Annabeth –
Annabeth sentia seu corpo de consumir de puro pânico. Estava gelada mesmo usando um casaco que aquecia sua pele. Ela e Will estavam em um táxi, quando algo totalmente inesperado aconteceu. O garoto havia chamado um veículo para levá-los até o hospital e ver Percy o mais rápido possível. Assim que entraram, Annabeth tentou ligar para Thalia, mas seu celular só dava como desligado ou ocupado. O motorista pareceu bem desinteressado quando contaram que precisam ver um amigo que poderia estar em sérios problemas. Mascava um chiclete e mantinha o pé sempre no acelerador.
O fato era que Annabeth se encontrava tão nervosa que esquecera de colocar o cinto. Solace estava com o mesmo pensamento distante. Cada segundo parecia ser uma hora, e não estar vendo Perseu naquele momento fazia a moça querer arrancar os cabelos. Então, de repente, o motorista deu um freio fortíssimo, e ela foi para frente, mas foi salva por Will, que conseguiu empurrá-la para trás com o braço, mas não teve a mesma sorte. Sua cabeça bateu com força no banco da frente, e seu nariz começou a sangrar.
- Meu Deus! Você está bem?! – ela exclamou, se aproximando dele com preocupação
- Não ligue para mim, olhe só aquilo! – o loiro apontou para frente
A garota se inclinou para direita para conseguir ver o que se passava à frente, no trânsito. Ao que parecia, algum carro tinha mudado de pista repentinamente, e um ônibus tentara desviar, e acabara batendo em um poste. Ele havia ficado no horizontal de um modo que agora estava bloqueando os dois lados da rua. Motoristas batiam no volante com frustração e até mesmo buzinavam como se isto fosse fazer o ônibus andar. Annabeth pegou o rosto de Will tentando estancar o sangue com uma ponta do casaco.
- Eu estou bem, juro – o garoto falou, de modo tranquilo
- Eu teria me machucado bem feio se não fosse você – ela conseguiu dar um pequeno sorriso – Obrigada.
- É o que fazemos por amigos – sorriu de volta – , não há de quê.
- Será que alguém se feriu?- a menina olhou para o ônibus com tensão
Aliviou-se quando os passageiros começaram a sair um pouco zonzos e assustados, porém estavam todos bem. Tinham um ou outro corte, nada gritante. Annabeth decidiu descer do táxi. Não sairiam dali tão cedo. Se precisasse ir a pé, iria. Informou Will do que ela faria e este não tentou impedi-la.
- Eu vou com você – anunciou
- Não precisa, sério, obrigada por já ter me acompanhado até aqui – agradeceu a moça
Ele desceu junto com Annabeth e começou a ajudar pessoas a saírem do ônibus. Enquanto isto a outra pagou o motorista pelo valor que seria justo e começou a correr, tentando se situar de onde exatamente se encontrava. Começou a suar com o sol quente torrando sua nuca, mas não podia dar atenção a isso agora. Imagens de Percy sendo agredido passavam em sua cabeça. Não conseguia falar com ninguém que soubesse como ele estava. Segundo a repórter as coisas pareciam ter sido sérias.
Chegou no hospital desesperada, empurrando algumas pessoas sem querer. Não parou para pedir desculpas. Informou que gostaria de ver Percy Jackson o mais rápido possível. A princípio queriam barrá-la. Depois de um tempo, acabaram cedendo.
- Ele está acordado agora. Pode vê-lo – disse a enfermeira - , mas não deixarão a senhorita ficar aí por muito tempo.
O seu coração batia muito rápido. Estava com medo do que veria. A moça era baixinha e rechonchuda, usava um batom vermelho vivo e óculos rosa. Por algum motivo dava certo medo. Ela abriu a porta e falou com uma voz monótona:
- Sr. Jackson, você tem uma visita. Outra.
Ela deu espaço para Annabeth passar, logo depois fechando a porta atrás de si, os deixando sozinhos. A garota nem se assustou tanto quando viu o estado de Percy. Ele parecia estar muito melhor. Obviamente cuidaram muito bem dele, só poucas marcas estavam visíveis em seu rosto, com certeza muito mais claras do que antes. Sua beleza estava intacta, e seu braço se encontrava em um gesso. Quando a viu, aquele sorriso lindo preencheu sua face.
- Você veio!
- É claro que eu vim! – ela largou a sua bolsa em qualquer lugar do quarto, se aproximando dele, muito feliz por o outro estar bem – Meu Deus, o que você foi fazer...?
- Me desculpe por ser estúpido – começou o menino – Eu tenho dito muito isso para as pessoas ultimamente, mas para você eu sinceramente devo desculpas. Fiquei tão frustrado pensando em você, porque não estávamos juntos e era tudo minha culpa, sou realmente estú...
- Cale a boca, Perseu.
Não aguentava mais não estar em contato com sua pele. Ela segurou seu rosto e lhe deu talvez o beijo mais demorado da história. Percy não correspondeu de imediato, pela surpresa, mas depois seu braço que não estava quebrado passou por sua cintura e sua mão subiu por suas costas com cuidado e ele mordiscou seu lábio inferior. Annabeth colocou os braços envolta de seu pescoço, acariciando-o. Só se separaram por falta de ar. Agora a menina já estava praticamente sentada na cama do hospital. Percy abriu os lindos olhos verdes e deu um pequeno sorriso de canto de boca:
- Eu perguntaria o que foi isso, mas não quero que pareça que estou reclamando.
Annabeth sorriu, bagunçando seus cabelos como sempre fazia.
- Eu não consigo ficar longe de você – admitiu ele, com um pequeno muxoxo
- Aparentemente eu também não – brincou – Parece que a enfermeira esqueceu de nós.
- Isso é ótimo. Ainda resta tempo para outro beijo?
Ela riu.
- Só me prometa uma coisa.
- O que você quiser – assentiu Percy
- Nunca mais me mate de susto desse jeito.
...
- Você soube de Percy? – Annabeth chegou em casa e sentou na sua cama, onde Thalia se encontrava – Tentei ligar para falar com você, mas não atendia seu celular.
- Ah sim, eu soube. Estive tão distraída que esqueci completamente de comentar com você, me desculpe. Falei disto com as meninas mais cedo. Inclusive fui eu quem achou ele naquele estado deplorável – a amiga mordeu o lábio – Escute, acho que ele estava mal por você, Annabeth. Eu não quero te fazer sentir culpada nem nada do gênero, mas eu acho que você deveria dar uma chance...
- Está bem! – concordou a garota com um pequeno sorriso
- Como assim “está bem” ? Você ouviu alguma palavra do que eu disse? – Thalia franziu as sobrancelhas
- Claro que eu ouvi, dar uma chance para o Percy, certo, posso fazer isto. Mais alguma coisa?
- Hã... acho que não...
Annabeth assentiu, segurando a mão dela antes de ir para o seu quarto, deixando a amiga sozinha.
...
Thalia ainda estava parada com a mesma expressão de choque quando Hazel chegou na sala.
- Ei, o que houve com você? – interrogou ela, sentando ao seu lado
- Comigo, nada. Com a Annabeth, provavelmente sim.
- O que você quer dizer com isso?
- Ela foi visitar o Percy no hospital e agora quando voltou, parecia completamente inclinada a dar uma chance a ele, que estranho. – Thalia encarou a outra, enquanto levantava as sobrancelhas
- Ah é? – Hazel deu um sorriso – Que ótimo, provavelmente só eles dois sabem o que pode ter acontecido lá. Espero que ela mantenha o pensamento
Thalia sentou direito no sofá e pegou o controle da televisão enquanto sorria e deu um pequeno riso:
- Ah, eu também.
...
Annabeth –
Annabeth estava procurando algumas coisas em suas gavetas, quando de repente, tocou algo que nem mesmo sabia que se encontrava lá. Parecia a capa de alguma coisa, como um caderno. Na última gaveta, a que ela menos mexia. Havia jogado ali tudo que estava com preguiça de arrumar depois da mudança. Quando trousse o objeto para perto de si, pôde ver claramente que era um diário, azul, todo enfeitado com desenhos, provavelmente seus. Não lembrava a época que tinha o escrito, provavelmente com onze anos.
Sim, era isto mesmo. Sua memória resgatou uma lembrança: Era Percy quem a havia incentivado de comprar um diário azul. Ela se sentou na cama e ligou a luminária para começar a ler. Lembrava de que o diário continha um cadeado, que agora se encontrava quebrado e Annabeth o retirou com facilidade.
Foi passando as páginas, e percebendo como era fechada, mesmo quando escrevia ali, em uma coisa privada. Talvez por medo de um dia alguém pegasse. Desde aquela época sonhava em ser arquiteta. As coisas que escrevia eram muito inteligentes para uma criança. Porém, cada vez menos o intervalo de dias que escrevia foi diminuindo cada vez mais, estava com treze, depois com catorze, quinze. E então encontrou uma página especialmente dedicada a alguém.
Ela passou os olhos pelas linhas, lendo a bonita caligrafia. Ali, ela comentava sutilmente sobre um garoto, que conhecia desde mais nova, e que estudava no mesmo colégio que ela. Mesmo sendo mais velho, eram como grandes amigos. Luke Castellan, é claro. Annabeth se sentiu afetada ao ouvir aquele nome. Tentava de todas as maneiras naquela página, não dar indícios de como achava que se sentia por ele. Uma vez, ele a pegara escrevendo sobre o mesmo.
- Ei, o que você escreve aí, Annabeth? - perguntou, se inclinando para perto dela, em um dos bancos do colégio
- Nada demais, eu quase nem uso mais isto aqui – ela fechou o diário, tentando evitar ficar vermelha
- O que será que garotas escrevem em um diário? – Luke mordeu a maçã e franziu as sobrancelhas
- Coisas que provavelmente ninguém se interessa - respondeu sorrindo
- Ah, eu me interesso. - Luke sorriu também - Se quiser me dar esse um dia desses para eu gostar de ler, iria adorar.
- Até parece, saia daqui! - brincou, empurrando o rapaz para longe enquanto ele ria
Annabeth voltou à realidade, se esforçando para lembrar do passado. Haviam certos dias que Luke estava estranho, até que foi distanciando mais e mais dela. Até que, enfim, sumiu totalmente de sua vida. Com dezessete anos, eles perderam o contato. Annabeth até tentou o procurar, mas ele sempre dava desculpas para sair, como se não quisesse falar com a menina. Parecia viver cansado e não estar dormindo direito. Antes de viajar de volta à sua cidade natal, ouviu dizerem que o rapaz havia saído da escola. Não por expulsão. Ele tinha simplesmente desaparecido. Mesmo depois de tanto tempo, não deixara de ficar preocupada.
A moça notou em um canto da página, números bem pequenos, no topo. Era o número de Luke, de sua casa. A mão de Annabeth moveu-se até o celular, instantaneamente. Antes que pudesse pensar no que estava fazendo, o número já estava chamando. Sentia-se nervosa.
Finalmente, depois de muita espera, alguém atendeu, mas não falou nada, de início. Ela só ouvia muitos barulhos no ambiente.
- Luke? – interrogou, tensa – Você está aí?
- O QUÊ? NÃO TEM NENHUM LUKE AQUI NÃO GAROTA!
Annabeth quase deixou o celular cair de susto, uma velhinha gritava em seu ouvido.
- ADOLESCENTES E SEUS TROTES! – continuou
- Desculpe! Não, eu só...
- PARE DE INCOMODAR UMA VELHA! PASSAR BEM!
- Alô?
Annabeth ergueu as sobrancelhas. A mulher tinha desligado.
- É, pelo visto, Luke não está mais aí...
Todas as dúvidas que a inundaram quando tinha dezessete anos a inundaram novamente, e tudo veio à tona. Por que Luke havia sumido daquele jeito? Ele poderia ter se mudado? Annabeth achava que se isto tivesse acontecido, ele teria contato para alguém, certo? Mesmo que não fosse para ela. Não, tinha algo de diferente ali, ela poderia sentir. A questão principal só era uma, e pairava em sua cabeça. Annabeth fechou o diário e olhou para luminária, mas não era como se a visse. Seu pensamento estava distante, e ouviu a própria voz ao murmurar:
- Por que ele desapareceu?
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