rápido que pude, me desculpe não estar aqui quando precisou de mim...

- Mãe, pare, por favor, nada disso é culpa sua, e você não esperava que eu fosse ser tão... Maluco e impulsivo a este ponto. Eu que lhe devo desculpas por ter estragado sua viagem. Obrigado por estar aqui... – Percy respirou profundamente

A mulher parecia querer chorar.

- Você não deve me agradecer querido, é a minha obrigação estar aqui – ela o abraçou mais uma vez, lhe dando um beijo na bochecha e passando a mão em seus cabelos – Percy, você nunca foi assim... Sei que não faria uma coisa dessas por nada. Você teve tanta sorte... – ela mordeu o lábio inferior – Não saberíamos o que poderia ter acontecido se aquela garrafa tivesse lhe atingido com um pouco mais de força, ou no lugar errado. Alguma coisa lhe levou a ir em um bar e arranjar briga com um homem duas vezes maior que você.

O rapaz encarou a mãe, que pareceu captar o olhar.

- É a Annabeth? Tem a ver com ela? – interrogou a mãe, séria

Percy sentiu as lágrimas aparecerem nos olhos, e depois rolarem para bochecha, em um choro silencioso. Assentiu, tentando falar alguma coisa:

- Eu não aguento ficar longe dela, mãe... Nós brigamos tanto nas últimas semanas e malmente voltamos a nos falar. Sinto uma coisa diferente quando estou perto dela... Eu queria tanto conseguir consertar as coisas, mas parece que só estrago cada vez mais.

- Vocês vão conseguir se resolver, eu sei que vão... Annabeth pode não estar pensando direito, e seja lá o que quer que tenha acontecido, talvez com um tempo, isso resolva – ela deu uma pausa – Você a ama?

Percy estranhou a pergunta de início. Nunca tinha realmente pensado sobre isso. Incrivelmente, era como se parte dele já soubesse a resposta. Sua boca abriu-se quase inconscientemente, e ele sentiu as lágrimas quentes caírem nas mãos:

- Amo... – seus olhos se moveram para porta – Ela não vem?

- Eu não sei, querido – sua mãe soava muito triste agora – Ao que parece, houve um acidente de ônibus, ele bloqueou toda uma rua. Isso pode atrasar qualquer pessoa que esteja vindo para cá, além do mais, está ficando tarde. Tente dormir, aposto que não conseguiu muito bem esses últimos tempos.

Ele assentiu, tentando esquecer tudo que mexia com sua mente. Essa era a parte difícil. Só lhe vinha um rosto sorridente com cabelos loiros caindo nas faces, um sorriso lindo com covinhas aparecendo.